segunda-feira, 16 de agosto de 2021

A 16 anos do assassinato do Irmão Roger Taizé diz não ter medo de acolher

 

Foi brutalmente assassinado com uma facada por uma mulher com desequilíbrio mental, a 16 de agosto de 2005, o Irmão Roger Schutz, fundador e Prior da Comunidade Ecuménica de Taizé, de 90 anos de idade.

O facto ocorreu durante a oração das Vésperas, na igreja da Reconciliação, no coração da comunidade francesa, na presença de mais de 2.500 jovens que participavam na oração.

Hoje, passados 16 anos, renova-se a recordação da dor pelo falecimento de um homem definido por muitos, como “Profeta da Unidade e da Paz”.

Ao mesmo tempo, é pertinente questionar como permanecer firmes no espírito fraterno de acolhimento e encontro, quando mais um religioso, o Padre Olivier Maire, foi também vítima de um crime brutal nos últimos dias? Na verdade, o Padre Olivier Maire, Superior Provincial da Congregação dos Missionários de Montfort (Padres Montfortinos), foi morto no último dia 9 de agosto em Saint-Laurent-sur-Sèvre, na Vendée, por uma pessoa (um homem) também com desequilíbrio mental. A resposta vem do testemunho do Irmão Marek, um dos membros da Comunidade de Taizé: permanece a confiança, que o próprio Deus suscita no homem.

Este irmão explica como é vivido o aniversário da morte do fundador:

Recordamos os primeiros companheiros, com os quais o Irmão Roger começou esta vida de convivência. O nosso fundador continua como um ponto de referência fundamental para a nossa vida comunitária. O seu sucessor, Irmão Alois Löser, costuma falar sobre o que era importante no início da Comunidade. Durante o difícil período de fechamento, por causa da epidemia, refletimos sobre a Regra que o Irmão Roger escreveu para a nossa Comunidade: encarnar o espírito das origens, torná-las vivas, a cada dia; voltar a viver a beleza de uma utopia, que começava a desenvolver-se e a atrair almas em busca de Deus, mediante a partilha do Evangelho e da fraternidade; voltar àquela intuição à qual aderiram milhares de jovens e menos jovens, ao longo do tempo, desejosos de um encontro autêntico e alegria cristã, sem filtros, sem barreiras, sem rótulos.”. 

O aniversário da trágica morte do Irmão Schutz realiza-se, este ano, poucos dias após o assassinato do Padre Olivier Maire, outro triste acontecimento na França. E, mais uma vez, o autor do crime é uma pessoa com desequilíbrio mental: um homem sob vigilância judicial há um ano por ter ateado fogo na Catedral de Nantes e acolhido na comunidade do sacerdote assassinado. Nasce, neste cenário, espontânea a pergunta (outra modalidade da questão formulada supra): quanto é oportuno perseverar numa obra de acolhimento, um modelo de Comunidade em Taizé, que se distingue pelo estilo de vida e espiritualidade religiosa em comunidade? E a resposta é perentória: “Arriscar no acolhimento e perseverar com confiança”.

O Irmão Marek enfatiza a importância da confiança, como ensinou o Irmão Roger, “uma pessoa forte e decidida”, e diz que “a confiança não se baseia na nossa certeza ou eficiência, mas na que Deus suscita no homem”. Porque “Deus confia no homem”, nós “devemos arriscar a acolher”. É, pois, “uma síntese da atitude duma pessoa que continua na Comunidade tendo em conta os perigos apesar das crónicas”. E a postura da Comunidade é inequívoca: acolhe sempre migrantes e refugiados, visto que a grande maioria das pessoas que vem a Taizé busca uma vida normal, a paz, um lugar para desenvolver suas expectativas e anseios. E o Irmão Marek vinca:

Assim, procuramos enfrentar certas situações como a da morte do Padre Olivier. Não temos medo de acolher! Procuramos prestar atenção, mas o Evangelho é claro: ‘Não tenhais medo, eu estarei convosco’!”.

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O tradicional Encontro europeu de Jovens da Comunidade de Taizé, anunciado em Wroclaw, Polónia, no final de 2019, e adiado por um ano devido à pandemia, terá lugar na cidade de Turim, norte da Itália, de 28 de dezembro de 2021 a 1 de janeiro de 2022.

Segundo o portal da Comunidade, o Irmão Marek esclarece que, dada a situação da covid-19, ainda não podem ser definidas as modalidades do encontro. No entanto, quanto possível, os jovens participantes serão hospedados em famílias ou em lugares públicos (oratórios e escolas). As orações do meio-dia decorrerão nas igrejas do centro da cidade e as orações da noite na Feira do Lingotto. O programa da manhã deverá realizar-se nas paróquias e, à tarde, os workshops serão em diversos lugares da cidade. Alguns eventos – como diz o Irmão Marek – serão transmitidos, com maiores detalhes, depois do verão europeu. E o Irmão conclui:

Há quase dois anos que nos preparamos em articulação com a diocese de Turim. Contamos com a participação dos jovens, cujo número ainda não se sabe. Esperamos, em breve, encontrar-nos, rezar juntos, buscar novos caminhos para anunciar o Evangelho e viver como uma verdadeira família humana.”.

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O coronavírus está presente no mundo, em França e, obviamente, também na região onde se encontra Taizé. Por isso, desde 18 de Julho, tem sido solicitado o Certificado Digital COVID da UE a todos os que chegam a Taizé para participar nos encontros.

No entanto, nos últimos dias, vários casos de covid foram confirmados em Taizé: um visitante adulto, 4 jovens voluntários e dois irmãos (o que sucedeu pela primeira vez desde o início da pandemia). Estas pessoas foram colocadas em isolamento. E aqueles que vivem com elas – e que são o que as autoridades francesas chamam “contactos de alto risco” – também isolados.

As autoridades sanitárias são mantidas informadas em tempo real sobre estes casos de contaminação e todas as diretivas recebidas são imediatamente implementadas.

Como medida de precaução extraordinária, desde 11 de agosto, é pedido a todos que usem sempre máscara, mesmo quando estão no exterior e uma equipa de jovens voluntários assegura que os “gestos de barreira” são respeitados em toda a colina.

O Certificado Digital COVID da UE é controlado duas vezes por semana, no dia da chegada e na quarta-feira à tarde. E é importante que todos aqueles que estiveram recentemente em Taizé comuniquem aos responsáveis qualquer contaminação que lhes tenha ocorrido.

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Também esta comunidade ecuménica sofreu os efeitos da pandemia na sua sustentação económica. Na verdade, desde o início da pandemia, o número de pessoas que visitaram Taizé diminuiu cerca de 90% em comparação com um período normal, o que tem obviamente um impacto económico muito forte.

Os aspetos práticos e materiais do acolhimento em Taizé são geridos pela “Association de l’Accueil à Taizé”, uma associação de direito francês, regida pela lei de 1 de julho de 1901. Esta associação, dirigida por irmãos de Taizé, irmãs de Santo André e pessoas próximas da Comunidade, é proprietária dos terrenos e dos edifícios onde os peregrinos são recebidos e é responsável por todas as infraestruturas do acolhimento. Os recursos da associação são as contribuições para os custos dadas pelos participantes nos encontros, de acordo com as possibilidades financeiras de cada um.

A associação tem despesas diretamente ligadas à presença dos participantes nos encontros, tais como a alimentação e despesas de funcionamento. Entre estas despesas, contam-se: a manutenção dos espaços e edifícios, os impostos, os salários de algumas pessoas empregadas pela associação ou despesas ligadas à vida quotidiana dos jovens voluntários. Além disso, os custos de eletricidade, gás e água não são inteiramente proporcionais ao número de pessoas presentes.

Em 2020, as contribuições dos participantes nos encontros só pagaram metade das despesas do acolhimento. Para cobrir a diferença, a associação utilizou a reserva que tinha sido feita para investir na melhoria das infraestruturas, nomeadamente na construção de novos dormitórios e em grandes obras no El Abiodh e na Olinda, para adaptar estes edifícios às normas em vigor e melhorar o isolamento. Todas as obras na colina foram interrompidas em março de 2020 na expectativa de uma melhor situação financeira para poderem ser retomadas.

Perante a dificuldade da situação, no início de 2021 foi excecionalmente publicado um artigo para convidar aqueles que desejam ajudar a participar nas despesas do acolhimento: “Participar no fundo de solidariedade ou apoiar o acolhimento em Taizé”. E a Comunidade agradece calorosamente àqueles que generosamente responderam ao apelo, o que tornou possível manter o acolhimento aberto até à Páscoa, mesmo com muito poucos participantes.

Devido às medidas decididas pelas autoridades francesas no final de março, o acolhimento teve de ficar novamente fechado em abril. Perante este novo encerramento e as restrições às viagens que a pandemia impõe, tornou-se necessário renovar agora este apelo para apoiar o acolhimento em Taizé. Este apelo diz respeito ao acolhimento em Taizé e não à vida dos irmãos, que vivem exclusivamente do seu trabalho, não aceitando doações, nem aceitando para si próprios as suas heranças familiares, pelo que a Comunidade as encaminha para projetos de solidariedade com os mais pobres.  

Quanto possível, a Comunidade apoia financeiramente o acolhimento, mas no contexto atual este apoio não é suficiente para cobrir as necessidades.

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Enfim, uma Comunidade ecuménica que testemunha a confiança perante a morte e na vida, mesmo que marcada pela pandemia ou pela penúria! O absoluto é Jesus Cristo; o caminho é a oração e a aposta no homem; e a força está no acolhimento e na partilha.

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