No próximo dia 30 de abril, sexta-feira, na
igreja do colégio La Salle, em Caracas, Dom Aldo
Giordano, Núncio Apostólico na Venezuela, presidirá a celebração da Missa em
que será proclamado Beato o Dr. José Gregório Hernández, considerado o “Doutor dos Pobres” – uma das beatificações mais esperadas pelo povo
venezuelano.
Estava
previsto que o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado da santa Sé, que
foi núncio apostólico na Venezuela pouco antes de assumir o seu atual
ministério no Vaticano, presidisse à Missa com a beatificação, tendo ao lado
dos cardeais venezuelanos Baltazar Porras e o emérito de Caracas Jorge Urosa
Savino, bem como o atual núncio apostólico. Porém, a Sala de Imprensa da Santa
Sé divulgou uma nota na quarta-feira, 28 de abril, a comunicar o cancelamento
da viagem do Secretário de Estado, devido à pandemia de covid-19.
Somente 150
pessoas poderão participar na cerimónia de beatificação deste médico
venezuelano, que não ocorrerá na grandiosidade do Estádio Olímpico da
Universidade Central da Venezuela, sua Alma Mater, mas na predita igreja
do colégio La Salle, em Caracas, local que, segundo a coordenadora da Comissão
Nacional para a Beatificação, Albe Pérez, se encontra na zona da cidade onde
José Gregorio Hernández desenvolveu grande parte do seu trabalho como médico,
com especial atenção aos mais desfavorecidos.
Em conferência
de imprensa virtual, acompanhada pelo Cardeal Baltazar Henrique Porras Cardozo,
a coordenadora comentou que o número estimado de participantes diminuiu
significativamente com a mudança de local. No entanto, como bem referiu Pérez,
a redução do alcance físico da celebração tem em vista “garantir a saúde dos
paroquianos”. Assim, a decisão de celebrar a cerimónia de forma “muito austera”,
mas com um fervor transbordante, pretende evitar que se torne um foco de
contágios da covid-19, especialmente neste momento, quando a segunda onda da
pandemia atinge o país em força.
Não
obstante, estarão presentes os arcebispos e bispos da Venezuela, que estarão
juntos pessoalmente pela primeira vez desde antes do início da pandemia, bem
como pequenos grupos de sacerdotes e algumas Congregações religiosas da
Província de Caracas.
A celebração
contará com a presença de Yaxury Solórzano, a menina que foi contemplada com o
milagre por intercessão de José Gregorio Hernández, na companhia da mãe e da irmã.
Estarão também presentes familiares do Dr. José Gregorio Hernández, bem como um
pequeno grupo de médicos e três pessoas com mobilidade reduzida, representando
todos aqueles que em tempos de doença confiaram ou ofereceram a sua saúde a
José Gregorio Hernández.
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Cento e
sessenta relíquias com pequenos fragmentos de ossos do Beato Dr. José Gregorio
Hernández foram confecionadas com devoção e delicadeza pelas Irmãs Servas de
Jesus, Congregação fundada pela Beata, também venezuelana, Madre Carmen
Rendiles. E já estão prontas para serem distribuídas dentro e fora da Venezuela
– 40 dioceses e arquidioceses já têm seu relicário –, pois a fama de santidade
do futuro beato ultrapassou as fronteiras, sobretudo, para pedir a sua
intervenção milagrosa nos problemas de saúde, nas atribulações da doença e aquando
da proximidade da morte.
O pedido da
confeção dos relicários partiu do Cardeal Baltazar Henrique Porras Cardozo,
Arcebispo de Mérida e Administrador Apostólico de Caracas, “para que haja uma relíquia
do esqueleto do beato em todas as dioceses e paróquias”. A informação é de Dom
Tulio Ramírez, Bispo de Guarenas e vice-postulador da Causa de Beatificação e
Canonização do Dr. José Gregorio Hernández, em vídeo com a representação das com
as Irmãs Servas de Jesus.
Assim, a 30
de abril, finalizada a cerimónia da beatificação, muitas dessas relíquias serão
colocadas em santuários e paróquias já existentes e nos que serão dedicados ao
Beato “Doutor dos Pobres”.
Os
relicários também estão prontos para serem enviados a 40 dioceses e arquidioceses
do país, informou na sua conta do Twitter a Arquidiocese de Caracas. A
conceção e execução do relicário é obra das venezuelanas Matilde Sánchez e
María Teresa Aristiguieta.
Na base, um
microscópio feito de ferro venezuelano que simboliza a paixão e dedicação
científica do Dr. Hernández. Como corpo, o seu caraterístico chapéu que recorda
sua presença e generosidade de espírito. Por fim, no ápice, a relíquia rodeada
por uma auréola de pérolas da Ilha de Margarita, que evoca a sua devoção ao
Santo Rosário.
As relíquias
foram extraídas da exumação dos restos mortais do Dr. José Gregorio Hernández,
ocorrida a 26 de outubro de 2020.
Durante a
cerimónia, além da relíquia do Dr. José Gregorio Hernández, será revelada a
imagem oficial em comunhão com a Diocese de Trujillo, onde fica Isnotú, local
de nascimento do venerável. Em todo o caso, a Igreja esclarece que não tem a
intenção de “impor” uma imagem única, já que José Gregorio Hernández está
presente na mente e no coração das pessoas há mais de 70 anos, com diferentes
representações gráficas.
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Enquanto são
ultimados os preparativos da cerimónia austera por conta da pandemia, o CELAM (Conselho
Episcopal Latino-Americano) une-se à
alegria da Igreja na Venezuela.
A este
respeito, diz Dom Miguel Cabrejos, Presidente do CELAM e Arcebispo de Trujillo (Peru), numa videomensagem em que se une à alegria de todo o
povo de Deus que peregrina na Venezuela para a beatificação do “Doutor dos Pobres”, que “o testemunho de
proximidade, de ternura, de misericórdia, de Jesus ressuscitado, faz-se realidade
no mundo de hoje com o samaritano do nosso tempo, o agora beato José Gregorio”.
Na mensagem,
o presidente do CELAM destacou o admirável ensinamento de vida do Dr. Hernández
que “optou pelo cuidado e compaixão pelos enfermos como único sentido da sua
vida, misturando-se com os enfermos, rejeitados, oprimidos e necessitados”. E acrescentou:
“A sua prática profissional e a sua caridade cristã, fundadas no amor à
Eucaristia e na sua comunhão diária, mostram-nos a riqueza do diálogo entre a
ciência e a fé, quando esta se coloca ao serviço da pessoa humana, de maneira
especial dos mais necessitados”.
Por fim, exprimiu
o seu desejo de que o novo beato interceda diante de Deus e da Virgem de
Coromoto, padroeira da Venezuela, pelos fiéis da América Latina e do Caribe,
para que “sejam testemunhas de uma Igreja samaritana, em saída, missionária e
sinodal”.
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A 26 de
janeiro, depois de a Arquidiocese de Caracas ter anunciado, no dia 24, que a
celebração da beatificação de José Gregorio Hernández seria realizada no final
de abril, o Padre Honegger Molina, vigário episcopal para os Meios de
Comunicação da Arquidiocese, informou que o Santo Padre já tinha assinado o respetivo
decreto e se aproximava o momento do ato litúrgico, passo necessário para José
Gregorio Hernández ser elevado às honras dos altares, na Venezuela. Nesse
sentido, convidava os venezuelanos a prepararem-se convenientemente nos meses
que precedem o rito litúrgico de beatificação, pois, como disse, “a Venezuela, este ano, abre as portas da
esperança e da alegria”.
A Santa Sé
havia reconhecido o milagre atribuído à intercessão do Dr. José Gregório em
abril de 2020 e que, em 19 de junho, o Papa havia autorizado a Congregação das
Causas dos Santos a prosseguir com a beatificação. E, a 26 de outubro, dada a
proximidade da beatificação, foi realizada nova exumação dos restos
mortais do Doutor Gregório, que jazem na Igreja Nossa Senhora da Candelária, na
Arquidiocese de Caracas, para onde foram transferidos em 1975 do Cemitério
Geral, visto o grande número de devotos que visitavam seu túmulo.
O Doutor
José Gregorio Hernández Cisneros, conhecido como “o médico dos pobres”, nasceu a
26 de outubro de 1864, em Isnotú, no Estado Andino de Trujillo. Foi o primeiro
de seis irmãos.
Formou-se em
medicina em Caracas e prosseguiu os seus estudos em Paris, Berlim, Madrid e
Nova Iorque. Tornou-se professor universitário e introduziu o uso do
microscópio no país. Fundou a cátedra de Bacteriologia na Universidade de
Caracas.
A sua fé
forte levou-o a entrar, em 1908, na Certosa di Farneta, na província de Lucca,
na Itália, porque queria tornar-se monge. Voltou à Venezuela por motivos de
saúde. Alguns anos depois, voltou novamente à Itália para estudar Teologia,
frequentando o Colégio Pio Latino-americano, em Roma. Mais uma vez adoeceu.
Tornou-se Terciário franciscano. Durante a epidemia de febre espanhola,
acompanhou e curou os doentes.
Viveu a sua
profissão como uma missão, dedicando a vida, acima de tudo ao serviço dos mais
pobres e necessitados, aos quais muitas vezes doava medicamentos, comprados com
o seu próprio dinheiro. Foi um grande profissional médico, um cientista, um
pensador e, sobretudo, um fervoroso fiel que acreditava em Deus, em quem
colocou toda a sua sabedoria e a sua atuação profissional e humana.
Em 29 de
junho de 1919, o Dr. Hernández entrou numa farmácia de Caracas para comprar um
remédio para um paciente idoso que havia visitado pouco antes. Assim que saiu,
foi atropelado por um dos poucos carros em circulação na época. Transportado
para o hospital, recebeu a Unção dos Enfermos e veio a falecer pouco depois
invocando a Virgem Maria.
A 20 de
junho de 2020, depois de o Papa ter assinado o decreto para a beatificação, Dom
José Luis Azuaje Ayala, presidente da Conferência Episcopal da Venezuela (CEV), comentando o anúncio da beatificação de José
Gregório Hernández Cisneros, conhecido como “o médico dos pobres”, afirmou numa
nota: “Um sinal de forte esperança a fim de enfrentar este momento difícil
para o país”.
Pode ler-se
nota da CEV:
“O Dr. Hernández caraterizava-se pelo seu
serviço aos mais pobres e a todos aqueles que dele precisavam. Foi um grande
profissional médico, um cientista, um pensador e, sobretudo, uma fervorosa
pessoa que acreditava em Deus, em quem colocou toda a sua sabedoria e a sua
atuação profissional e humana”.
E Dom Azuaje
aponta:
“Formador de várias gerações de médicos que
seguiram o seu caminho, conhecedor lúcido da realidade venezuelana, nunca parou
diante dos desafios, por mais difíceis que fossem, mas sempre os uniu à sua
vocação de serviço a Deus”.
Neste momento
marcado pela pandemia do novo coronavírus, o anúncio da sua beatificação é um
instrumento para “fortalecer a esperança”
que ajudará a Venezuela a “superar este
estado de privação e dificuldade que a população está a viver, especialmente os
mais pobres e marginalizados”.
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A 29 de
abril de 2020, a Congregação para a Causa dos Santos informava o Cardeal
Baltazar Porras de que a Comissão Teológica, composta por 7 especialistas, aprovara
o milagre atribuído à intercessão do Dr. José Gregorio Hernández, na cura da
menina Yaxury Solorzano. O arcebispo venezuelano recordou que, há 102 anos, na
companhia de outros proeminentes médicos venezuelanos, o Dr. José Gregório deu
o melhor de si para cuidar dos doentes vítimas da epidemia de gripe espanhola
que causou estragos em todo o mundo.
“Com imensa alegria no meio dessa pandemia,
recebemos boas notícias”. Com estas palavras se iniciava o comunicado do Arcebispo
de Mérida e Administrador Apostólico da Arquidiocese de Caracas, Cardeal
Baltazar Porras, que informava que a Santa Sé finalmente reconheceu o milagre
atribuído à intercessão do venerável Dr. José Gregorio Hernández, um dos
médicos mais queridos dos venezuelanos, professor e cientista com profunda
vocação religiosa, leigo franciscano, reconhecido pela sua solidariedade com os
mais necessitados e lembrado pela sua caridade, generosidade, retidão e serviço
aos pobres.
O purpurado
venezuelano, num vídeo filmado ao lado da sepultura do futuro Beato, anunciou
que a Congregação para a Causa dos Santos informara que a Comissão Teológica,
composta por 7 especialistas, examinou o milagre atribuído à intercessão do Dr.
José Gregorio Hernández, na cura da menina Yaxury Solorzano, e o aprovou por
unanimidade. E disse o Cardeal Porras:
“Recebemos esta boa notícia como uma graça do alto, que nos encoraja a
continuar em oração para implorar que o nosso venerável médico seja elevado à
honra dos altares e continuar a pedir a sua intercessão para superar situações
adversas na saúde física e espiritual, como o pedido para que a pandemia que
assola o mundo inteiro cesse em breve”.
“O Dr. José
Gregorio Hernández é um ícone venezuelano, para além dos posicionamentos
ideológicos” – afirmou em mais de uma ocasião o purpurado que agora, no meio da
pandemia, o coloca como “o melhor exemplo de um homem que colocou toda a sua
capacidade como cientista, como servidor, para o progresso da ciência e para
cuidar dos mais pobres”.
O arcebispo
recordou que o Dr. José Gregorio, há 102 anos, com outros proeminentes médicos
venezuelanos, deu o melhor de si para cuidar dos doentes vítimas da epidemia
de gripe espanhola que causou estragos em todo o mundo. E observou e
interrogou:
“A perícia sanitária juntou-se à forte vontade de servir os afligidos e
denunciar as falhas do sistema de saúde da época. Que melhor exemplo a seguir e
imitar sua conduta no meio da covid-19?”.
Depois de
referir que, no longo caminho até à beatificação ainda faltava a Plenária de
cardeais e bispos e a aprovação de Francisco, o cardeal Porras convidou a
continuar em oração sincera, na esperança de que a fama de santidade e
intercessão de José Gregorio Hernández, proclamada no coração do povo
venezuelano, se estenda pelo mundo inteiro como exemplo heroico de entrega a
Deus e ao próximo. E concluiu:
“Les recuerdo siempre, ¡José Gregorio Hernández va por muy buen camino!”.
O milagre reconhecido
ao Dr. Hernández diz respeito a Yaxuri Ortega, uma menina de 13 anos que sobreviveu
a um tiro na cabeça em 2017.
***
Enfim, um
exemplo a mostrar que a ciência e a fé não se opõem e que a uma profissão
científica e a prática da vida cristã são perfeitamente conciliáveis. Querer é poder.
E se conhecêssemos o dom de Deus e soubéssemos como é maravilhoso…
2021.04.28 –
Louro de Carvalho
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