Ele encarnou,
fez-se homem como nós e habita no meio de nós e em nós, como atesta o Evangelho
de João, o mesmo evangelho que refere que Ele veio para o que é seu e os seus
não O recebem. Porém, a quantos O recebem, ou seja, aos que nele creem dá-lhes
o poder de se tornarem filhos, filhos de Deus. E nós contemplamos a sua glória,
a glória que Ele possui como Filho unigénito do Pai, cheio de graça e de
verdade (vd Jo 1,
14a.11-12.14a).
***
Cumpriu-se a
promessa enunciada em Isaías: sobre nós “resplandece a grande luz” (Is 9,1); sobre todos nós se multiplica a alegria, aumenta o júbilo
(cf 9,2).
A este
respeito, o Papa Francisco, na Missa da meia-noite deste Natal de 2015, na
Basílica de São Pedro, preconiza que o júbilo e alegria do coração sentidos com
a Natividade nos garantem que a mensagem contida no mistério natalino “provém
verdadeiramente de Deus”. Por isso, “não há lugar para a dúvida” e o Papa
recomenda que deixemos a dúvida “aos céticos, que, por interrogarem apenas a
razão, nunca encontram a verdade”.
Segundo as
palavras de Francisco, “não há espaço para a indiferença, que domina no coração
de quem é incapaz de amar, porque tem medo de perder alguma coisa” e “fica
afugentada toda a tristeza, porque o Menino Jesus é o verdadeiro consolador do coração”.
Com o
nascimento do Filho de Deus “tudo muda”: o Salvador “vem para Se tornar
participante da nossa natureza humana: já não estamos sós e abandonados”. Já
não estaremos reféns dos nossos pecados. De pródigos passamos a reencontrados. Uma
vida nova é inaugurada, porque “a Virgem nos oferece o seu Filho como princípio
de vida nova”. A noite de Natal, com a iluminação da verdadeira luz, mostra-nos
quem somos verdadeiramente: carne da carne do filho de Deus. “Torna-nos patente
o caminho que temos de percorrer para alcançar a meta” – diz o Papa – “a luz
indica-nos o caminho de Belém”. No seguimento da recomendação do anjo aos
pastores “Não temais” (Lc
2,10), o Pontífice manda
“cessar todo o medo e pavor” e sentencia que “não podemos ficar inertes, não
nos é permitido ficar parados”. Ao invés, “temos de ir ver o nosso Salvador,
deitado numa manjedoura”, porque “este Menino ‘nasceu para nós’, foi-nos ‘dado a nós’, como profetiza Isaías (cf Is 9,5). Ele é a paz, a serenidade, a
misericórdia.
***
A partir do
acontecimento natalino, o Papa infere consequências para o cristão e para a Igreja,
o novo Povo de Deus:
“Ao ouvirmos falar do nascimento de Cristo,
permaneçamos em silêncio e deixemos que seja o Menino a falar; gravemos no
nosso coração as suas palavras, sem afastar o olhar do seu rosto. Se O tomarmos
nos nossos braços e nos deixarmos abraçar por Ele, dar-nos-á a paz do coração,
que jamais terá fim.”.
E com a
dádiva da paz
“Ensina-nos o que é verdadeiramente essencial na nossa
vida. Nasce na pobreza do mundo, porque, para Ele e sua família, não há lugar
na hospedaria. Encontra abrigo e proteção num estábulo e é deitado numa
manjedoura para animais. E todavia, a partir deste nada, surge a luz da glória
de Deus.”.
Assim, da
manjedoura feita berço e tornada altar da dádiva de e a Deus e oratório da adoração
“Para os homens de coração simples, começa o caminho da
verdadeira libertação e do resgate perene”; do Menino, “que, no seu rosto, traz
gravados os traços da bondade, da misericórdia e do amor de Deus Pai, brota –
em todos nós, seus discípulos, como ensina o apóstolo Paulo – a vontade de
‘renúncia à impiedade’ e à riqueza do mundo, para vivermos ‘com sobriedade,
justiça e piedade’ (Tt 2,12).”.
E à Igreja, povo que palmilha todas as vias do mundo dos homens “para
tornar cada ser humano participante” quase divino (porque filho de Deus) da alegria do Natal, “é confiada a
missão de dar a conhecer o ‘Príncipe da paz’ e tornar-se um instrumento eficaz
d’Ele no meio das nações”.
E como proceder em ordem a este desígnio? O Papa fornece indicações preciosas:
- Face à sociedade embriagada de consumo e prazer, abundância e luxo,
aparência e narcisismo, somos chamados à sobriedade, isto é, a um comportamento “simples, equilibrado, linear, capaz
de individuar e viver o essencial”.
- Face ao mundo “duro com o pecador e brando com o pecado”, urge “cultivar
um forte sentido da justiça, de buscar e pôr em prática a vontade de Deus” e
acolher o seu Reino.
- Face à cultura da indiferença, “que não raramente acaba por ser cruel”,
o nosso estilo de vida deve ser “cheio de piedade,
empatia, compaixão, misericórdia, extraídas diariamente do poço de oração”.
***
É a
serenidade da misericórdia divina, espelhada na gruta de Belém e assumida pela
Igreja e pelos crentes de forma ativa e entusiasta, que leva os nossos olhos a
encerem-se “de espanto e maravilha, contemplando no Menino Jesus o Filho de
Deus”. E, diante d’Ele, eleve-se do fundo dos nossos corações a prece do salmista:
“Mostra-nos, Senhor, a tua misericórdia, concede-nos a tua salvação” (Sl 85/84,8).
Efetivamente,
este é dia santo, dia de graça, dia que o Senhor fez. Mas tem de tornar santos,
gratuitos, do Senhor e dias de Natal também os próximos 366 dias. E “a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e
misericórdia sobre eles e sobre o novo Israel de Deus” (Gl 6,16).
2015.12.25 – Louro de Carvalho
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