O bruxelas.blogs.sapo.pt/, de 18 de fevereiro, nos seus destaques
noticiosos, salienta o facto de a Comissão Europeia ter lançado as bases da UEE
(União Europeia da Energia). Trata-se de produzir o que alguns denominam de “conclusão
do mercado único da energia”. Neste âmbito, assume-se a necessidade de
“reformar o modo como a Europa produz, transporta e consome a energia”.
Aqui se deixa um pouco do que
será a UEE, objetivos, pressupostos, implicações e a postura de Portugal.
Espera-se que este projeto a 28
Estados-Membros seja para valer e resulte eficaz para o que deve mobilizar as
marcas da solidariedade, da transparência e da eficiência. Deste modo, a União
Europeia, que tem pautado a sua atuação política pela impositividade, pela via
austeritária como punição sobre os países deficitários e endividados e pela
sobreposição da vontade dos mais fortes, tem de mostrar atenção assídua a todos
os países, setores e cidadãos. Assim, ou a Europa muda ou o seu projeto de
união fica esboroado e desfaz-se.
No atinente à energia, a União
Europeia importa atualmente 53% da energia que está a consumir. Por isso, tem
de abrir as vias de produção autónoma e da diversificação das suas fontes
externas de abastecimento. Por outro lado, torna-se necessário travar “o
impacto das alterações climáticas”, bem como manter a energia a preços
acessíveis. Para isso, além da já indicada diversidade de fornecedores
externos, impõe-se a produção e utilização de fontes renováveis de energia,
nomeadamente a eólica (proveniente da força do vento), a do movimento ondular (tamanho
e movimentação das ondas pelo sistema “pelamis” ou junto das faixas costeiras) e a resultante da exposição
fotovoltaica, bem como a melhoria da eficiência energética materializada em
vários procedimentos, nomeadamente o que leva à poupança de energia.
Também a Europa sente que as infraestruturas
existentes estão a ficar envelhecidas e as políticas energéticas obsoletas,
sendo chegado o momento de criar novos corredores apara agilizar o transporte
de energia dentro do mercado interno.
A este respeito, Maroš Šefčovič,
Vice-Presidente da União Europeia afirmou:
“As
nossas políticas energéticas atuais são totalmente
insustentáveis e temos uma necessidade urgente
de reorganização. Os cidadãos devem estar no centro da
nossa política energética. (...). A União Europeia da Energia
pretende romper com a cultura de silos e trazer para a
mesma mesa todos os atores relevantes – em suma, a União Europeia
da Energia irá ser uma nova forma de fazer política
energética na Europa".
***
A 25 de fevereiro, o Presidente
da Comissão Europeia apresentou o projeto-quadro da criação da união Europeia
da Energia, cujo escopo é provocar uma maior concorrência e diversidade de
escolhas para os consumidores, de modo que os preços a pagar se tornem mais
acessíveis.
Juncker justificou o projeto, dizendo que “a energia
tem estado, desde há demasiado tempo, isenta das liberdades fundamentais da
nossa União. Muitos europeus receiam não poder ter a energia necessária para
aquecer as suas casas”. Por isso, “a Europa deve agir unida e de forma
durável”, sendo sua vontade “que a energia seja resiliente, fiável, segura,
cada vez mais renovável e sustentável”.
Assim, pode afirmar-se que a
estratégia assenta numa política de resiliência e olhar voltado para o futuro
em matéria de resposta ao fenómeno em curso das alterações climáticas cujos
efeitos se pretende minorar.
Um dos pilares em que assenta a União Europeia da
Energia é, como já foi indicado, a solidariedade, que pressupõe a redução da
dependência da UE de fornecedores únicos e o apoio pleno nos seus vizinhos; e o
outro é a transparência quando os países da União celebram contratos de compra
de energia ou de gás com países terceiros.
A UEE “rege-se pela lógica do mercado único, ou seja,
da livre circulação da energia através das fronteiras”. Nestes termos, torna-se
necessário:
- Fazer cumprir a regulamentação em vigor em domínios
como a separação da propriedade no setor da energia e a independência dos
reguladores, recorrendo, se necessário, a ações judiciais;
- Reformular o mercado da eletricidade, para ser mais
interligado e mais favorável às fontes renováveis e ter maior capacidade de
resposta;
- Rever as intervenções estatais no mercado interno, entre
outras medidas, suprimindo gradualmente os subsídios ambientalmente nocivos.
Por seu turno, a eficiência energética assume um lugar
de destaque, tornando-se imperativo repensá-la radicalmente e tratá-la como uma
fonte de energia de direito próprio, para que possa competir em pé de igualdade
com a capacidade de geração.
Pretende-se, ainda, a transição para uma sociedade
hipocarbónica constituída para durar. Para isso é necessário:
- Garantir que a energia produzida localmente,
inclusive a partir de fontes renováveis, seja absorvida fácil e eficientemente
pela rede;
- Promover a liderança tecnológica da UE, através do
desenvolvimento da nova geração de tecnologias das energias renováveis e
tornando-a líder em eletromobilidade;
- Induzir as empresas europeias a aumentarem as
exportações e competirem à escala mundial.
***
Uma rede europeia de energia que se estabeleça e
funcione em regime de interligação proporcionará aos consumidores uma poupança
de 40 000 milhões de euros ao ano. A UE, ao importar 53% da sua energia, é
o maior importador de energia do mundo, com um custo anual de cerca de
400 000 milhões de euros. Os preços grossistas da eletricidade e do
gás na Europa são, respetivamente, 30 % e 100 % mais elevados do que
nos EUA.
Os dados disponíveis ainda revelam que cerca de 75% do
parque habitacional é ineficiente do ponto de vista energético; 94% dos
transportes dependem de produtos petrolíferos, 90 % dos quais são
importados.
Sendo assim, será necessário investir, até 2020,
mais de mil milhões de euros no setor da energia da UE. Por outro lado,
importa que, até 2030, a UE diminua em 40% ou mais as emissões de gases com
efeito de estufa, aumente em 27% ou mais as energias renováveis e melhore a
eficiência energética pelo menos em 27%.
(cf http://www.sabado.pt/dinheiro/detalhe/uniao_europeia_quer_energia_mais_barata.html, ac 2015.02.27)
***
Carlos Zorrinho, no “frente a frente”
com Duarte Pacheco, a 27 de fevereiro, registou como nota prévia da sua
intervenção a criação da UEE, salientando a potencial força da união energética
a 28, a génese da União Europeia com base numa comunidade energética, ao tempo
o carvão (o embrião da UE foi a CECA, comunidade europeia do carvão e do aço) e o peso de Portugal no campo das energias
renováveis.
No capítulo das renováveis, a APREN
(Associação
Portuguesa de Energias Renováveis) e a Delloite apresentaram um estudo que
avalia o impacto macroeconómico das energias renováveis no país (com base na
análise do período entre 2005 e 2008 e com uma previsão do setor até 2015). O estudo tem como base informação singular sobre
seis fontes alternativas (energia hídrica, eólica, bioenergia, solar
fotovoltaica, geotérmica e ondas) e informação recolhida junto dos principais
responsáveis organismos mundiais e nacionais, responsáveis pela regulação e
observação das energias renováveis. Adicionalmente, foi realizado um
questionário junto das empresas nacionais que operam neste setor. Sintetizam-se
as suas conclusões nos termos seguintes:
- A aposta no setor terá um reflexo no crescimento da
riqueza nacional, com as energias renováveis a representarem 2,4% no PIB e a
criarem cerca de 25 mil novos postos de trabalho em 2015.
- Ao nível ambiental, o impacto mais direto é na
redução das emissões de CO2, com uma poupança global de cerca de 430 milhões de
euros e a aproximação às metas do protocolo de Quioto, que estabelece como meta
para Portugal um total de emissões de 76 milhões de toneladas de CO2 até 2012.
- Tendo em conta o crescimento previsto entre 2008 e
2015, o estudo estima que as energias renováveis evitarão a emissão de 14
milhões de toneladas de CO2 até 2012 – redução que levará à poupança de mais de
2 mil milhões de euros até 2015.
- A redução das importações energéticas permitirá uma
poupança de 1.900 milhões de euros e a redução da dependência energética
nacional.
- Em 2008, o setor das energias renováveis contribuiu
com cerca de 2 mil milhões de euros para o PIB nacional, sendo os principais
responsáveis a energia hídrica e a eólica, com um contributo de 1.190 milhões e
de 640 milhões respectivamente.
- Em 2015, estima-se que o peso global superará uma
contribuição total de 4 mil milhões de euros.
- Ao nível da criação de emprego, entre 2005 e 2008, o
setor registou um aumento médio de 9 por cento, face à taxa anual média de 0,3
por cento no emprego nacional, estimando-se que em 2015, o setor seja
responsável por mais de 60 mil postos de trabalho diretos e indiretos, o que
representa 6 por cento do nível de desemprego atual.
- A evolução do setor das energias renováveis reduzirá
a importação de energia eléctrica e de combustíveis fósseis para produção de
energia.
- Em 2015, o setor das energias renováveis
representará cerca de 50 por cento do consumo nacional de eletricidade,
traduzindo-se numa taxa de crescimento de cerca de 8 por cento.
- As perspetivas de Portugal superam os valores para a
Europa e para o Mundo, com uma taxa de crescimento de 6 por cento. (cf http://www.apren.pt/pt/noticias/detalhes.php?id=4, ac 2015.02-27).
***
Será que a revolução energética
vai salvar o projeto europeu?
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