Abriu,
em Lisboa, a 25 de fevereiro, a Bolsa de Turismo de Lisboa, uma das grandes
feiras internacionais de turismo, que passa pela 27.ª edição em Portugal.
Pela
terceira vez, a Igreja Católica em Portugal está representada neste prodigioso
evento. E não sem boas razões, pois os operadores turísticos evidenciam cada
vez mais a importância do chamado “turismo religioso”, apresentando de muitos
modos os lugares turísticos ligados à religião, à história religiosa, ao santuário
vivo e à peregrinação. Recentemente, até foi instituído pelo Parlamento de Portugal
o Dia do Peregrino.
É certo
que muitos dos operadores turísticos são cristãos e, além de visarem os
interesses turístico-comerciais, dão o seu contributo pela informação e
vivência da fé, de que podem desfrutar as pessoas de boa vontade.
Já estamos
a ficar saturados de dois exageros: a crítica desbragada ao comércio em torno
do espaço religioso; e, a contrario, a
exploração religiosa. Desde que se verifique uma aglomeração de pessoas,
impõe-se que se lhes preste assistência, para que não lhes falte o essencial. Daí
a necessidade de prover os ajuntamentos de alimento, bebida, roupas, agasalhos,
locais de alojamento e restauração, bem como apoio sanitários e medicamentoso e
segurança pública. Não é o Cristo do Evangelho que, perante a multidão faminta,
exclama para os discípulos, “Dai-lhes vós
mesmos de comer!” (Mt 14,16)? E
é legítima também a apresentação graciosa ou onerosa de recordações. Todavia,
nada justifica a mistura do comércio com o espaço religioso (“Não façais da Casa de meu Pai uma feira”, Jo 2,16) ou
com a atividade religiosa pública. Tem de haver lugar para tudo. E as
autoridades civis e religiosas devem prover a tudo. E, sobretudo não se admite
a exploração do momento ou das pessoas mais debilitadas, materializada no
excesso de custos, bem como a venda ambulante desregulada ou a disponibilização
de objetos incompatíveis com o móbil que aglutina a afluência de pessoas –
situações a que as autoridades devem estar atentas, mais pelo ângulo pedagógico
que pela postura repressiva (a utilizar
apenas quando não haja alternativa).
Também
a Igreja deve estar institucionalmente onde estão as pessoas e as multidões. Fazem,
pois, muito bem as organizações cristãs e católicas que apostam na sua presença
na BTL, não só pela postura que se preconiza, mas também porque a Igreja
Católica dispõe de enorme património artístico e cultural e gere ou acompanha a
atividade de muitos locais de atração de visitantes (peregrinos, turistas e curiosos). E,
se o turismo se assume como a indústria da paz ou a indústria do sorriso, é
importante partilhar a bem-aventurança dos que fazem a paz, porque serão
chamados filhos de Deus (vd Mt 5,8), e
mostrar aos irmãos que a Igreja é a pátria da felicidade em ação e Deus não é o
Deus da tristeza ou da punição, mas o Pai do acolhimento sorridente, o Senhor
da misericórdia e da ternura. São predicados que não se exprimem na cegueira da
justiça, na espada de Dâmocles ou num rosto sisudo ou carrancudo ao estilo de
Dom Afonso IV, mas no gesto do Pai que sorridente acolhe na alegria o filho
pródigo e tem a paciência sorridente de instar com o irmão mais velho para que
participe na festa da alegria pelo regresso do irmão (cf Lc 15,11-32).
Nesta
edição da BTL, além da ONPT (Obra
Nacional da Pastoral do Turismo), da Conferência Episcopal Portuguesa, também se
associaram de forma significativa a catedral primacial de Braga, a catedral de
Santarém (de uma das mais novas
dioceses do país) e o respetivo museu e a catedral de Évora; a Sé
Nova e a Sé Velha de Coimbra; o Santuário de Fátima e o Santuário do Cristo Rei;
e o Comissariado da Terra Santa em Portugal.
***
Em comunicado remetido à Agência Ecclesia e cujo teor foi por ela divulgado,
a ONPT revela o seu objetivo de dar a conhecer aos profissionais do setor do
turismo e ao público em geral a sua preocupação em relação a esta temática e o
trabalho desenvolvido para mostrar que o turismo também permite mostrar a
beleza de Deus, para que ela seja mais conhecida e apreciada, em consonância
com a via pulchritudinis (rota da beleza), perfilhada sobretudo
pelos últimos Sumos Pontífices.
No espaço da ONPT, os visitantes acederão a diversos
materiais informativos sobre as ações desenvolvidas pela Igreja Católica no
âmbito do “turismo, património e cultura”.
A este respeito, o padre Carlos Godinho, diretor
da ONPT, a qual está presente na BTL com um stand,
destaca os desafios que se colocam à Igreja em relação ao património, já que
este “deve estar disponível”, e o que se verifica é que muitos espaços estão
sistematicamente fechados.
Ora esta situação, além de constituir a sonegação
de uma mais valia a disponibilizar à comunidade, não espelha o desiderato do Papa
Francisco que pretende ter uma Igreja de portas abertas. É verdade que o Papa
fala da Igreja viva e não do edifício de pedra, mas os edifícios significam e
simbolizam a realidade da Igreja enquanto comunhão (com Deus, os semelhantes
e a natureza),
povo de Deus, casa das bem-aventuranças, lar de acolhimento de todos, mas preferencialmente
os pobres, plêiade de apóstolos em saída às periferias existenciais, hospital
de campanha para cuidar dos feridos, doentes, abandonados.
Assim,
tem razão o diretor da ONPT quando considera que a Igreja deve ter “as portas
abertas” do seu património e lamenta que “infelizmente” alguns bens patrimoniais
mais relevantes estejam encerrados dentro de portas.
O mesmo
agente eclesiástico tem uma postura eclesial ao afirmar que o turismo, para lá
da importante “dimensão do negócio e económica”, é uma atividade de “pessoas e
para pessoas”. E, se entende que a participação da ONPT este ano teve de se
centrar na “divulgação do património” com elementos representativos do espaço
nacional, também revelou a pretensão de que o património seja visitado, mas
sobretudo que as pessoas “possam” descobrir “aquilo que o fundamenta, a dimensão
evangelizadora.
***
Em suma, para além da
divulgação dos espaços religiosos de norte a sul do país, o visitante pode, através
do Comissariado da Terra santa em Portugal, encontrar explicações que induzam
uma vista aos chamados “lugares santos”.
Por outro lado, o
diretor da ONPT não deixou de afirmar que o turismo “tem sido e é um dos
grandes valores do ponto de vista económico” para os portugueses. Mais. O turismo
dá um contributo “muito valioso” para as contas públicas pelo facto de vir a
crescer de forma sustentável.
Não pode a Igreja
Católica deixar de estar presente tanto pela solidariedade que exigem as
situações de penúria, pobreza e indigência, como pela alegria solidária quando
as populações pisam terreno em que se sentem bem. Também aqui é necessário o foco
da luz do Evangelho, o sabor do sal da terra (cf Mt
5,13.14),
a ternura da proximidade, a prevenção das divergências, a remediação das dissidências,
o reforço do progresso.
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