“Um mau despertar” é algo que pode acontecer
a cada um em qualquer um dos dias em que vive por vários motivos, desde o
distúrbio funcional às preocupações de ordem pessoal, familiar e profissional
e, nos últimos tempos, por razões de ordem política nacional e mundial.
Porém, a expressão surge no contexto da
reação da BMW e do Governo alemão às declarações do Presidente eleito dos EUA
de ameaça de taxar em 35% os BMW importados. A isto, o vice-chanceler e
ministro da Economia germânico respondeu que tal medida terá um efeito
colateral, que conduzirá a um “mau despertar” para os fabricantes de carros
norte-americanos. Por seu turno, a BMW frisa que mantém os planos de abrir uma
fábrica no México
De que advém o predito “mau despertar” para os
fabricantes de carros norte-americanos? Da dependência de peças fabricadas na
Europa.
Com efeito, Sigmar Gabriel, vice-chanceler e ministro
da Economia alemão declarou, no passado dia 16, que a criação de uma taxa nos
Estados Unidos para a importação de produtos alemães terá um efeito colateral
que atingirá os fabricantes de automóveis norte-americanos, provocando-lhes “um
mau despertar”, dado que estão dependentes de peças fabricadas na Europa. De facto,
a indústria automóvel dos Estados Unidos sofreria um revés de incerteza e,
provavelmente, de agravamento dos custos de produção se todas as peças da indústria
automóvel fornecidas, que não são fabricadas nos Estados Unidos, chegassem
subitamente com uma taxa de 35%. Por isso, Sigmar Gabriel declarou ao jornal
alemão “Bild”:
“Eu acredito que tornaria a indústria
automóvel dos Estados Unidos mais fraca, pior e sobretudo mais cara. Eu
esperaria até ver o que o Congresso tem a dizer quanto a isso, tendo em conta
que está cheio de pessoas que pretendem o oposto de Trump”.
Estas declarações respondem à ameaça lançada por
Donald Trump numa entrevista publicada este domingo, dia 15, pelo mesmo jornal
“Bild”, em que aconselhava a BMW a
desistir dos seus planos de criar uma fábrica no México, em 2019, e a construí-la
antes nos Estados Unidos, pois, caso contrário, irá taxar a importação dos seus
veículos em 35%.
Na predita entrevista, o Presidente eleito criticou
ainda a falta de investimento da Alemanha na NATO e a política de abertura do
seu país quanto aos refugiados, acusando a chanceler Angela Merkel de ter
cometido “um erro catastrófico ao deixar entrar no país todos aqueles ilegais”.
Ora, Sigmar Gabriel, na sua resposta, chamou a atenção
de Trump para o facto de a maior fábrica da BMW já se encontrar nos Estados
Unidos, concretamente na Carolina do Sul.
Sobre a questão dos refugiados, o vice-chanceler
germânico respondeu que a Alemanha está de facto a efetuar uma “contribuição
financeira gigantesca para abrigar refugiados na região, mas como resultado da
política intervencionista norte-americana” no Médio Oriente, nomeadamente da
guerra no Iraque. E acrescentou:
“O meu conselho é o de que não devemos
estar a dizer uns aos outros o que fizemos mal, antes que procuremos
estabelecer a paz na região e fazer tudo para nos certificarmos de que estas
pessoas possam a voltar a ter uma casa na sua região”.
Por seu turno, o construtor germânico também reagiu à
entrevista do Presidente eleito, assegurando que mantém o plano de abrir uma
fábrica em San Luis Potosi, no México, em 2019, onde irá produzir BMW Série 3.
As declarações de Trump provocaram a descidas no valor
das ações da BMW, assim como de outros dois fabricantes alemães do setor
automóvel, a Daimler e a Volkswagen, no mercado de Frankfurt.
Ora, quando Trump faz determinadas declarações e fala
sobretudo através das redes sociais, de cuja utilização não abdicará, torna-se
usual dizer que, para lá de todos os defeitos que lhe apontam, não tem
experiência política. Não sei se isso é mesmo verdade, já que se aproveitou do status político para engrossar o seu
empório económico pela via empresarial.
Quanto à política, o que qualquer líder tem de fazer é
munir-se da dose suficiente de bom senso, escolher pessoas competentes nas
diversas áreas para a detenção de cargos e assessorias e estudar os dossiês. Ter
ou não ter experiência política não é a questão. A questão é ter ou não ter o
sentido da realidade e saber o que se quer.
De resto, a ajuizar pelo que Trump diz em matéria
empresarial, também poderíamos inferir que não tem experiência empresarial, o
que não é verdade. Pode é estar-se nas tintas para a internacionalização
empresarial. Mas isto não o desculpa.
***
Todavia, há que ter em linha de conta que um “mau
despertar” tiveram-no os europeus na manhã em que souberam dos resultados do referendo
britânico que ditou o “brexit”, de que resulta que o Governo de Sua Majestade quer
as regalias do sistema europeu, mas não as a partilha das suas responsabilidades
e a assunção dos deveres. Querem o controlo da imigração vinda da UE e dizem
que tratarão bem os estrangeiros residentes no Reino Unido. Querem acordos com
a Europa, mas não querem partilhar das suas dores nem da sua voz perante o
mundo. Ironicamente dizem que querem ser mais britânicos e mais universais.
Deve-se ter em consideração que o mundo teve um mau
despertar com a eleição de Trump, cujas consequências são imprevisíveis, a ponto
de o próprio diretor da CIA lhe ter sugerido cuidado com o que diz.
Mau despertar tivemo-lo com o referendo italiano. Mas esperamos
que esse mau despertar seja contornado e, sobretudo, desejamos que não haja mau
despertar com as eleições francesas e/ou com as eleições alemãs.
Os
povos têm direito à paz e às boas relações entre si, com Trum ou sem Trump; e
as pessoas têm direito à vida, à integridade, ao reconhecimento da sua
dignidade, ao trabalho, ao sustento e à intervenção na vida pública.
As
pessoas têm de ser pessoas e os povos têm de ser povos. Os governantes têm de
servir este desígnio
2017.01.18 – Louro de Carvalho
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