domingo, 4 de abril de 2021

A partir de hoje a Páscoa está na rua e nos ares

 

Se a noite da Vigília Pascal encheu os templos e as nossas casas da alegria pascal, agora a Páscoa ecoa nas ruas e nos ares de todas as partes do mundo pela voz da Igreja que soa através da boca de cada crente, pelo pulsar de cada comunidade cristã e significativamente pela firme palavra do supremo Pastor católico. E todos, unânimes, fazemos tinir o pregão: “Jesus, o crucificado, ressuscitou, como disse. Aleluia!.

A Diocese de Viseu levou o “anúncio pascal a casa das pessoas” com duas aeronaves que percorreram o território da diocese com a mensagem ‘Cristo Ressuscitou, aleluia!’. Foi uma atitude criativa em situação de condicionamento resultante da pandemia, sendo importante “fazer chegar o anúncio às pessoas”, segundo o Padre João Zuzarte, vigário da Pastoral da Diocese, que disse terem os sacerdotes querido “suplantar” a tradição de levar o anúncio pascal a casa das pessoas, que é “muito viva na diocese”.

Como observou o Padre João Zuzarte, os párocos tinham uma previsão do horário de passagem, “uma janela temporal de mais ou menos uma hora”, para tocar os sinos quando as aeronaves estivessem a passar nas suas paróquias.

“Tudo começa com a ressurreição de Jesus e queremos passar este anúncio de um Cristo que desceu à terra para nos levantar e fazer-nos levantar o olhar para os céus. De certa forma também para nos lembrarmos de que é Ele o centro da vida cristã, que ilumina com esperança esta situação atual que as pessoas estão a viver” – desenvolveu o sacerdote.

Porque muitas pessoas não puderam participar presencialmente na Eucaristia, por causa da pandemia, nem nas celebrações do Tríduo Pascal, “devido ao medo, à necessidade de ficarem confinadas e à capacidade limitada que as igrejas têm de acolher pessoas”, foi-lhes oferecido este ensejo: “um complemento, as pessoas viverem o espírito pascal nas suas casas, com a sua família, na mesa, mas terem este anúncio que chega até elas de uma forma mais surpreendente”.

Por seu turno, o Bispo de Coimbra assegurou, na homilia da deste Domingo de Páscoa que a humanidade e a sua salvação fazem parte do “plano amoroso de Deus”, mesmo que os tempos de crise sanitária tentem condicionar a vida das pessoas. Na verdade, como disse o prelado conimbricense, a Boa Nova da Ressurreição, “hoje de novo proclamada, traz uma reposta nova às nossas perguntas e inquietações, às que surgem na nossa mente ávida de sentido e às que chegam do exercício das tarefas que temos de fazer para o progresso e para o aperfeiçoamento do nosso mundo”.

Num contexto de “mais interrogações do que certezas” acerca do percurso que havemos de fazer para sair destas situações de crise, sabemos que é precisa “resiliência, solidariedade, sentido do bem comum, defesa da dignidade da vida humana, amor nas relações pessoais, instauração de mais justiça e equidade, respeito pela criação” – que são “pilares essenciais do caminho de renovação urgente à escala local e mundial”. E, para Dom Virgílio Antunes, a Páscoa de Jesus e a sua “mensagem de novidade e de renovação” incluem tudo isto, porque nada do que diz respeito à humanidade e à sua salvação “fica de fora do plano amoroso de Deus”. “A ressurreição de Jesus constitui”, pois, “a notícia de Deus, a revelação do sentido último da nossa existência, que a partir da fé nos há de levar a um compromisso cada vez mais forte com a edificação do mundo em que vivemos”.

O Arcebispo de Braga, por sua vez, propôs fazermos que “a nossa vida seja diferente”.

Considerando que “a Páscoa passa pela Igreja, passa por um Cristo vivo em cada um de nós”, o prelado bracarense, pediu que esta seja “uma Páscoa de vida, não uma Páscoa de pessoas adormecidas”, pois os cristãos têm o mandamento de “continuar a missão de Jesus”, uma “pessoa divina que quis ficar no meio da humanidade”, com “amor incondicional”. E, salientando que Jesus Cristo vive e nos quer vivos, a nós, vincou a importância de assumirmos o “alegre compromisso de cuidar da Igreja”, para que ela seja capaz de mostrar “Cristo vivo e operante na história”.

Em Domingo de Páscoa, Dom Jorge Ortiga sublinhou a necessidade de vivermos na Igreja como “comunhão de todos”, com “o mesmo amor”, sem aceitarmos a indiferença. Frisou que “hoje, na Igreja, já não basta andar, é preciso correr”, no amor recíproco e na atenção pelos problemas da humanidade.

E concluiu com um “anúncio de alegria”, celebrada na Páscoa, mesmo perante as incertezas sobre o futuro que a pandemia levantou.

O Bispo de Santarém quer que os católicos traduzam a Páscoa na vida concreta”, assumindo o compromisso de construir uma sociedade diferente, e explicitou que “temos na Igreja, uma riqueza enorme de Doutrina Social que nos ajuda a refletir e a ter princípios  para bem nos interessarmos pelo mundo, pelas pessoas e pela sociedade em que vivemos”.

O prelado escalabitano sublinhou que a celebração da ressurreição de Jesus, o momento mais importante do calendário litúrgico, abre o Tempo Pascal (50 dias até à solenidade de Pentecostes) e precisou que, se, “até aqui, o desafio foi a caminhada quaresmal para preparar a Páscoa”, doravante, “o desafio é o Tempo Pascal como tempo oportuno e privilegiado para testemunhar a vida nova que Jesus promoveu com a sua Ressurreição”.

Considerou a ressurreição, para os cristãos, “não apenas um voltar a viver como antes”, mas um “passar a ter a vida de Deus”, pois, como observou, “os cristãos vivem no mundo, como todas as outras pessoas, mas pertencem ao céu e, por isso são exortados a ter critérios de vida, próprios de acordo com a Fé que professam”. Mas o Bispo advertiu que este “pertencer ao céu” não nos pode dispensar nem distrair do interesse pela humanidade.

O Bispo do Porto apontou que, para João e Pedro verem e acreditarem e, por conseguinte cantarem aleluias pascais, foi preciso que Maria Madalena, uma mulher, se levantasse da cama mais cedo que eles, corresse ao sepulcro, vencesse o medo e lhes fosse comunicar a absoluta novidade da ressurreição. É o feminino no seu melhor” – vincou Dom Manuel Linda – “que não olha a sacrifícios, é forte, cumpre missões de excecional responsabilidade, possui um especial sentimento de fé e sabe dedicar-se ao bem comum com uma determinação a toda a prova. E, considerando que, já no Evangelho da Vigília Pascal, se referiam as três mulheres que testemunharam a plenitude da ressurreição antes dos homens” – o que não admira: “se excetuarmos São João, foram elas as únicas que permaneceram firmes quando os homens debandaram” – acentuou que “devemos a estas mulheres a melhor introdução ao mistério da Páscoa e o indicador concreto do que é ser cristão.

Aliás, sustentou, de maneira geral, devemos-lhes o melhor da humanidade: o desvelo maternal pela vida nascente e a coragem na assistência à vida que definha; a consagração aos setores estruturantes da sociedade que são a educação e a saúde; a presença solícita e insubstituível na vida da Igreja, particularmente nos setores mais escondidos e menos atraentes; a fermentação do mundo com a escala de valores do reino, quais sejam a sobriedade, o esquecimento de si em favor dos outros, o perdão, a pacificação, a generosidade; enfim, aquela especial sensibilidade religiosa que, sem desprezar o concreto das pequenas coisas para as quais o homem parece não ter jeito, só atesta o tão celebrado e celebrando ‘génio feminino’. E preconizou: “Esta é a sua cruz. Mas é também o seu título de glória!”. 

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O Papa Francisco, na Bênção Urbi et Orbi, enfatizou que “o anúncio da Páscoa não mostra uma miragem, não revela uma fórmula mágica, não indica uma rota de fuga diante da difícil situação que vivemos”. E, considerando a pandemia em pleno andamento e o enorme peso da crise social e económica, especialmente para os mais pobres, denunciou o escândalo dos conflitos armados, que não cessam, e dos arsenais militares, que se fortalecem. 

Porém, segundo o Pontífice, nesta complexa realidade, o anúncio pascal contém em poucas palavras um acontecimento que dá a esperança que não dececiona: “Jesus, o crucificado, ressuscitou”. Não é anjo ou fantasma, mas um homem de carne e osso, com um rosto e um nome: “Jesus”, o crucificado sob Pôncio Pilatos por ter dito ser o Cristo, o Filho de Deus, que ressuscitou terceiro dia, de acordo com as Escrituras e como Ele predisse aos discípulos.

Deus Pai ressuscitou o seu Filho Jesus porque Ele cumpriu a sua vontade de salvação até ao fim: tomou sobre si a nossa fraqueza, as nossas enfermidades, a nossa própria morte; sofreu as nossas dores, carregou o peso das nossas iniquidades. Por isso, Deus Pai O exaltou e agora o Senhor é Jesus Cristo, que vive para sempre.

Sublinhou o Papa que “as testemunhas relatam um pormenor importante: o Jesus ressuscitado carrega as feridas nas mãos, pés e lado”, pragas que “são o selo perene do seu amor por nós”, de modo que “quem sofre uma dura prova, no corpo e no espírito, pode encontrar refúgio nestas feridas, receber por elas a graça da esperança que não dececiona”.

Depois, o Santo Padre vê em Cristo ressuscitado a esperança para os que ainda sofrem com a pandemia, para os doentes e para os que perderam um ente querido. E, desejando que “o Senhor os console e apoie o trabalho de médicos e enfermeiras”, reafirma que “todos, especialmente as pessoas mais frágeis, precisam de assistência e têm direito ao acesso aos cuidados necessários” e solicita a toda a comunidade internacional “um compromisso comum” para superar os atrasos na distribuição das vacinas e facilitar a sua partilha, especialmente com os países mais pobres.

Também o Crucifixo Ressuscitado é um conforto para quem perdeu o emprego ou passa por sérias dificuldades económicas e carece de proteção social adequada, pelo que o Pontífice quer que “o Senhor inspire a ação dos poderes públicos para que a todos, especialmente às famílias mais necessitadas, seja oferecida a ajuda necessária para um sustento adequado”, pois “é  necessário que os pobres de toda espécie voltem a ter esperança”. 

E, depois de assinalar vários lugares em conflito ou dificuldades de toda a ordem, conclui:

Entre as muitas dificuldades que atravessamos, nunca nos esqueçamos de que fomos curados pelas feridas de Cristo (cf 1Pe 2,24). À luz do Ressuscitado, os nossos sofrimentos transfiguram-se. Onde havia morte, agora há vida, onde havia luto, agora há consolo. Ao abraçar a Cruz, Jesus deu sentido aos nossos sofrimentos e agora oramos para que os efeitos benéficos desta cura se espalhem por todo o mundo. Feliz, santa e pacífica Páscoa!”.

***

Pelo que exprime de alegria seminal, que germina para colheita que é a vida, e segredo de vida e de esperança, transcrevo o cântico pascal que António Cartageno e Alberto Simões adaptaram dum hino de Vésperas do Tempo Pascal, que termina em doxologia trinitária, tendo hoje servido de cântico de entrada na Missa dos Passionistas das 12 horas em Santa Maria da Feira:  

Na sua dor os homens encontraram
Uma pura semente de alegria,
O segredo da vida e da esperança:
Ressuscitou o Senhor Jesus!

 

Ressuscitou, Ressuscitou!

Ressuscitou, Aleluia! (bis)

 

Os que choravam cessarão o pranto.
Brilhará novo Sol nos corações.
Pode o homem cantar o seu triunfo:
Ressuscitou o Senhor Jesus!

 

Os que nos duros campos trabalharam
Voltarão entre vozes de alegria
Erguendo ao alto os frutos da colheita:
Ressuscitou o Senhor Jesus!

 

Já ninguém viverá sem luz da fé.
Já ninguém morrerá sem esperança;
O que crê em Jesus venceu a morte:
Ressuscitou o Senhor Jesus!

 

Louvemos a Deus Pai eternamente
E cantemos a glória de seu Filho
Com o Espírito Santo que nos ama:
Ressuscitou o Senhor Jesus!

2021.04.04 – Louro de Carvalho

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