Seguindo a
recomendação da EMA (Agência Europeia do Medicamento), o ECDC (Centro Europeu de Controlo de
Doenças) anunciou, a 1 de dezembro, a
recomendação da vacina para a faixa etária pediátrica entre os 5 e os 11 anos,
referindo que todas as crianças podem ser vacinadas, e considera que as que têm
fatores de risco devem mesmo sê-lo.
Assumiu o
ECDC que segue as considerações da EMA, de 25 de novembro, aceitando a
vacinação das crianças de forma geral para esta faixa etária, mas deixa que
sejam os países a decidir se o devem fazer ou não relativamente às crianças que
não têm fatores de risco. O mesmo não sucede nesta faixa pediátrica com outras
comorbilidades ou fatores de risco, devendo tais crianças ser vacinadas como
qualquer outro grupo prioritário.
Segundo o ECDC e após a análise de vários dados, é fidedigno que as taxas
de hospitalização e a proporção de casos hospitalizados com covid-19 em
crianças nesta faixa etária aumentaram em linha com os casos em outras faixas
etárias, embora “permaneçam em níveis muito mais baixos nas crianças do que em
adultos”. No entanto, o ECDC
refere que, mesmo nas “crianças sem fatores de risco conhecidos”, também “há
suscetibilidade a doença grave e hospitalização”, pelo que deve ser considerada
a vacinação de todas as crianças entre os 5 e os 11 anos de idade, embora deixe
esta recomendação ser aceite ou não aos países tendo “em consideração a
epidemiologia do SARS-CoV-2 em nível nacional”. E alerta, desde logo, para o facto de o impacto da vacinação nas crianças
ser mais fraco em países com baixa taxa de vacinação em adultos e mais forte em
países com alta taxa de vacinação em adultos, sustentando que “a vacinação de crianças
não pode ser considerada um substituto da vacinação dos adultos”.
Não obstante,
sublinha que “o aumento da taxa de vacinação na população adulta elegível
continua a ser a principal prioridade das campanhas de vacinação contra a
covid-19”, devendo esta reduzir a morbidade e a mortalidade relacionadas com
esta infeção. E observa que as
oportunidades potenciais oferecidas pela vacinação de crianças devem ser
consideradas no contexto dos níveis gerais de aplicação da vacina e da situação
epidemiológica numa determinada região/onde tal vacinação é implementada.
A este respeito,
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, anunciava, a 1 de
dezembro, que as vacinas pediátricas começavam a chegar à Europa a 13 de
dezembro.
É de recordar
que esta decisão do ECDC surge depois de a EMA ter autorizado a entrada no
mercado da vacina da Pfizer/BioNtech para a faixa etária dos 5 aos 11 anos, com
o fundamento de que, neste momento, já não há dúvidas quanto à sua segurança e
eficácia. Mais explicava a EMA que esta decisão surgia com base na análise dos
resultados obtidos durante o ensaio clínico conduzido pelas farmacêuticas, que
envolveu 2268 crianças, sendo que, destas, 1517 receberam a vacina e as
restantes um placebo (substância inócua).
No primeiro
grupo, a vacina apresentou uma eficácia de 90,7% para a transmissão, pois
daquele total só 3 foram infetadas pelo SARS CoV-2, enquanto no segundo grupo
houve 16 infetadas. Não foram registadas situações de miocardite, uma das
preocupações como efeito colateral da vacina. Contudo, a Pfizer já disse que,
embora não tenham sido registados casos nestes grupos, não quer dizer que estas
situações não possam ocorrer, embora muito esporadicamente.
A dose pediátrica da vacina
covid-19 Comirnaty, segundo a EMA,
reúne duas doses de uma fração de 10 microgramas da vacina, 1/3 do volume da
dose administradas em pessoas com mais de 12 anos. Porém, “tal como no
grupo etário mais velho”, a administração deve ser feita com “duas injeções nos
músculos do antebraço, com três semanas de intervalo”. Também a SPP (Sociedade
Portuguesa de Pediatria) já anunciou
que a vacinação é “segura e eficaz” nesta faixa etária, manifestando-se a favor
ao assegurar que “não se opõe à vacinação de crianças” e que “vale a pena”, se
reduzir confinamentos nas escolas, opinião bem diferente da apresentada em
abril, quando reforçava a necessidade de haver ensaios clínicos para se obter
mais evidência científica sobre o assunto. Posição diferente tem o grupo de
peritos (pediatras,
cardiologistas, enfermeiros e outros representantes da área da Saúde), que apoia a CTV (Comissão Técnica de Vacinação) da DGS, que se pronunciou contra a vacinação entre os
5 e os 11 anos, defendendo que esta deve ser apenas administrada a casos de
risco acrescido. Isso mesmo o apresentou em parecer à DGS, embora a sua função seja
apenas “consultiva para a Comissão Técnica de Vacinação”, cabendo a esta
produzir o parecer final para a DGS, que depois o entregará à tutela.
A faixa etária das crianças, sobretudo entre os 0 aos 9 anos, é a que tem
vindo a registar maior aumento de incidência da doença nos últimos 2 meses,
levando ao isolamento de muitas turmas.
O Primeiro-Ministro,
entretanto, anunciou mais de 700 mil doses, que devem chegar a território
nacional a partir de 20 de dezembro. E a própria Diretora-Geral da Saúde já se
manifestou favorável a esta vacinação. Contudo o tema não é consensual mesmo na
comunidade de pediatras, havendo quem a defenda, até pelo bem comum e combate à
pandemia, e quem seja contra por entre esta faixa etária a doença não ser
grave, recomendando a vacina só para crianças de risco. Por seu turno, o Ministro da Educação assegurou que
tudo estará preparado se e quando a DGS recomendar a vacinação das crianças a
partir dos 5 anos e, afirmando esperar que o processo decorra de forma rápida e
extensa, explicitou:
“O
que desejamos é que a vacinação ocorra rapidamente e em grande extensão. É isso
que eu espero que aconteça e é isso que eu tenho sentido das direções das
escolas, dos professores e de quem representa os pais e os encarregados de educação.”.
Questionado,
à margem de uma visita à Escola Básica Dr. Manuel da Costa Brandão (Arcos
de Valdevez, Viana do Castelo)
sobre a recomendação da vacina contra a covid-19 para crianças entre os 5 e os
11 anos, assegurou que está tudo a postos, vincando:
“São
mais de 600 mil crianças, dos 5 aos 11 anos; e, se a decisão for avançar, [tudo
está preparado para] fazê-lo o mais rapidamente possível”.
***
A
EMA aprovou efetivamente, em 25 de novembro, a administração da vacina contra a
covid-19 da BioNTech/Pfizer a crianças dos 5 aos 11 anos, sendo esta a primeira
na União Europeia (UE) para esta faixa etária. Porém, apesar da recomendação
deste regulador europeu, a administração da vacina em Portugal estava
dependente da decisão da Direção-Geral da Saúde (DGS), que aguardava parecer positivo
da comissão técnica de vacinação.
Segundo
o Primeiro-Ministro, a confirmar-se a recomendação, as vacinas chegariam a
Portugal a partir de 20 de dezembro e o Ministro da Educação espera que o
processo decorra de forma rápida e extensa e que mereça a mesma adesão que
noutras faixas etárias, até porque “temos números muito invejáveis relativamente a
vacinação”, o que sucede entre os 12 e 17 anos, onde há mais de 90% de vacinação,
esperando-se que tal suceda entre os 5 e os 11 anos.
Para
o governante, a vacinação desta faixa etária seria importante para reforçar a
segurança nas escolas e, também por isso, acrescentou que seria positivo que um
número significativo das crianças abrangidas já pudesse estar vacinada no
início do segundo período letivo, que arranca no dia 10 de janeiro.
Entretanto,
o Secretário de Estado Adjunto e da
Saúde anunciou que “vão chegar cerca de 300 mil vacinas” a 13 de dezembro (antecipou
em 7 dias e previsão do Primeiro-Ministro) e, durante o mês de janeiro, “chegarão mais 400 mil vacinas, o que, para
esta população, será suficiente”, pois “é uma vacinação diferente porque é por
unidose de 10 microgramas, cerca de 1/3 da dose de um adulto”. Estão, nesta faixa
etária, 637 907 crianças para vacinar.
Quando Lacerda
Sales teceu as susoditas considerações, estava ainda à espera da decisão da CTV, prevendo que fosse uma decisão favorável,
para vacinação das crianças até aos 11 anos, havendo depois dessa decisão o
parecer DGS e cabendo ao Governo ter todo o planeamento e toda a logística para
estarmos preparados para vacinar, o estava já a prontos.
O governante
aproveitou o ensejo para destacar os números relativos à vacinação contra a
covid-19 em Portugal, tendo sublinhado a administração de mais de 1,5 milhões
de doses de reforço e mais de dois milhões da vacina contra a gripe até ao
momento, num país onde “85% da
população tem o esquema vacinal completo”.
***
Por
fim, a CTVC da
DGS considerou que os dados disponíveis revelam benefício, a nível individual e
de saúde pública, na vacinação das crianças. Assim, Portugal segue o caminho de
países como a Itália e Espanha. Alguns países já iniciaram o processo de
vacinação dos mais novos, nomeadamente os EUA, Canadá e Israel. Na UE, a Itália
anunciou que vai começar a vacinar estas crianças a 16 de dezembro. E a Espanha
anunciou que deve começar já este processo de vacinação.
A
25 de novembro a EMA
autorizava a entrada no mercado da vacinação da Pfizer/BioNTech para crianças
dos 5 aos 11 anos; a 1 de dezembro, o ECDC aceitava a vacinação desta faixa etária,
deixando ao critério dos países fazê-lo ou não, tendo por base a situação
epidemiológica de cada um. No entanto, tal não deve acontecer sempre que se
trate de crianças com fatores de risco, grupo que o ECDC considera que tem de
ser vacinado e tratado como prioritário. E, em Portugal, a CTVC da DGS já fez saber
que recomenda a vacinação das crianças entre os 5 e os 11 anos. Em nota às redações
a DGS informa que a vacina a usar será a Comirnaty, da Pfizer/BioNTech, a única
que tem parecer positivo da EMA para a formulação pediátrica.
A
CTVC considerou que se justifica a vacinação desta faixa etária, porque os
dados disponíveis demonstram haver um risco de benefícios, quer individual quer
para a saúde pública. E a SPP, que já se pronunciou a favor da vacinação desta faixa
etária, sustenta que está demonstrada segurança e eficácia, mas defendeu que
esta decisão deveria ter em conta outros dados, como a prevalência da infeção
nas crianças. Em comunicado, a SPP lembrava que a doença
nas crianças “é habitualmente assintomática ou ligeira e que, felizmente,
continuam a ser raros os casos graves que obrigam a internamento ou admissão em
unidades de cuidados intensivos”, ocorrendo “maioritariamente em crianças com
fatores de risco”. E, alertando
para o facto de as crianças terem sido fortemente prejudicadas na pandemia
pelos confinamentos sucessivos, “que afetam seriamente a sua aprendizagem e
saúde mental e aumentam o risco de pobreza e de maus-tratos”, sustenta que,
provada a segurança e eficácia da vacina, pode “ser considerada a sua aplicação
neste grupo etário, se isso permitir trazer normalidade à vida das crianças”.
Do lado o Governo, o primeiro a dizer que o país estava preparado para
vacinar as crianças foi o Primeiro-Ministro, que anunciou, a 25 de novembro que
tinham sido adquiridas 700 mil doses para inocular as cerca de 600 mil crianças
desta faixa etária e que as primeiras 300 mil doses chegariam a território
nacional a 20 de dezembro e as restantes até ao final de janeiro, mas, o Secretário
de Estado Adjunto e da Saúde anunciou que o timing
foi antecipado para o dia 13. E o Ministro da Educação espera que vacinação comece antes
do segundo período.
E,
enquanto o susodito grupo de
peritos da DGS manifestou desacordo em relação à vacinação de crianças entre os
5 e os 11 anos, entendendo que as vacinas só devem ser utilizadas em crianças
de risco, a Diretora-Geral da Saúde manifesta-se “confiante” em relação ao
benefício da vacinação contra a covid-19 nas crianças dos 5 aos 11 anos. Em declarações aos jornalistas, Graça Freitas frisou que este grupo de peritos tem a função de
consultor da CTV, referiu que a EMA aprovou a vacina para as crianças e a SPP
também” e frisou que, segundo “o relatório da farmacovigilância, a
vacinação nos jovens dos 12 aos 17 é segura”, sendo que, na faixa dos 5 aos 12, com vacina feita especificamente
para estas idades, “estamos ainda mais confiantes na relação benefício/risco
para a saúde física e mental das crianças”.
Todavia,
alguns especialistas não pensam assim. Por exemplo, Jorge Amil Dias, presidente do Colégio dos Pediatras da Ordem dos
Médicos, que integra o grupo de especialistas, questiona:
“A vacina não impede a aquisição nem a
transmissão do vírus, impede a gravidade e a mortalidade, que é rara nas
crianças. Estar positivo e sem doença nunca foi um problema para as outras
doenças nas crianças. Porque o é agora, para mais quando as pessoas que podem
infetar com gravidade estão protegidas?”.
E Francisco Abecassis (que foi contra a vacinação dos jovens), representante a Ordem dos Médicos no grupo de
trabalho e pediatra da UCI (Unidade de Cuidados Intensivos) do Hospital Santa Maria, diz:
“Tal como aconteceu com a vacinação dos adolescentes, vamos ter uma
decisão política trasvestida de parecer técnico”.
Considerando
que há crianças que precisam de proteção, recomenda a vacina, mas interroga-se sobre
o porquê de vacinar todas e a cada 6 meses. E assinala:
“Se a vacina impedisse a infeção, como no
sarampo, teria a nossa recomendação universal”.
Por seu
turno, Henrique de Barros,
presidente do Instituto de Saúde Pública do Porto, interpela:
“A vacinação entre os 5 e os 11 anos vai fazer muita diferença, porque é o grupo etário que agora tem mais infeção e
terá um impacto na circulação do vírus como teve nos outros grupos. É verdade
que a gravidade é reduzida, mas devemos esperar que morram?”.
O
epidemiologista critica quem afirma que a vacina nada faz sobre a transmissão,
vincando:
“A vacina impede a infeção. Em 100 não vacinados, 60 infetam-se. Em
100 vacinados, infetam-se 18.”.
***
Hans Kluge, diretor da OMS/Europa apelou,
neste dia 7, ante a evolução da pandemia de covid-19, a melhor proteção das
crianças dos 5 aos 14 anos, atualmente a faixa etária mais afetada.
Considerando a obrigatoriedade em relação
à vacina um último recurso absoluto e aplicável só quando todas as opções
viáveis para melhorar as taxas de vacinação tiverem sido esgotadas, diz:
“Não
é incomum ver incidências duas a três vezes maiores em crianças pequenas do que
na população total”.
De acordo com a OMS, os casos estão a
aumentar atualmente em todas as faixas etárias, “com as taxas mais altas
atualmente observadas entre as crianças de 5 a 14 anos”.
A OMS reitera a preocupação com a variante
Ómicron, mas defende que se continue a combater a variante dominante, a Delta,
para “uma vitória amanhã contra a Ómicron”.
E Kluge sublinha:
“A
Ómicron está à vista e em ascensão e temos razões para estarmos preocupados e
cautelosos. Mas o problema agora é a Delta e se
tivermos sucesso contra a Delta hoje, será uma vitória contra a Ómicron amanhã.”.
***
Enfim,
por tudo isto, considerando os riscos e os benefícios – individuais e grupais –
a receita é a vacinação, não sem mobilizar os restantes meios de proteção pessoal
e comunitária. A pandemia não pode vencer a população. É, como tem de ser, uma
decisão política.
2021.12.07 – Louro de Carvalho
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