sábado, 26 de julho de 2014

São Tiago Maior, Apóstolo


O primeiro mártir entre os apóstolos e o padroeiro da Espanha, este filho de Zebedeu e de Salomé, de Betsaida, na Galileia, era o irmão mais velho de João, o evangelista. Integravam ambos uma família de pescadores no mar da Galileia e foram, com Pedro e André os primeiros a abandonarem tudo para seguirem Jesus como discípulos (cf Mt 4,21-22; Lc 5,10).
Tiago Maior – também chamado Tiago o Grande; Filho do Trovão, no dizer de Cristo; Santiago de Compostela; Tiago filho de Zebedeu; e Tiago Apóstolo, o Maior – nasceu no ano 5 d. C. e foi martirizado no ano 44. Um dos doze apóstolos de Jesus Cristo foi feito santo e é chamado Santiago Maior para o diferenciar de outro discípulo de Jesus do mesmo nome, conhecido como Tiago Menor, filho de Alfeu, e também de Tiago, o Justo (ou Tiago, irmão do Senhor).
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São Tiago ou, na variante Santiago, é expressão nominal criada a partir das palavras sanctus + Iacobus (santo, adjetivo + Jacob, antropónimo; ou São Jacob). De Santiago, por redução, formou-se o antropónimo Tiago, equivalente a Iacobus, latinização do hebraico Iacob, em português, Jacob ou Jacó. Com o tempo, o termo evoluiu consoante as línguas: mantém-se Jakob, em alemão e noutras línguas nórdicas; James, em Inglês; Jacques, em francês; Jácome, Jaume e Jaime, no catalão; e Iago, Yago ou Iaco, no ocidente da Ibéria, tenso assim passado ao português antigo, ao galego, ao leonês e ao castelhano. Além disso, por confusão etimológica, em castelhano, passa também a San Diego, originando ainda o nome português Diogo.
O nome Iago / Yago reentra nas línguas peninsulares, bem como entra no italiano, no século XIX e inícios do XX, devido à popularidade das personagens das óperas dramáticas e líricas (vg, Otelo, Aída, Carmen...). Em concreto, Iago é personagem da ópera Otelo, com base na obra do mesmo título de Shakespeare, com libreto do Conde Berio e música de Rossini, estreada em 1816. Iago é apenas a adaptação escrita do nome às ortografias portuguesa e galega, que não usavam a letra Y, antes da nova ortografia de 2011. Iago não só procede da personagem da peça Otelo, como ainda é nome comum a designar o indivíduo astuto, intrigante, falso, velhaco, coisa que não faria sentido se se tratasse de nome próprio tradicional e comum em português. A chegada do nome a Espanha é o que fez inventar, em certos ambientes, a forma Sant'Iago ou Santiago, que não existia em língua alguma.
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Foi um dos chamados e escolhidos pessoalmente por Jesus, que o convidou a segui-lo quando ele pescava no lago de Genesaré. Seu irmão João, o discípulo amado, seu parceiro de trabalho, também foi chamado naquele instante, e ambos se apressaram a seguir o Mestre, por quem dariam a vida. A resposta imediata, pondo de parte trabalho e família sem medição de riscos e sem cálculos mesquinhos, sinal que já se tinha manifestado em Pedro e André, é uma das caraterísticas do seguimento, testemunho vivo para quem se deixa surpreender por Jesus no caminho. Entenderam, naquele momento de mudança radical, o significado profundo das palavras do Mestre: Far-vos-ei pescadores de homens (Mc 1,17). De algum modo, intuíram tratar-se de muito mais do que sobrenaturalizar o seu ofício: era a via para o paraíso prometido.
A ideia do caráter fogoso daqueles jovens pescadores vem do apelido que Jesus lhes atribuiu: Boanerges, filhos do trovão (cf Mc 3,17). Tal fogosidade espelha-se na seguinte passagem:
Ao chegar Jesus com sua comitiva à terra dos samaritanos, estes interditaram-lhe a entrada. João e Tiago viram neste facto uma afronta a Cristo e exprimiram a sua indignação com estas palavras: “Queres, Senhor, que mandemos cair fogo do céu sobre esta cidade, para a consumir”. Jesus, porém, repreendeu-os. E foram para outra povoação (Lc 9,54).
Este, como outros textos evangélicos, reflete o temperamento impulsivo e ousado, não desprovido de certa ingenuidade, mas envolta na ambição e num indisfarçável egoísmo, como quando apoiaram a mãe no pedido de privilégios que ela fazia a Cristo para os filhos.
Aproximou-se de Jesus a mãe dos filhos de Zebedeu com seus filhos para lhe fazer um pedido. Prostrada, à pergunta do Mestre respondeu: “Declara que no teu Reino estes meus dois filhos se assentarão um à tua direita e o outro à tua esquerda”.
Disse-lhes Jesus: “Vós não sabeis o que estais a pedir. Podeis beber do cálice que eu vou beber?”
“Podemos”, responderam eles.
Jesus então declarou: “Bebereis do meu cálice; mas o assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não cabe a mim conceder. Esses lugares pertencem àqueles para quem foram preparados por meu Pai”.
Quando os outros dez ouviram isso, ficaram indignados com os dois irmãos. Jesus chamou-os e disse: “Vós sabeis que os governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vós. Pelo contrário, quem quiser tornar-se importante entre vós deverá ser servo, e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo; como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”. (Mt 20,20-28)
O Redentor respondeu com sagaz paciência, numa observação profética, perguntando se eles seriam capazes de beber do seu cálice. A resposta impensada mas afirmativa foi corroborada pelo Mestre e veio a cumprir-se em Tiago no cruento martírio, mas ficava nas mãos do Pai o objeto da conversa: saber se eles poderiam sentar-se, no Reino de Cristo, um à sua direita e o outro à sua esquerda. E veio a seguir a lição da humildade e do serviço, em vez do poder.
Indubitavelmente, a impetuosidade e a paixão bem sublimadas são fonte de graças. Assim, a vulcânica veemência do coração daqueles irmãos teve em Jesus a via genuína para crescerem adequadamente. Os dois despertaram os anseios de incontáveis pessoas, que, seduzidas por aquela torrente inesgotável de paixão pelo Senhor, se dispuseram a entregar Lhe suas vidas.
Tiago, junto com seu irmão João e com Pedro, fazia parte da tríade privilegiada dentro da comunidade dos Doze. Foram testemunhas de momentos singulares, não concedidos aos outros discípulos. Acompanharam o Mestre em situações gloriosas e dolorosas. Contemplaram a Transfiguração no Monte Tabor (cf Mt 17,1-9; Mc 9,2-10; Lc 9,28-36), que ardentemente desejaram prolongar; presenciaram a devolução milagrosa da saúde à sogra de Pedro (cf Mc 1,29-31) e a ressurreição da filha de Jairo (cf Mc 5,37; Lc 8,51);  e, se não tivessem sucumbido ao sono, teriam testemunhado ainda a terrível agonia de Jesus no Getsémani, momentos antes da sua prisão, porque eram os que estavam mais perto dele naquela hora (cf Mt 26,36-46; Mc 14,32-42; Lc 22,39-46). Tiveram ainda a graça de ver o Mestre, já Ressuscitado, na aparição às margens do lago de Tiberíades (cf Jo 21,1-8), e estava também em Jerusalém no momento da vinda do Espírito Santo (At 1,12-14; 2,1-13).
Após a ressurreição, os discípulos deram início a um trabalho evangelizador e missionário que, pondo-os em diáspora, levou alguns deles para muito longe das fronteiras em que tinham crescido. Segundo a tradição, Tiago chegou à Espanha, deixando as marcas da fé recebida de Cristo em dois lugares emblemáticos: Compostela e Saragoça, a antiga Caesaris Augusta. Primeiro, teria passado pela Galiza e, semeado ali o Evangelho, prosseguiria para Saragoça.
Às margens do rio Ebro, repousaria das fatigantes jornadas evangelizadoras com um grupo de sete seguidores, os únicos que se haviam convertido. Aflito diante da dureza de coração das pessoas eivada de um paganismo fortemente arraigado, obteve o conforto de Maria, a mãe dos apóstolos, que lhe apareceu naquelas paragens a 2 de janeiro do ano 40. Ela estava de pé, sobre uma coluna de luz rodeada de anjos (a Senhora do Pilar). Depois de lhe garantir grandes frutos apostólicos, pediu-lhe que erguesse uma igreja com altar justamente no lugar onde estava o pilar em que repousava. Acompanhou o seu pedido de consolo com a promessa de permanecer até ao fim dos tempos naquele lugar, para que a virtude de Deus operasse portentos e maravilhas por sua intercessão junto daqueles que, em suas necessidades, implorassem o seu patrocínio. Por outro lado, solicitou a Tiago que voltasse a Jerusalém depois de materializar o seu pedido. Maria desapareceu e deixou a coluna de jaspe, em torno da qual foi edificada a igreja solicitada, perpetuada na atual basílica da Virgem do Pilar, na cidade de Saragoça.
Tiago voltou a Jerusalém, como Maria pedira. E, no ano 44, graças ao seu caráter apaixonado e à sua liderança audaz entre as comunidades judaico-cristãs, foi martirizado durante a perseguição do rei Herodes Agripa I, filho de Aristóbolo e neto de Herodes o Grande. É, aliás, o único apóstolo cuja morte vem narrada na Bíblia, “Ele [Herodes] fez perecer pelo fio da espada Tiago, irmão de João” (At 12,1-2).
Clemente de Alexandria refere que o guarda de Tiago, ao ver a firmeza do testemunho que ele dava, converteu-se na hora e, pedindo perdão ao apóstolo, que o abraçou e lhe disse “a paz esteja contigo”. E a ambos foi então cortada a cabeça. Daquele abraço terá resultado o hábito de os peregrinos em romaria abraçarem a imagem do apóstolo na catedral de Compostela.
De acordo com a tradição, o seu corpo, sepultado em Jerusalém, terá sido depois trasladado para a Galiza pelos seus discípulos, de que se destacam Atanásio e Teodoro. Os seus restos mortais são venerados na catedral de Santiago de Compostela, perto da Finisterra.
Os estudiosos não chegaram a nenhuma conclusão verídica consensual quanto à fiabilidade desses relatos, havendo discordâncias de datação que não se encaixam. O facto é que o suposto túmulo de São Tiago deu origem à Rota Jacobeia (da espiritualidade mariana de Saragoça) ou Caminhos de Santiago, sob a Via Láctea (que também se designa por Estrada de Santiago), fenómeno dos mais fecundos da História em todos os níveis espirituais e culturais, incessantemente percorrida por milhares de peregrinos há séculos.
Outras versões, também não corroboradas, sugerem novas trajetórias do apóstolo Tiago em Cartagena e Lérida. São Tiago, ou Santiago, como é chamado no país, é o padroeiro da Espanha e de muitos outros países do mundo, com grande veneração especialmente na América Latina.
No contexto da Reconquista, foi fundada a Ordem Militar de Santiago para combater os muçulmanos – lutas em que ele aparece como devastador da moirama, ganhando a denominação de mata-mouros – e guardar as fronteiras dos reinos cristãos da Península Ibérica; e a pertença à Ordem tornou-se uma grande dignidade. Mais tarde, dividir-se-ia em dois ramos, um em Espanha, e o outro em Portugal. Santiago era venerado como o protetor do exército português até à crise de 1383-1385, altura em que o seu brado foi substituído pelo de São Jorge, trazido pelos ingleses contra as hostes espanholas, numa guerra ao lado dos portugueses.
Santiago é aceite como santo por todas as confissões cristãs não evangélicas. Assim, é festejado a 25 de julho, nas Igrejas Católica e Luterana; a 30 de abril, pelos ortodoxos; a 12 de abril, pelos coptas a 12 de abril; e a 28 de dezembro, pelos etíopes. A meados da Idade Média passou a ser concedido aos católicos a indulgência plenária pelos seus pecados que se dirigissem ao santuário de Santiago de Compostela, em peregrinação de penitência, nos anos jubilares compostelanos, quando o seu dia santo calhasse num domingo.
Iconograficamente, é representado com as insígnias de apóstolo (o livro), de peregrino (a concha ou vieira, o bordão, a sacola, o cantil e o chapelão) e de guerreiro (a espada, o cavalo e o estandarte com a cruz vermelha). A espada carateriza o guerreiro e alude ao martírio; o cavalo significa a velocidade, força e a sagacidade; e o estandarte com a cruz indica a linha de militância em torno de Cristo, o crucificado pela redenção do Homem de todo o tempo e lugar.
Referências

(cf Bíblia Sagrada – MEL EDITORES – Estarreja, 2012; http://www.paulinas.org.br/diafeliz/?system=santo&id=330, ac. julho 2014; http://pt.wikipedia.org/wiki/Santiago_Maior, ac. julho 2014; http://www.zenit.org/pt/articles/sao-tiago-maior-primeiro-martir-entre-os-apostolos-padroeiro-da-espanha, ac. julho 2014; Leite, J.; Coelho, A. (2005). Santos de Todos os Dias. Vol. de julho. Matosinhos: Quid novi; Sacra Congregatio pro Cultu Divino (1989). Liturgia das Horas, III. Coimbra: Gráfica de Coimbra; Nova Bíblia dos Capuchinhos – Difusora Bíblica – Lisboa/Fátima, 1998).

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