quinta-feira, 10 de julho de 2014

Voluntários em missão: número recorde em 2014

A agência Ecclesia, com base em informação prestada pela FEC (Fundação Fé e Cooperação), noticia, em 9 de julho, que “cerca de 550 jovens e adultos vão realizar este ano projetos de voluntariado missionário em países em desenvolvimento e 992 em Portugal”. Por outro lado, a notícia refere que, neste ano, são 127 os voluntários que vão repetir a experiência de missão e que são países lusófonos como Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Timor-Leste, Brasil, que dominam a lista dos destinos de missão.
Catarina António, do Departamento de Educação para o Desenvolvimento daquela fundação da Igreja Católica em Portugal salienta duas coisas importantes: o aumento de voluntários do ano passado para o corrente, que regista presentemente o maior número de voluntários em missão fora de Portugal desde que a FEC começou a publicar dados relativos a estas iniciativas; e a situação sócio-laboral de alguns dos voluntários, pessoas que “largaram o seu emprego” para integrarem o desenvolvimento desta modalidade de projetos (projetos missionários).
Em maré em que a Igreja Católica é apontada a dedo ou é olhada de soslaio – em razão dos abomináveis casos de pedofilia e abuso sexual de menores por parte de clérigos e também de alguns leigos mais ligados ao apostolado, bem como mercê de alegadamente persistir em doutrinas e proposta de práticas que não acompanham o devir do mundo e das sociedades – é necessário contrariar o “apagão” generalizado sobre o bem que a Igreja Católica faz por toda a parte.
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É bem verdade que Sua Santidade tem razão quando sublinha o pecado de omissão que ocorre quando não se previnem os crimes, não se denunciam ou não se castigam – embora o Papa faça o enfoque numa área de pecado bem conhecida. Porém, não pode deixar de sublinhar-se que o pecado de omissão, por vezes, grave ganhou foros de cidadania penitencial no pretérito século XX. Já os moralistas pré-conciliares apontavam com a devida ênfase a pecaminosidade da omissão do bem, mas a reforma litúrgica pós-conciliar, na sequência da doutrina e do apelo à prática, consagra este item doutrinal nos formulários do exame de consciência e na fórmula do “confiteor”, “que pequei muitas vezes por pensamentos, palavras, atos e omissões”, como se reza em muitas ocasiões, sobretudo no ato penitencial da celebração eucarística. Porém, a denúncia de crimes não pode transformar-se em frenesim delatório implicando a absoluta falta de confiança na regeneração das pessoas – vítimas e sobretudo prevaricadores – como sinaliza a onda de pensamento dominante. E, sobretudo, não pode compaginar uma antievangélica postura, contra aquilo que vem prescrito no Evangelho de Mateus (vd Mt 18,15-17): repreensão a sós, repreensão perante dois ou três irmãos, participação à comunidade, consideração do outro como pagão (no sentido de maior atenção e solicitude e não de ostracização ou anatematização).
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Voltando ao dever de contrariar o “apagão”, convém dar relevo a uma iniciativa tão importante de um organismo da Igreja (e é preciso e justo badalar aos quatro ventos muitas mais e destacar personalidades que servem de exemplo a seguir), que significa uma postura de entrega em crescendo (de 2013 para 2014 o aumento foi de cerca da centena de pessoas). Mas essa postura apresenta uma novidade: para lá das pessoas desempregadas, estudantes de férias, estudantes que interrompem estudos ou trabalhadores que, para se incorporarem numa missão ad gentes, precisam de requerer uma licença sem vencimento, vêm também aqueles que se desempregam sem termo temporal para partir.
A predita responsável explica que de modo diferente do que sucede com o voluntariado mais comum (até o regulado por lei), o voluntariado missionário, enquadrado pela Igreja Católica, significa “abandonar tudo”, família, amigos, conforto, durante um período entre um mês e dois anos, e “ir para o desconhecido, às vezes, para países onde as necessidades são enormes” – o que postula toda uma mudança na vida de quem parte e notou-se este ano uma evolução nesses números”, como se disse.
Por outro lado, o voluntariado que reveste esta modalidade constitui “uma forma de mostrar à sociedade, hoje em dia em que se fala tanto que se perderam valores, que o voluntariado missionário é uma forma muito presente no dia a dia e que o voluntariado nacional continua a existir de uma forma muito focada”. Se o próprio Estado preconiza a cada passo a necessidade de divulgação das boas práticas, porque não o poderá fazer a Igreja, se isso servir, não para alimentar a vanitas vanitatum de alguns, mas para edificação da comunidade?
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A informação veiculada pela agência Ecclesia e acima referenciada especifica ainda outros dados, a saber:
Nas áreas de atividade abrangidas por este tipo de trabalho incluem-se a educação / formação, a animação sociocultural, a construção de infraestruturas, a saúde, a pastoral social e a atenção especial às populações mais jovens e aos idosos. Verifica-se ainda, segundo a citada responsável da FEC, um aumento no trabalho com mulheres e na formação a professores”.
Mas, como se deixou entrever, a referida fundação desenvolve também operosa atividade no seio do território nacional. Os voluntários que integram a rede por ela coordenada desenvolvem atividades de animação sociocultural e de trabalho pastoral, num total conjunto de 66% de ação nestes campos; 50% das entidades focam o seu trabalho nas crianças e nos jovens e 23% tem especial atenção à população mais idosa; 11% dedicam-se ao trabalho com famílias.
A FEC, de existência ainda não longa, dinamiza a Rede do Voluntariado Missionário em Portugal desde 2002 e, anualmente, reúne os dados estatísticos desta realidade que ao longo dos últimos anos levou 5449 voluntários a países em desenvolvimento.
Segundo o que se pode ler no site respetivo, a FEC – Fundação Fé e Cooperação foi criada pela Conferência Episcopal Portuguesa, pela Confederação Nacional dos Institutos Religiosos e pela Federação Nacional dos Institutos Religiosos Femininos, no contexto das celebrações dos cinco séculos de ação missionária da Igreja Católica em Portugal, decorridas entre 1990 e 2000, no quadro do “encontro e reencontro dos povos da lusofonia e do seu relacionamento, fruto de uma história comum e da contínua e profunda ação desenvolvida pelos missionários ao longo de décadas junto das populações dos países lusófonos”.
Num primeiro momento, a FEC estava associada às celebrações comemorativas dos 500 anos dos descobrimentos portugueses e encontro de culturas (a primeira globalização, como dizem alguns), mas, à medida que a década das comemorações se aproximava do fim, a fundação ia consolidando a assunção da continuidade desse relacionamento entre comunidades e Igrejas, através de atividades e projetos de desenvolvimento nos países de expressão portuguesa.
A sua missão é a promoção do desenvolvimento humano integral através da cooperação e solidariedade entre pessoas, comunidades e Igrejas, com inspiração no Evangelho e na Doutrina Social da Igreja Católica.
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Muito gostaria que Sua Santidade, ao mesmo tempo que pretende apresentar uma nova imagem e um novo dinamismo de Igreja, a Igreja em saída para as periferias existenciais, assente na disponibilidade, na exigência e na misericórdia – qual hospital de campanha no tratamento de uma humanidade ferida nas lutas constantes – integrasse no seu discurso habitual o destaque ao trabalho apostólico e de promoção humana das gentes por parte dos cristãos e, porque não, dos pastores em cada canto do mundo, no meio das maiores alegrias, mas também dos maiores escolhos.
É certo que não é essa a intenção do Papa, mas, a maior parte das notícias, a seguir à postura inovadora de Francisco, enfoca: a riqueza de clérigos e a presumível indisposição do Pontífice em relação a ela; a reestruturação do Banco do Vaticano e a criação da Secretaria da Economia; os abusos de clérigos ao nível do 6.º mandamento e a tolerância zero; a resistência à reforma da Cúria Romana e a dança de cadeiras cardinalícias e prelatícias; e o firme apontar do dedo aos pastores (fiscalizadores da fé, em vez de seus promotores; e bispos de aeroporto – ou pastores ineptos para a transmissão da doutrina da Igreja em matéria de espiritualidade matrimonial e familiar, falta de conhecimento nesta matérias e receio de intervir, criação de desorientação por desvio da doutrina da Igreja por parte de alguns, etc., como indubitavelmente se pode ler no Instrumentum Laboris para o sínodo dos bispos). Isto sucede em momento em que, seja por que motivo for, diversas entidades, mesmo longínquas da visão eclesial, enaltecem a ação social e promocional da Igreja. Porque não o reconhecer sem orgulho e vaidade, mas com a singeleza da verdade?
Ora, parece que, além do discurso do Papa recorrente, frontal, profundo e simpático, a Igreja precisa de ver reconhecida a sua ação, confirmada a sua caminhada de fé missionária, fomentada a participação no culto, incentivados os seus trabalhadores e relevados os seus pastores – para que o mundo creia e Deus seja glorificado.
É justo salientar o realce dispensado pelo bispo da Guarda ao trabalho devotado e difícil do seu clero, como o discurso altamente positivo do bispo do Porto, que não se cansa de aproveitar todas as oportunidades para agradecer a Deus o dom dos sacerdotes que dá à Igreja local, a dedicação e empenho dos mesmos, o dom do sacerdócio e enunciados similares. Também neste aspeto Dom António Francisco é notável exemplo a apontar.

De facto, reservar as loas e os encómios exclusivamente para a ocasião das exéquias, embora seja necessário e justo, pecará por tardio. É conveniente estimular o trabalho apostólico e relevá-lo enquanto é tempo.

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