A Loja Interativa de Turismo de Tabuaço, no distrito de Viseu, é a montra pública do relógio, de nome
Rijomax, o mais completo do mundo e que demorou mais de 28 anos a ser
construído. Dentro desta obra misteriosa cabe o mundo inteiro. Com efeito, o
título “Uma obra misteriosa, o mundo inteiro dentro de um
relógio”, que
está em destaque num dos topos do Rijomax, sintetiza o rol dos segredos e
funcionalidades deste objeto, criado por um relojoeiro no século XX, naquela vila.
Foi no ano
2000 que a Câmara Municipal de Tabuaço comprou o relógio mais completo do
planeta. Porém, só dois anos mais tarde, com a morte do seu criador, é que a
autarquia o foi buscar à oficina onde se encontrava e foi desde essa altura que
nunca mais funcionou.
Não obstante,
desde 2002 a autarquia tem patente na Loja Interativa de Turismo da sede do
concelho a verdadeira obra de arte que foi criada, toda ela, a partir de
materiais reciclados.
Rijomax é o
mais complexo, exótico, insólito e completo relógio que demorou a ser
construído mais de vinte e oito anos, perfeitos em cerca de dezasseis mil horas
de trabalho. E, por todas as particularidades que o caraterizam, deixa perplexa
qualquer pessoa.
Foi
construído, entre 1945 e 1973, por Amândio José Ribeiro, natural do concelho de
Pinhel, que se constituiu como o rosto que está por trás da célebre obra que
tinha múltiplas funções.
“Rijomax” é
acrónimo do nome do criador do relógio: “Ri” de Ribeiro, “Jo” de José, “Ma” de
Amândio e o X é para dar aquela pronúncia de marcas de relógio como Timex e
Rolex.
O objeto é
composto por quatro módulos, tem dois metros de altura e mais de 16 mil
algarismos e letras. Dispõe, ao todo, de 36 funcionalidades.
Assim, com
mais de dezasseis algarismos e letras, indicava os movimentos patentes do sol e
os reais da lua. Marcava também os segundos, os minutos, as horas (24 horas), a hora universal, a hora lunar, os dias, os meses,
os semestres, os semestres, os anos bissextos (suprimindo automaticamente 24
anos de 128 em 128), o nascer e
o pôr do sol. Mais ainda, o tempo dos dias e das noites diariamente, as
estações do ano, os signos e os dias dos signos, os solstícios e equinócios, bem
como, as datas das fases da lua.
No cômputo do tempo, indicava as semanas e os dias da semana; os
meses, os dias dos meses e quantos dias faltavam para o fim do mês; os anos, os
dias dos anos e quantos faltavam para o fim do ano; as estações e os dias das
estações; os signos e os dias dos signos; os semestres, os trimestres e a
indicação em que dia da semana começa cada mês, e outra se o ano fosse
bissexto; as datas das fases da Lua e a mudança de tempo.
Como se não
bastasse, indicava ainda os números do Ciclo Solar, do Número Áureo, da Epacta,
Letra Dominical, as eras Cronológicas, os dias da era de Cristo e os séculos.
Assinalava, por fim, os feriados, os dias Santos e as festas móveis.
Faziam parte
das suas ferramentas extra o barómetro e termómetro e o mostrador dos pontos
cardeais. Despertava com música à escolha, tinha campainha e acendia, também, a
luz a toda a hora desejada. Contava as horas, corrigindo a diferença horária
existente entre o calendário gregoriano em uso no Mundo Ocidental e o tempo solar,
fazia uma oração/saudação em termos religiosos, sem esquecer o acerto da hora
para os vários pontos do globo.
Com o
relógio era também possível fazer a previsão do tempo e saber sobre os eventos
mais marcantes a nível nacional e internacional, como a data em que foi
realizado o primeiro voo de aviação, a construção do primeiro telefone sem
fios, assim como o rádio gravador e o detetor de chamadas. Tinha, ainda, um aparelho que chamava o dono da casa.
Relata Marco
Penela, técnico superior do Município que, quando o foram buscar, ainda
funcionava, mas, após o transporte para o Posto de Turismo, numa distância de cerca
de 500 metros, uma vez colocado e religado à eletricidade, nunca mais trabalhou.
Obviamente, penso eu, não terá sido por ter passado ao estatuto de funcionário municipal,
como se diz dum bode que um município expropriara, mas que, depois, cessou de
exercer as suas funções.
Pelos vistos,
logo na altura se fizeram várias tentativas com alguns relojoeiros antigos que
eram colegas de Amândio José, mas ninguém conseguiu voltar a pôr a trabalhar o
relógio. A última tentativa foi há seis ou sete anos. Veio um relojoeiro suíço
que disse que era muito complicado colocar o relógio a funcionar porque era um mecanismo
muito complexo.
Apesar de o
relógio estar avariado, quem passa por Tabuaço não deixa de dar uma saltada ao
Posto de Turismo para apreciar aquele que já é considerado um “ex-líbris” do
concelho.
Clara
Martins, funcionária da autarquia, observando que os turistas “ficam perplexos
com a complexidade do relógio”, considera que este tem sido motivo da vinda a
Tabuaço por parte de muitos visitantes e turistas que passam a palavra sobre o
Rijomax e as pessoas acabam por voltar. E o interesse crescente por este
património levou a Câmara Municipal de Tabuaço a avançar com o restauro e
limpeza do objeto, numa operação que está a ser realizada por técnicos do Museu
do Douro. Desde o início de fevereiro que, uma vez por semana, dois
profissionais andam à volta do relógio. Já fizeram uma primeira limpeza, mais
geral, e agora estão a realizar trabalhos mais “afinados”.
Carlos Mota esclarece
que “a limpeza não é só limpar o pó” e salienta que, nesta operação, os
técnicos têm que ter em atenção os materiais usados para limpar, para não danificar
a obra de arte. Além disso, estão a ser colados os elementos que se soltaram
com o passar do tempo. Está, pois, em curso uma limpeza mais afinada: em
algumas zonas, está a ser utilizada uma mistura de solventes; noutras, uma borracha
vulcanizada. Porém, verifica-se que é muito difícil avançar com uma intervenção
nesta diversidade de materiais: há acrílicos, metal, papel, plásticos, vidro,
madeira, aglomerado. Trata-se, na verdade, de um objeto complexo.
Depois de
concluída a intervenção em curso, orçada em 15 mil euros, a ideia do município
é deslocar o Rijomax para o Museu do Imaginário Duriense, também no centro da
vila de Tabuaço, onde ganhará outro protagonismo.
A Câmara
Municipal sonha ainda colocar o relógio na lista de património mundial da UNESCO
(Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), estando já a trabalhar para isso. E Marco Penela, já
referido, revela que este “é um dos principais objetivos do atual executivo”,
que está a tentar uma candidatura, esperando ter o apoio da Direção Regional da
Cultura do Norte. É um processo que ainda vai ser demorado, mas, pela obra em
apreço, acha que podem tentar e esperam ter resultados.
***
Esta obra de
relojoaria, uma espécie de almanaque vivo, foi um sonho do seu criador, que
desde criança sonhava construir o relógio mais completo do mundo. Tem a
capacidade para desenvolver 34 funções através de todos os seus componentes,
podendo funcionar durante milhares de anos, com margens de erro mínimas. Dividido
por quatro armários, o Rijomax pesa mais de 150 quilos e tem mais de 2 metros
de altura. Construído entre os anos de 1945 e 1973, entrou no Guinness Book of
Records com a patente número 12931. O nome Rijomax vem, como se disse, do
acrónimo de Amândio José Ribeiro e, em cima do nome gravado no relógio,
encontra-se “Aruasi”, acrónimo, do nome da sua esposa Isaura.
Todos os
conhecimentos para a construção do Rijomax foram adquiridos através de livros e
de observação direta, pelo auxílio de material rudimentar, como recortes de
jornais, revistas, entre outros. Nem mesmo a esposa de Amândio tinha
conhecimento do projeto, que foi desenvolvido em total segredo.
Vários foram
os relojoeiros de todo o mundo que tentaram contactar Amândio, que se tornou
uma espécie de Gaudí dos relógios, com o objetivo de comprarem esta peça de
arte. Contudo, o mesmo nunca se desfez do Rijomax.
Mais tarde,
foi vendido ainda por Amândio José Ribeiro à Câmara Municipal de Tabuaço, que
considerou o Rijomax como obra que deveria integrar o Património do Concelho,
podendo ser visitado, na Loja Interativa de Turismo de Tabuaço, já indicada.
Para os mais
curiosos, está agora disponível em versão de folheto a história
que outrora foi contada na primeira pessoa, gravada numa fita pelo próprio
Mestre, “porque já a contei tantas vezes que achei melhor fazer uma gravação”,
dizia o artista, que sublinhava que “é também mais engraçado, parece que é o
Rijomax que a conta”.
O grande objetivo
da autarquia é de voltar a colocar o Rijomax a funcionar. Entretanto, trabalha por
o guindar a património da humanidade.
É bom que
tinja os dois objetivos.
2021.12.20 – Louro de Carvalho
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