terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O país não tem o direito de perder oportunidades destas

A Comunicação Social deu honras de destaque à notícia de que Portugal não vai participar na Exposição Universal de 2015 dedicada ao tema “Alimentar o Planeta, energia para a vida”, que vai decorrer em Milão de 1 de Maio a 31 de outubro.
Já é a segunda vez, desde a Expo 98, que Portugal se posiciona no estatuto de ausente, tendo a primeira acontecido com a exposição de Yeosu, em 2012, na Coreia do Sul.
Mas Portugal não será o único país a ficar de fora. A Croácia e os países nórdicos também vão faltar à exposição milanesa.
A exposição universal de 2015, que se estende pelo espaço de 110 hectares (abrangendo os municípios de Rho e Pero, a noroeste de Milão), conta com a participação, já garantida, de 145 países dos cinco continentes, além de uma série de organismos internacionais, e a visita de 20 milhões de pessoas. E os organizadores pensam que “o presente e o futuro da alimentação começam a partir daqui”.
Trata-se de uma exposição universal. Ora as exposições universais englobam temas que afetam uma considerável parcela da experiência humana, focando um período ou um complexo de questões específicas e candentes da humanidade. As exposições universais realizam-se com uma frequência menor que as exposições internacionais ou as especializadas, porque a temática é de âmbito mais restrito ou/e porque são mais dispendiosas.
Para distinguir as exposições (universais, internacionais ou especializadas) de feiras menores, embora algo similares, requer-se que os pavilhões sejam desenhados a partir do zero. Exemplos recentes são os pavilhões do Japão, França, Marrocos e Espanha na Expo 92, em Sevilha. Podem, no entanto, ser utilizadas estruturas pré-fabricadas para minimizar os custos para os países em desenvolvimento ou para compartilhar o mesmo espaço entre nações da mesma área geográfica, como a Praça das Américas, na predita Expo 92.
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As palavras-chave do evento de 2015 são “tradição, criatividade e inovação” – trilogia a partir da qual os participantes, vindos de praticamente todo o mundo, darão uma leitura do passado e do presente da alimentação, com o escopo de gizar cenários futuristas da nutrição.
Não é esta a primeira vez que a capital lombarda organiza uma exposição de envergadura internacional. Em 1906, Milão acolheu a Exposição Internacional dedicada ao tema dos Transportes. Agora, volvidos 109 anos e tendo ultrapassado outra candidata finalista – Smirne, cidade da Turquia Centro-Oeste – vai protagonizar um evento de magnitude mundial, a alimentação dum planeta em risco.
O cenário da exposição configura uma ilha rodeada, não pelo mar ou por um lago, mas por um canal de água – a nova “Via d’ Água para Milão – em resultado do risco do arquiteto Massimiliano Fuksas. O projeto implicou a reabilitação de alguns troços de plataformas flutuantes, do antigo sistema de canais de Milão, com base na ideia de traçar, desde o centro da cidade até à Expo, um percurso pedestre e uma ciclovia.
Nos espaços expositivos serão implantados cinco pavilhões temáticos em que se vão abordar os temas de nutrição e sustentabilidade repartidos por diversas áreas: a experiência dos alimentos e o futuro; a ligação entre a nutrição e a infância; a possibilidade de uma alimentação sustentável; a relação entre a comida e a arte; o modo de produção dos alimentos. E, além dos pavilhões das nações individuais e dos mistos, será evidente a presença de empresas numa área de 21 mil metros quadrados.
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Do lado de Portugal, neste caso, a justificação para a não participação assenta, segundo o gabinete da Ministra da Agricultura e do Mar, nos elevados custos e nas opções disponíveis em termos de localização. Quanto aos custos, Portugal teria de desembolsar oito milhões de euros para pagar as despesas de um pavilhão próprio, a que seria necessário adicionar as despesas adequadas à manutenção e dinamização do espaço português na exposição milanesa durante seis meses. No atinente às condições de localização, o gabinete de Assunção Cristas acha que eram inadequadas a uma representação condigna; e ter um pavilhão português numa zona condigna naquele recinto de 1,1 milhões de metros quadrados (os 110 mil hectares referidos) tornar-se-ia ainda mais dispendioso.
Todos sabem que as principais atrações de uma feira mundial são os pavilhões nacionais criados pelos países participantes. Na Expo 2000,em Hanôver, em que os países criaram a sua própria arquitetura, o investimento médio foi de cerca de 13 milhões de euros. Considerando os elevados custos, alguns governos ficam céticos sobre as vantagens da participação dos seus países, pelo receio de que o benefício seja manifestamente inferior ao custo.   
É certo que os efeitos concretos são difíceis de avaliar. No entanto, um estudo para o pavilhão holandês na Expo 2000 estimou que o pavilhão custou 35 milhões de euros, mas gerou, em contrapartida, cerca de 350 milhões de receitas para a economia dos Países Baixos.
No caso português, o Vice-primeiro Ministro, que coordena a área económica e a diplomacia económica, e o Ministro dos Negócios Estrangeiros nada sabiam responder sobre as razões da ausência. Foi a Ministra da Agricultura e do Mar quem assumiu a resposta negativa, uma decisão tomada há meses, pelos vistos.
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É óbvio que Portugal só tem dinheiro para aquilo que quer ter, embora também o tenha de ter quando e para o que não quer. E paga excesso de gastos que os governantes resolvem eleger como necessários; paga direta ou indiretamente desvarios do BES/GES e desmandos e recapitalizações (?) de BCP, BPP, BPN, Banif e qualquer coisinha da CGD; e paga indemnizações por obras que não faz, mas que mandou estudar e projetar. Mas não tem dinheiro para contribuir para o desenvolvimento de assunto de interesse mundial, como é a alimentação.
Será que os portugueses interiorizaram a cultura da alimentação equilibrada, adequada às diversas situações pessoais de saúde, profissão, situação social, eventos especiais, lazer, arte, desporto…? Não temos casos de obesidade, de subnutrição, de excesso de comida e de bebida, de anorexia, de dietas agressivas, de refeições fora de horas, de desidratação…?
Não se pode gastar algo, mesmo que custe, na venda da imagem de Portugal, da sua cozinha, dos seus produtos; mas vendem-se as suas empresas de marca, mesmo que seja em saldo!
O setor agroalimentar já se lamentou por esta perda de oportunidade e manifestou a sua estranheza em ver Paulo Portas e Assunção Cristas “a desperdiçar esta oportunidade”, segundo o que revelou ao Público Luís Mira, secretário-geral da CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal). Este dirigente associativo, aduzindo que o número de exportações tem crescido, sublinhou que “esta seria uma grande oportunidade para mostrar ao mundo o potencial da nossa produção agrícola”. E apontou os setores do vinho e do azeite como “alimentos essenciais da dieta mediterrânica, que são hoje dois setores de topo mesmo a nível mundial”.
É caso para dar razão a Mário Soares, que afirma, em artigo de opinião no DN de hoje, que “ a Terra está em perigo” e acentua que “os seres humanos têm morrido de múltiplas maneiras: nas guerras, com doenças que progrediram, e matando outros, homens, mulheres e crianças, para ganharem força e poder, quase sempre em vão”. Mas acusa a força e a vontade do homem que fazem desaparecer “as outras espécies vivas, na terra e no mar”, com a consequente “diminuição da biodiversidade das espécies”.
E vaticina que “a Terra pode desaparecer e nós, humanos, com ela”, se esta situação “não mudar rapidamente”. Que situação? “Têm sido criadas cada vez maiores dificuldades ao planeta Terra”, em resultado das “alterações climáticas” e do “desejo dos mercados usurários em obter cada vez mais petróleo e outros recursos naturais”.
Porém, o segmento em que melhor encaixa a negativa de Portugal em relação à Exposição Universal de 2015 é, em meu entender, o seguinte: “Portugal não tem política externa. Está tão só dependente da Alemanha da Senhora Merkel e do ministro Schäuble, e obedece ao que lhe mandam”.
Se não é assim, assim parece. Importa mudar de postura interna e perante o mundo, sem deixar de prover ao país e sem hostilizar o mundo.

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