Deveria ter
ocorrido o ano passado, em Turim, Itália, no fim do ano, o 44.º Encontro Europeu
de Jovens promovido pela Comunidade Ecuménica de Taizé. Com efeito, foi anunciado
isto mesmo em Wroclaw, pelo Irmão Alois, em dezembro de 2019, aquando do 42.º Encontro Europeu animado pela Comunidade de Taizé, que reuniu 15.000
jovens de todo o continente, sendo a primeira vez que um Encontro Europeu iria ter lugar nesta
cidade, mas a sétima vez em Itália, depois de Roma (1980, 1982, 1987 e 2012) e Milão (1998 e 2005).
E o Arcebispo Cesare Nosiglia, que foi especialmente a
Wroclaw, para estar presente aquando do anúncio, declarou:
“O anúncio feito pelo
irmão Alois de que Turim será a próxima etapa da ‘Peregrinação de Confiança
através da Terra’ enche-nos os corações de alegria e de emoção. Manifesto a minha
sincera gratidão ao irmão Alois e à Comunidade de Taizé, em nome de toda a
Arquidiocese de Turim e de todas as Confissões Cristãs presentes na nossa
região. É para nós um anúncio importante, que representa a confirmação de um
vínculo forte, mas também, ao mesmo tempo, resultado de um longo caminho de
amizade com a Comunidade de Taizé.”.
Porém, por
força das restrições impostas devido à pandemia de covid-19 em todo o mundo, esta etapa da Peregrinação de Confiança teve de ser adiada para o final de dezembro deste ano
de 2021. Não
obstante, com a continuidade da situação pandémica que acusa um grande
recrudescimento na Europa, apesar das vacinas e da observância das restantes
normas sanitárias, o evento teve de encontrar uma dupla modalidade. Como
explicaram, no início do mês de dezembro (mais exatamente no dia 4), os responsáveis da organização, o tradicional
encontro de final de ano será realizado em duas fases: online no final de 2021;
e presencial em julho de 2022, em Turim, na região do Piemonte, norte de
Itália.
Na verdade, em
comunicado, a Comunidade de Taizé informou que “não será possível viver o Encontro Europeu de Turim como o havíamos
imaginado” devido à pandemia, lamentando não poder acolher, neste final do
ano, aqueles que já haviam organizado a sua viagem e agradecendo às Igrejas, bem
como aos habitantes de Turim, “todo o
esforço realizado nos últimos meses”.
Para
remediar, foi decidido realizar o encontro em duas fases sucessivas: entre 28
de dezembro de 2021 e 1.º de janeiro de 2022, na modalidade online, sendo as transmissões
feitas a partir de Turim, com alguns irmãos e com a participação de jovens da
região, de forma que “quem quiser participar poderá fazê-lo via internet”; e,
de 7 a 10 de julho de 2022, na modalidade presencial em Turim, abrindo as
Igrejas de Turim a suas portas aos jovens europeus que “ficarão alojados em
famílias e paróquias da região” e se encontrarão para orações, momentos de
intercâmbio e oficinas, incluindo a oportunidade de rezar em frente ao Santo
Sudário.
Por ocasião
do encontro presencial em Turim, “os
jovens que o desejarem poderão passar alguns dias em Taizé a caminho de Turim
ou depois do encontro, ao retornarem”.
Assim,
a primeira parte do evento já está
em andamento desde o dia 28 de dezembro e prosseguirá até ao próximo sábado, 1.º
de janeiro, conduzida a partir de Turim, por alguns irmãos de Taizé e com a participação
de jovens da região.
A todos
aqueles que, através da Internet, experimentam este momento de fraternidade, o
Papa Francisco assegura a sua proximidade “no pensamento e na oração” e envia
as “suas mais calorosas saudações”.
Na mensagem
assinada pelo Secretário de Estado da Santa Sé, Cardeal Pietro Parolin, afloram
as muitas interrogações do presente que denotam inúmeras inquietações. Com efeito,
muitos interrogam-se se o nosso planeta tem futuro, que responsabilidades temos
de assumir para lhe assegurar a salvaguarda e tornar a terra habitável. A
questão para os jovens é enfatizada com a evocação do premente tema escolhido
para esta iniciativa, que é: “Como
podemos hoje nos tornar artesãos da unidade?”.
O Papa reconhece
que os jovens, ao invés de “cederem ao pessimismo”, decidiram enfrentar
corajosamente estas questões e buscar respostas juntos na escuta da Palavra de
Deus, pois “é quando estamos juntos que o Espírito de Deus sopra de modo
especial”, como se vê no percurso sinodal empreendido pela Igreja (2021-2023) ao procurar “tornar-se mais disponível à obra do
Espírito”, na consciência de quanto os discípulos de Cristo “precisam uns dos outros”.
Porfiando que
os jovens são parte das soluções que o mundo procura, Francisco salienta a
escolha que fizeram de não desviar os olhos do sofrimento humano e das
evidentes urgências do momento, mas de “olhar para estas realidades na
confiança” que lhes é dada na participação nas soluções. Tudo isto decorre do facto
de, a par dos motivos de angústia que emergem neste mundo dos homens, sobressair
o dom do Espírito de Deus que “não cessa de operar e de despertar criadores de
fraternidade, de solidariedade e de unidade”.
Por consequência,
o Cardeal Parolin assegura que o Papa Francisco “pede ao Espírito Santo” que
abençoe os “jovens católicos, ortodoxos e protestantes que se unem ao Encontro
europeu”, confiando-os “à proteção da Virgem Maria”, para que “possam continuar
sendo peregrinos da confiança” para onde quer que o Senhor os mande”.
***
Além do Papa
Francisco, enviaram mensagens para este 44.º encontro europeu dos jovens: o Patriarca
Ecuménico Bartolomeu, o Patriarcado de Moscovo, o Secretário-Geral Interino do
Conselho Mundial de Igrejas, Padre Ioan Sauca, o Secretário do Fórum Mundial
Cristão, Rev. Casely Essamuah, o Pastor Christian Krieger, Presidente da Conferência
das Igrejas Europeias, a Dra. Rosalee Velloso Ewell, Diretora das Relações com
as Igrejas da Aliança Bíblica Universal, o Secretário-Geral das Nações Unidas,
Eng. António Guterres, e a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der
Leyen.
A Comunidade
de Taizé reúne uma centena de irmãos, católicos e de diversas origens evangélicas,
vindos de quase 30 países diferentes. Através da sua própria existência, é uma ‘parábola
de comunidade’: um sinal concreto de reconciliação entre cristãos divididos e
entre povos separados.
Os irmãos da
Comunidade ganham a sua vida pelo próprio trabalho. Não aceitam qualquer
donativo. E, se um irmão recebe uma herança familiar, a Comunidade oferece-a
aos mais pobres. Alguns irmãos vivem em pequenas fraternidades, em zonas
desfavorecidas do mundo, em bairros degradados na Ásia, na África, na América
latina, para serem aí testemunhas de paz perto daqueles que sofrem; procuram
partilhar as condições de vida dos que os rodeiam, esforçando-se por serem uma
presença de amor junto dos mais pobres, dos meninos de rua, dos prisioneiros,
dos moribundos, dos que estão interiormente feridos por ruturas afetivas ou
pelo abandono.
Ao longo dos
anos, jovens em número cada vez maior chegam a Taizé, vindos de todos os
continentes, para viver semanas de encontros. E irmãs de Santo André, uma
comunidade católica internacional fundada há mais de sete séculos, irmãs
Ursulinas polacas e irmãs de São Vicente de Paulo assumem uma parte das tarefas
ligadas ao acolhimento dos jovens.
Pessoas
responsáveis na Igreja também vêm a Taizé. Assim, a comunidade acolheu o Papa São
João Paulo II, o Patriarca Ecuménico Bartolomeu de Constantinopla, Metropolitas
e Bispos de várias Igrejas Ortodoxas, quatro Arcebispos de Cantuária, os
catorze Bispos Luteranos da Suécia e numerosos pastores do mundo inteiro.
A partir de
1962, irmãos e jovens, enviados por Taizé, não cessaram de ir, na maior
discrição, aos países da Europa de Leste, para estarem próximos dos que estavam
presos dentro das suas próprias fronteiras.
O irmão
Roger, o fundador da comunidade, faleceu no dia 16 de Agosto de 2005, com 90
anos, morto durante a oração da noite. E o irmão Alois, que o irmão Roger tinha
escolhido há muitos anos para seu sucessor, é agora o prior da Comunidade.
“Tudo começou em 1940,
quando o irmão Roger, com 25 anos de idade, deixou o seu país de origem, a
Suíça, para ir viver em França, país da sua mãe. Quando era mais novo, tinha
estado imobilizado durante vários anos devido a uma tuberculose pulmonar.
Durante esta longa doença, tinha amadurecido em si o chamamento para criar uma
comunidade. No momento em que começou a II Guerra mundial, teve a certeza de
que, tal como a sua avó tinha feito durante a I Guerra mundial, deveria vir
imediatamente em ajuda daqueles que atravessavam a dura provação da guerra.”.
Taizé,
onde se fixou, ficava perto da linha de demarcação que cortava a França em duas
partes, portanto, bem situada para acolher refugiados da guerra. Amigos de Lyon
ficaram reconhecidos por poderem indicar esta aldeia a quem necessitava de
refúgio. Ali, Roger, graças a módico empréstimo, comprara uma casa, abandonada há
muitos anos, com as suas dependências. Pediu a Geneviève, uma das suas irmãs,
para vir ajudar no acolhimento. Entre os refugiados que abrigaram, havia judeus.
Os meios materiais eram pobres (sem água corrente, iam buscar água potável ao poço da
aldeia). A
comida era modesta, baseada sobretudo em sopas de farinha de trigo comprada num
moinho vizinho a baixo preço. Por respeito para com aqueles que acolhiam, Roger
rezava sozinho. Frequentemente ia cantar para longe de casa, no bosque. E, para
que alguns dos refugiados, judeus ou agnósticos, não ficassem constrangidos,
Geneviève explicava a todos que era melhor que, quem quisesse, rezasse sozinho
no seu quarto.
Os
pais, sabendo que o filho e a irmã se estavam a expor, pediram a um amigo, um
oficial francês reformado, para olhar por eles, o que fez com diligência. No outono
de 1942, avisou-os de que foram descobertos e que deveriam partir sem demora.
Até ao final da guerra, foi em Genebra que Roger viveu e começou vida
comunitárias com os primeiros irmãos.
Puderam
regressar a Taizé em 1944. E, em 1945, um jovem da região fundou uma associação
para cuidar das crianças que a guerra deixara sem família e propôs aos irmãos
acolherem alguns em Taizé. Porém, como uma comunidade de homens não podia
receber crianças, Roger pediu a Geneviève para voltar a Taizé para as acolher e
tornar-se sua mãe. Aos domingos, os irmãos acolhiam os prisioneiros de guerra
alemães, internados num campo próximo. Aos poucos, alguns jovens vieram
juntar-se aos primeiros irmãos, e, no dia de Páscoa de 1949, foram 7 a
comprometer-se para toda a vida no celibato e numa vida comunitária de grande
simplicidade.
No
silêncio dum longo retiro, no inverno de 1952-1953, o fundador escreveu a Regra
de Taizé, que expressava aos seus irmãos o “essencial que torna a vida
comunitária possível”.
Agora, em
Taizé, todos participam na vida comunitária e no programa proposto.
Vir a Taizé
significa ser convidado a uma procura de comunhão com Deus através de orações
comunitárias, de cânticos, do silêncio, da meditação pessoal e da partilha. Uma
vinda a Taizé pode efetivamente ajudar a olhar a vida quotidiana de outra
forma, a encontrar uma grande diversidade de pessoas e a refletir sobre
empenhos na Igreja e na sociedade.
O irmão Roger insistiu frequentemente na importância da oração
comunitária, da música e do canto na
vida da comunidade desde as suas origens.
Dizia o Irmão
Alois, durante um encontro na Igreja da Reconciliação: “Ver tantos jovens na colina, juntos numa grande diversidade, é algo de
muito festivo; dá-nos a grande esperança de que é possível uma humanidade em
paz”.
2021.12.30 – Louro de Carvalho
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