sábado, 14 de agosto de 2021

Autárquicas 2021: coligações para todos os gostos e outros dados

 

Os eleitores portugueses (ou equiparados) estão convocados para, mais uma vez, irem às urnas a 26 de setembro deste ano, numas eleições autárquicas ainda marcadas pela pandemia. Os partidos e os grupos de cidadãos independentes já tiveram de entregar as listas com as candidaturas. E há várias coligações para as câmaras municipais, assembleias municipais e assembleias de freguesia em diferentes pontos do país. E, se algumas eram expectáveis, outras fizeram levantar as sobrancelhas dos eleitores. Dizem os observadores que há coligações para todos os gostos nestas eleições autárquicas, pois são abundantes e diversas de tal modo que, enquanto algumas não são uma novidade nas valvas dos tribunais e não o serão no boletim de voto, outras são uma junção tida como improvável ainda há pouco tempo.

Nas eleições de 26 de setembro para os diversos órgãos do poder local, ainda com alguns condicionamentos devido à pandemia, vão a votos os órgãos autárquicos de 308 municípios do país e 3.092 freguesias. Ou seja (muita gente confunde): os eleitores escolhem os elementos que formam a câmara municipal, sabendo que o presidente será o cabeça da lista mais votada e os outros mandatos são apurados pelo sistema de representação proporcional e pelo método da média mais alta de Hondt; escolhem a assembleia municipal, sendo os mandatos apurados pelo sistema de representação proporcional e pelo método da média mais alta de Hondt e integram-na por inerência os presidentes de junta de freguesia, mas a mesa da assembleia é eleita pelos seus membros; e escolhem a assembleia de freguesia, sendo os mandatos apurados pelo sistema de representação proporcional e pelo método da média mais alta de Hondt e sabendo-se que o cabeça da lista mais votada será o presidente da junta, que preside à primeira reunião da assembleia para eleição dos outros membros da junta, cabendo às respetivas listas concorrentes promover os lugares vagos pela saída dos eleitos para a junta.

Não sei dizer se, com a supressão ou acoplação de freguesias operada na última reforma administrativa, restará alguma com 150 eleitores ou menos, caso em que não há lugar a assembleia de freguesia, sendo a junta eleita em plenário de cidadãos eleitores, desde que estejam presentes pelo menos 10% dos eleitores.  

Os principais partidos avançam com candidaturas para estas eleições, por vezes de forma independente e, por outras, coligados.

Como é habitual, os portugueses verão no boletim de voto a CDU (Coligação Democrática Unitária), que junta o PCP (Partido Comunista Português), o PEV (Partido Ecologista ‘Os Verdes’) e a AID (Associação Intervenção Democrática). A CDU concorre a 305 municípios e cerca de 1630 freguesias.

Outros partidos que já nos habituaram a vê-los juntos são PSD e CDS, que assinaram um acordo-quadro para coligações que excluiu a possibilidade de inclusão do Chega e que assenta em princípios semelhantes aos das últimas eleições autárquicas. Em 2017, PSD e CDS-PP concorreram coligados em cerca de uma centena de municípios.

O PSD, segundo adiantou o partido em comunicado, integra 146 coligações. E o CDS-PP vai candidatar-se nas eleições autárquicas a 251 concelhos, em grande parte dos quais em conjunto com os socialdemocratas.

Estes dois partidos juntam-se frequentemente a outras forças de direita em algumas autarquias. Nas últimas eleições, em 6 concelhos, os dois partidos coligaram-se com o MPT; e, em 4, com o PPM. Noutros 11 municípios, avançou mesmo a coligação PPD/PSD, CDS-PP, MPT e PPM.

Este ano, junta-se à “mistura” um partido que tem vindo a ganhar expressão: a Iniciativa Liberal (IL). Este partido indicou que vai a votos em cerca de 50 concelhos, referindo ter recebido convites para 112 coligações, mas que só terá aceitado integrar 7. Entre as coligações que avançaram conta-se, por exemplo, uma com o PSD e o CDS na Covilhã, com o CDS, o PPM e o MPT em Olhão e com a Aliança em Matosinhos.

Falando em termos de dimensão, em Odivelas encontra-se uma das maiores coligações destas eleições: PSD, CDS/PP, Aliança, MPT, PDR, PPM e RIR juntam-se para apoiar a candidatura de Marco Pina. Serão também sete os partidos que se coligaram na candidatura de José Manuel Silva, antigo bastonário da Ordem dos Médicos, para a Câmara de Coimbra: PSD, CDS, PPM, Volt, RIR, Aliança e Nós, Cidadãos.

O PS, que anunciou, a 1 de julho, que iria concorrer sozinho nas próximas eleições autárquicas em 95% dos municípios, integraria 6 coligações, nomeadamente com o RIR; e apoia grupos de cidadãos em 8 concelhos, apresentando 51 candidatos independentes a presidências de câmaras. Mais tarde, resolveu acrescentar mais uma coligação, com o Livre, em Lisboa.

Segundo José Luís Carneiro, secretário-geral adjunto do PS, os socialistas, que pretendem “continuar a ser o partido maioritário nas câmaras e nas freguesias”, concorrem em coligação nos municípios de Aveiro, Cascais, Funchal, Maia, Felgueiras, Penafiel e Lisboa, tendo como objetivo eleitoral nacional manter as presidências da ANMP (Associação Nacional dos Municípios Portugueses) e da ANAFRE (Associação Nacional de Freguesias)

Numa sessão em que a direção dos socialistas apresentou as linhas gerais do seu programa político e o perfil dos candidatos que vão concorrer nos diferentes municípios, os dados quantitativos de quem concorre a presidências de câmaras foram primeiro divulgados por Maria da Luz Rosinha, secretária nacional do PS para as autarquias. Esta disse que o PS já havia fechado os processos autárquicos de escolha de candidatos a presidentes em 302 concelhos e ainda não tinha definido em 6 dos 308 municípios, ponto que não foi detalhado, por alegadas razões de estratégia eleitoral.

Nas próximas eleições autárquicas, o PS vai recandidatar 134 dos seus atuais presidentes de câmaras, 44,4% do total. Em relação ao perfil dos restantes candidatos que não são presidentes de câmaras, 16 são deputados (5,3%), 70 desempenham cargos autárquicos (23,2%), e 82% não têm até agora qualquer atividade política – um dado que foi salientado por José Luís Carneiro, sustentando que se trata de um reflexo “da abertura do PS à sociedade civil”.

Em termos de paridade, no que respeita a candidaturas a presidências de câmaras, José Luís Carneiro reconheceu a existência de “obstáculos de ordem económica, social e cultural” no caminho para a plena igualdade de género. Antes, Maria da Luz Rosinha tinha apontado “uma evolução positiva” dos socialistas em relação a esta temática.

Disse a secretária nacional do PS para as autarquias que, nas eleições de 2013, o seu partido apresentou 29 candidatas, das quais 13 foram eleitas – número que subiu para 42 no ato eleitoral de 2017, com a eleição de 18 mulheres. Nas próximas eleições autárquicas, o PS apresenta 44 candidatas a presidentes de câmara, das quais 16 são recandidatas. No que concerne às idades dos candidatos a presidentes de câmaras pelo PS, a média é de 52,5 anos, tendo 62,5% até aos 55 anos. Já no atinente a habilitações literárias, 65,8% têm mais do que a licenciatura, 10,2% possuem mestrado e 3,4% doutoramento.

Entre os primeiros anúncios de coligações encontrou-se logo um que fugiu ao padrão: o PS e o partido de Tino de Rans decidiram formar uma coligação em Penafiel. Os socialistas juntaram-se assim ao partido RIR na coligação “Penafiel Unido”, com Paulo Araújo Correia como cabeça de lista. E decidiu juntar-se a alguns partidos noutras câmaras do país, como é o caso da Câmara de Cascais, onde, em conjunto com o PAN e o Livre, apoiam o candidato independente Alexandre Faria, presidente do Estoril Praia.

 em Lisboa, a candidatura do PS, encabeçada por Fernando Medina, fechou um acordo com o Livre. Com este passo, Rui Tavares desistiu da candidatura para integrar a coligação, ficando, em caso de êxito, com o pelouro da Cultura, Conhecimento, Ciência e Direitos Humanos.

Há também, na capital, uma coligação à direita: PSD, CDS-PP, PPM, MPT e Aliança apoiam o candidato Carlos Moedas. De fora desta coligação ficou a IL, apesar de ter havido conversações. O partido de João Cotrim Figueiredo acabou por avançar com um candidato próprio, que acabou por ser substituído, concorrendo agora Bruno Horta Soares.

Quanto aos restantes partidos, em Oeiras, o movimento de cidadãos independentes “Evoluir Oeiras” fez um acordo para uma coligação com o Bloco de Esquerda, Livre e Volt, que terá como cabeça de lista à Câmara Municipal de Oeiras a presidente do movimento Evoluir Oeiras, Carla Castelo, de 50 anos.

Também nas regiões autónomas há coligações, sendo que, no Funchal, a candidatura de Miguel Gouveia é apoiada por seis partidos: PS, BE, PAN, PDR, NOS Cidadãos e MPT.

O PAN (Pessoas-Animais-Natureza) concorre a 43 câmaras e assembleias municipais e a 69 assembleias de freguesia, tendo decidido fazer coligações nos municípios de Aveiro, Cascais e Madeira, de acordo com o partido.

O Aliança concorre a 33 concelhos do país, com listas próprias em três municípios e em coligação nos restantes 30. E o Chega candidata-se em “cerca de 220 municípios”, mas sem coligações, como adiantou André Ventura.

Há ainda coligações entre partidos com menor expressão. Por exemplo, o MPT (Partido da Terra) e PDR (Partido Democrático Republicano) juntaram-se na candidatura à Câmara de Cascais, numa coligação que tem como cabeça de lista o advogado Luís de Belo Morais.

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Entretanto, sabe-se que Portugal tem para as autárquicas menos 90.560 eleitores, que perdeu em 4 anos. Os dois concelhos com maior quebra no número de eleitores são Lisboa e Porto: juntos têm menos 24.268 votantes. E há 6 concelhos em risco de perder mandatos: Pombal, Vila Real, Fafe, Mogadouro, Vinhais e Vendas Novas. Em contrapartida, Portimão, no distrito de Faro, poderá conquistar mais mandatos.

No total, a Administração Eleitoral da Secretaria Geral do Ministério da Administração Interna identificou 9.306.120 eleitores que poderão votar nas próximas eleições autárquicas, não sendo cidadãos portugueses cerca de 30 mil. Segundo o “Jornal de Notícias(acesso pago), este número compara com os quase 9,4 milhões de pessoas em todo o país, em 2017.

A Administração Eleitoral da Secretaria Geral do Ministério da Administração Interna revelou, no passado dia 17 de julho, em Diário da República – discriminando por distrito, concelho e freguesia – “o mapa com o número de eleitores inscritos no recenseamento eleitoral, obtidos através da base de dados central do recenseamento eleitoral”, tendo por “data de referência o dia 15 de junho de 2021”.

No total, foram identificados 9.306.120 eleitores que podem votar nas próximas eleições autárquicas. Destes, 9.278.234 são cidadãos nacionais, de acordo com a contabilização realizada. Há, assim, cerca de 30 mil eleitores que não são cidadãos portugueses, mas que podem votar. Há 12.711 cidadãos da UE, não nacionais, nos cadernos eleitorais, a que se juntam 15.175 cidadãos estrangeiros residentes em Portugal.

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Como é natural, há sempre dúvidas e falhas. Porém, desta feita, as participações na CNE (Comissão Nacional de Eleições) são muitas, a ponto de se temer que, por falta de pessoal, alguns casos possam vir a ficar sem resposta.

O PSD tentou impugnar a lista de Santana Lopes na Figueira da Foz, não tendo o tribunal considerado procedente o pedido de impugnação, o que levou a candidatura a dizer que o partido queria ganhar na secretaria o que não ganha no terreno. PS e PSD dizem que Rui Moreira mente quando este diz que aqueles partidos têm despesas eleitorais suborçamentadas.

Por outro lado, diz-se que Rui Moreira terá a campanha eleitoral mais cara.

E, como era de esperar, em Lisboa, Medina e Moedas veem passar a pente fino as suas vidas, passado, negócios e gestão da coisa pública. De Medina já disse eu em tempos que não precisa de inimigos, pois, se as pessoas de confiança do Gabinete de Apoio à Presidência o tramam…; de Moedas esperava que a sua postura como comissário europeu o credibilizasse como candidato e como possível presidente. Não sei se não se perderá a escrutinar outros.

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Enfim são vicissitudes de processo eleitoral e cenários dum país que decresce em população e em eleitorado, com um interior quase deserto e um litoral sobrepovoado. E no meio disto tudo, anda a CNE preocupada com 4 cartazes em Lisboa dizendo que se trata de propaganda institucional, quando Medina alega tratar-se de simples avisos. In dubio… E o ridículo chegou a alguns tribunais com as listas publicadas com a simples indicação do código postal a sinalizar a morada dos candidatos como elemento de identificação, pois, enquanto a CNE entende que, segundo a lei em vigor, a identificação dos candidatos inclui a morada explicitada de forma exata e completa, a CNPD, no seu zelo pelo secretismo de dados pessoais, não quer que figure em público a indicação da rua, avenida, praça, praceta, travessa, campo ou beco e n.º de porta da casa do candidato, esquecendo que os candidatos aceitam necessariamente a publicação dos seus dados de identificação.

Esquisitices do país que somos, servindo apenas para se prender a estes problemas de pormenor ou até minudências e sendo incapaz de resolver os grandes problemas que têm a ver com as populações e as estruturas físicas, económicas, sociais e culturais do Estado e da sociedade.

Porém, é preciso ir votar, devendo antes recolher informação que permita um voto consciente!

2021.08.14 – Louro de Carvalho

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