Comummente
usa-se o termo vermelho para identificar a cor do sangue, da papoila e do rubi;
e encarnado para a cor escarlate (cor vermelha viva). Porém, mesmo na cor do sangue,
há vários tipos de coloração como o sangue de boi. E há diferença de coloração
entre o sague arterial e o sangue venoso. Ademais, quando uma pessoa se
apresenta demasiado ruborizada dizemos que tem uma cor sanguínea.
Existem atualmente mais de 105 tons de vermelhos catalogados.
O vermelho é muito mais do que aquela cor primária e quente que todos
aprendemos nas escolas.
O vermelho
foi a primeira cor a ser utilizada na história humana. Pinturas rupestres
datadas de 3500 a.C. já utilizam a cor para narrar caçadas e outros eventos
importantes do homem pré-histórico.
Os livros
litúrgicos e os livros de contabilidade ainda hoje mantêm, a par do texto a
negro, as rubricas – letras e sinais a vermelho ou rubro, que eram, na
liturgia, as normas procedimentais da sequência ritual e, na contabilidade, a
abertura de títulos, partes, capítulos, subcapítulos, secções e subsecções.
Professores e
revisões de tipografia usam a cor vermelha para corrigir provas e outros
trabalhos e autenticam a sua intervenção com uma breve assinatura, a rubrica (Nunca se diga rúbrica, que é feio!), que passou a uso comum com qualquer
cor.
Além do aspeto denotativo que lhe dá o significado direto, há
conotações conexas com o vermelho, como: o fogo, o fogo do Espírito Santo, a
guerra, o ardor apostólico ou político, o amor, a paixão, o martírio, o desejo,
o pecado (que tanto pode ser negro como pode ser escarlate), aflição,
vergonha, timidez… A
partir da Comuna de Paris, em 1871, o vermelho passou a ser conhecido como a
cor da esquerda revolucionária. Os anarquistas, após a cisão da I
Internacional, associaram o vermelho ao negro como seu símbolo. Em Portugal, durante o período da ditadura, os
benfiquistas passaram a ser conhecidos como “os encarnados”, palavra com
conotação bem diferente de “vermelhos”, associada aos comunistas. Na fase do
PREC, víamos as boinas vermelhas nas cabeças dos militares do COPCON e
presentemente, como dantes, veem-se as boinas vermelhas nas cabeças dos
militares comandos.
Ter
a honra da passadeira vermelha é motivo de prestígio, relevância e triunfo.
Ninguém
na economia, na sociedade e na política quer ultrapassar as linhas vermelhas.
O
código da estrada orla a vermelho os sinais de proibição (circulares)
e os de perigo (triangulares). E são utilizados vulgarmente
ícones a vermelho para indicar proibição, como se vê em espaços abertos ao
público em tempo de pandemia.
Nos
semáforos, a cor vermelha implica a obrigação de parar.
Discotecas
e algumas casas não de frequentar primam pela cor vermelha.
De
uma situação complicada dizemos que está ao rubro. E a da pessoa fortemente
irada ou a pessoa envergonhada dizemos que tem a face ruborizada ou corada.
A cor do
coração é também a cor que melhor representa conceitos como poder, liberdade,
dinamismo e energia. Não é à toa que muitas bandeiras nacionais e partidos
políticos tem a cor como representante maior.
O vermelho é
cor de extremos. Com ela é tudo ou nada. Dificilmente se passar por um ambiente
vermelho sem se ser atingido por ele. A cor tem o poder de elevar a pressão
sanguínea e aumentar os batimentos cardíacos, pelo que os hipertensos devem
evitar o contacto exagerado com o vermelho. Já alguns deprimidos poderão encontrar nesta cor uma
grande aliada. Estudos vários comprovaram que pacientes depressivos se sentiram
mais animados na presença da cor.
Outra caraterística
da cor vermelha é que é a mais forte e visível ao olho humano do que qualquer
outra, porque tem o maior comprimento de onda entre todas as do espectro
visível.
Há várias
tonalidades da cor vermelha. De entre as mais de 105, seguem apenas as
seguintes, por mais utilizadas:
A alizarina é um tom de vermelho intenso e
profundo obtido, originalmente, da raiz duma planta conhecida como garança. A
alizarina, utilizada durante milénios, caiu em desuso em 1869 quando o tom
passou a ser obtido sinteticamente em laboratórios.
O amaranto é um tom de rosa avermelhado
que representa a flor da planta amaranto. Um dos primeiros registos desse tom
de vermelho surgiu em 1969.
O bordô é considerado um dos tons mais
elegantes e refinados de vermelho. A coloração desse tom situa-se numa gradação
mais escura e fechada de vermelho. É assim designado pela conexão colora com os
vinhos de Bordéus.
O tom borgonha, também conhecido como vermelho
vinho, é assim designado por estar diretamente associado à cor dos vinhos da
região da Borgonha, na França. O tom escuro e fechado é muito similar ao bordô.
O tom
vermelho cardeal ou purpúreo
refere-se a uma graduação intensa e mais forte de vermelho, usada, sobretudo,
pelos líderes da Igreja Católica, como forma de lembrar o sangue de Cristo
derramado na cruz.
O carmesim é um tom de vermelho forte,
brilhante e profundo com cambiantes de azul, fazendo-o a chegar a um certo grau
de proximidade com o tom púrpura. O corante carmesim era obtido através do
corpo seco dum inseto conhecido como Kermes Vermilio, mas acabou por cair em
desuso após a ascensão do corante carmim.
O carmim é um dos tons de vermelho mais
conhecidos e utilizados pela indústria. O tom forte e vibrante é obtido a
partir da cochinilha do carmim, um inseto parecido com o pulgão. O uso desse
corante tem provocado reações em grupos de defesa animal, já que, para produzir
meio quilo de corante, é necessário sacrificar cerca de setenta mil insetos.
O tom cereja é tom de vermelho com forte
ligação com o rosa. O nome faz referência ao fruto.
O vermelho cornalina é um tom que puxa para o
marrom e o alaranjado. O nome está relacionado a pedra de mesmo nome que possui
essa coloração devido aos pigmentos de óxido de ferro encontrados em seu
interior.
O tom magenta é um tom de vermelho que abriga
também tons de azul na sua composição. Erroneamente, esse tom muitas vezes é
confundido com fúcsia, rosa vivido ou carmim. Uma curiosidade do magenta é que
não existe no espectro de cores, o tom é ilusão do olho humano.
O marsala é um tom de vermelho profundo e
intenso que está em alta principalmente na moda.
O orange
red, vibrante e muito dinâmico, é a mistura entre vermelho e laranja,
resultando em uma combinação que esbanja euforia e calor.
O persian red ou vermelho persa é um tom
terra avermelhado com toque de laranja. O tom profundo e intenso é conhecido
também como vermelho artificial. O primeiro registo desta cor é datado de 1895.
O tom rubi faz menção a pedra preciosa que tem
o vermelho fechado como cor principal.
O red shine é um tom de vermelho quente e
profundo muito próximo de tonalidades como o amaranto e o carmesim.
O vermelho coral é um tom de laranja avermelhado,
intenso e quente. A cor faz referência a uma espécie de cobra.
O vermelho falu tem origem na cidade sueca do mesmo
nome e possui uma história interessante. A tinta usada para pintar as casas da
cidade eram produzidas com restos de pigmentos de ferros oriundos das
mineradoras locais. Os pigmentos acabavam conferindo a tinta um aspeto
levemente enferrujado é a cor passou a ser conhecida como vermelho falu em homenagem à cidade.
O vermelho puro ou escarlate, como também
é conhecido, é uma entre as três cores primárias. Profundo, quente, intenso, o
vermelho puro é a primeira onda do espectro de cores e a mais visível aos olhos
humanos. O vermelho é uma das cores mais fáceis de encontra na natureza. Ela
colore pedras, animais, insetos, flores, escamas, pelos e penas. No universo, o
vermelho está presente dando cor a planetas e estrelas.
***
No
Dicionário Etimológico de J. Pedro Machado encarnado é algo que tem que ver com
a carne, e vermelho é derivado de vermículo, vermezinho, e passou a denominar a
cor por causa da cochinilha, inseto vulgarmente chamado piolho-dos-vegetais, de
que se extrai uma tinta escarlate, o carmim.
Em
latim, usualmente a cor vermelha era designada pelo adjetivo “ruber, a, um”,
bem como pelos adjetivos, “rubellus, a, um”, “rubeus, a, um” (há
a doença da rubéola),
rubicundulus, a, um”, “rubicundus, a, um” (o galo é rubicundo), “rubidus, a, um”, “rubiginosus,
a, um” e “russus, a, um”. A vermelhidão era designada pelos nomes “rubor,
oris”, “rubigo, rubiginis” e “rubrica”. Para a ação de tornar vermelho,
tínhamos os verbos “rubefacio”, “rubeo”, “rubesço”, “rubrico”. E era
frequentemente usado como adjetivo o termo “rubens, rubentis”, particípio
presente de “rubeo”. No latim vulgar, usava-se o adjetivo “burrus, a, um”.
Assim, o animal que nós temos como burro designava-se por “asinus burrus”, à
letra, asno vermelho. Em duas línguas românicas ou novilatinas a expressão
truncou-se e os portugueses dizem “o burro” e a fêmea “burra”, deixando o asno
em paz, enquanto os franceses ficaram com o “âne” e a fêmea “anesse”, que
“perdeu” a cor “rubra”. Entretanto, para gáudio do animal, lá vamos também
dizendo “Ah, seu asno!”. Já a asna usa-se na arquitetura.
Quanto ao “encarnado”, tudo vem do nome latino “caro, carnis”, a significar “carne”. Quem nunca viu uma ferida em “carne viva”? O verbo “incarno” significa tornar carne e, na voz passivam significa fazer-se carne ou ser feito carne. E a “incarnatio, onis” é a ação ou o facto de transformação em carne. Assim, o Filho de Deus “encarnou” (ou “incarnou”; deu-se o mistério da “encarnação” ou “incarnação”) e uma doença de pele ou um ferimento faz que uma zona corporal pareça carne sem pele, com a cor típica da carne. E, se tem mais semelhança com o sangue, dizemos que tem um aspeto sanguíneo (do adjetivo latino “sanguineus, a, um”, derivado do nome “sanguis, sanguinis”: sangue). Também os abades não raro mandam encarnar imagens santas, ou seja, dar-lhes a cor da carne ou do sangue nas zonas corporais em que tal é devido. Todavia, nada supõe que as meninas e senhoras que têm o nome de Encarnação sejam vermelhas ou coradas ou pintem o cabelo de vermelho, mas a Bandeira Nacional é encarnada na zona oposta à tralha e verde na zona adjacente à tralha. E, quase ao centro, tem a esfera armilar com armilas em amarelo dourado com o escudo nacional, de fundo branco inscrito, orlado a vermelho e tendo os sete castelos a amarelo; o escudo é crivado de 5 besantes, que, dizia-se, representam as 5 chagas de Jesus Cristo.
Do
escarlate, só digo que vem do persa säqirlāt (cor da chama e
do sangue).
O
nosso termo “vermelho” e os derivados “vermelhidão”, “avermelhar” e
“vermelhusco” provêm do diminutivo latino “uermiculus, i” (bibhinho,
pequeno verme, cochinilha, escarlate),
de “uermis, is”, em razão da cor. Da família desta palavra são, por exemplo, “uermesco”
(verbo), “uermiculate” (advérbio), “uermiculatio, onis” (nome), uermiculatus (particípio
passado de “uermiculor”),
“uermiculor” (verbo),
“uermina” (nome do plural), “uerminatio, onis (nome), “uermino” (verbo), “uerminor” (verbo)
e “uerminosus, a,
um” (adjetivo).
E
o purpúreo vem do adjetivo latino “purpureus, a, um” (purpúreo,
vermelho, encarnado, da cor da púrpura, tingido de púrpura), derivado do nome “purpura, ae”.
Da família desta palavra são, por exemplo “purpuraria, ae” (nome), “purpurarius, a, um” (adjetivo), “purpurarius, ii” (nome), purpurasco (verbo), “purpuratus, a um” (adjetivo), “purpuratus, i”
(nome),
“purpurissatus, a, um” (adjetivo), “purpurissimum, i” (nome) e “purpuro” (verbo).
Se
quisermos falar de “vermelho” em grego, termos o adjetivo “erytrós, á, ón” (vg:
em “Erytrthrà Thálassa” – Mar Vermelho)
de cuja família fazem parte, por exemplo, “erythraínô (verbo:
fazer corar),
“erythraîos, a, on” (adjetivo), “erythriáô” (verbo: envergonhar-se,
corar),
“erytrodáktylos, on” (adjetivo: de dedos vermelhos) e “erytrópous, oun” (adjetivo:
de pés vermelhos).
Assim, temos o eritema (congestão cutânea que faz vermelhidão
na pele), a eritrina
ou eritrosina (substância corante vermelha que se obtém pela ação
do iodo sobre a fluoresceína),
a eritrodermia (vermelhidão natural da pele), a eritrofilia (substância
vermelha que colora as folhas vegetais),
a eritroide (adjetivo uniforme: que tem cor avermelhada), a eritropsia (ação
mórbida que faz ver tudo vermelho) e
as eritroxiláceas (plantas dicotiledóneas polipétalas), os eritrócitos (glóbulos
vermelhos).
Falando
de sangue em grego, temos o nome “haîma, atos” (sangue). Daí temos, por exemplo, a
hematologia e o hematologista, o hematoma, as hemácias, a hemoglobina, a
hemorragia, as hemorroidas, as hemoptises. Da família de “haîma” temos, por
exemplo, “haimakoría, as” ou “haimakouría, as” (sacrifício de
sangue), “haimaktós,
ê, ón” (ensanguentado), “haimás, ádos” (efusão
de sangue),
“haimássô” (ensanguentar),
“haimatenkhysía, as” (efusão de sangue), “haimatêrós, á, ón” (ensanguentado), “haimatóeis, óessa, ón” (coberto
de sangue, sangrento, sanguíneo),
“haimatízô” e “haimatóô” (ensanguentar) e “haimatôdês, es” (sanguíneo).
E,
assim, vermelhuscos ou envergonhados, aflitos ou entusiasmados, cautelosos ou
doridos, mártires ou discretos, cá vamos no nosso itinerário que não queremos
que tenha retorno.
2021.12.18 – Louro de Carvalho
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