Passa hoje,
10 de julho, o primeiro aniversário da morte do Dr. Mário Araújo Pereira Pinto,
coincidentemente o dia aniversário de seu nascimento.
Por dever
de gratidão, já que bastante daquilo que sei o atribuo ao que dele aprendi,
sobretudo em termos da modulação da consecução e apresentação dos saberes. Em termos
de conteúdos disciplinares, este homem de notável simplicidade, por vezes confundida
com a sua proverbial timidez e receio de fazer mal a quem quer que fosse, ensinou-me
Francês, em dois anos letivos; Latim, num ano letivo; História Universal e Religião,
ambas durante um trimestre, em regime de substituição; e Teologia Dogmática, durante
o último semestre da minha formação teológica.
Mas quer a
sua comunicação em sala de aula quer a desenvolvida em discurso homilético e
palestrante era pautada pela precisão e pela vernaculidade da linguagem, secundada
eficiente e ajustadamente pelo gesto – jeito que terá aprendido, pelos vistos,
com seu tio, Monsenhor António Pereira Pinto, de notáveis dotes oratórios. Nestes
o professor em referência não acompanhava o tio, mercê – creio – da natural
timidez e da não suficiente e équa criação de oportunidades. Estávamos em tempos
em que, para pregar, o sacerdote teria de estar habilitado com a carta de pregador.
Mário
Pereira Pinto – a maior parte das vezes, omitia-se o apelido Araújo nas referências – era admirado entre
os alunos da minha geração pelo modo como ensinava Francês, mas a sua
competência no domínio do Português era recorrentemente manifesta. Pessoalmente,
fiquei a dever-lhe a paciência com que, no então chamado quarto ano de
seminário menor, me aturava nas múltiplas questões que lhe colocava na
disciplina de Latim: além das respostas clarividentes que prontamente me
fornecia, disponibilizava-me uma diversificada panóplia de livros, quase todos escritos
em Francês, sobre língua e cultura latinas e gregas, em que pude, na ocasião
encontrar a fundamentação das suas afirmações e perceber a evolução da língua
latina. Mais tarde, pude adquirir alguns desses livros e encontrar desenvolvimento
similar para a língua e cultura gregas. No meu caso, sem desmerecer de outros
vultos marcantes, como Santos Silva, Manuel da Fonseca e Sousa Pinto, que o
precederam, ou Monsenhor Morais e Costa e Monsenhor Carlos Resende, que lhe
sucederam, foi sem dúvida com o Dr. Mário Pereira Pinto que fiz o melhor
percurso de aprendizagem de Latim.
A atuação
discreta de Pereira Pinto não suscitava a atenção de que desfrutavam os nomes
altissonantes dos oradores sagrados em voga, sobretudo num tempo em que eram as
aparências que imperavam – Será que se evoluiu assim tanto como se faz crer
hoje? – e, após a sua saída de Lamego, mal se falava nele.
Porém, na
sequência da “breve nota biográfica” que a ASEL – Associação dos Antigos alunos
dos Seminários da Diocese de Lamego, postou no respetivo blogue, por ocasião do
momento em que “entrou na casa do Pai, a 10 de Julho de 2013” (sic), eu não
podia deixar de apresentar este pequeno testemunho de gratidão, já que nós
somos, em mui grande parte, floração e fruto amadurecido da educação que
recebemos. E Pereira Pinto foi indubitavelmente um dos cabouqueiros da minha
formação espiritual e humanística.
A aludida
“breve nota biográfica”, entre várias referências, destaca os seus cargos: de secretário
episcopal, de Dom João da silva Campos Neves (“o bispo construtor”) e de Dom António
de Castro Xavier Monteiro (a meu ver, “o arcebispo-bispo restaurador”), que
foram ilustres bispos de Lamego; e de professor e prefeito do Seminário Menor
de Resende, de que foi Vice-Reitor, em sucessão do Cónego Dr. António José
Rafael, atualmente bispo emérito de Bragança e Miranda.
Penso que
o termo do exercício do sacerdócio ministerial de Pereira Pinto não terá sido o
ano de 1970, como refere a nota da ASEL, mas o ano de 1975, porquanto ele
lecionou Teologia Dogmática em fins do ano letivo de 1973/74, no semestre acima
mencionado, e ainda tivemos, no verão de 1975, uma conversa em Lamego, ainda não
sabendo eu que ele deixara de ser secretário episcopal – e tendo o facto de cessação
de funções no Paço Episcopal sido ao tempo suficientemente comentado na cidade.
Sendo como
refiro embora de cor, o horizonte temporal do exercício sacerdotal deste
discretamente ilustre souselense vai de 1947 a 1975, ou seja, cerca de vinte e oito
anos.
A última
vez que tivemos conversa foi episodicamente a 22 de setembro de 1980 na então
DGV-Porto, por óbvios motivos.
Se é
justo celebrar os louvores dos homens
gloriosos, dos nossos antepassados através das gerações, pois, neles o Senhor
realizou uma glória imensa e manifestou a Sua grandeza desde outrora (cf
Sir 44,1-2), também é obrigação memorar com gratidão os nossos formadores porquanto,
moldando-nos o perfil e o caráter e abrindo-nos as portas do conhecimento,
fazem resplandecer em nossas vidas a eficiência da participação nos meandros da
sabedoria, que tem, na ótica dos crentes, o fundamento, a plenitude e a
satisfação em Deus.
PS:
Já depois desta data, o
reverendo Padre J. Justino Lopes prestou informação, que muito agradeço, de que
“o Dr Mário P. Pinto deixou de exercer em agosto
de 1977”, o que leva a registar uma permanência no exercício das ordens de um pouco
mais de trinta anos.
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