Pela primeira vez se faz, neste dia 29 de julho, a sua memória litúrgica com
alguns textos próprios para missa e ofício, funcionando em regime supletivo os textos
do Comum dos Santos.
Apesar de o Martirológio Romano prescrever que, a 29 de julho, se deve
fazer a seguinte referência “Memória dos
Santos Marta, Maria e Lázaro, irmãos, que, em espírito familiar, hospedaram o
Senhor Jesus na sua casa de Betânia, abrindo os ouvidos e os corações à escuta
das divinas palavras sobre o reino dos céus, acreditando n’ Ele, que venceu a
morte com a ressurreição”, a dúvida tradicional na Igreja latina sobre a
identidade das Marias de Magdala (Madalena), de
Betânia e alegadamente de uma pecadora, fez com que o Calendário Romano Geral
estabelecesse a celebração da Memória Litúrgica de Santa Maria Madalena, sem
mais, para 22 de julho e a de Santa Marta para 29, ficando Lázaro a leste do calendário
celebrativo.
Entretanto, os estudos mais recentes dissiparam a dúvida da identidade
das Marias e revelaram a singularidade de Maria Madalena como testemunha da Ressurreição
e no seu dinamismo e vigor apostólicos. Por conseguinte, a pedido do Papa
Francisco, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos
emitiu o decreto de 3 de junho de 2016, relativo à celebração de Santa Maria
Madalena, que, da categoria de memória obrigatória com que era celebrada na
missa e no ofício, passou a ser celebrada com o grau de Festa no Calendário
Romano Geral.
Tal decisão estriba-se no facto de a Igreja, tanto no Ocidente como no
Oriente, haver tido sempre em grande consideração e louvor Maria Madalena,
celebrando-a de diversos modos, pois ela foi a primeira testemunha
evangelizadora da ressurreição do Senhor. Por outro lado, a Igreja
sente-se estimulada a refletir aprofundadamente sobre a dignidade da mulher, a
nova evangelização e a grandeza do mistério da misericórdia divina, pelo que o
exemplo de Maria Madalena deve ser proposto aos fiéis do modo mais adequado. Na
verdade, esta mulher, conhecida como a que amou tanto Cristo e que foi amada
por Ele, que São Gregório Magno chamou de “testemunha da misericórdia” e São
Tomas de Aquino de “apóstola dos apóstolos”, pode ser considerada pelos fiéis
de hoje como modelo do ministério da mulher na Igreja.
Este ano de 2021, o decreto de 26 de janeiro da mesma Congregação para o Culto Divino e a
Disciplina dos Sacramentos releva que, “na casa de Betânia, o Senhor Jesus experimentou o espírito de
família e a amizade de Marta, de Maria e de Lázaro”, pelo que o Evangelho de João
afirma que “Ele os amava”. Com efeito, “Marta ofereceu-Lhe generosamente
hospitalidade, Maria ouviu atentamente as suas palavras e Lázaro saiu de
imediato do sepulcro a convite d’Aquele que aniquilou a morte”. Paralelamente reconhece
que “a tradicional dúvida na Igreja latina
acerca da identidade de Maria”, a Madalena a quem Cristo apareceu após a
ressurreição, a irmã de Marta, a pecadora a quem o Senhor perdoou os pecados,
levou à inscrição, no Calendário Romano, “unicamente de Marta no dia 29 de
julho”.
Porém, encontrou-se,
em estudos de tempos recentes, a solução, como atesta o atual Martirológico
Romano, que comemora naquele mesmo dia, também Maria e Lázaro, e como atestam alguns
Calendários particulares, que celebram conjuntamente nesse dia os três irmãos.
Por isso,
tendo em conta o importante testemunho evangélico dos três irmãos que
ofereceram ao Senhor Jesus a hospitalidade da sua casa, prestando-lhe uma
atenção dedicada, e acreditaram que Ele é a ressurreição e a vida, o Sumo
Pontífice, acolhendo a proposta deste competente Dicastério, decidiu que no dia
29 de julho seja inscrito no calendário Romano Geral a memória obrigatória dos
Santos Marta, Maria e Lázaro. Isto implica variantes e acrescentos nos textos
litúrgicos, que figuram em anexo ao decreto, que devem ser traduzidos, aprovados
e, depois de confirmados por este Dicastério, publicados pela respetiva Conferência
Episcopal.
A Missa é própria.
A antífona de
entrada salienta a hospitalidade de Marta: “Jesus entrou numa aldeia e Marta recebeu-O em
sua casa” (Lc 10,38).
A oração
coleta destaca a ressurreição de Lázaro, a hospitalidade de Marta e a meditação
de Maria: “Senhor
nosso Deus, cujo Filho chamou de novo Lázaro do sepulcro para a vida
e aceitou a hospitalidade que Marta Lhe oferecia em sua casa, concedei-nos
que, servindo a Cristo em cada um dos nossos irmãos, mereçamos
ser alimentados com Maria na meditação da sua palavra”.
A oração sobre as oblatas evoca a generosidade hospitaleira dos santos
irmãos: “Ao proclamar-Vos admirável nos
vossos santos, humildemente Vos pedimos, Senhor, que aceiteis a
oferta do nosso ministério, como aceitastes a sua generosa hospitalidade”.
A antífona da
comunhão transcreve o momento da confissão de fé de Marta: “Marta disse a
Jesus: Vós sois o Messias, o Filho de Deus vivo, que veio ao mundo (cf Jo 11,27).
E a oração
depois da comunhão enaltece o exemplo destes três santos: “A sagrada comunhão do Corpo e Sangue do
vosso Unigénito nos afaste de todas as coisas efémeras, Senhor, para
que, a exemplo dos santos Marta, Maria e Lázaro, possamos progredir
neste mundo em caridade sincera e
rejubilar nos céus na visão eterna do vosso rosto”.
Por seu
turno, a Liturgia da Palavra assume como 1.ª leitura uma passagem da 1.ª
Epístola da São João (1Jo
4,7-16), em que sobressai
o facto de Deus, que é amor e nos ama, ter enviado o seu Filho Unigénito ao mundo
como vítima de expiação pelos nossos pecados.
E, urgindo o amor fraterno, declara que, “Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós”.
O Salmo
Responsorial é o Salmo 34 (33),
2-3.4-5.6-7.8-9.10-11 em torno do refrão: “Em
todo o tempo e lugar bendirei o Senhor” (v. 2) ou “Saboreai e vede como o Senhor é bom” (9a).
O cântico do Aleluia emoldura o refrão: “Eu sou a luz do mundo, diz o Senhor: quem Me segue terá a luz da
vida” (Jo
8,2).
A nível do
Evangelho, são de tomar, em alternativa, uma das seguintes duas passagens: Jo 11,19-27, em que sobressai o ato de fé de
Marta “Acredito que Tu és o Messias, o
Filho de Deus”; ou Lc 10,38-42,
em que se evidencia a chamada de atenção de Jesus para a excessiva azáfama de
Marta “Marta, Marta, andas inquieta e
preocupada com muitas coisas”, em contraste com a contemplação de Maria,
que “escolheu a melhor parte”.
No Evangelho de João, Marta passa das certezas de que o irmão Lázaro não
teria morrido se Jesus ali estivesse, de que mesmo agora Deus concederia a
Jesus tudo o que Ele Lhe pedisse e de que o irmão ressuscitará no último dia, à
certeza da fé no Senhor que é a Ressurreição e a Vida, pelo que quem n’Ele acredita
não morrerá jamais. E à interpelação de Jesus se ela acreditava nisto, respondeu
com desassombro à boa maneira de Pedro em Cesareia de Filipe (cf Mt 16,16): “Acredito, Senhor, que Tu és o Messias, o
Filho de Deus, que havia de vir ao mundo”.
Por seu turno, a passagem de Lucas tem a função de uma parábola. Tentamo-nos
ao encosto ao lado de Marta, classificando a atitude de Maria como egoísta por
deixar a irmã sozinha no trabalho. Porém, Jesus mostra que aprecia a atitude de
escuta da Palavra e adverte para o perigo do excesso de preocupações e
inquietudes, que dificultam o cultivo e o fruto da Palavra de Deus, pelo que é complacente
com a postura de Maria.
O Ofício é do Comum dos Santos. Todavia, dispõe de textos próprios nalguns
segmentos.
Assim, a oração nas horas canónicas é da coleta da Missa; as antífonas
do Benedictus (em Laudes) e do Magnificat (em Vésperas) são, respetivamente:
“Levantando os olhos ao Céu, Jesus bradou
com voz forte: Lázaro sai para fora” e “Jesus amava Marta e seus irmãos, Maria e Lázaro”.
No Ofício de Leitura, a 2.ª Leitura é um excerto de um dos sermões de
São Bernardo,
O responsório
replica Jo 12, 1-3:
R. Depois de Jesus ter ressuscitado
Lázaro, ofereceram‑Lhe uma ceia em Betânia, * E Marta servia à mesa.
V. Maria tomou uma libra de perfume
precioso e ungiu os pés de Jesus. * E Marta servia à mesa.
Por fim, dão-se a conhecer os dois hinos do próprio destes três irmãos
santos:
Para o Ofício
de Leitura e a Hora de Vésperas |
Para a Hora de Laudes |
Alegres te cantamos, Santa Marta, |
Os votos e os louvores que te damos |
2021.07.29 – Louro de Carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário