quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Cientistas descobrem terapia do melanoma com células estaminais

 

O site do Diário de Notícias (DN) publicou, a 7 de fevereiro, um texto de Rui Miguel Godinho, a relevar que o banco de células BebéVida e a Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico do Porto aplicaram o tratamento em grande número de tumores e creem ter descoberto uma possível linha de cura. É “o pontapé de saída” para uma terapia concreta de combate ao melanoma – cancro de pele com origem nas células produtoras de pigmentos, os melanócitos – graças às células estaminais (presentes no tecido e no sangue do cordão umbilical).

A investigação da BebéVida (um banco de células estaminais) e do Centro de Investigação em Saúde Translacional e Biotecnologia Médica da Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto (TBIO) aplicou ao melanoma este tipo de células, e os resultados foram promissores, com os tumores a viverem menos tempo do que sem esta terapia.

Andreia Gomes, diretora técnica de investigação e desenvolvimento da BebéVida diz que “ainda vai demorar a que os resultados se tornem efetivamente numa terapia”. O que se fez “foi um estudo primário, de ciência básica e preliminar, e não “algo que se possa aplicar já nas pessoas”.

Os investigadores testaram os fatores “produzidos e libertados pelas células estaminais do tecido do cordão umbilical”, aplicando-os, depois, a “células provenientes de melanoma maligno”, para saber que efeito estas células teriam. E verificou-se “uma redução da viabilidade do número de células vivas de melanoma”. É como se matassem as células, diminuindo-lhes multiplicação e a capacidade de multiplicabilidade ou seja, de migração, que pode ser fator inerente à metastização. Os resultados “acabam por ser muito otimistas”, pois, há “uma direção no sentido de tornar estas células [de melanoma] em antitumorais”.

Se o tratamento se revelar eficaz, será um grande avanço no tratamento do melanoma, “que atualmente se revela muito pouco eficaz”, diz Andreia Gomes. Não especificando quantas células foram utilizadas no ensaio, devido ao número “muito grande”, diz que a observação foi feita ao longo de um ano. “Foram estudados vários fatores, várias condições. A aplicação das células per se é feita durante 24 horas”. Os investigadores vão pondo as células estaminais em cima do melanoma e avaliam os efeitos “em fatores funcionais ou caraterísticas funcionais” – “muito importantes, para perceber se as células estaminais poderiam ter efeitos antitumorais ou não”.

A ciência tem procurado perceber como podem estas células atuar noutros cancros e noutras doenças. No cancro da próstata, o efeito é consistente com o que se verificou no melanoma. “Isto já foi visto nesse caso”, podendo ajudar “em casos de cancro mais avançados”, como o melanoma.

“Estas células são proveniente de linhas solares, já metastizadas, ou seja, a parte mais avançada. Realmente, parece haver algo que indica que as células estaminais têm capacidade de parar, ou estagnar, o avanço dos tumores”, afirma a investigadora. No entanto, no concreto, ainda há vários fatores a serem estudados, como explica a investigadora. É necessária uma bateria de estudos para avaliar os mecanismos, o porquê de isto acontecer, como aplicar e as questões de segurança. 

Este tipo de células é cada vez mais usado em investigação, para encontrar cura para doenças, porque as células estaminais são lucipotentes, com enorme versatilidade para se adaptarem. Esse fator permite que, se forem preservadas, sirvam de cura para algumas doenças, já que têm a capacidade de se adaptar e autorrenovar indefinidamente. Assim, será possível reparar tecidos danificados ou a tratar doenças que resultem de uma disfunção celular. E há grande expectativa, quanto ao impacto de terapias com células estaminais no Parkinson e no Alzheimer.

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O melanoma (maligno) é cancro de pele que começa nas células produtoras de pigmento da pele (melanócitos). Surge na pele normal ou em nevos já existentes, podendo formar placas da pele de cor marrom, irregulares, planas ou salientes, com pontos de cores diferentes, ou caroços duros pretos ou cinzentos. Para o diagnóstico, recorre-se à biópsia; depois, o melanoma é removido. E, se se espalhou, recorre-se a medicamentos quimioterápicos e à radioterapia, mas a cura é difícil.

Os melanócitos são células pigmentadas da pele que lhe dão a cor distintiva. A luz solar estimula-os a produzir mais melanina (pigmento que escurece), aumentando o risco de melanoma.

Em 2022, foram estimados cerca de 99.780 novos casos de melanoma nos Estados Unidos da América (EUA), com a estimativa de 7.650 mortes (a cada hora, morre ali de melanoma uma pessoa). Embora responsável por menos que 5% dos casos de cancros de pele diagnosticados nos EUA, esse tipo causa a maioria das mortes por cancro de pele.

O melanoma, geralmente, começa, na pele normal, como tumor novo pequeno e pigmentado, mais frequentemente em áreas expostas ao sol. Cerca de um em três surge em nevo preexistente. Pode ocorrer ao redor e dentro nos olhos, na boca, nos órgãos genitais e nas áreas retais, no cérebro e nos leitos ungueais (partes abaixo das unhas). E propaga-se rapidamente (isto é, forma metástases) para zonas distantes do corpo, onde continua o seu crescimento e destruição do tecido.

Os dois tipos mais comuns são o melanoma de disseminação superficial e o melanoma nodular. O primeiro, responsável por 70% dos melanomas, ocorre mais comumente nas pernas, em mulheres, e no tronco, em homens. As células tumorais apresentam mutações no gene BRAF (que produz a proteína quinase serina/treonina). O segundo representa 15% a 30% dos melanomas e ocorre em qualquer parte do corpo e cresce rapidamente.

Os fatores de risco do melanoma incluem: exposição ao sol (sobretudo queimaduras do sol com bolhas repetidas); banhos de sol repetidos, com ultravioleta A (UVA) ou com tratamentos médicos com psoraleno mais ultravioleta A (PUVA); histórico de ter tido cancro de pele (outro melanoma ou outro tipo de cancro de pele); parentes com melanoma; pele clara ou sardas; grande número de nevos pigmentados ou presença de nevos atípicos (especialmente se houver mais de cinco); sistema imunológico enfraquecido; um grande nevo melanocítico congénito (nevo congénito gigante); e idade avançada.

Pessoas que tiveram melanoma correm mais risco de desenvolverem um novo melanoma.

As caraterísticas deste nevo atípico incluem bordas irregulares e cores variáveis. O melanoma é menos comum em pessoas de pele mais escura. Quando o melanoma surge em pessoas de pele mais escura, muitas vezes, manifesta-se nos leitos ungueais, nas palmas das mãos e nas plantas dos pés. É muito raro na infância. No entanto, um nevo melanocítico congénito é uma placa de pele com coloração escura, como um sinal ou uma marca de nascença, presente desde o nascimento. Quando é grande, por exemplo, com mais do que cerca de 20 centímetros (cerca de 8 polegadas), o nevo melanocítico congénito é fator de risco para melanoma maligno.

Embora os melanomas ocorram durante a gravidez, ela não aumenta a probabilidade de um nevo se transformar em melanoma. Os nevos podem mudar de tamanho e escurecer na gravidez.

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Todas as pessoas devem tomar conhecimento do ABCDE do melanoma, para poderem examinar os seus nevos e detetar qualquer alteração maligna (cancerosa). Os indicadores conhecidos como ABCDE do melanoma são: assimetria (as duas metades não são iguais); bordas (parecem misturar-se com a pele ao redor ou não são arredondadas ou ovais); cor (mudanças de cor de um nevo existente, principalmente a difusão de pigmentação marrom, preta, vermelha, branca ou azul, ou de cor significativamente diferente ou mais escura do que os outros nevos); diâmetro (maior do que 6 milímetros de largura, quase o tamanho da maioria dos apagadores de lápis); evolução (nevo novo em pessoa acima de 30 anos ou nevo com alterações).

Os melanomas podem variar em relação ao seu aspeto. Alguns são placas acastanhadas, planas, irregulares e com pequenos pontos negros; outros são placas acastanhadas elevadas, de cor parda, com pontos vermelhos, brancos, negros ou azuis. Às vezes, o melanoma surge como tumor duro de cor vermelha, negra ou cinza. Menos de 10% dos melanomas não produzem pigmentos. Os melanomas amelanóticos podem ser rosados, avermelhados ou levemente marrom-claros e podem parecer tumores não cancerosos ou uma outra forma de cancro de pele.

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Para a biópsia, remove-se o tumor inteiro, se for pequeno, ou parte dele, se for grande. A amostra é examinada ao microscópio, para determinar se o tumor corresponde a um melanoma e, se assim for, se saber se foi extraído todo o cancro. Se a biópsia mostrar que o caroço é melanoma e que tal caroço não foi todo removido, deve fazer-se a sua remoção completa.

A maior parte dos tumores pigmentados de cor escura retirados para biópsia não são melanomas, mas simples nevos. Contudo, é preferível remover nevos não prejudiciais a permitir o crescimento de cancro. De facto, há crescimentos intermédios, que são os nevos atípicos ou displásicos, que podem vir a converter-se em melanomas.

Além da biópsia, há mais recursos para ajudar a distinguir entre nevo atípico e melanoma. Tais ferramentas incluem luz polarizada e dermatoscopia, que ajudam a avaliar os tumores.

O melanoma pode espalhar-se rapidamente e causar morte em apenas alguns meses após o diagnóstico. Quanto menos o melanoma crescer dentro da pele, maior é a probabilidade de ser resolvido com cirurgia.

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Como o melanoma pode ser causado por exposição ao sol, as pessoas podem ajudar a prevenir este cancro, adotando as seguintes medidas, a começar no início da infância: evitar o sol (ficando na sombra, entre as 10 e as 16 horas), evitar banhos de sol e evitar o uso de bronzeamento artificial (principalmente adolescentes e adultos jovens); usar vestuário de proteção; e usar protetor solar.

Ao nível do tratamento, é indicada a remoção; a imiquimode, crioterapia ou radioterapia; e, para tumores que se espalharam, imunoterapia, terapia direcionada ou radioterapia.

Os médicos tratam os melanomas, extraindo-os e retirando uma borda de quase 1 centímetro ou mais da pele ao redor do tumor. Para as pessoas com melanomas mais superficiais e que não podem ser submetidas a cirurgia ou que decidem não optar pela cirurgia, os médicos tratam com creme contendo imiquimode ou usam frio extremo (criocirurgia). E, se o melanoma se disseminou para áreas distantes, a cirurgia não é, em geral, uma opção, mas, às vezes, áreas localizadas podem ser cirurgicamente removidas.

Pembrolizumabe e nivolumabe, os novos medicamentos para imunoterapia são usados, para ajudar o sistema imunológico do corpo a destruir o cancro. São inibidores de PD-1, que bloqueiam a ação de uma proteína na superfície da célula cancerosa chamada proteína 1 de morte celular programada, que protege a célula cancerosa dos efeitos do sistema imunológico. Quando os inibidores da PD-1 bloqueiam a proteína, o sistema imunológico consegue atacar a célula cancerosa e matá-la. A terapia direcionada (terapia-alvo) administra medicamentos que atacam os mecanismos biológicos inatos de uma célula cancerosa. Os medicamentos identificam os genes anómalos que ocorrem apenas nas células cancerosas. Uma classe de medicamentos usados nesta terapia inclui: dabrafenibe, encorafenibe e vemurafenibe, que podem destruir as células com cancro com mais precisão do que os antigos medicamentos de quimioterapia. E podem ser combinados com outra classe de medicamentos, que inclui o trametinibe, o cobimetinibe e o binimetinibe, em pessoas que não se podem submeter à imunoterapia.

São administráveis, pela veia, medicamentos quimioterápicos, como a dacarbazina e a temozolomida, para tratar os melanomas que alastraram, mas não prolongam a sobrevida e são, em geral, administrados a pessoas que não têm outra opção. A radioterapia pode ser usada em pessoas em que não é possível a remoção completa do melanoma, devido à sua localização, quando se repete em área onde foi removido ou quando atingiu o cérebro.

Estão em estudo outros tratamentos, como medicamentos e vacinas que estimulam o corpo a atacar as células com melanoma.

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Com as células estaminais e com as vacinas, surge uma nova esperança.

2024.02.07 – Louro de Carvalho

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