quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Taizé: de novo adiado o 44.º Encontro Europeu de Jovens em Turim

Deveria ter ocorrido o ano passado, em Turim, Itália, no fim do ano, o 44.º Encontro Europeu de Jovens promovido pela Comunidade Ecuménica de Taizé. Com efeito, foi anunciado isto mesmo em Wroclaw, pelo Irmão Alois, em dezembro de 2019, aquando do 42.º Encontro Europeu animado pela Comunidade de Taizé, que reuniu 15.000 jovens de todo o continente, sendo a primeira vez que um Encontro Europeu iria ter lugar nesta cidade, mas a sétima vez em Itália, depois de Roma (1980, 1982, 1987 e 2012) e Milão (1998 e 2005).

E o Arcebispo Cesare Nosiglia, que foi especialmente a Wroclaw, para estar presente aquando do anúncio, declarou:

O anúncio feito pelo irmão Alois de que Turim será a próxima etapa da ‘Peregrinação de Confiança através da Terra’ enche-nos os corações de alegria e de emoção. Manifesto a minha sincera gratidão ao irmão Alois e à Comunidade de Taizé, em nome de toda a Arquidiocese de Turim e de todas as Confissões Cristãs presentes na nossa região. É para nós um anúncio importante, que representa a confirmação de um vínculo forte, mas também, ao mesmo tempo, resultado de um longo caminho de amizade com a Comunidade de Taizé.”.

Porém, por força das restrições impostas devido à pandemia de covid-19 em todo o mundo, esta etapa da Peregrinação de Confiança teve de ser adiada para o final de dezembro deste ano de 2021. Não obstante, com a continuidade da situação pandémica que acusa um grande recrudescimento na Europa, apesar das vacinas e da observância das restantes normas sanitárias, o evento teve de encontrar uma dupla modalidade. Como explicaram, no início do mês de dezembro (mais exatamente no dia 4), os responsáveis da organização, o tradicional encontro de final de ano será realizado em duas fases: online no final de 2021; e presencial em julho de 2022, em Turim, na região do Piemonte, norte de Itália.

Na verdade, em comunicado, a Comunidade de Taizé informou que “não será possível viver o Encontro Europeu de Turim como o havíamos imaginado” devido à pandemia, lamentando não poder acolher, neste final do ano, aqueles que já haviam organizado a sua viagem e agradecendo às Igrejas, bem como aos habitantes de Turim, “todo o esforço realizado nos últimos meses”.

Para remediar, foi decidido realizar o encontro em duas fases sucessivas: entre 28 de dezembro de 2021 e 1.º de janeiro de 2022, na modalidade online, sendo as transmissões feitas a partir de Turim, com alguns irmãos e com a participação de jovens da região, de forma que “quem quiser participar poderá fazê-lo via internet”; e, de 7 a 10 de julho de 2022, na modalidade presencial em Turim, abrindo as Igrejas de Turim a suas portas aos jovens europeus que “ficarão alojados em famílias e paróquias da região” e se encontrarão para orações, momentos de intercâmbio e oficinas, incluindo a oportunidade de rezar em frente ao Santo Sudário.

Por ocasião do encontro presencial em Turim, “os jovens que o desejarem poderão passar alguns dias em Taizé a caminho de Turim ou depois do encontro, ao retornarem”.

Assim, a primeira parte do evento já está em andamento desde o dia 28 de dezembro e prosseguirá até ao próximo sábado, 1.º de janeiro, conduzida a partir de Turim, por alguns irmãos de Taizé e com a participação de jovens da região.

A todos aqueles que, através da Internet, experimentam este momento de fraternidade, o Papa Francisco assegura a sua proximidade “no pensamento e na oração” e envia as “suas mais calorosas saudações”.

Na mensagem assinada pelo Secretário de Estado da Santa Sé, Cardeal Pietro Parolin, afloram as muitas interrogações do presente que denotam inúmeras inquietações. Com efeito, muitos interrogam-se se o nosso planeta tem futuro, que responsabilidades temos de assumir para lhe assegurar a salvaguarda e tornar a terra habitável. A questão para os jovens é enfatizada com a evocação do premente tema escolhido para esta iniciativa, que é: “Como podemos hoje nos tornar artesãos da unidade?”.

O Papa reconhece que os jovens, ao invés de “cederem ao pessimismo”, decidiram enfrentar corajosamente estas questões e buscar respostas juntos na escuta da Palavra de Deus, pois “é quando estamos juntos que o Espírito de Deus sopra de modo especial”, como se vê no percurso sinodal empreendido pela Igreja (2021-2023) ao procurar “tornar-se mais disponível à obra do Espírito”, na consciência de quanto os discípulos de Cristo “precisam uns dos outros”.

Porfiando que os jovens são parte das soluções que o mundo procura, Francisco salienta a escolha que fizeram de não desviar os olhos do sofrimento humano e das evidentes urgências do momento, mas de “olhar para estas realidades na confiança” que lhes é dada na participação nas soluções. Tudo isto decorre do facto de, a par dos motivos de angústia que emergem neste mundo dos homens, sobressair o dom do Espírito de Deus que “não cessa de operar e de despertar criadores de fraternidade, de solidariedade e de unidade”.

Por consequência, o Cardeal Parolin assegura que o Papa Francisco “pede ao Espírito Santo” que abençoe os “jovens católicos, ortodoxos e protestantes que se unem ao Encontro europeu”, confiando-os “à proteção da Virgem Maria”, para que “possam continuar sendo peregrinos da confiança” para onde quer que o Senhor os mande”.

***

Além do Papa Francisco, enviaram mensagens para este 44.º encontro europeu dos jovens: o Patriarca Ecuménico Bartolomeu, o Patriarcado de Moscovo, o Secretário-Geral Interino do Conselho Mundial de Igrejas, Padre Ioan Sauca, o Secretário do Fórum Mundial Cristão, Rev. Casely Essamuah, o Pastor Christian Krieger, Presidente da Conferência das Igrejas Europeias, a Dra. Rosalee Velloso Ewell, Diretora das Relações com as Igrejas da Aliança Bíblica Universal, o Secretário-Geral das Nações Unidas, Eng. António Guterres, e a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

A Comunidade de Taizé reúne uma centena de irmãos, católicos e de diversas origens evangélicas, vindos de quase 30 países diferentes. Através da sua própria existência, é uma ‘parábola de comunidade’: um sinal concreto de reconciliação entre cristãos divididos e entre povos separados.

Os irmãos da Comunidade ganham a sua vida pelo próprio trabalho. Não aceitam qualquer donativo. E, se um irmão recebe uma herança familiar, a Comunidade oferece-a aos mais pobres. Alguns irmãos vivem em pequenas fraternidades, em zonas desfavorecidas do mundo, em bairros degradados na Ásia, na África, na América latina, para serem aí testemunhas de paz perto daqueles que sofrem; procuram partilhar as condições de vida dos que os rodeiam, esforçando-se por serem uma presença de amor junto dos mais pobres, dos meninos de rua, dos prisioneiros, dos moribundos, dos que estão interiormente feridos por ruturas afetivas ou pelo abandono.

Ao longo dos anos, jovens em número cada vez maior chegam a Taizé, vindos de todos os continentes, para viver semanas de encontros. E irmãs de Santo André, uma comunidade católica internacional fundada há mais de sete séculos, irmãs Ursulinas polacas e irmãs de São Vicente de Paulo assumem uma parte das tarefas ligadas ao acolhimento dos jovens.

Pessoas responsáveis na Igreja também vêm a Taizé. Assim, a comunidade acolheu o Papa São João Paulo II, o Patriarca Ecuménico Bartolomeu de Constantinopla, Metropolitas e Bispos de várias Igrejas Ortodoxas, quatro Arcebispos de Cantuária, os catorze Bispos Luteranos da Suécia e numerosos pastores do mundo inteiro.

A partir de 1962, irmãos e jovens, enviados por Taizé, não cessaram de ir, na maior discrição, aos países da Europa de Leste, para estarem próximos dos que estavam presos dentro das suas próprias fronteiras.

O irmão Roger, o fundador da comunidade, faleceu no dia 16 de Agosto de 2005, com 90 anos, morto durante a oração da noite. E o irmão Alois, que o irmão Roger tinha escolhido há muitos anos para seu sucessor, é agora o prior da Comunidade.

Tudo começou em 1940, quando o irmão Roger, com 25 anos de idade, deixou o seu país de origem, a Suíça, para ir viver em França, país da sua mãe. Quando era mais novo, tinha estado imobilizado durante vários anos devido a uma tuberculose pulmonar. Durante esta longa doença, tinha amadurecido em si o chamamento para criar uma comunidade. No momento em que começou a II Guerra mundial, teve a certeza de que, tal como a sua avó tinha feito durante a I Guerra mundial, deveria vir imediatamente em ajuda daqueles que atravessavam a dura provação da guerra.”.

Taizé, onde se fixou, ficava perto da linha de demarcação que cortava a França em duas partes, portanto, bem situada para acolher refugiados da guerra. Amigos de Lyon ficaram reconhecidos por poderem indicar esta aldeia a quem necessitava de refúgio. Ali, Roger, graças a módico empréstimo, comprara uma casa, abandonada há muitos anos, com as suas dependências. Pediu a Geneviève, uma das suas irmãs, para vir ajudar no acolhimento. Entre os refugiados que abrigaram, havia judeus. Os meios materiais eram pobres (sem água corrente, iam buscar água potável ao poço da aldeia). A comida era modesta, baseada sobretudo em sopas de farinha de trigo comprada num moinho vizinho a baixo preço. Por respeito para com aqueles que acolhiam, Roger rezava sozinho. Frequentemente ia cantar para longe de casa, no bosque. E, para que alguns dos refugiados, judeus ou agnósticos, não ficassem constrangidos, Geneviève explicava a todos que era melhor que, quem quisesse, rezasse sozinho no seu quarto.

Os pais, sabendo que o filho e a irmã se estavam a expor, pediram a um amigo, um oficial francês reformado, para olhar por eles, o que fez com diligência. No outono de 1942, avisou-os de que foram descobertos e que deveriam partir sem demora. Até ao final da guerra, foi em Genebra que Roger viveu e começou vida comunitárias com os primeiros irmãos.

Puderam regressar a Taizé em 1944. E, em 1945, um jovem da região fundou uma associação para cuidar das crianças que a guerra deixara sem família e propôs aos irmãos acolherem alguns em Taizé. Porém, como uma comunidade de homens não podia receber crianças, Roger pediu a Geneviève para voltar a Taizé para as acolher e tornar-se sua mãe. Aos domingos, os irmãos acolhiam os prisioneiros de guerra alemães, internados num campo próximo. Aos poucos, alguns jovens vieram juntar-se aos primeiros irmãos, e, no dia de Páscoa de 1949, foram 7 a comprometer-se para toda a vida no celibato e numa vida comunitária de grande simplicidade.

No silêncio dum longo retiro, no inverno de 1952-1953, o fundador escreveu a Regra de Taizé, que expressava aos seus irmãos o “essencial que torna a vida comunitária possível”.

Agora, em Taizé, todos participam na vida comunitária e no programa proposto. 

Vir a Taizé significa ser convidado a uma procura de comunhão com Deus através de orações comunitárias, de cânticos, do silêncio, da meditação pessoal e da partilha. Uma vinda a Taizé pode efetivamente ajudar a olhar a vida quotidiana de outra forma, a encontrar uma grande diversidade de pessoas e a refletir sobre empenhos na Igreja e na sociedade.

O irmão Roger insistiu frequentemente na importância da oração comunitária,  da música e do canto na vida da comunidade desde as suas origens.

Dizia o Irmão Alois, durante um encontro na Igreja da Reconciliação: “Ver tantos jovens na colina, juntos numa grande diversidade, é algo de muito festivo; dá-nos a grande esperança de que é possível uma humanidade em paz”.

2021.12.30 – Louro de Carvalho 

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