Não gosto do Natal dominado pelo
comércio e pela produção e comportamento consumistas.
Não gosto do Natal marcado pelas
viagens, feriados e prendas.
Não gosto do Natal do Pai Natal,
das renas, do trenó ou das chaminés.
Não gosto do Natal que se esgota
na árvore com as luzes, bolas e outros enfeites.
Não gosto do Natal das filhós,
rabanadas, frutos secos, bacalhau e peru.
Não gosto do Natal das folias,
cepos, cantares e concertos.
Não gosto do Natal sem Advento,
sem Isaías, Sofonias, Miqueias, Zacarias, Isabel e João Batista.
Não gosto do Natal sem o Menino
Jesus, sem Maria e sem José.
Não gosto do Natal encurralado
nas sacristias ou nos templos, capelas e capelinhas.
Não gosto do Natal sem atenção ao
homem, sobretudo se é pobre, explorado ou descartado.
Não gosto do Natal dividido ou assinalado
pela discórdia e guerra.
Não gosto do Natal em que em nome
da liberdade (religiosa ou não), me impõem o espetáculo social sem o Cristo da fé e
orientado ao bel-prazer do secularismo sem transcendência.
Não gosto do Natal cuja cultura
ignore a raiz e a finalidade do Natal.
***
Todavia, gosto do Natal
Que promova a produção de bens à
custa do investimento lícito (quanto ao uso da Terra e benefício
social) e do
trabalho digno e o consumo regrado e com a justa distribuição por quem precisa;
Que ponha a relação comercial ao
serviço das pessoas e dos valores fundamentais – transcendência, dignidade,
igualdade, fraternidade, liberdade e responsabilidade;
Que estimule a pausa laboral e as
viagens para a aproximação familiar e para a celebração pessoal e comunitária
do mistério;
Que promova o folguedo, que não a
orgia, para evidenciar a dimensão de festa que a quadra natalícia oferece a
todos;
Que inclua o Pai Natal, das
renas, do trenó ou das chaminés – não em exclusivo, mas como parte de um dado
cultural e reminiscência de São Nicolau, o amigo dos pobres e das crianças;
Que que se espelhe na árvore
enquanto símbolo de vida, robustez e esperança, com as luzes como centelhas da
luz de Cristo e com as bolas e outros enfeites como sinal de gozo para a vista,
porque Deus visitou o seu Povo;
Que festeje a alegria da família
e dos pobres com as filhós, rabanadas, frutos secos, bacalhau e peru – e seja
rampa de lançamento para que todos tenham aquilo de que precisam;
Que se exprima nas prendas, não
por obrigação social, mas como sinais da ternura de Deus para connosco e de nós
para com o próximo, em dinamismo de união, paz e concórdia;
Que mime a comunidade com
cantares e concertos em sinal da festa que nós somos para Deus, porque se sente
bem a morar connosco;
Com o Advento – que a sociedade
ignora – com Isaías, Sofonias, Miqueias, Zacarias, Isabel e João Batista a
anunciar a visita de Deus encarnado e o estabelecimento da sua morada no meio
dos homens;
Que se centre no Menino Jesus
envolto em panos e reclinado na manjedoura da pobreza para a abundância futura,
acompanhado por Maria e José;
Que se celebre no Templo, na
capela e na família, mas que venha para a rua mexer com todos e incomodá-los;
Que tenha a necessária atenção ao
homem, sobretudo se é pobre, explorado ou descartado e que edifique comunidades
vivas e a Igreja em saída e missão ao serviço do Evangelho e da causa do homem;
Que em nome da liberdade, sem
negar ou esconder as diversas religiões, integre o verdadeiro secularismo;
Que promova a cultura do
conhecimento da raiz e da finalidade do Natal:
A
vontade de Deus em vir ao encontro do homem para o libertar das suas limitações
e o elevar à intimidade e comunhão com Deus e o estender à humanidade nas diversas
comunidades, provocando a reunião de todos os homens e povos num só povo. É o
Natal de Deus. É o Natal do Homem!
2015.12.16
– Louro de Carvalho
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