A Comunicação Social deu honras de
destaque à notícia de que Portugal não vai participar na Exposição Universal de
2015 dedicada ao tema “Alimentar o Planeta, energia para a vida”, que vai decorrer
em Milão de 1 de Maio a 31 de outubro.
Já é a segunda vez, desde a Expo
98, que Portugal se posiciona no estatuto de ausente, tendo a primeira acontecido
com a exposição de Yeosu, em 2012, na Coreia do Sul.
Mas Portugal não será o único país
a ficar de fora. A Croácia e os países nórdicos também vão faltar à exposição
milanesa.
A exposição universal de 2015,
que se estende pelo espaço de 110 hectares (abrangendo os municípios
de Rho e Pero, a noroeste de Milão),
conta com a participação, já garantida, de 145 países dos cinco continentes,
além de uma série de organismos internacionais, e a visita de 20 milhões de pessoas.
E os organizadores pensam que “o presente e o futuro da alimentação começam a
partir daqui”.
Trata-se de uma exposição universal.
Ora as exposições universais englobam temas que afetam uma considerável parcela
da experiência humana, focando um período ou um complexo de questões
específicas e candentes da humanidade. As exposições universais realizam-se com
uma frequência menor que as exposições internacionais ou as especializadas,
porque a temática é de âmbito mais restrito ou/e porque são mais dispendiosas.
Para distinguir as exposições (universais,
internacionais ou especializadas)
de feiras menores, embora algo similares, requer-se que os pavilhões sejam
desenhados a partir do zero. Exemplos recentes são os pavilhões do Japão,
França, Marrocos e Espanha na Expo 92, em Sevilha. Podem, no entanto, ser
utilizadas estruturas pré-fabricadas para minimizar os custos para os países em
desenvolvimento ou para compartilhar o mesmo espaço entre nações da mesma área
geográfica, como a Praça das Américas, na predita Expo 92.
***
As palavras-chave do evento de
2015 são “tradição, criatividade e inovação” – trilogia a partir da qual os participantes,
vindos de praticamente todo o mundo, darão uma leitura do passado e do presente
da alimentação, com o escopo de gizar cenários futuristas da nutrição.
Não é esta a primeira vez que a
capital lombarda organiza uma exposição de envergadura internacional. Em 1906,
Milão acolheu a Exposição Internacional dedicada ao tema dos Transportes. Agora,
volvidos 109 anos e tendo ultrapassado outra candidata finalista – Smirne,
cidade da Turquia Centro-Oeste – vai protagonizar um evento de magnitude
mundial, a alimentação dum planeta em risco.
O cenário da exposição configura
uma ilha rodeada, não pelo mar ou por um lago, mas por um canal de água – a nova
“Via d’ Água para Milão – em resultado do risco do arquiteto Massimiliano
Fuksas. O projeto implicou a reabilitação de alguns troços de plataformas flutuantes,
do antigo sistema de canais de Milão, com base na ideia de traçar, desde o
centro da cidade até à Expo, um percurso pedestre e uma ciclovia.
Nos espaços expositivos serão
implantados cinco pavilhões temáticos em que se vão abordar os temas de
nutrição e sustentabilidade repartidos por diversas áreas: a experiência dos alimentos
e o futuro; a ligação entre a nutrição e a infância; a possibilidade de uma alimentação
sustentável; a relação entre a comida e a arte; o modo de produção dos alimentos.
E, além dos pavilhões das nações individuais e dos mistos, será evidente a
presença de empresas numa área de 21 mil metros quadrados.
***
Do lado de Portugal, neste caso,
a justificação para a não participação assenta, segundo o gabinete da Ministra
da Agricultura e do Mar, nos elevados custos e nas opções disponíveis em termos
de localização. Quanto aos custos, Portugal teria de desembolsar oito milhões de
euros para pagar as despesas de um pavilhão próprio, a que seria necessário adicionar
as despesas adequadas à manutenção e dinamização do espaço português na
exposição milanesa durante seis meses. No atinente às condições de localização,
o gabinete de Assunção Cristas acha que eram inadequadas a uma representação
condigna; e ter um pavilhão português numa zona condigna naquele recinto de 1,1
milhões de metros quadrados (os 110 mil hectares referidos) tornar-se-ia ainda mais
dispendioso.
Todos sabem que as principais
atrações de uma feira mundial são os pavilhões nacionais criados pelos países
participantes. Na Expo 2000,em Hanôver, em que os países criaram a sua própria
arquitetura, o investimento médio foi de cerca de 13 milhões de euros. Considerando
os elevados custos, alguns governos ficam céticos sobre as vantagens da participação
dos seus países, pelo receio de que o benefício seja manifestamente inferior ao
custo.
É certo que os efeitos concretos são
difíceis de avaliar. No entanto, um estudo para o pavilhão holandês na Expo
2000 estimou que o pavilhão custou 35 milhões de euros, mas gerou, em
contrapartida, cerca de 350 milhões de receitas para a economia dos Países Baixos.
No caso português, o
Vice-primeiro Ministro, que coordena a área económica e a diplomacia económica,
e o Ministro dos Negócios Estrangeiros nada sabiam responder sobre as razões da
ausência. Foi a Ministra da Agricultura e do Mar quem assumiu a resposta
negativa, uma decisão tomada há meses, pelos vistos.
***
É óbvio que Portugal só tem dinheiro
para aquilo que quer ter, embora também o tenha de ter quando e para o que não quer.
E paga excesso de gastos que os governantes resolvem eleger como necessários;
paga direta ou indiretamente desvarios do BES/GES e desmandos e
recapitalizações (?) de BCP, BPP, BPN, Banif e qualquer coisinha da CGD; e paga
indemnizações por obras que não faz, mas que mandou estudar e projetar. Mas não
tem dinheiro para contribuir para o desenvolvimento de assunto de interesse mundial,
como é a alimentação.
Será que os portugueses
interiorizaram a cultura da alimentação equilibrada, adequada às diversas
situações pessoais de saúde, profissão, situação social, eventos especiais, lazer,
arte, desporto…? Não temos casos de obesidade, de subnutrição, de excesso de comida
e de bebida, de anorexia, de dietas agressivas, de refeições fora de horas, de
desidratação…?
Não se pode gastar algo, mesmo
que custe, na venda da imagem de Portugal, da sua cozinha, dos seus produtos;
mas vendem-se as suas empresas de marca, mesmo que seja em saldo!
O setor agroalimentar já se lamentou
por esta perda de oportunidade e manifestou a sua estranheza em ver Paulo
Portas e Assunção Cristas “a desperdiçar esta oportunidade”, segundo o que
revelou ao Público Luís Mira,
secretário-geral da CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal). Este dirigente associativo,
aduzindo que o número de exportações tem crescido, sublinhou que “esta seria uma
grande oportunidade para mostrar ao mundo o potencial da nossa produção
agrícola”. E apontou os setores do vinho e do azeite como “alimentos essenciais
da dieta mediterrânica, que são hoje dois setores de topo mesmo a nível mundial”.
É caso para dar razão a Mário Soares,
que afirma, em artigo de opinião no DN de
hoje, que “ a Terra está em perigo” e acentua que “os seres humanos têm morrido
de múltiplas maneiras: nas guerras, com doenças que progrediram, e matando
outros, homens, mulheres e crianças, para ganharem força e poder, quase sempre
em vão”. Mas acusa a força e a vontade do homem que fazem desaparecer “as outras
espécies vivas, na terra e no mar”, com a consequente “diminuição da biodiversidade
das espécies”.
E vaticina que “a Terra pode
desaparecer e nós, humanos, com ela”, se esta situação “não mudar rapidamente”.
Que situação? “Têm sido criadas cada vez maiores dificuldades ao planeta Terra”,
em resultado das “alterações climáticas” e do “desejo dos mercados usurários em
obter cada vez mais petróleo e outros recursos naturais”.
Porém, o segmento em que melhor
encaixa a negativa de Portugal em relação à Exposição Universal de 2015 é, em meu
entender, o seguinte: “Portugal não tem política externa. Está tão só
dependente da Alemanha da Senhora Merkel e do ministro Schäuble, e obedece ao
que lhe mandam”.
Se não é assim, assim parece. Importa
mudar de postura interna e perante o mundo, sem deixar de prover ao país e sem
hostilizar o mundo.
Sem comentários:
Enviar um comentário