quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Turismo – a indústria da paz, a indústria do sorriso

Abriu, em Lisboa, a 25 de fevereiro, a Bolsa de Turismo de Lisboa, uma das grandes feiras internacionais de turismo, que passa pela 27.ª edição em Portugal.
Pela terceira vez, a Igreja Católica em Portugal está representada neste prodigioso evento. E não sem boas razões, pois os operadores turísticos evidenciam cada vez mais a importância do chamado “turismo religioso”, apresentando de muitos modos os lugares turísticos ligados à religião, à história religiosa, ao santuário vivo e à peregrinação. Recentemente, até foi instituído pelo Parlamento de Portugal o Dia do Peregrino.
É certo que muitos dos operadores turísticos são cristãos e, além de visarem os interesses turístico-comerciais, dão o seu contributo pela informação e vivência da fé, de que podem desfrutar as pessoas de boa vontade.
Já estamos a ficar saturados de dois exageros: a crítica desbragada ao comércio em torno do espaço religioso; e, a contrario, a exploração religiosa. Desde que se verifique uma aglomeração de pessoas, impõe-se que se lhes preste assistência, para que não lhes falte o essencial. Daí a necessidade de prover os ajuntamentos de alimento, bebida, roupas, agasalhos, locais de alojamento e restauração, bem como apoio sanitários e medicamentoso e segurança pública. Não é o Cristo do Evangelho que, perante a multidão faminta, exclama para os discípulos, “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14,16)? E é legítima também a apresentação graciosa ou onerosa de recordações. Todavia, nada justifica a mistura do comércio com o espaço religioso (“Não façais da Casa de meu Pai uma feira”, Jo 2,16) ou com a atividade religiosa pública. Tem de haver lugar para tudo. E as autoridades civis e religiosas devem prover a tudo. E, sobretudo não se admite a exploração do momento ou das pessoas mais debilitadas, materializada no excesso de custos, bem como a venda ambulante desregulada ou a disponibilização de objetos incompatíveis com o móbil que aglutina a afluência de pessoas – situações a que as autoridades devem estar atentas, mais pelo ângulo pedagógico que pela postura repressiva (a utilizar apenas quando não haja alternativa).
Também a Igreja deve estar institucionalmente onde estão as pessoas e as multidões. Fazem, pois, muito bem as organizações cristãs e católicas que apostam na sua presença na BTL, não só pela postura que se preconiza, mas também porque a Igreja Católica dispõe de enorme património artístico e cultural e gere ou acompanha a atividade de muitos locais de atração de visitantes (peregrinos, turistas e curiosos). E, se o turismo se assume como a indústria da paz ou a indústria do sorriso, é importante partilhar a bem-aventurança dos que fazem a paz, porque serão chamados filhos de Deus (vd Mt 5,8), e mostrar aos irmãos que a Igreja é a pátria da felicidade em ação e Deus não é o Deus da tristeza ou da punição, mas o Pai do acolhimento sorridente, o Senhor da misericórdia e da ternura. São predicados que não se exprimem na cegueira da justiça, na espada de Dâmocles ou num rosto sisudo ou carrancudo ao estilo de Dom Afonso IV, mas no gesto do Pai que sorridente acolhe na alegria o filho pródigo e tem a paciência sorridente de instar com o irmão mais velho para que participe na festa da alegria pelo regresso do irmão (cf Lc 15,11-32).
Nesta edição da BTL, além da ONPT (Obra Nacional da Pastoral do Turismo), da Conferência Episcopal Portuguesa, também se associaram de forma significativa a catedral primacial de Braga, a catedral de Santarém (de uma das mais novas dioceses do país) e o respetivo museu e a catedral de Évora; a Sé Nova e a Sé Velha de Coimbra; o Santuário de Fátima e o Santuário do Cristo Rei; e o Comissariado da Terra Santa em Portugal.
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Em comunicado remetido à Agência Ecclesia e cujo teor foi por ela divulgado, a ONPT revela o seu objetivo de dar a conhecer aos profissionais do setor do turismo e ao público em geral a sua preocupação em relação a esta temática e o trabalho desenvolvido para mostrar que o turismo também permite mostrar a beleza de Deus, para que ela seja mais conhecida e apreciada, em consonância com a via pulchritudinis (rota da beleza), perfilhada sobretudo pelos últimos Sumos Pontífices.
No espaço da ONPT, os visitantes acederão a diversos materiais informativos sobre as ações desenvolvidas pela Igreja Católica no âmbito do “turismo, património e cultura”.
A este respeito, o padre Carlos Godinho, diretor da ONPT, a qual está presente na BTL com um stand, destaca os desafios que se colocam à Igreja em relação ao património, já que este “deve estar disponível”, e o que se verifica é que muitos espaços estão sistematicamente fechados.
Ora esta situação, além de constituir a sonegação de uma mais valia a disponibilizar à comunidade, não espelha o desiderato do Papa Francisco que pretende ter uma Igreja de portas abertas. É verdade que o Papa fala da Igreja viva e não do edifício de pedra, mas os edifícios significam e simbolizam a realidade da Igreja enquanto comunhão (com Deus, os semelhantes e a natureza), povo de Deus, casa das bem-aventuranças, lar de acolhimento de todos, mas preferencialmente os pobres, plêiade de apóstolos em saída às periferias existenciais, hospital de campanha para cuidar dos feridos, doentes, abandonados.
Assim, tem razão o diretor da ONPT quando considera que a Igreja deve ter “as portas abertas” do seu património e lamenta que “infelizmente” alguns bens patrimoniais mais relevantes estejam encerrados dentro de portas.
O mesmo agente eclesiástico tem uma postura eclesial ao afirmar que o turismo, para lá da importante “dimensão do negócio e económica”, é uma atividade de “pessoas e para pessoas”. E, se entende que a participação da ONPT este ano teve de se centrar na “divulgação do património” com elementos representativos do espaço nacional, também revelou a pretensão de que o património seja visitado, mas sobretudo que as pessoas “possam” descobrir “aquilo que o fundamenta, a dimensão evangelizadora.
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Em suma, para além da divulgação dos espaços religiosos de norte a sul do país, o visitante pode, através do Comissariado da Terra santa em Portugal, encontrar explicações que induzam uma vista aos chamados “lugares santos”.
Por outro lado, o diretor da ONPT não deixou de afirmar que o turismo “tem sido e é um dos grandes valores do ponto de vista económico” para os portugueses. Mais. O turismo dá um contributo “muito valioso” para as contas públicas pelo facto de vir a crescer de forma sustentável.
Não pode a Igreja Católica deixar de estar presente tanto pela solidariedade que exigem as situações de penúria, pobreza e indigência, como pela alegria solidária quando as populações pisam terreno em que se sentem bem. Também aqui é necessário o foco da luz do Evangelho, o sabor do sal da terra (cf Mt 5,13.14), a ternura da proximidade, a prevenção das divergências, a remediação das dissidências, o reforço do progresso.

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