quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

A marcha da III Guerra Mundial?!

Está na ordem do dia a discussão sobre a guerra nas suas diversas vertentes: a militar, a informativa, a política e a económica. Pode dizer-se que não há verdadeira guerra que se circunscreva ao aspeto puramente militar. As motivações são habitualmente de outra ordem. É a delimitação territorial, a preocupação hegemónica, a religião ou os grandes negócios como o petróleo. Fala-se mesmo nos alvores da III Guerra Mundial.
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Na semana passada, celebrou-se em Minsk, na Ucrânia, um acordo de cessar-fogo entre as forças em conflito político e armado no país – guerra interna acicatada e apoiada de fora.
Em entrevista publicada, a 16 de fevereiro, no diário alemão Neuen Westfalische, de que o DN português se fez eco, o romancista alemão Günter Grass, de 87 anos, mostra-se cético em relação ao acordo, dizendo ter “sérias dúvidas” de que este possa levar a uma paz duradoura: “Não creio que vá levar a uma paz duradoura porque tenho a impressão de que nem a Ucrânia nem a Rússia têm o controlo pleno sobre as tropas que combatem” – constata com razão.
Este famoso prémio Nobel da Literatura refere que, às vezes, ultimamente se fala recorrente e insistentemente do perigo de acontecer uma guerra mundial e se questiona mesmo se a III Guerra Mundial não terá começado há muito, mas de forma distinta dos conflitos do século XX.
Na sua opinião, as formas de combate mudaram desde 1945, sendo a Internet atualmente um dos meios usados, pois “permite o bloqueio de sistemas completos”, que levam a guerras económicas. E, paralelamente a tudo isto ocorreram e ocorrem “conflitos bélicos como os que observamos na Ucrânia, Síria e outros países”.
Grass lamentou que na Europa não haja atualmente um grupo de líderes com capacidade suficiente para assegurar a paz no Continente, comparativamente àquele tempo em que “tínhamos Olof Plame na Suécia, Willy Brandt na Alemanha e Bruno Kreisky na Áustria, três políticos europeus que agiam como verdadeiros homens de Estado. Hoje faltam-nos políticos com esse calibre”.
O escritor criticou ainda a chanceler Angela Merkel por ignorar as iniciativas políticas de jovens escritores e não responder ao manifesto, dirigido a ela, sobre a espionagem dos Estados Unidos na Alemanha: “É um escândalo que a senhora Merkel não tenha dado uma resposta” – lamenta.  
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Por seu turno, o Papa Francisco já enunciou, pelo menos duas vezes, o espectro da marcha da III Guerra Mundial aos pedaços ou em fragmentos.
Após a sua visita de cinco dias à Coreia do Sul, o Papa fez, na viagem de regresso ao Vaticano, a 18 de agosto de 2014, as mais duras críticas aos confrontos mundiais, dizendo que “vivemos a Terceira Guerra Mundial, mas em fragmentos”.
Acentuando que as guerras regionais estão a atingir “um nível de crueldade espantoso”, Francisco defendeu a licitude de se “interromper uma agressão”, mas sem varrer tudo: “Quando há uma agressão injusta, posso dizer que é lícito parar o agressor. Mas ressalto o verbo ‘parar’, porque isso não significa bombardear ou fazer uma guerra” – afirmou comentando os ataques norte-americanos ao Iraque com o objetivo de destruir rebeldes jihadistas do Estado Islâmico (EI), que acabava de declarar a criação de um califado e começara a perseguir civis e cristãos.
Mais afirmou, referindo-se aos conflitos simultâneos que atingem o mundo – como as crises na Síria, no Iraque, na península coreana, no continente africano na Faixa de Gaza – que “a tortura se tornou quase um meio ordinário. Esses são os frutos da guerra. Estamos em guerra”.
Também a 13 de setembro de 2014, o Papa reafirmou, no cemitério militar de Fogliano Redipuglia, no norte de Itália, que se pode falar de uma terceira Guerra Mundial na atualidade, que se desenvolve “por partes” entre “crimes, massacres e destruições”. E apelou à paz para travar a “loucura bélica”.
A reiteração das suas afirmações sobre a Guerra ocorreu naquele lugar aonde o Papa Francisco se deslocou na manhã do predito dia para recordar os mortos da Primeira Guerra Mundial, quando se cumpriam 100 anos desde o seu início. Estavam presentes milhares de pessoas, com destaque para os cardeais de Viena, Christoph Schönborn, e de Zagreb, Josip Bozanic, e bispos da Eslovénia, Áustria, Hungria e Croácia.
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Uma leitura retrospetiva de recortes de imprensa levou-me ao site de um blogue “ordem natural” – http://ordem-natural.blogspot.pt/2012/06/3-guerra-ja-comecou.html, acedido hoje, 18 de fevereiro. De lá retiro algumas informações preciosas que parecem dar razão quer a Günter Grass quer ao Papa Francisco e que amalgamo com achegas minhas e a minha visão das coisas.
Lendo o panorama político do dealbar do século XX, é de reconhecer que factos muito importantes que indiciavam a situação da iminência de guerra “já agiam por baixo das relações diplomáticas. O crime de assassinato do Arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do Império Austro-Húngaro, perpetrado a 28 de junho de 1914, alegadamente atribuído a um elemento integrante da sociedade secreta Mão Negra, foi a gota de água para a eclosão do primeiro conflito “de proporções globais de toda História”, mas não o seu único fator determinante.
Situação semelhante se verifica aquando da Segunda Grande Guerra. A invasão da Polónia foi o facto detonador, mas o ambiente estava já criado por muitos fatores de que se destacam o antissemitismo hitleriano e o seu pangermanismo, a emergência dos sistemas totalitários – bolchevismo, nazismo, fascismo e imperialismo – e vários tipos de nacionalismo, além das não ultrapassadas sequelas da grande repressão.
Daí se infere que um conflito armado resulta de um complexo caótico de situações a ele conducentes, entre os quais emerge um facto que se torna pretexto de eclosão visível da guerra.
O mencionado bloguista faz o levantamento de hodiernas situações análogas às existentes nos alvores do século XX, salpicadas de factos “que de uma forma ou de outra colaboraram decisivamente para a eclosão da guerra: corrida armamentista; disputas de hegemonia política; e alianças frágeis – a que podemos acrescentar, nos dias de hoje, a emergência de manifestações organizadas de nacionalismos, xenofobias, extremismos (à esquerda e à direita) e populismos, o imperialismo do poder financeiro, a fragilidade desigual dos blocos geopolíticos (o peso relativo da China, a fragilidade da União Europeia, a falência da política e da estratégia militar norte-americana), o fosso cada vez mais profundo entre ricos e pobres e o descrédito generalizado da política – que se afasta dos cidadãos e se deixa manobrar pelos poderes económico e financeiro, que, no seu furor autofágico e heterofágico, não se importam de tudo desmantelar.
Olhando para o início deste Século XXI, é insofismável que os três fatores acima evidenciados pelo bloguista “se repetem pelo menos desde 2001” e também “é possível perceber alguns outros, frequentemente mais perniciosos e influentes”, bem como outros “cujos efeitos podemos apenas imaginar, já que são inéditos na História”: o potencial atómico do Irão; a guerra civil na Síria; a falência da economia mundial; a crise do dólar e do euro; a revolução islâmica, com a instituição do Estado Islâmico; o terrorismo que pode surpreender a todo o momento; o falhanço das revoltas contra as ditaduras dos países árabes da África a norte e a nordeste ou contra a ditadura iraquiana; a alastrante perseguição aos cristãos e, mesmo, a judeus e a muçulmanos; a dureza e a instabilidade na Coreia do Norte; a formação de um eixo totalitário na América Latina; a aproximação Russo-Chinesa; e, em resultado da crise dos países da Europa do sul, nomeadamente da Grécia, o possível desmantelamento da União Europeia. Há já quem fale na vertebração de três eixos: Atenas-Moscovo; Berlim-Paris; Londres-Madrid-Roma.
Para uma perceção mais clara e global da real situação geopolítica atual, devemos tomar em consideração que, além dos problemas pretensamente insolúveis que envolvem religião, política, comércio, cultura e outros elementos que separam os povos, “existem também aqueles cujos interesses estão diretamente ligados aos meios ou resultados necessários ou previstos para uma guerra”.  
Por outro lado, a indústria das armas, dos medicamentos, dos meios informáticos, das comunicações, das energias e dos combustíveis, além de outros, “obtém lucros fabulosos com revoluções, guerras, revoltas e conflitos armados de maneira geral”. E os céticos devem ficar persuadidos de que “a História já provou que, mesmo numa guerra mundial, sempre é possível a alguns alcançar lucros mágicos e abrigar-se em segurança enquanto muitos morrem em vão”.
Sendo certo e claro que o ambiente é propício e sabendo que interesses diabólicos estão a agir como nunca, nomeadamente através da espionagem, sobretudo a materializada em escutas de líderes de países soberanos, mesmo de grandes potências, e subsequente revelação ufanosamente exposta, “as chances de que os desdobramentos futuros levem o mundo a uma guerra são enormes”. Por isso, os amigos da paz não podem dormir nem desarmar.
Em suma, a III Guerra Mundial pode já ter efetivamente começado, faltando somente um facto agudo, aquele que possa ficar para a História como responsável pela eclosão do conflito.
Face à atual situação efervescente, o bloguista pergunta-se: O Irão usará sua bomba? Israel vai atacar preventivamente o Irão? A Síria vai tornar-se uma Líbia bem armada? Teremos (mais) algum assassinato? Surgirá um novo eixo geopolítico?
E conclui que “qualquer um destes factos pode se desdobrar e envolver muitas nações”, sendo possível “saber como começa uma guerra, mas nunca se sabe(ndo) como ela termina”.
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Terão razão o Papa e Günter Grass? Não deverão os dirigentes das nações e dos blocos geopolíticos ler os sinais dos tempos?

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