É o apelo do
Papa aquando da inauguração, no passado dia 10 de dezembro, da tradicional
decoração natalina na Praça mais famosa da cristandade, a Praça de São Pedro, no
Vaticano, em Roma, decoração ali exposta até ao próximo dia 9 de janeiro de
2022, Festa do Batismo do Senhor, que encerra a quadra natalícia, podendo os
fiéis, peregrinos e visitantes que passarem pela Praça apreciar toda aquela
beleza,
O Presépio e
a Árvore de Natal foram oficialmente inaugurados em cerimónia realizada, devido
à chuva, na Sala Paulo VI, com início às 17 horas de Roma. Presidiu o Arcebispo
Fernando Vérgez Alzaga, presidente do Governatorato do Estado da Cidade do
Vaticano, estando presentes delegações oficiais dos locais de origem do
Presépio e da Árvore.
O majestoso pinheiro
ou abeto (Picea abies), de cerca de 28 metros de altura e 8 toneladas de
peso, estava na Praça desde 23 de novembro, é oriundo de cultivo sustentável da
localidade de Andalo, no Trentino, na Itália, e foi decorado com ornamentos
esféricos de madeira. Além disso, conta com iluminação de LED de baixo consumo
energético. O Presépio, composto por mais de 30 peças, foi criado por 5
renomados artistas de Huancavelica, no Peru. As estátuas do Menino Jesus, da Virgem
Maria, de São José, dos Três Reis Magos e dos pastores foram feitas em tamanho
natural de materiais como cerâmica, madeira de maguey (agave) e fibra de vidro.
O Presépio,
que evoca os 200 anos da independência do Peru (1821), é formado por imagens que retratam algumas partes da vida dos habitantes
dos Andes e estão vestidas com trajes típicos de Chopcca. A estátua de Jesus,
por exemplo, terá a aparência de criança “Hilipuska”, envolta num cobertor
típico de Huancavelica e amarrada com um “chumpi” ou cinto trançado.
Na manhã da
inauguração da predita decoração natalícia, mais propriamente logo após o
meio-dia, as delegações que doaram a Árvore de Natal e o Presépio montados na
Praça de São Pedro, bem como o Presépio montado no interior da Sala Paulo VI –
e organizaram o evento – foram recebidas em audiência por Francisco, na Sala
Paulo VI, para apresentação oficial dos presentes.
Francisco saudou
a Delegação Peruana de Huancavelica, o departamento em que se localiza o
vilarejo de Chopoca, donde vem o grande presépio montado na Praça São Pedro,
agradecendo ao Bispo Carlos Salcedo Ojeda as suas palavras e estendendo a sua
gratidão às autoridades civis e eclesiásticas, especialmente ao Ministro do
Exterior peruano, e a todos quantos colaboraram.
As
personagens do presépio, feitas com materiais e vestuário caraterísticos desses
territórios, representam os povos andinos e simbolizam o apelo universal à
salvação. E o Papa vincou:
“Jesus, de facto, veio à terra
na concretude dum povo para salvar todos os homens e mulheres, de todas as culturas
e nacionalidades. Fez-se pequeno para que possamos acolhê-Lo e receber o dom da
ternura de Deus.”.
Ao lado do
presépio encontra-se o majestoso abeto dos bosques de Andalo, no Trentino. E Francisco
saudou a delegação vinda daquela localidade: as autoridades, os sacerdotes, os
fiéis acompanhados pelo Arcebispo Lauro Tisi, a quem agradeceu as suas palavras
de saudação.
No final da
tarde do dia 10, na conclusão da cerimónia oficial de entrega, foram ligadas as
luzes que decoram a árvore, que permanecerá junto ao presépio até ao final das
festividades natalinas, sendo todo o conjunto admirado por peregrinos de muitos
lugares.
Na sua alocução, considerou o Pontífice que “o abeto é sinal de
Cristo, a árvore da vida, árvore à qual o homem não teve acesso por causa do
pecado, mas com o Natal, a vida divina se uniu à vida humana”. Nestes
termos, como sustenta o Papa, a árvore de Natal “evoca o renascimento, o dom
de Deus que se une ao homem para sempre, que nos dá a sua vida”, vindo as luzes
do abeto recordar “a luz de Jesus, a luz do amor que continua a brilhar nas
noites do mundo”.
E Francisco,
observando que “o Natal é isto”, apelou a que “não deixemos que seja poluído
pelo consumismo e pela indiferença”, pois os seus símbolos,
especialmente o presépio e a árvore decorada, “trazem-nos de volta à certeza
que enche os nossos corações de paz, à alegria da Encarnação, a Deus que se
torna familiar: Ele vive connosco, Ele dá um ritmo de esperança aos nossos dias”.
Por isso, Bergoglio perorou:
“A árvore e o presépio
apresentam-nos a atmosfera típica de Natal que faz parte do património das
nossas comunidades: uma atmosfera de ternura, partilha e intimidade familiar.
Não vamos viver um Natal falso e comercial! Deixemo-nos envolver pela
proximidade de Deus, pela atmosfera natalícia que a arte, a música, as canções
e as tradições trazem aos nossos corações.”.
***
Já no
domingo, 5 de dezembro, o Arcebispo Dom Rino Fisichella, presidente do
Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, inaugurou a
exposição “100 presépios no Vaticano”.
É a 4.ª edição dessa exposição internacional que reúne presépios de diferentes
partes do mundo, feitos com diferentes materiais e de diferentes tamanhos, que
está patente sob a colunata de Bernini, na Praça de São Pedro, de acesso
gratuito, e vai até 9 de janeiro de 2022, todos os dias das 10 às 20 horas
exceto em 24 e 31 de dezembro, que fechará às 17 horas.
Neste ano, a
mostra é composta por 126 presépios de diversos países, incluindo Uruguai,
Colômbia, Peru, Itália, Alemanha, Hungria, Eslovénia, Eslováquia, Croácia,
Indonésia e Estados Unidos, tendo-se encarregado as embaixadas junto à Santa Sé
de promover o evento nos diversos países.
Segundo uma
nota do referido Pontifício Conselho, os 126 presépios “resumem a inspiração e a imaginação dos artesãos que os realizam” e
“os materiais utilizados para os artefactos
são variados: papel, tecido, cortiça, madeira”.
É pertinente,
a este propósito, recordar que, em 2020, o Papa Francisco destacou que a árvore
de Natal e o presépio “são sinais de esperança, especialmente neste
tempo difícil”. Frisou que, em muitas casas, “estes dois sinais do
Natal” são preparados para “a alegria das crianças e também dos grandes”. Por
isso, exortou a que não nos detenhamos no sinal, mas que vamos “ao sentido,
isto é, a Jesus: ao amor de Deus que Ele nos revelou, de ir à infinita bondade
que fez brilhar o mundo”. E advertiu:
“Não
há nenhuma pandemia, nenhuma crise que possa extinguir esta luz. Deixemo-la
entrar em nossos corações: estendamos nossas mãos àqueles que mais necessitam,
assim Deus nascerá de novo em nós e em nosso meio.”.
Já em 2019, ano
em que levou mais a fundo a espiritualidade do presépio, inspirado pelo
Poverello de Assis, o Papa nos encorajou a construir o presépio em casa porque
nos lembra que “Jesus entrou em
nossa vida concreta”. E considerou então que “fazer
o presépio é celebrar a proximidade de Deus”, que permite redescobrir
que “Deus é real, concreto, vivo e
palpitante”, não “um senhor distante ou um juiz desapegado”, mas “Amor
humilde, que desceu até nós”, sendo que “o menino do presépio nos transmite a sua
ternura”. E afirmou:
“Todos aqueles que vierem aqui à Sala Paulo
VI nos próximos dias poderão saborear esta atmosfera, graças também ao presépio
que vai ser inaugurado e foi feito por jovens da paróquia de São Bartolomeu em
Gallio, na diocese de Pádua, que estavam presentes com o Bispo Claudio Cipolla”.
E Francisco,
agradecendo as palavras de saudação do Bispo, explicitou:
“Estou grato por este presente,
fruto do compromisso e da reflexão sobre o Natal, a festa da confiança e da
esperança. A razão da nossa esperança é que Deus está connosco, Ele confia em
nós e nunca se cansa de nós! Ele vem habitar com os homens, escolhe a terra
como sua morada para estar connosco e assumir as realidades onde transcorremos
os nossos dias. Isto é o que o nos ensina o presépio.”.
O Papa, este
ano, vincou o sentido do Natal dizendo:
“No Natal, Deus revela-Se não como Aquele
que está nas alturas para dominar, mas como Aquele que se inclina, pequeno e
pobre, para servir: isto significa que a forma de se assemelhar a Ele é a de se
rebaixar, de servir. Para que seja verdadeiramente Natal, não esqueçamos isto:
Deus vem para estar connosco e pede-nos para cuidarmos dos nossos irmãos e
irmãs, especialmente os mais pobres, mais fracos e mais frágeis, a quem a
pandemia ameaça marginalizar ainda mais. Pois foi assim que Jesus veio ao mundo,
e o presépio lembra-nos disso. Que Nossa Senhora e São José nos ajudem a viver
o Natal desta forma.”.
***
Também na tarde de 13 de dezembro, o Cardeal Konrad Krajewski, esmoler do Papa, presidiu,
convidado pelo respetivo prelado, na Diocese de Crema, região italiana da
Lombardia, à inauguração e bênção do presépio feito no pátio do palácio
episcopal por especialistas em presépios de Cremona, envolvendo o grupo de
pessoas acolhidas no albergue.
O presépio é
baseado no Arco de Adriano em Jerash, na Jordânia, e repropõe as ruínas que,
como diz o Papa na Carta apostólica “Admirabile
signum” sobre o significado e o valor do presépio, são um “sinal visível
da humanidade caída” que Jesus veio “para curar e reconstruir”.
O Bispo da
Diocese de Crema, Dom Daniele Gianotti apresentou o convidado, depois teve
lugar uma oração, concluída com a bênção dos presentes e do presépio. Em
seguida, deslocaram-se à catedral para um breve encontro com o esmoler do Papa.
Após um breve discurso da prefeita de Crema, Stefania Bonaldi, o Cardeal
Krajewski ilustrou o seu trabalho ao serviço dos pobres. E passou a contar a
sua experiência do encontro com os sem-teto, a instalação de banheiros e
chuveiros ao lado da colunata de São Pedro (nos quais 200 pessoas tomam banho
todos os dias). Além disso,
há a barbearia para os sem-abrigo, o fornecimento de roupas indispensáveis, a
criação duma clínica que emite receitas mediante as quais os medicamentos são
entregues gratuitamente na farmácia vaticana. Tudo isso com a ajuda de muitos
voluntários. E disse:
“Não ajudamos os pobres oferecendo-lhes um
euro ou algo semelhante: eles precisam de nós, precisam de nos contar algo sobre
as suas vidas. Acima de tudo, eles precisam de amizade.”.
Krajewski
também disse administrar a conta corrente do Santo Padre, sendo que tudo o que
ele recebe vai para os pobres.
Contou que
era mestre-de-cerimónias, mas Francisco queria-o como esmoler, como lhe
explicou no avião que os levava para a JMJ do Rio de Janeiro. Pedia-lhe que deixasse
o seu ofício, advertia-o de que seria um começo difícil, mas depois sentir-se-ia
imerso no Evangelho.
E, no âmbito
da opção preferencial pelos pobres, o purpurado porfiou que, “quando vivemos de acordo com o Evangelho,
fazemos a escolha pelos pobres”, pois, quando alguém lava um pobre, lava o
corpo do próprio Jesus. Por isso, garante que, graças aos pobres, hoje é
melhor, melhorou a sua vida “como cristão, como sacerdote e como bispo”.
No final, o
cardeal deu a todos um Terço do Papa Francisco e um cartão natalino com as
felicitações do Santo Padre.
***
Neste espírito de atenção aos mais vulneráveis e
sob o lema “Cuidar da saúde do coração e assim sentir-se menos
invisível e sozinho”, os pobres
vivem, na Praça de São Pedro, desde
o dia 25 de outubro, uma boa experiência, como informou a Sala de Imprensa da
Santa Sé, do início da manhã às 18 horas, graças à iniciativa “As estradas do coração, uma viagem na
prevenção”, em colaboração com a Esmolaria Apostólica, organismo da Santa
Sé que exerce a caridade para com os pobres em nome do Papa, e os médicos do
Hospital São Carlos de Nancy de Roma.
Efetivamente,
ao lado da colunata, foi montada uma Clínica Móvel onde são realizadas
consultas gratuitas de cardiologia e de clínica geral. A iniciativa, organizada
pelo Tiberia Hospital e promovida pela Fundação Italiana do Coração, é itinerante.
O objetivo é conscientizar sobre as boas práticas de vida quotidiana e a
importância de fazer check-ups periódicos. De facto, as doenças
cardiovasculares são a principal causa de morte na Itália, sendo responsável
por 35,8% de todas as mortes, com incidência maior entre a população feminina:
38,8% de mulheres contra 32,5% de homens. A percentagem aumenta consideravelmente
se a pessoa vive na rua e se tem vários vícios.
***
Entretanto, a 12 de dezembro, nasceu uma nova estrutura de acolhimento em Lodi, no
complexo da Paróquia de Santa Maria Auxiliadora. O esmoler do Papa acompanhou a
sua inauguração.
A Missa na
Catedral concelebrada com Dom Maurizio Malvestiti, a inauguração duma exposição
e da nova “Casa São José”, seguida pelo almoço no refeitório diocesano dos
pobres estão entre as atividades do Esmoler pontifício naquele domingo, em
Lodi.
A exposição
intitulada “Testemunhos, um dom para a
Casa São José”, reúne desenhos dos alunos do Colégio artístico da cidade. A
nova estrutura de acolhimento, no complexo da paróquia de Santa Maria
Auxiliadora, é dedicada ao esposo de Maria e guardião terreno de Jesus: a ele,
patrono da Igreja universal, Francisco quis dedicar o ano que teve início a 8
de dezembro de 2020 e foi concluído a 8 de dezembro de 2021.
Sobre a Casa
de São José, é de clarificar que se trata do novo dormitório para os pobres,
uma estrutura organizada da seguinte forma: 28 camas distribuídas em quartos diferentes,
uma área de acolhimento, um centro de escuta, chuveiros, o centro diurno, um
salão, uma lavandaria.
As
instalações da antiga Convenção de São José – como recorda o diário “Avvenire” – foram objeto de importante
remodelação. Dom Maurizio Malvestiti, Bispo de Lodi, visitou várias vezes o
canteiro de obras nos últimos meses. E, “sob a proteção de São José, pai,
trabalhador, homem justo – lê-se no jornal “Il Cittadino di Lodi” –
serão alojados os sem-teto e aqueles que trabalham diariamente por eles”.
***
Efetivamente
“Pobres sempre
tereis convosco” (Mc 14,7), mas o que importa é eliminar as causas e as formas
de pobreza e, sobretudo, tratar bem os pobres e ajudá-los a sair da situação de
pobreza de forma consolidada.
Sejam
estas iniciativas protagonizadas ou acompanhadas por personalidades do Vaticano
ou a ele ligadas inspiradoras do Natal de partilha, de não consumismo e de banimento
da indiferença, em suma, do Natal segundo do coração de Deus e ao encontro do
homem.
2021.12.17 – Louro de Carvalho
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