quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Descoberto um novo órgão no corpo humano

Não se trata propriamente da descoberta de novo material, mas da sua função, o que leva a classificá-lo como órgão. É por isso que se pode dizer, desde há poucos dias, que “o corpo humano tem mais um órgão do que se pensava”. Todavia, não se pode dizer, do meu ponto de vista, que tenha um nome estranho. Com efeito, “mesentério” é tão estranho como estômago ou pâncreas. Aliás, tudo pode ser estranho no corpo humano, se o encararmos como admirável e de admirável funcionamento. A primeira menção do mesentério publicamente conhecida é de Leonardo da Vinci num dos seus escritos de anatomia no início do século XVI.
Agora, a comunicação social dá relevo ao mesentério como se fosse coisa nova.
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O mesentério (no grego μεσεντέριον) é agora um órgão em forma de leque que dá suporte ao jejuno e ao íleo. Considerava-se que fazia parte do peritoneu e que não tinha função própria. É formado por tecido conjuntivo denso extraperitoneal, vasos sanguíneos, nervos, vasos e gânglios linfáticos. Na fase embrionária o peritoneu é dividido em dois pelos mesentérios ventral e dorsal, mas o mesentério ventral desaparece gradualmente deixando apenas a parte caudal do intestino anterior. A fronteira intestinal do mesentério é de cerca de 6,50 metros de comprimento.   
Em pessoas corpulentas, o mesentério, assim como o omento, contém uma quantidade excessiva de gordura. Este aumento de peso do tecido mesentérico tende a alongá-lo irregularmente e predispõe a hérnia.
A raiz do mesentério tem cerca de 15 centímetros de comprimento, e liga-o à parede posterior da cavidade abdominal. A linha de fixação da raiz do mesentério é oblíqua. Estende-se do final do duodeno, próximo da borda inferior do pâncreas até ao lado esquerdo da segunda vértebra lombar, para a base do ceco, que fica na fossa ilíaca direita, perto da articulação sacro-ilíaca direita.
No plexo nervoso mesentérico superior passam as fibras simpáticas do jejuno e íleo. As fibras simpáticas pré-ganglionares fazem sinapse nos corpos celulares dos neurónios simpáticos pós-ganglionares, gânglios celíacos e mesentérico superior. As fibras parassimpáticas nos nervos para o jejuno e íleo provêm dos troncos vagais posteriores. As fibras parassimpáticas pré-ganglionares fazem sinapse com os neurónios parassimpáticos pós-ganglionares nos plexos mioentérico e submucoso na parede intestinal.
A estimulação simpática é responsável pela redução da ação peristáltica e secretora do intestino e atua como um vasoconstritor, reduzindo ou interrompendo a digestão e disponibilizando sangue para “fugir” ou “lutar”, enquanto o estímulo parassimpático aumenta a atividade peristáltica e secretora do intestino, restaurando o processo de digestão após uma reação simpática. Apesar de possuir fibras sensitivas, o intestino delgado é insensível à maioria dos estímulos dolorosos, por exemplo incisão e queimadura; entretanto é sensível à distensão que é percebida como cólica. (cfhttps://pt.wikipedia.org/wiki/Mesent%C3%A9rio#cite_note-anato-2).
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Este agora novo constituinte da anatomia humana não era, como se vê, desconhecido, mas só agora é que ganha este estatuto de órgão. A descoberta é do investigador irlandês J. Calvin Coffey, da universidade do hospital de Limerick, na Irlanda, J. Calvin Coffey, que há 20 anos andava a estudar esta possibilidade.
Leonardo da Vinci, quando o mencionou pela primeira vez, classificou o mesentério como “anexo insignificante” do corpo humano.
O mesentério, que fica no sistema digestivo, é uma membrana que liga os intestinos à zona do abdómen. Até há pouco, era entendido como uma série de estruturas fragmentadas e separadas. De acordo com a investigação publicada pela revista científica “The Lancet Gastroenterology & Hepatology”, além de ser uma estrutura continua – e não partida, como se pensava – o mesentério passa a ser considerado um órgão do corpo humano.
O investigador acima referido assegura que “a descrição anatómica que foi feita nos últimos 100 anos de anatomia estava incorreta”, pois “este órgão está longe de ser fragmentado e complexo”; “é simplesmente uma estrutura contínua”.
Enfim, a razão de ser da sua classificação como um órgão do corpo humano decorre do facto de terem sido reveladas características anatómicas e funcionais distintivas que justificam a designação.
Porém, como ainda se não sabe determinar com exatidão a função deste mais recente órgão do corpo humano, fica o desafio lançado para o próximo passo da investigação. A este respeito, Coffrey, citado pelo “Público”, diz:
 “Se entendermos a função, então podemos identificar a função anormal, e aí temos a doença. Se os juntarmos a todos, temos o campo da ciência mesentérica – a base de uma inteira e nova área da ciência”.
A descoberta da função desempenhada por este novo órgão digestivo poderá, de acordo com o investigador, citado pelo “Diário de Notícias” online, ser determinante para o “tratamento de doenças abdominais e digestivas, com menos cirurgias invasivas e menos complicações na recuperação dos doentes”.
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A informação de que o mesentério, que até agora era considerado uma série de estruturas fragmentadas, ganharia o estatuto de órgão, foi atualizada no mais célebre livro de anatomia médica – Anatomia de Gray – e confirmada, como foi referido acima, pela The Lancet, a conceituada revista de medicina. Assim, o mesentério é o “novo” órgão do corpo humano. E os comentadores fazem questão de aspar o adjetivo “novo”, porque o mesentério não foi só agora descoberto; o que foi descoberto foi a sua categorização funcional, que lhe dá o estatuto de órgão, por não mais poder ser considerado como uma mera “série de estruturas fragmentadas e separadas, em forma de leque”. É um órgão contínuo e autónomo, embora no circuito da interdependência, como é óbvio.
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Foi só em 2012 que Coffey e a sua equipa conseguiram demonstrar, através de detalhados exames microscópicos, que se tratava afinal de um órgão só. Ao longo dos últimos quatro anos, foram reunindo informação que permitiu reclassificar o mesentério tornando-o, oficialmente, no “novo” órgão do corpo humano. 
A reclassificação do mesentério abre a porta para a criação de um novo campo da medicina, dedicado ao estudo do órgão e ao seu funcionamento. E, ao estudar o modo de funcionamento do mesentério, poderá identificar-se quando há uma doença e como a tratar.
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Mais uma descoberta que bem pode constituir um novo apoio à vida e revela a complexidade do admirável corpo humano – ora tão endeusado, ora tão maltratado!

2017.01.05 – Louro de Carvalho

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