O cabido da
Basílica Vaticana de São Pedro é uma instituição quase milenar cujo estatuto
está em revisão. Entretanto, o Papa Francisco acabou por aprovar, a 27 de
agosto, na memória litúrgica de Santo Agostinho, as normas transitórias para o
Cabido de São Pedro no Vaticano, que entrarão em vigor no próximo dia 1 de
outubro.
A finalidade
é favorecer o início da reforma desta antiga instituição fazendo ressaltar o
serviço litúrgico e pastoral dos canónicos nesta Basílica papal. Em especial,
quer-se relançar o “serviço de animação litúrgica e pastoral” desempenhado até
agora pelos cónegos na Basílica Vaticana, principalmente aos domingos e
feriados. A reforma atual insere-se no caminho indicado por Bento XVI na sua
alocação de 8 de outubro de 2007.
Os cónegos,
que são pouco menos de 30, segundo as novas normas receberão, “um emolumento
capitular que não pode ser acumulado com outras comissões ou outras
remunerações por serviços prestados na Cúria Romana e outras instituições
ligadas à Santa Sé”.
Será assim
também para os coadjutores do Cabido, que exercem o seu múnus nas celebrações
litúrgicas, nas obras pastorais e em outras funções.
“A
administração e a gestão das atividades económicas ligadas ao Museu do Tesouro
e à venda de objetos religiosos” serão confiadas à Fábrica de São Pedro, “que
assume todos os funcionários contratados pelo Cabido”. Este continuará a manter
e administrar “o património imobiliário e financeiro atualmente em seu nome e
as relativas rendas”. Além disso, estabelece-se que os emolumentos dos cónegos
e dos coadjutores em serviço “são fornecidos pela Fábrica”.
O Cabido da
Basílica Papal de São Pedro no Vaticano é constituído por um colégio de
sacerdotes nomeados pelo Papa no papel de cónegos, assim como os coadjutores. Nasce
como instituição em 1053 com uma Bula de são Leão IX, que veio confirmar uma
realidade já presente há séculos na Basílica constantiniana com o serviço
litúrgico e orante desempenhado por monges pertencentes a vários mosteiros. A
partir do pontificado do Papa Eugénio IV (1145-1153), o Cabido transforma-se gradualmente em comunidade
autónoma, passando de uma estrutura monasterial a uma estrutura canónica.
A atividade
do Cabido abarca desde o início vários campos: do litúrgico ao administrativo
para a gestão do património da Basílica e das igrejas filiais; e do campo
pastoral, com a atividade no bairro “Borgo”, ao caritativo, com os diversos
serviços assistenciais. A partir do século XVI, quando começa a construção da
nova Basílica, a história do Cabido entrelaça-se com a da Fábrica de São Pedro,
duas instituições separadas, mas unidas na pessoa do arcipreste.
Nas últimas
décadas – como destacou Bento XVI em 8 de outubro de 2007 – “ a atividade
do Cabido na vida da Basílica Vaticana orientou-se progressivamente para a
redescoberta das suas verdadeiras funções originárias, que consistem sobretudo
no ministério da oração. (…) Esta é a natureza própria do Cabido Vaticano e o
contributo que o Papa espera de vós: recordar com a vossa presença orante junto
do túmulo de Pedro que nada se antepõe a Deus; que a Igreja toda está orientada
para Ele, para a sua glória; que o primado de Pedro está ao serviço da unidade
da Igreja e que ela por sua vez está ao serviço do desígnio salvífico da
Santíssima Trindade”.
A Capela do
Coro do Cabido guarda as relíquias de São João Crisóstomo e ostenta a imagem Virgem
Imaculada, coroada pelo Beato Pio IX em 1854 e circundada de estrelas,
cinquenta anos depois, em 1904, por São Pio X.
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No encontro com o Cabido em outubro de 2007, Bento XVI reconheceu “a presença ininterrupta do clero
orante na Basílica Vaticana desde os tempos de São Gregório Magno: uma presença
contínua, intencionalmente não ostentosa, mas fiel e perseverante”.
Em seguida,
sintetizou a história do Cabido: teve
início em 1053, quando o Papa Leão IX confirmou ao Arcipreste e aos Cónegos de
São Pedro, estabelecidos no mosteiro de Santo Estêvão Maior, os domínios e os
privilégios concedidos pelos seus predecessores; com o pontificado de Eugénio
IV (1145-1153) adquiriu as caraterísticas de uma
comunidade bem estruturada e autónoma, uma longa e gradual passagem de uma
estrutura monasterial, colocada ao serviço da Basílica para a atual estrutura
canonical.
Depois, fez
referência às funções capitulares. Sob a orientação do Arcipreste, a atividade dirigiu-se,
desde as origens, a vários campos de empenho: o litúrgico para a celebração
coral e para os cuidados diários dos serviços anexos ao culto; o administrativo
para a gestão do património da Basílica e das igrejas filiais; o pastoral, no
qual ao Cabido era confiado o cuidado do bairro “Borgo”; o campo caritativo, no
qual o Cabido desenvolvia formas assistenciais próprias e de colaboração com o
hospital Santo Espírito e outras instituições.
O bairro “Borgo”
fica situado entre o rio Tibre e a Cidade do
Vaticano e centra-se no Castel Sant'Angelo. Originalmente o mausoléu de Adriano
e, mais tarde, uma fortaleza, um palácio papal e uma prisão, o castelo é agora
um museu com vista panorâmica da cidade a partir do terraço. A ampla Via della
Conciliazione, que conduz à Piazza San Pietro, está ladeada de vendedores de
comida e lembranças.
E Bento XVI
recordou que, desde o século XI até 2007, são 11 os Papas que fizeram parte do
Cabido Vaticano e entre eles, os Papas do século XX, Pio XI e Pio XII. A partir
do século XVI, no momento em que começou a construção da nova Basílica (no ano de 2006, celebrou-se o 5.º
centenário da colocação da primeira pedra), a história do Cabido Vaticano entrelaça-se com a da Fábrica
de São Pedro, instituições unidas na pessoa do Arcipreste, que zela por
garantir uma recíproca e proveitosa colaboração.
No século XX,
especialmente nas últimas décadas, a atividade do Cabido progressivamente
orientou-se para a redescoberta das suas verdadeiras funções originárias, que
consistem sobretudo no ministério da oração, pois, se a oração é fundamental
para todos os cristãos, para os cónegos, é uma tarefa, por assim dizer “profissional”.
A este
respeito, o Papa Ratzinger mencionou do conteúdo da sua viagem à Áustria que “a
oração é serviço ao Senhor, que merece ser sempre louvado e adorado e é, ao
mesmo tempo, testemunho para os homens”, sendo que “onde Deus é louvado e
adorado com fidelidade, a bênção não falta”. E definiu a natureza própria do
Cabido Vaticano: recordar com a sua presença orante junto do túmulo de Pedro
que nada se antepõe a Deus; que a Igreja toda está orientada para Ele, para a
sua glória; que o primado de Pedro está ao serviço da unidade da Igreja e que
ela por sua vez está ao serviço do desígnio salvífico da Santíssima Trindade.
Enfim, é de
esperar “a Basílica de São Pedro possa ser um autêntico lugar de oração, de
adoração e de louvor ao Senhor”. Com efeito, “neste lugar sagrado, aonde chegam
todos os dias milhares de peregrinos e turistas de todo o mundo”, torna-se necessário
o testemunho de que, “ao lado do túmulo de Pedro, esteja presente uma
comunidade estável de oração, que garanta a continuidade com a tradição e ao
mesmo tempo interceda pelas intenções do Papa no hoje da Igreja e do mundo”.
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Por falar em
cabido, recordo que foi em 1967 – tinha eu 15 anos, não tinha ainda feito os 16
– no cumprimento dum voto secular feito pelo Cabido da Catedral de Lamego, uma
jornada a pé do Seminário Maior à ermida de São Domingos de Fontelo, que eu
fumei o primeiro cigarro.
Era proibido
fumar. Porém, como o proibido é, muitas vezes, o mais apetecido, um grupo de seminaristas
que ia mais adiante foi ficando para trás e partilhou uma cigarrada às ocultas
dos superiores, que iam mais à frente. E eu, que vinha mais atrasado, atrevi-me
a pedir-lhes um cigarro. Hesitantes, a princípio, pois o “santinho” não podia
prevaricar, mas decididos, a seguir, porque o “também faltoso” não os iria acusar,
lá me deram o cigarro que acendi e fumei. E foi começo da fumaça que durou até
25 de julho de 2000.
É um dos
resultados de se confiar a outrem a execução dos votos seus ou do facto de a oração
própria duma coletividade ceder o passo a uma jornada folclórica porque era necessário
cumprir a todo o custo, por nós ou pelos outros, ou da irrequietude juvenil. Claro,
há tempo para tudo, menos para rezar.
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Bela lição do
Cabido de São Pedro!
2021.08.29 – Louro de Carvalho
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