Tema: Fraternidade – Igreja e
sociedade
Lema: “Eu vim para servir” (cf
Mc 10,45)
Em cada ano, na quadra da
Quaresma, a Igreja Católica no Brasil realiza a Campanha da Fraternidade, sob a
coordenação da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil), com o
escopo de despertar a solidariedade dos fiéis e da sociedade para um problema
em concreto que envolva a sociedade brasileira, num dinamismo de procura dos
caminhos de solução.
A campanha de cada ano é marcada
por um tema, que define a realidade
concreta selecionada para ser transformada, e um lema, que explicita a direção de busca da transformação dessa
realidade.
Para 2015, o tema e o lema são os
referenciados acima. É, em face do tema e do lema selecionados, urgente estabelecer
as bases sólidas da fraternidade na Igreja e na Sociedade, bem como na relação
respeitosa, crítica e cooperante entre elas. E a certa direção deste basilar estabelecimento,
manutenção e crescimento da fraternidade estriba-se no exemplo de Cristo: VIM
PARA SERVIR.
Esta postura implica uma radical
metanoia ou conversão. Quem não anseia na Igreja e na Sociedade pela conquista
do prestígio que dê poder, riqueza, visibilidade e o condão de ser “adorado” e
aplaudido?
O pano de fundo destas campanhas
é constituído por dois balizamentos fundamentais:
- Educar para o estilo de vida e
vivência em fraternidade, com base na justiça e no amor, exigências fulcrais do
Evangelho;
- Renovar a consciência da
responsabilidade de todos pela ação da Igreja na evangelização e na promoção
humana, com vista a uma sociedade justa e solidária.
Depois, a campanha é coroada por
um gesto concreto e exigente, que se expressa na coleta da solidariedade, realizada no Domingo de Ramos, a nível
nacional, em todas as comunidades cristãs católicas e outras que sentem a
vocação ecuménica. A arrecadação das receitas constitui o FNS (Fundo
Nacional de Solidariedade)
e os FDS (Fundos Diocesanos de Solidariedade), sendo que 60% dos recursos se
destinam ao apoio de projetos da própria diocese e 40% dos recursos revertem
para o fortalecimento da solidariedade entre as diferentes regiões do país.
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As campanhas de solidariedade resultaram
da iniciativa de três padres responsáveis pela Caritas Brasileira, em 1961, de
realizar uma campanha de angariação de fundos para as atividades assistenciais,
que denominaram de Campanha da Fraternidade, realizada pela primeira vez na
Quaresma de 1962, na arquidiocese de Natal, no Rio Grande do Norte. No ano
seguinte, dezasseis dioceses do Nordeste seguiram-lhes o exemplo.
Embora não coroadas de êxito
financeiro, estas iniciativas serviram de embrião de um projeto anual dos
organismos nacionais da CNBB e das Igrejas Locais do Brasil, incrementado e desenvolvido
à luz e na perspetiva das Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da Igreja no país.
Este projeto foi lançado, a nível
nacional, no dia 26 de dezembro de 1962, sob o impulso renovador do Concílio
Vaticano II, e realizado pela primeira vez na Quaresma de 1964. Era Presidente
da Caritas Nacional Dom Eugénio de Araújo Sales, o administrador apostólico de
Natal. O tema era a fraternidade; e o lema era Lembre-se: você também é Igreja.
Depois, em 20 de dezembro de
1964, os bispos aprovaram o fundamento inicial da campanha intitulado: Campanha da fraternidade – Pontos
Fundamentais apreciados pelo episcopado em Roma. Era o tempo do Concílio, em
que os bispos brasileiros se encontravam por largos períodos em Roma, alojados
na mesma casa e a participar na aula conciliar, e que se tornou propício para a
conceção e estruturação da Campanha da Fraternidade (CF), bem como para o Plano Pastoral
de Emergência e o Plano Pastoral de Conjunto. A conjugação destes incipientes,
mas pioneiros, instrumentos pastorais deu origem ao desencadeamento da Pastoral
Orgânica e de outras ações de renovação eclesial.
Em 1965, tanto a Caritas como a
CF, que estavam vinculadas ao Secretariado Nacional de Ação Social, passaram a
ficar diretamente vinculadas ao Secretariado Geral da CNBB, passando esta a
assumir a CF. Com essa transição, foi estabelecida a estrutura básica da CF; e,
em 1967, começou a organizar-se um subsídio maior que os anteriores para a
organização anual da CF, tendo-se dado início aos encontros regionais das
coordenações, regionais e nacional, da CF.
A partir de 1970, a CF ganhou um
apoio especial e significativo: a mensagem papal. E a Campanha da Fraternidade tornou-se
especial manifestação de evangelização libertadora, ao mesmo tempo que induz a
renovação da vida da Igreja e a transformação da Sociedade, a partir de problemas
específicos abordados à luz do Projeto de Deus.
Depois de ter
conhecido duas fases anteriores – a 1.ª, em busca da Renovação Interna da Igreja (1964-1972); e a
2.ª, A Igreja preocupa-se com a realidade social do povo, denunciando o pecado
social e promovendo a justiça (1973-1984) – a CF vive agora uma 3.ª fase: A Igreja volta-se para situações
existenciais do povo Brasileiro (iniciada em 1985).
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Com
o tema “Fraternidade: Igreja e Sociedade” e lema “Eu vim para servir” (cf. Mc 10,45), a Campanha da Fraternidade
(CF) 2015 intentará recordar a vocação e a missão de todo o cristão e das
comunidades de fé, a partir do diálogo e colaboração entre a Igreja e a Sociedade,
propostos pelo Concílio Ecuménico Vaticano II.
A
CNBB fez a abertura oficial da CF 2015 no passado dia 18 de fevereiro,
Quarta-feira de Cinzas, em Brasília. O evento foi presidido pelo bispo auxiliar
de Brasília e secretário-geral da CNBB, Dom Leonardo Ulrich
Steiner, com a presença da secretária executiva do Conselho Nacional de Igrejas
Cristãs, de representantes do governo e de entidades da sociedade civil. A
celebração foi transmitida ao vivo pelas emissoras de inspiração católica: Rede
Vida, Nazaré, Aparecida, Evangelizar, Horizonte, Século 21 e Canção Nova. E foi
divulgada a mensagem do Papa para a CF deste ano, dirigida aos fiéis brasileiros, datada de 2 de fevereiro de 2015, de que se
respigam, a seguir, algumas ideias consideradas mais pertinentes.
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Francisco
evoca a Quaresma como tempo de preparação para a Páscoa, com as notas de:
penitência, oração e caridade – para renovação das nossas vidas, na
identificação “com Jesus” através da entrega generosa aos irmãos, sobretudo aos
mais necessitados. Ficam assim assinaladas a dimensão espiritual e a dimensão
sociocomunitária deste tempo favorável à Salvação.
Referindo-se ao tema
e ao lema da CF de 2015, o Papa entende que “a Igreja, enquanto comunidade congregada por aqueles que, crendo, voltam o seu
olhar para Jesus, autor da salvação e princípio da unidade (cf Lumen Gentium 3), tem de estar atenta às necessidades dos que estão ao seu redor, já que
as alegrias e esperanças, as tristezas e
angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem,
são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos
de Cristo (cf Gaudium et Spes, 1).
Por isso, nestes dias
em que Deus chama o povo à conversão, a Campanha da Fraternidade ajudará a
aprofundar, à luz do Evangelho, o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a
Sociedade “como serviço de edificação do Reino de Deus, no coração e na vida do
povo brasileiro”.
A Igreja – considera
o Papa – tem de encontrar as formas concretas de “assumir evangelicamente e a
partir da perspetiva do Reino de Deus as tarefas prioritárias que contribuem
para a dignificação do ser humano e trabalhar com os demais cidadãos e
instituições para o bem do mesmo”. E deve fazê-lo no respeito da laicidade do
Estado e da autonomia das realidades terrenas.
Mais.
Esta não é tarefa exclusiva das instituições, mas a cada um compete fazer a sua
parte, começando pelos ambientes em que se insere: a família, o local de
trabalho, as pessoas das suas relações. E tem de se encontrar um modo concreto
de atuar, ajudando os que são mais pobres e necessitados, no pressuposto de que
“cada cristão e cada comunidade são chamados a ser instrumentos de Deus ao
serviço da libertação e promoção dos pobres, para que possam integrar-se
plenamente na sociedade” – o que exige docilidade atenta “para ouvir o clamor
do pobre e socorrê-lo” (cf EG, 187), sobretudo sabendo acolher.
Depois,
é preciso examinar a consciência sobre “o compromisso concreto e efetivo de
cada um na construção duma sociedade mais justa, fraterna e pacífica”.
Por
fim, o lema da CF 2015 aponta a tarefa identitária do cristão: “amar servindo”.
Por isso, importa que este caminho quaresmal, em campanha de fraternidade, “predisponha
os corações para a vida nova que Cristo nos oferece, e que a força
transformadora que brota da sua Ressurreição alcance a todos na sua dimensão
pessoal, familiar, social e cultural e fortaleça em cada coração sentimentos de
fraternidade e de viva cooperação”.
***
Também o Hino da Campanha da
Fraternidade 2015 parece ser a ressonância da voz de Cristo:
“Em meio às angústias, vitórias e lidas, / no
palco do mundo, onde a história se faz, / sonhei uma Igreja a serviço da vida. /Eu
fiz do meu povo os atores da paz!
Quero uma Igreja solidária, / servidora
e missionária, / que anuncia e saiba ouvir. A lutar por dignidade, / por
justiça e igualdade, / pois “Eu vim para servir”.
E finalmente:
Vem! Calça as sandálias, assume a missão!
***
E ainda se
poderá dizer que o Brasil e a sua CNBB não tratam a sério as questões
eclesiais?
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