Todos dizem que
é necessária uma grande intervenção no panorama legislativo eleitoral, tanto a
nível das candidaturas, como a nível da organização territorial, cultura da
responsabilidade do eleito perante os seus eleitores, objeto de cada ato eleitoral
ou referendário, cobertura pelos meios de comunicação social e procedimentos
tipicamente eleitorais. Houve mesmo quem tivesse aventado a hipótese de um
código eleitoral. Recentemente, por ocasião das eleições para os órgãos do poder
local, se verificou uma quase impossibilidade prática de os órgãos de comunicação
social cobrirem de forma razoável as diversas candidaturas, sobretudo em fase de
pré-campanha.
Uma reestruturação
do panorama legislativo eleitoral exige tempo, negociação e ponderação; uma
alteração legislativa cirúrgica, o Governo teve muito tempo para a propor e o Parlamento
para a decidir.
Agora, que
faltam umas doze semanas para as eleições europeias, andam os partidos do arco governativo
a ajeitar à pressa uns projetos de lei, ainda para mais, sem o mínimo de entendimento
sobre a matéria. Francamente, os poderes bem podiam deixar de brincar com o
povo.
O que os
partidos podiam e deviam fazer no pouco tempo que nos resta era: elaborar listas
de qualidade de candidatos a deputado europeu, com a suficiente dose de
democracia intrapartidária; fazer a promoção séria e clara das respetivas candidaturas;
construir estratégias de combate à abstenção; e fazer a pedagogia da mobilização
do eleitorado para a eleição dos deputados ao Parlamento Europeu. Para tanto,
havia que explicar com toda a clareza: quais são as funções deste órgão comunitário;
quais as suas relações com os outros órgãos; como está organizado e como
funciona o Parlamento Europeu; qual o impacto das decisões comunitárias em cada
um dos diversos Estados; quais os grandes temas europeus em debate; como
promover a defesa dos interesses nacionais; quais são os grandes perigos de
conjuntura que ameaçam a futura correlação de forças; e qual o impacto das
erupções locais e regionais nos países que rodeiam a União Europeia e como as
autoridades europeias têm respondido aos desafios que estas crises levantam. Veriam
com o povo começaria a reganhar o interesse pela política e passaria a apreciar
os seus representantes.
Porém, os
partidos parecem ter perdido a sua feição cívica pública e a sua função pedagógica
junto do eleitorado, passam o tempo a responder às birras uns dos outros (o que
é necessário episodicamente, que não sistematicamente), a clamar hipocritamente
por consensos e maiorias claras e a fazer o cálculo sobre lugares elegíveis e
lugares não elegíveis.
Já agora, é de perguntar
por que motivo não recandidatam figuras que deram provas de trabalho empenhado,
capacidade de intervenção e influência nas boas decisões e promovem a candidatura
de cabeças medianas, sem que tenham exibido qualquer pensamento político
consistente? Porque é que trocam lugares em listas eleitorais por altos cargos
nos serviços do Estado? Será legítimo fazer dos escalões superiores da Administração
estância de turismo de simpatizantes, praça de correligionários, pátio de amigos,
açoteia de compadres, ninho de filhotes?
Para quando um
código eleitoral? Mas em época eleitoral, não, nem mesmo alterações cirúrgicas.
As eleições são demasiado sérias para que se possa brincar à volta delas!
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