sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Que o Natal não seja poluído pelo consumismo e pela indiferença

 

É o apelo do Papa aquando da inauguração, no passado dia 10 de dezembro, da tradicional decoração natalina na Praça mais famosa da cristandade, a Praça de São Pedro, no Vaticano, em Roma, decoração ali exposta até ao próximo dia 9 de janeiro de 2022, Festa do Batismo do Senhor, que encerra a quadra natalícia, podendo os fiéis, peregrinos e visitantes que passarem pela Praça apreciar toda aquela beleza,

O Presépio e a Árvore de Natal foram oficialmente inaugurados em cerimónia realizada, devido à chuva, na Sala Paulo VI, com início às 17 horas de Roma. Presidiu o Arcebispo Fernando Vérgez Alzaga, presidente do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano, estando presentes delegações oficiais dos locais de origem do Presépio e da Árvore.

O majestoso pinheiro ou abeto (Picea abies), de cerca de 28 metros de altura e 8 toneladas de peso, estava na Praça desde 23 de novembro, é oriundo de cultivo sustentável da localidade de Andalo, no Trentino, na Itália, e foi decorado com ornamentos esféricos de madeira. Além disso, conta com iluminação de LED de baixo consumo energético. O Presépio, composto por mais de 30 peças, foi criado por 5 renomados artistas de Huancavelica, no Peru. As estátuas do Menino Jesus, da Virgem Maria, de São José, dos Três Reis Magos e dos pastores foram feitas em tamanho natural de materiais como cerâmica, madeira de maguey (agave) e fibra de vidro.

O Presépio, que evoca os 200 anos da independência do Peru (1821), é formado por imagens que retratam algumas partes da vida dos habitantes dos Andes e estão vestidas com trajes típicos de Chopcca. A estátua de Jesus, por exemplo, terá a aparência de criança “Hilipuska”, envolta num cobertor típico de Huancavelica e amarrada com um “chumpi” ou cinto trançado.

Na manhã da inauguração da predita decoração natalícia, mais propriamente logo após o meio-dia, as delegações que doaram a Árvore de Natal e o Presépio montados na Praça de São Pedro, bem como o Presépio montado no interior da Sala Paulo VI – e organizaram o evento – foram recebidas em audiência por Francisco, na Sala Paulo VI, para apresentação oficial dos presentes.

Francisco saudou a Delegação Peruana de Huancavelica, o departamento em que se localiza o vilarejo de Chopoca, donde vem o grande presépio montado na Praça São Pedro, agradecendo ao Bispo Carlos Salcedo Ojeda as suas palavras e estendendo a sua gratidão às autoridades civis e eclesiásticas, especialmente ao Ministro do Exterior peruano, e a todos quantos colaboraram.

As personagens do presépio, feitas com materiais e vestuário caraterísticos desses territórios, representam os povos andinos e simbolizam o apelo universal à salvação. E o Papa vincou:

Jesus, de facto, veio à terra na concretude dum povo para salvar todos os homens e mulheres, de todas as culturas e nacionalidades. Fez-se pequeno para que possamos acolhê-Lo e receber o dom da ternura de Deus.”.

Ao lado do presépio encontra-se o majestoso abeto dos bosques de Andalo, no Trentino. E Francisco saudou a delegação vinda daquela localidade: as autoridades, os sacerdotes, os fiéis acompanhados pelo Arcebispo Lauro Tisi, a quem agradeceu as suas palavras de saudação.

No final da tarde do dia 10, na conclusão da cerimónia oficial de entrega, foram ligadas as luzes que decoram a árvore, que permanecerá junto ao presépio até ao final das festividades natalinas, sendo todo o conjunto admirado por peregrinos de muitos lugares.

Na sua alocução, considerou o Pontífice que “o abeto é sinal de Cristo, a árvore da vida, árvore à qual o homem não teve acesso por causa do pecado, mas com o Natal, a vida divina se uniu à vida humana”. Nestes termos, como sustenta o Papa, a árvore de Natal “evoca o renascimento, o dom de Deus que se une ao homem para sempre, que nos dá a sua vida”, vindo as luzes do abeto recordar “a luz de Jesus, a luz do amor que continua a brilhar nas noites do mundo”.

E Francisco, observando que “o Natal é isto”, apelou a que “não deixemos que seja poluído pelo consumismo e pela indiferença”, pois os seus símbolos, especialmente o presépio e a árvore decorada, “trazem-nos de volta à certeza que enche os nossos corações de paz, à alegria da Encarnação, a Deus que se torna familiar: Ele vive connosco, Ele dá um ritmo de esperança aos nossos dias”. Por isso, Bergoglio perorou:

A árvore e o presépio apresentam-nos a atmosfera típica de Natal que faz parte do património das nossas comunidades: uma atmosfera de ternura, partilha e intimidade familiar. Não vamos viver um Natal falso e comercial! Deixemo-nos envolver pela proximidade de Deus, pela atmosfera natalícia que a arte, a música, as canções e as tradições trazem aos nossos corações.”.

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Já no domingo, 5 de dezembro, o Arcebispo Dom Rino Fisichella, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, inaugurou a exposição “100 presépios no Vaticano”. É a 4.ª edição dessa exposição internacional que reúne presépios de diferentes partes do mundo, feitos com diferentes materiais e de diferentes tamanhos, que está patente sob a colunata de Bernini, na Praça de São Pedro, de acesso gratuito, e vai até 9 de janeiro de 2022, todos os dias das 10 às 20 horas exceto em 24 e 31 de dezembro, que fechará às 17 horas.

Neste ano, a mostra é composta por 126 presépios de diversos países, incluindo Uruguai, Colômbia, Peru, Itália, Alemanha, Hungria, Eslovénia, Eslováquia, Croácia, Indonésia e Estados Unidos, tendo-se encarregado as embaixadas junto à Santa Sé de promover o evento nos diversos países.

Segundo uma nota do referido Pontifício Conselho, os 126 presépios “resumem a inspiração e a imaginação dos artesãos que os realizam” e “os materiais utilizados para os artefactos são variados: papel, tecido, cortiça, madeira”.

É pertinente, a este propósito, recordar que, em 2020, o Papa Francisco destacou que a árvore de Natal e o presépio “são sinais de esperança, especialmente neste tempo difícil”. Frisou que, em muitas casas, “estes dois sinais do Natal” são preparados para “a alegria das crianças e também dos grandes”. Por isso, exortou a que não nos detenhamos no sinal, mas que vamos “ao sentido, isto é, a Jesus: ao amor de Deus que Ele nos revelou, de ir à infinita bondade que fez brilhar o mundo”. E advertiu:

Não há nenhuma pandemia, nenhuma crise que possa extinguir esta luz. Deixemo-la entrar em nossos corações: estendamos nossas mãos àqueles que mais necessitam, assim Deus nascerá de novo em nós e em nosso meio.”.

Já em 2019, ano em que levou mais a fundo a espiritualidade do presépio, inspirado pelo Poverello de Assis, o Papa nos encorajou a construir o presépio em casa porque nos lembra que “Jesus entrou em nossa vida concreta”. E considerou então que “fazer o presépio é celebrar a proximidade de Deus”, que permite redescobrir que “Deus é real, concreto, vivo e palpitante”, não “um senhor distante ou um juiz desapegado”, mas “Amor humilde, que desceu até nós”, sendo que “o menino do presépio nos transmite a sua ternura”. E afirmou:

Todos aqueles que vierem aqui à Sala Paulo VI nos próximos dias poderão saborear esta atmosfera, graças também ao presépio que vai ser inaugurado e foi feito por jovens da paróquia de São Bartolomeu em Gallio, na diocese de Pádua, que estavam presentes com o Bispo Claudio Cipolla”. 

E Francisco, agradecendo as palavras de saudação do Bispo, explicitou:

Estou grato por este presente, fruto do compromisso e da reflexão sobre o Natal, a festa da confiança e da esperança. A razão da nossa esperança é que Deus está connosco, Ele confia em nós e nunca se cansa de nós! Ele vem habitar com os homens, escolhe a terra como sua morada para estar connosco e assumir as realidades onde transcorremos os nossos dias. Isto é o que o nos ensina o presépio.”.

O Papa, este ano, vincou o sentido do Natal dizendo:

No Natal, Deus revela-Se não como Aquele que está nas alturas para dominar, mas como Aquele que se inclina, pequeno e pobre, para servir: isto significa que a forma de se assemelhar a Ele é a de se rebaixar, de servir. Para que seja verdadeiramente Natal, não esqueçamos isto: Deus vem para estar connosco e pede-nos para cuidarmos dos nossos irmãos e irmãs, especialmente os mais pobres, mais fracos e mais frágeis, a quem a pandemia ameaça marginalizar ainda mais. Pois foi assim que Jesus veio ao mundo, e o presépio lembra-nos disso. Que Nossa Senhora e São José nos ajudem a viver o Natal desta forma.”.

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Também na tarde de 13 de dezembro, o Cardeal Konrad Krajewski, esmoler do Papa, presidiu, convidado pelo respetivo prelado, na Diocese de Crema, região italiana da Lombardia, à inauguração e bênção do presépio feito no pátio do palácio episcopal por especialistas em presépios de Cremona, envolvendo o grupo de pessoas acolhidas no albergue.

O presépio é baseado no Arco de Adriano em Jerash, na Jordânia, e repropõe as ruínas que, como diz o Papa na Carta apostólica “Admirabile signum” sobre o significado e o valor do presépio, são um “sinal visível da humanidade caída” que Jesus veio “para curar e reconstruir”.

O Bispo da Diocese de Crema, Dom Daniele Gianotti apresentou o convidado, depois teve lugar uma oração, concluída com a bênção dos presentes e do presépio. Em seguida, deslocaram-se à catedral para um breve encontro com o esmoler do Papa. Após um breve discurso da prefeita de Crema, Stefania Bonaldi, o Cardeal Krajewski ilustrou o seu trabalho ao serviço dos pobres. E passou a contar a sua experiência do encontro com os sem-teto, a instalação de banheiros e chuveiros ao lado da colunata de São Pedro (nos quais 200 pessoas tomam banho todos os dias). Além disso, há a barbearia para os sem-abrigo, o fornecimento de roupas indispensáveis, a criação duma clínica que emite receitas mediante as quais os medicamentos são entregues gratuitamente na farmácia vaticana. Tudo isso com a ajuda de muitos voluntários. E disse:

Não ajudamos os pobres oferecendo-lhes um euro ou algo semelhante: eles precisam de nós, precisam de nos contar algo sobre as suas vidas. Acima de tudo, eles precisam de amizade.”.

Krajewski também disse administrar a conta corrente do Santo Padre, sendo que tudo o que ele recebe vai para os pobres.

Contou que era mestre-de-cerimónias, mas Francisco queria-o como esmoler, como lhe explicou no avião que os levava para a JMJ do Rio de Janeiro. Pedia-lhe que deixasse o seu ofício, advertia-o de que seria um começo difícil, mas depois sentir-se-ia imerso no Evangelho.

E, no âmbito da opção preferencial pelos pobres, o purpurado porfiou que, “quando vivemos de acordo com o Evangelho, fazemos a escolha pelos pobres”, pois, quando alguém lava um pobre, lava o corpo do próprio Jesus. Por isso, garante que, graças aos pobres, hoje é melhor, melhorou a sua vida “como cristão, como sacerdote e como bispo”.

No final, o cardeal deu a todos um Terço do Papa Francisco e um cartão natalino com as felicitações do Santo Padre.

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Neste espírito de atenção aos mais vulneráveis e sob o lemaCuidar da saúde do coração e assim sentir-se menos invisível e sozinho”, os pobres vivem, na Praça de São Pedro, desde o dia 25 de outubro, uma boa experiência, como informou a Sala de Imprensa da Santa Sé, do início da manhã às 18 horas, graças à iniciativa “As estradas do coração, uma viagem na prevenção”, em colaboração com a Esmolaria Apostólica, organismo da Santa Sé que exerce a caridade para com os pobres em nome do Papa, e os médicos do Hospital São Carlos de Nancy de Roma.

Efetivamente, ao lado da colunata, foi montada uma Clínica Móvel onde são realizadas consultas gratuitas de cardiologia e de clínica geral. A iniciativa, organizada pelo Tiberia Hospital e promovida pela Fundação Italiana do Coração, é itinerante.  O objetivo é conscientizar sobre as boas práticas de vida quotidiana e a importância de fazer check-ups periódicos. De facto, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte na Itália, sendo responsável por 35,8% de todas as mortes, com incidência maior entre a população feminina: 38,8% de mulheres contra 32,5% de homens. A percentagem aumenta consideravelmente se a pessoa vive na rua e se tem vários vícios.

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Entretanto, a 12 de dezembro, nasceu uma nova estrutura de acolhimento em Lodi, no complexo da Paróquia de Santa Maria Auxiliadora. O esmoler do Papa acompanhou a sua inauguração.

A Missa na Catedral concelebrada com Dom Maurizio Malvestiti, a inauguração duma exposição e da nova “Casa São José”, seguida pelo almoço no refeitório diocesano dos pobres estão entre as atividades do Esmoler pontifício naquele domingo, em Lodi.

A exposição intitulada “Testemunhos, um dom para a Casa São José”, reúne desenhos dos alunos do Colégio artístico da cidade. A nova estrutura de acolhimento, no complexo da paróquia de Santa Maria Auxiliadora, é dedicada ao esposo de Maria e guardião terreno de Jesus: a ele, patrono da Igreja universal, Francisco quis dedicar o ano que teve início a 8 de dezembro de 2020 e foi concluído a 8 de dezembro de 2021.

Sobre a Casa de São José, é de clarificar que se trata do novo dormitório para os pobres, uma estrutura organizada da seguinte forma: 28 camas distribuídas em quartos diferentes, uma área de acolhimento, um centro de escuta, chuveiros, o centro diurno, um salão, uma lavandaria.

As instalações da antiga Convenção de São José – como recorda o diário “Avvenire – foram objeto de importante remodelação. Dom Maurizio Malvestiti, Bispo de Lodi, visitou várias vezes o canteiro de obras nos últimos meses. E, “sob a proteção de São José, pai, trabalhador, homem justo – lê-se no jornal “Il Cittadino di Lodi” – serão alojados os sem-teto e aqueles que trabalham diariamente por eles”.

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Efetivamente “Pobres sempre tereis convosco(Mc 14,7), mas o que importa é eliminar as causas e as formas de pobreza e, sobretudo, tratar bem os pobres e ajudá-los a sair da situação de pobreza de forma consolidada.

Sejam estas iniciativas protagonizadas ou acompanhadas por personalidades do Vaticano ou a ele ligadas inspiradoras do Natal de partilha, de não consumismo e de banimento da indiferença, em suma, do Natal segundo do coração de Deus e ao encontro do homem.

2021.12.17 – Louro de Carvalho

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