quarta-feira, 28 de abril de 2021

Beatificação do Servo de Deus José Gregório Hernández

 

No próximo dia 30 de abril, sexta-feira, na igreja do colégio La Salle, em Caracas, Dom Aldo Giordano, Núncio Apostólico na Venezuela, presidirá a celebração da Missa em que será proclamado Beato o Dr. José Gregório Hernández, considerado o Doutor dos Pobres” – uma das beatificações mais esperadas pelo povo venezuelano.

Estava previsto que o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado da santa Sé, que foi núncio apostólico na Venezuela pouco antes de assumir o seu atual ministério no Vaticano, presidisse à Missa com a beatificação, tendo ao lado dos cardeais venezuelanos Baltazar Porras e o emérito de Caracas Jorge Urosa Savino, bem como o atual núncio apostólico. Porém, a Sala de Imprensa da Santa Sé divulgou uma nota na quarta-feira, 28 de abril, a comunicar o cancelamento da viagem do Secretário de Estado, devido à pandemia de covid-19.

Somente 150 pessoas poderão participar na cerimónia de beatificação deste médico venezuelano, que não ocorrerá na grandiosidade do Estádio Olímpico da Universidade Central da Venezuela, sua Alma Mater, mas na predita igreja do colégio La Salle, em Caracas, local que, segundo a coordenadora da Comissão Nacional para a Beatificação, Albe Pérez, se encontra na zona da cidade onde José Gregorio Hernández desenvolveu grande parte do seu trabalho como médico, com especial atenção aos mais desfavorecidos.

Em conferência de imprensa virtual, acompanhada pelo Cardeal Baltazar Henrique Porras Cardozo, a coordenadora comentou que o número estimado de participantes diminuiu significativamente com a mudança de local. No entanto, como bem referiu Pérez, a redução do alcance físico da celebração tem em vista “garantir a saúde dos paroquianos”. Assim, a decisão de celebrar a cerimónia de forma “muito austera”, mas com um fervor transbordante, pretende evitar que se torne um foco de contágios da covid-19, especialmente neste momento, quando a segunda onda da pandemia atinge o país em força.

Não obstante, estarão presentes os arcebispos e bispos da Venezuela, que estarão juntos pessoalmente pela primeira vez desde antes do início da pandemia, bem como pequenos grupos de sacerdotes e algumas Congregações religiosas da Província de Caracas.

A celebração contará com a presença de Yaxury Solórzano, a menina que foi contemplada com o milagre por intercessão de José Gregorio Hernández, na companhia da mãe e da irmã. Estarão também presentes familiares do Dr. José Gregorio Hernández, bem como um pequeno grupo de médicos e três pessoas com mobilidade reduzida, representando todos aqueles que em tempos de doença confiaram ou ofereceram a sua saúde a José Gregorio Hernández.

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Cento e sessenta relíquias com pequenos fragmentos de ossos do Beato Dr. José Gregorio Hernández foram confecionadas com devoção e delicadeza pelas Irmãs Servas de Jesus, Congregação fundada pela Beata, também venezuelana, Madre Carmen Rendiles. E já estão prontas para serem distribuídas dentro e fora da Venezuela – 40 dioceses e arquidioceses já têm seu relicário –, pois a fama de santidade do futuro beato ultrapassou as fronteiras, sobretudo, para pedir a sua intervenção milagrosa nos problemas de saúde, nas atribulações da doença e aquando da proximidade da morte.

O pedido da confeção dos relicários partiu do Cardeal Baltazar Henrique Porras Cardozo, Arcebispo de Mérida e Administrador Apostólico de Caracas, “para que haja uma relíquia do esqueleto do beato em todas as dioceses e paróquias”. A informação é de Dom Tulio Ramírez, Bispo de Guarenas e vice-postulador da Causa de Beatificação e Canonização do Dr. José Gregorio Hernández, em vídeo com a representação das com as Irmãs Servas de Jesus.

Assim, a 30 de abril, finalizada a cerimónia da beatificação, muitas dessas relíquias serão colocadas em santuários e paróquias já existentes e nos que serão dedicados ao Beato “Doutor dos Pobres”.

Os relicários também estão prontos para serem enviados a 40 dioceses e arquidioceses do país, informou na sua conta do Twitter a Arquidiocese de Caracas. A conceção e execução do relicário é obra das venezuelanas Matilde Sánchez e María Teresa Aristiguieta.

Na base, um microscópio feito de ferro venezuelano que simboliza a paixão e dedicação científica do Dr. Hernández. Como corpo, o seu caraterístico chapéu que recorda sua presença e generosidade de espírito. Por fim, no ápice, a relíquia rodeada por uma auréola de pérolas da Ilha de Margarita, que evoca a sua devoção ao Santo Rosário.

As relíquias foram extraídas da exumação dos restos mortais do Dr. José Gregorio Hernández, ocorrida a 26 de outubro de 2020.

Durante a cerimónia, além da relíquia do Dr. José Gregorio Hernández, será revelada a imagem oficial em comunhão com a Diocese de Trujillo, onde fica Isnotú, local de nascimento do venerável. Em todo o caso, a Igreja esclarece que não tem a intenção de “impor” uma imagem única, já que José Gregorio Hernández está presente na mente e no coração das pessoas há mais de 70 anos, com diferentes representações gráficas.

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Enquanto são ultimados os preparativos da cerimónia austera por conta da pandemia, o CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano) une-se à alegria da Igreja na Venezuela.

A este respeito, diz Dom Miguel Cabrejos, Presidente do CELAM e Arcebispo de Trujillo (Peru), numa videomensagem em que se une à alegria de todo o povo de Deus que peregrina na Venezuela para a beatificação do “Doutor dos Pobres”, que “o testemunho de proximidade, de ternura, de misericórdia, de Jesus ressuscitado, faz-se realidade no mundo de hoje com o samaritano do nosso tempo, o agora beato José Gregorio”.

Na mensagem, o presidente do CELAM destacou o admirável ensinamento de vida do Dr. Hernández que “optou pelo cuidado e compaixão pelos enfermos como único sentido da sua vida, misturando-se com os enfermos, rejeitados, oprimidos e necessitados”. E acrescentou:

A sua prática profissional e a sua caridade cristã, fundadas no amor à Eucaristia e na sua comunhão diária, mostram-nos a riqueza do diálogo entre a ciência e a fé, quando esta se coloca ao serviço da pessoa humana, de maneira especial dos mais necessitados”.

Por fim, exprimiu o seu desejo de que o novo beato interceda diante de Deus e da Virgem de Coromoto, padroeira da Venezuela, pelos fiéis da América Latina e do Caribe, para que “sejam testemunhas de uma Igreja samaritana, em saída, missionária e sinodal”.

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A 26 de janeiro, depois de a Arquidiocese de Caracas ter anunciado, no dia 24, que a celebração da beatificação de José Gregorio Hernández seria realizada no final de abril, o Padre Honegger Molina, vigário episcopal para os Meios de Comunicação da Arquidiocese, informou que o Santo Padre já tinha assinado o respetivo decreto e se aproximava o momento do ato litúrgico, passo necessário para José Gregorio Hernández ser elevado às honras dos altares, na Venezuela. Nesse sentido, convidava os venezuelanos a prepararem-se convenientemente nos meses que precedem o rito litúrgico de beatificação, pois, como disse, “a Venezuela, este ano, abre as portas da esperança e da alegria”.

A Santa Sé havia reconhecido o milagre atribuído à intercessão do Dr. José Gregório em abril de 2020 e que, em 19 de junho, o Papa havia autorizado a Congregação das Causas dos Santos a prosseguir com a beatificação. E, a 26 de outubro, dada a proximidade da beatificação, foi realizada nova exumação dos restos mortais do Doutor Gregório, que jazem na Igreja Nossa Senhora da Candelária, na Arquidiocese de Caracas, para onde foram transferidos em 1975 do Cemitério Geral, visto o grande número de devotos que visitavam seu túmulo.

O Doutor José Gregorio Hernández Cisneros, conhecido como “o médico dos pobres”, nasceu a 26 de outubro de 1864, em Isnotú, no Estado Andino de Trujillo. Foi o primeiro de seis irmãos.

Formou-se em medicina em Caracas e prosseguiu os seus estudos em Paris, Berlim, Madrid e Nova Iorque. Tornou-se professor universitário e introduziu o uso do microscópio no país. Fundou a cátedra de Bacteriologia na Universidade de Caracas.

A sua fé forte levou-o a entrar, em 1908, na Certosa di Farneta, na província de Lucca, na Itália, porque queria tornar-se monge. Voltou à Venezuela por motivos de saúde. Alguns anos depois, voltou novamente à Itália para estudar Teologia, frequentando o Colégio Pio Latino-americano, em Roma. Mais uma vez adoeceu. Tornou-se Terciário franciscano. Durante a epidemia de febre espanhola, acompanhou e curou os doentes.

Viveu a sua profissão como uma missão, dedicando a vida, acima de tudo ao serviço dos mais pobres e necessitados, aos quais muitas vezes doava medicamentos, comprados com o seu próprio dinheiro. Foi um grande profissional médico, um cientista, um pensador e, sobretudo, um fervoroso fiel que acreditava em Deus, em quem colocou toda a sua sabedoria e a sua atuação profissional e humana.

Em 29 de junho de 1919, o Dr. Hernández entrou numa farmácia de Caracas para comprar um remédio para um paciente idoso que havia visitado pouco antes. Assim que saiu, foi atropelado por um dos poucos carros em circulação na época. Transportado para o hospital, recebeu a Unção dos Enfermos e veio a falecer pouco depois invocando a Virgem Maria.

A 20 de junho de 2020, depois de o Papa ter assinado o decreto para a beatificação, Dom José Luis Azuaje Ayala, presidente da Conferência Episcopal da Venezuela (CEV), comentando o anúncio da beatificação de José Gregório Hernández Cisneros, conhecido como “o médico dos pobres”, afirmou numa nota: “Um sinal de forte esperança a fim de enfrentar este momento difícil para o país”.

Pode ler-se nota da CEV:

O Dr. Hernández caraterizava-se pelo seu serviço aos mais pobres e a todos aqueles que dele precisavam. Foi um grande profissional médico, um cientista, um pensador e, sobretudo, uma fervorosa pessoa que acreditava em Deus, em quem colocou toda a sua sabedoria e a sua atuação profissional e humana”.

E Dom Azuaje aponta:

Formador de várias gerações de médicos que seguiram o seu caminho, conhecedor lúcido da realidade venezuelana, nunca parou diante dos desafios, por mais difíceis que fossem, mas sempre os uniu à sua vocação de serviço a Deus”.

Neste momento marcado pela pandemia do novo coronavírus, o anúncio da sua beatificação é um instrumento para “fortalecer a esperança” que ajudará a Venezuela a “superar este estado de privação e dificuldade que a população está a viver, especialmente os mais pobres e marginalizados”.

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A 29 de abril de 2020, a Congregação para a Causa dos Santos informava o Cardeal Baltazar Porras de que a Comissão Teológica, composta por 7 especialistas, aprovara o milagre atribuído à intercessão do Dr. José Gregorio Hernández, na cura da menina Yaxury Solorzano. O arcebispo venezuelano recordou que, há 102 anos, na companhia de outros proeminentes médicos venezuelanos, o Dr. José Gregório deu o melhor de si para cuidar dos doentes vítimas da epidemia de gripe espanhola que causou estragos em todo o mundo.

Com imensa alegria no meio dessa pandemia, recebemos boas notícias”. Com estas palavras se iniciava o comunicado do Arcebispo de Mérida e Administrador Apostólico da Arquidiocese de Caracas, Cardeal Baltazar Porras, que informava que a Santa Sé finalmente reconheceu o milagre atribuído à intercessão do venerável Dr. José Gregorio Hernández, um dos médicos mais queridos dos venezuelanos, professor e cientista com profunda vocação religiosa, leigo franciscano, reconhecido pela sua solidariedade com os mais necessitados e lembrado pela sua caridade, generosidade, retidão e serviço aos pobres.

O purpurado venezuelano, num vídeo filmado ao lado da sepultura do futuro Beato, anunciou que a Congregação para a Causa dos Santos informara que a Comissão Teológica, composta por 7 especialistas, examinou o milagre atribuído à intercessão do Dr. José Gregorio Hernández, na cura da menina Yaxury Solorzano, e o aprovou por unanimidade. E disse o Cardeal Porras:

Recebemos esta boa notícia como uma graça do alto, que nos encoraja a continuar em oração para implorar que o nosso venerável médico seja elevado à honra dos altares e continuar a pedir a sua intercessão para superar situações adversas na saúde física e espiritual, como o pedido para que a pandemia que assola o mundo inteiro cesse em breve”.

“O Dr. José Gregorio Hernández é um ícone venezuelano, para além dos posicionamentos ideológicos” – afirmou em mais de uma ocasião o purpurado que agora, no meio da pandemia, o coloca como “o melhor exemplo de um homem que colocou toda a sua capacidade como cientista, como servidor, para o progresso da ciência e para cuidar dos mais pobres”.

O arcebispo recordou que o Dr. José Gregorio, há 102 anos, com outros proeminentes médicos venezuelanos, deu o melhor de si para cuidar dos doentes vítimas ​​da epidemia de gripe espanhola que causou estragos em todo o mundo. E observou e interrogou:

A perícia sanitária juntou-se à forte vontade de servir os afligidos e denunciar as falhas do sistema de saúde da época. Que melhor exemplo a seguir e imitar sua conduta no meio da covid-19?”.

Depois de referir que, no longo caminho até à beatificação ainda faltava a Plenária de cardeais e bispos e a aprovação de Francisco, o cardeal Porras convidou a continuar em oração sincera, na esperança de que a fama de santidade e intercessão de José Gregorio Hernández, proclamada no coração do povo venezuelano, se estenda pelo mundo inteiro como exemplo heroico de entrega a Deus e ao próximo. E concluiu:  

Les recuerdo siempre, ¡José Gregorio Hernández va por muy buen camino!”.

O milagre reconhecido ao Dr. Hernández diz respeito a Yaxuri Ortega, uma menina de 13 anos que sobreviveu a um tiro na cabeça em 2017.

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Enfim, um exemplo a mostrar que a ciência e a fé não se opõem e que a uma profissão científica e a prática da vida cristã são perfeitamente conciliáveis. Querer é poder. E se conhecêssemos o dom de Deus e soubéssemos como é maravilhoso…

2021.04.28 – Louro de Carvalho

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