No passado dia 7 de agosto, minha
mulher e eu deslocámo-nos ao território de algum modo referenciado em epígrafe.
Trata-se da outrora vila de Fráguas e da já mais que centenária Vila Nova de
Paiva, a velha Barrelas, embora nos tenhamos aproximado de outra vila de
outrora, a de Alhais em deslocação-relâmpago.
Era o dia escolhido pela
comunidade de Fráguas, por iniciativa do abade José Justino Lopes, para comemorar,
em ambiente festivo, os 500 anos da outorga do seu curioso foral. Fráguas, no
entanto, não se sentiu sozinha, até porque hoje, no quadro do sistema de
organização das freguesias, não é uma unidade territorial autónoma, como não o
é Alhais nem Vila Nova de Paiva. Com efeito, a Lei
n.º 11-A/2013, de 28 de janeiro, instituiu uma unidade territorial política e
administrativa ou nova freguesia, designada
por “União das Freguesias de Vila Nova de Paiva, Alhais e Fráguas”, com sede em
Vila Nova de Paiva, como consta do seu Anexo I – por agregação das velhas freguesias
de Vila Nova de Paiva, Alhais e Fráguas, no desenvolvimento do processo de
reorganização administrativa do território das freguesias preconizado pela Lei
n.º 22/2012, de 30 de maio, sua lei-quadro. E o Presidente da Junta de
Freguesia, senhor Ilídio Afonso Cruz, de Alhais, lá esteve com a sua palavra e
sentido do apoio logístico, bem como aquela incansável senhora cujo nome me
penalizo de não recordar, como o Presidente da Câmara Municipal, Dr. José
Morgado, com participação lúcida e ativa no painel que a Rádio Escuro organizou
em Fráguas, como o Dr. Manuel Brito Proença, colega de velhas andanças no campo
da docência, e como o já mencionado padre José Justino Lopes, pároco de Vila
Nova de Paiva e de Fráguas e presidente da Assembleia Geral da Rádio Escuro.
Outras pessoas ali se encontravam, algumas das quais já não encontrava há
muitos anos.
Esta agregação de
freguesias, determinada por lei, foi a única no concelho de Vila Nova de Paiva,
ficando incólumes as outras quatro freguesias: Pendilhe, que também teve foral
manuelino em 21 de abril de 1514 (com
Aveloso, Canelas, Parada, Trevões, Vale de Ladrões, hoje Vale Flor, Vale Longo,
Várzea, Vidigal e Vilarouco); Queiriga; Touro; e Vila Cova-à-Coelheira, que também teve
foral manuelino em 21 de julho de 1514.
Não obstante, a
lei-quadro da reorganização administrativa das freguesias pretende a
preservação da identidade, história e cultura das velhas freguesias. Por isso,
aqui fica memória a Alhais, com foral de 18 de junho de 1514, que se agrega em
torno da Igreja da Senhora da Corredoura, onde se procedeu à supressão das
cerimónias de Batismo e subsequente registo do escritor Aquilino Gomes Ribeiro
em 7 de novembro de 1885, que fora batizado na casa onde nascera, no Carregal,
Sernancelhe, por motivo de "necessedade", a 13 de setembro do mesmo
ano; a Fráguas, com foral de 16 de julho de 1514, cuja vida rememora o “rego do
concelho” e se reabastece espiritualmente ao redor da igreja de origem românica
de São Pelágio, o pequenino galego feito mártir em Córdova; e a Vila Nova de
Paiva, que, sob o topónimo de Barrelas, se celebrizou pelo juiz e pela feira e
se congrega regularmente aos pés de São Sebastião, o oficial romano mártir da
fé e o orago desta sua igreja de origem românica.
***
Foi efetivamente Fráguas e seu
foral que motivaram a visita a esta localidade, muito populosa neste período
estival e, ao mesmo tempo, vestida de cores festivas, exibindo as marcas do
trabalho e as notas do lazer à beira do Paiva ou em roda dançante e/ou
gastronómica e ainda eivada daquela linguagem e hábitos denotadores de fé e
referência ao divino.
Porém, houve uma coisa singular,
que me chamou a atenção: uma brochura editada pelo Padre José Justino Lopes, em
abril deste ano, sob o título Páscoa – Na
Arte da Igreja Paroquial de Fráguas e Vila Nova de Paiva. Ofereceu-me um
exemplar, que agradeço.
Confesso que nunca tinha visto um
trabalho deste género: em dimensões reduzidas, um complexo repositório de saudação
pascal, oração de bênção da casa, leitura evangélica e um oitavário de
mensagens pascais e eucarísticas adequadas à temática de cada um dos anos
contemplados (1999-2006), com especial referência ao ano do idoso (1999), ao
ano jubilar do milénio (2000) e ao ano do voluntariado (2001). E termina com a
tradicional oração do Angelus, ou
melhor, do Regina Caeli, a oração às
ave-marias no Tempo Pascal.
Mas não só os textos, de teologia
e espiritualidade profundas, expostas de forma muito simples. Vale a brochura –
e muito – pela coleção de reprodução imagética de motivos artísticos das duas
igrejas em causa, com ligação à Semana Santa, à Páscoa e à Eucaristia. Logo a
capa exibe uma bela imagem do Ressuscitado com a bandeira da vitória, embora
com as marcas visíveis da Paixão, cuja cruz enquanto instrumento de ignomínia
fica eclipsada. Por seu turno, a contracapa reproduz outro trecho, um portal de
sacrário de boa talha, recheado e emoldurado por figuras angélicas ou
similares, verdadeiras testemunhas da Ressurreição e adoradores da Eucaristia.
É o sacrário, do século XVIII, da Igreja Paroquial de Vila Nova de Paiva.
No interior, podemos degustar com
o olhar e com o espírito, da igreja paroquial de Fráguas: o sacrário da igreja
paroquial; o Aleluia (pintura de
caixotão do teto da capela-mor); a Fração do Pão (pintura de caixotão do teto
da capela-mor); o Lava-pés (pintura em pano de estopa, séc. XVIII); o Pelicano
(pintura de caixotão do teto da capela-mor); o Agnus Dei (pintura de caixotão do teto da capela-mor); a Última
Ceia (pintura em pano de estopa, séc. XVIII); e a igreja paroquial, de origem
românica, de São Pelágio.
Do interior da igreja de Vila
Nova de Paiva, temos: um pormenor da talha da igreja paroquial (séc. XVIII);
uma tela da Santíssima Trindade (séc. XVIII); o Lava-pés (pintura de caixotão,
séc. XVIII); o Cristo Ressuscitado (pintura de caixotão, séc. XVIII); o
Cordeiro (séc. XVIII); a Última Ceia (pintura de caixotão, séc. XVIII); um sacrário
de altar lateral (séc. XVIII); outro sacrário de altar lateral (séc. XVIII); e
a igreja paroquial, de origem românica, de São Sebastião.
Enfim, uma memória artística
religiosa mergulhada no essencial do Kérigma evangélico – Aleluia, o Senhor morto pelos homens ressuscitou, está connosco, dá-se
em alimento a todos e suscita o amor fraterno simbolizado no lava-pés – acessível
aos olhares mais simples e agradável para os mais exigentes!
Foi, além do convívio com as
gentes em terra de São Pelágio, a lição que recolhi em Fráguas. Parabéns ao
padre Justino e ao sacerdote que se encarregou do design da brochura, o padre Hermínio Lopes!
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