domingo, 27 de julho de 2014

Dia dos avós

Também estas entidades genuínas – sejam elas provindas da consanguinidade, sejam resultado da afinidade (alguns avós são-no na lei, como os ingleses, outros são-no na política, como os espanhóis, outros são belos ou grandes, como os franceses, e outros são postiços como em outros países) – têm o dia a elas dedicado. E este é o 26 de julho.
A celebração do dia dos avós é feita através de eventos que prestam homenagem a todos os avós e pretendem demonstrar carinho e apreço por eles. Netos e filhos presenteiam simbolicamente os seus avós (que geralmente costumam corresponder na medida das suas posses), de forma a agradecer o apoio e dedicação destes à família e mostrar quanto são importantes para os seus familiares.
É frequente dizer-se e escutar de avós que os netos são melhores que os filhos, como não é raro ver netos a contar segredos para seus avós, fazendo-os mesmo de cúmplices em alguma traquinagem.
O papel dos avós na família vai muito além dos miminhos dados aos netos, sobretudo quando, como nos tempos de crise que agora percorrem o país, eles se tornam o suporte afetivo e financeiro de pais e filhos. Por isso, se diz que os avós são pais duas vezes. A avó é também chamada de “segunda mãe”, e o avô, de “segundo pai”; e muitas vezes estão ao lado e mesmo à frente da educação dos netos, com a sua sabedoria, experiência e, com certeza, com um sentimento maravilhoso de estarem a vivenciar continuamente os frutos de seu fruto, ou seja, a continuidade das gerações.
E para celebrar a intensidade do sentimento que permeia esse parentesco vem o dia dos avós, ou o dia da simbiose entre a sabedora experiência de vida (adquirida, não apenas nos livros, nem nas escolas, mas no convívio com as pessoas e com a própria natureza) e a verdura da inocência, por vezes, maliciosa e traquinante.
Se para as crianças os avós são reflexo do “pode tudo”, para estes, os netos são um presente ou uma herança que se ganha mesmo sem se merecer. Será a articulação entre a mestria de vida e a doçura da relação uma poderosa via de crescimento pessoal daqueles e daquelas que presumivelmente têm ainda pela frente um longo percurso disponível. Assim seja!
Não podemos deixar de evidenciar uma realidade que ganha cada vez mais importância na nossa sociedade, onde os avós desempenham um papel de grande prestígio, um papel fundamental na vida dos netos e da família. São eles os grandes mediadores entre o passado, o presente e o futuro. No quotidiano da vida familiar, os avós trazem as tradições e os rituais caraterísticos das gerações que desapareceram e introduzem, junto dos netos, a infância dos seus pais. Os avós têm um amor incondicional, uma disponibilidade continuada e, acima de tudo, uma tranquilidade relacional baseada na experiência, tornando singular o seu relacionamento com os netos.
São eles a presença do passado, memórias vivas da sociedade. São uma referência  para os netos e suporte fundamental para os filhos. Do seu exemplo de percurso de vida advém a calma e a serenidade – tão preciosas para as crianças e jovens numa sociedade em tal inquietude e rebuliço. Os avós são o mais das vezes educadores por prazer, por gosto, mais do que por obrigação.
Se a sociedade necessita dos avós, os avós precisam de que a sociedade os aceite nas suas limitações e os respeite nas suas restrições, assim como lhes proporcione qualidade e dignidade de vida, sobretudo quando a pobreza, a exclusão ou o esquecimento dos familiares lhes bate à porta.
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A escolha do dia 26 de julho para a celebração do Dia dos Avós baseia-se no facto de este ser o dia de Santa Ana e de São Joaquim, pais de Maria e avós de Jesus Cristo, segundo um antiga tradição, que remonta ao século II.
O culto de Santa Ana existia no Oriente já no século VI e estendeu-se ao Ocidente no século X, ficando a celebrar-se a sua memória festiva a 26 de julho.
Mais recentemente, foi introduzido o culto de São Joaquim. A data da festa de São Joaquim sofreu várias alterações ao longo dos tempos. Inicialmente era celebrada no dia 20 de março, associada à de  São José, tendo sido depois transferida para o dia 16 de agosto, para lhe associar o triunfo e glória da filha na celebração da Assunção, no dia precedente. Em 1879, o papa Leão XIII, cujo nome de batismo era Gioacchino (versão italiana de Joaquim), estendeu sua festa a toda a Igreja. Finalmente, no terceiro quartel do século XX, o Papa Paulo VI associou num único dia, 26 de julho, a celebração dos pais de Maria Santíssima.
Em 1584, por decreto do papa Gregório VIII, o casal foi considerado santo pela vida casta e por serem avós de Cristo; e São Joaquim e Santa Ana tornaram-se os padroeiros dos avôs e das avós.
De acordo o que diz a tradição, o casal Ana e Joaquim não podia ter filhos, o que era considerado uma maldição e, segundo o estabelecido em Israel, dava ao marido o direito de ter filhos com outras mulheres.
Ana e Joaquim viviam em Nazaré e sempre rezavam pedindo ao Senhor que lhes desse o dom de uma criança.
Ao retirar-se para o deserto para orar e fazer penitências, Joaquim recebeu a visita de um anjo que lhe disse para voltar para casa, pois as suas preces tinham sido atendidas e Ana ficaria grávida. Apesar da idade avançada do casal, tiveram a graça de uma menina abençoada a quem puseram o nome de Maria.
Devido à sua história singular, Santa Ana é ainda considerada a padroeira das mulheres grávidas e dos casais que desejam ter filhos.
Tendo Ana morrido quando Maria tinha apenas três anos, a menina acabou por ser entregue aos cuidados do Templo de Jerusalém. Cresceu no conhecimento e amor a Deus e foi por Ele a escolhida para ser mãe de seu filho Jesus Cristo, de quem José se tornou pai legal e protetor, pelo casamento com Maria.
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Num sermão da festividade do Nascimento da Bem-aventurada Virgem Maria, no século VIII, São João Damasceno assegura que “estava determinado que a Virgem Mãe de Deus iria nascer de Ana”. E justifica todo o percurso conducente ao nascimento de Maria, com suas agruras e felicidades.
Assim, “a natureza não ousou antecipar o germe da graça, mas permaneceu sem dar o próprio fruto até que a graça produzisse o seu. De facto, convinha que nascesse aquela primogénita de quem havia de nascer o primogénito de toda a criação, no qual todas as coisas têm a sua consistência (cf. Cl 1,17)”.
E o santo pregador irrompe em vivencial retórica de louvor, ação de graças e parabéns:
“Ó casal feliz, Joaquim e Ana! A vós toda a criação se sente devedora e agradecida. Com efeito, foi por vosso intermédio que a criatura ofereceu ao Criador o mais valioso de todos os dons, isto é, a mãe pura, a única que era digna do Criador.
“Alegra-te, Ana estéril, que nunca foste mãe, exulta e regozija-te, tu que nunca deste à luz (Is 54,1). Rejubila, Joaquim, porque de tua filha nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho; o nome que lhe foi dado é Anjo do grande conselho, salvação do mundo inteiro, Deus forte (Cf. Is 9,5). Este menino é Deus.”.
E, tal como a Virgem Maria será proclamada bem-aventurada por todas as gerações, também o casal seu progenitor será conhecido pelo seu fruto (cf Mt 7,16), a pérola da virgindade, a Mãe de Deus, a rainha dos anjos:
“Ó casal feliz, Joaquim e Ana, sem qualquer mancha! Sereis conhecidos pelo fruto de vossas entranhas, como disse o Senhor certa vez: Vós os conhecereis pelos seus frutos (Mt 7,16). Estabelecestes o vosso modo de viver da maneira mais agradável a Deus e digno daquela que de vós nasceu. Na vossa casta e santa convivência educastes a pérola da virgindade, aquela que havia de ser virgem antes do parto, virgem no parto e continuaria virgem depois do parto; aquela que, de maneira única, conservaria sempre a virgindade, tanto em seu corpo como em seu coração.
“Ó castíssimo casal, Joaquim e Ana! Conservando a castidade prescrita pela lei natural, alcançastes de Deus aquilo que supera a natureza: gerastes para o mundo a mãe de Deus, que foi mãe sem a participação de homem algum. Levando, ao longo de vossa existência, uma vida santa e piedosa, gerastes uma filha que é superior aos anjos e agora se tornou a rainha dos anjos.”.
Depois, surgem as loas à santíssima virgem, filha de Ana e de Joaquim:
“Ó formosíssima e dulcíssima donzela! Ó filha de Adão e Mãe de Deus! Felizes o pai e a mãe que te geraram! Felizes os braços que te carregaram e os lábios que te beijaram castamente, ou seja, unicamente os lábios de teus pais, para que sempre e em tudo conservasses a perfeita virgindade!”. 
Por fim, lança o estímulo e o desafio a todas as almas crentes e a todo o povo fiel para que exultem de alegria e se regozijem pelo dom da vida e da salvação em Cristo por Maria:
Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira, alegrai-vos, exultai e cantai salmos (cf. Sl 97,4-5). Levantai vossa voz; clamai e não tenhais medo.
  Referências
Bíblia Sagrada – MEL EDITORES – Estarreja, 2012;
Leite, J.; Coelho, A. (2005). Santos de Todos os Dias. Vol. de julho. Matosinhos: Quid novi;
Sacra Congregatio pro Cultu Divino (1989). Liturgia das Horas, III. Coimbra: Gráfica de Coimbra;

Nova Bíblia dos Capuchinhos – Difusora Bíblica – Lisboa/Fátima, 1998

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