quinta-feira, 29 de julho de 2021

Marta, Maria e Lázaro, santos e irmãos

 

Pela primeira vez se faz, neste dia 29 de julho, a sua memória litúrgica com alguns textos próprios para missa e ofício, funcionando em regime supletivo os textos do Comum dos Santos.

Apesar de o Martirológio Romano prescrever que, a 29 de julho, se deve fazer a seguinte referência “Memória dos Santos Marta, Maria e Lázaro, irmãos, que, em espírito familiar, hospedaram o Senhor Jesus na sua casa de Betânia, abrindo os ouvidos e os corações à escuta das divinas palavras sobre o reino dos céus, acreditando n’ Ele, que venceu a morte com a ressurreição”, a dúvida tradicional na Igreja latina sobre a identidade das Marias de Magdala (Madalena), de Betânia e alegadamente de uma pecadora, fez com que o Calendário Romano Geral estabelecesse a celebração da Memória Litúrgica de Santa Maria Madalena, sem mais, para 22 de julho e a de Santa Marta para 29, ficando Lázaro a leste do calendário celebrativo.

Entretanto, os estudos mais recentes dissiparam a dúvida da identidade das Marias e revelaram a singularidade de Maria Madalena como testemunha da Ressurreição e no seu dinamismo e vigor apostólicos. Por conseguinte, a pedido do Papa Francisco, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos emitiu o decreto de 3 de junho de 2016, relativo à celebração de Santa Maria Madalena, que, da categoria de memória obrigatória com que era celebrada na missa e no ofício, passou a ser celebrada com o grau de Festa no Calendário Romano Geral.

Tal decisão estriba-se no facto de a Igreja, tanto no Ocidente como no Oriente, haver tido sempre em grande consideração e louvor Maria Madalena, celebrando-a de diversos modos, pois ela foi a primeira testemunha evangelizadora da ressurreição do Senhor. Por outro lado, a Igreja sente-se estimulada a refletir aprofundadamente sobre a dignidade da mulher, a nova evangelização e a grandeza do mistério da misericórdia divina, pelo que o exemplo de Maria Madalena deve ser proposto aos fiéis do modo mais adequado. Na verdade, esta mulher, conhecida como a que amou tanto Cristo e que foi amada por Ele, que São Gregório Magno chamou de “testemunha da misericórdia” e São Tomas de Aquino de “apóstola dos apóstolos”, pode ser considerada pelos fiéis de hoje como modelo do ministério da mulher na Igreja.

Este ano de 2021, o decreto de 26 de janeiro da mesma Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos releva que, “na casa de Betânia, o Senhor Jesus experimentou o espírito de família e a amizade de Marta, de Maria e de Lázaro”, pelo que o Evangelho de João afirma que “Ele os amava”. Com efeito, “Marta ofereceu-Lhe generosamente hospitalidade, Maria ouviu atentamente as suas palavras e Lázaro saiu de imediato do sepulcro a convite d’Aquele que aniquilou a morte”. Paralelamente reconhece que “a tradicional dúvida na Igreja latina acerca da identidade de Maria”, a Madalena a quem Cristo apareceu após a ressurreição, a irmã de Marta, a pecadora a quem o Senhor perdoou os pecados, levou à inscrição, no Calendário Romano, “unicamente de Marta no dia 29 de julho”.

Porém, encontrou-se, em estudos de tempos recentes, a solução, como atesta o atual Martirológico Romano, que comemora naquele mesmo dia, também Maria e Lázaro, e como atestam alguns Calendários particulares, que celebram conjuntamente nesse dia os três irmãos.

Por isso, tendo em conta o importante testemunho evangélico dos três irmãos que ofereceram ao Senhor Jesus a hospitalidade da sua casa, prestando-lhe uma atenção dedicada, e acreditaram que Ele é a ressurreição e a vida, o Sumo Pontífice, acolhendo a proposta deste competente Dicastério, decidiu que no dia 29 de julho seja inscrito no calendário Romano Geral a memória obrigatória dos Santos Marta, Maria e Lázaro. Isto implica variantes e acrescentos nos textos litúrgicos, que figuram em anexo ao decreto, que devem ser traduzidos, aprovados e, depois de confirmados por este Dicastério, publicados pela respetiva Conferência Episcopal.

A Missa é própria.

A antífona de entrada salienta a hospitalidade de Marta: “Jesus entrou numa aldeia e Marta recebeu-O em sua casa (Lc 10,38).

A oração coleta destaca a ressurreição de Lázaro, a hospitalidade de Marta e a meditação de Maria: “Senhor nosso Deus, cujo Filho chamou de novo Lázaro do sepulcro para a vida e aceitou a hospitalidade que Marta Lhe oferecia em sua casa, concedei-nos que, servindo a Cristo em cada um dos nossos irmãos, mereçamos ser alimentados com Maria na meditação da sua palavra”.

A oração sobre as oblatas evoca a generosidade hospitaleira dos santos irmãos: “Ao proclamar-Vos admirável nos vossos santos, humildemente Vos pedimos, Senhor, que aceiteis a oferta do nosso ministério, como aceitastes a sua generosa hospitalidade”.

A antífona da comunhão transcreve o momento da confissão de fé de Marta: “Marta disse a Jesus: Vós sois o Messias, o Filho de Deus vivo, que veio ao mundo (cf Jo 11,27).

E a oração depois da comunhão enaltece o exemplo destes três santos: “A sagrada comunhão do Corpo e Sangue do vosso Unigénito nos afaste de todas as coisas efémeras, Senhor, para que, a exemplo dos santos Marta, Maria e Lázaro, possamos progredir neste mundo em caridade sincera e rejubilar nos céus na visão eterna do vosso rosto”.

Por seu turno, a Liturgia da Palavra assume como 1.ª leitura uma passagem da 1.ª Epístola da São João (1Jo 4,7-16), em que sobressai o facto de Deus, que é amor e nos ama, ter enviado o seu Filho Unigénito ao mundo como vítima de expiação pelos nossos pecados. E, urgindo o amor fraterno, declara que, “Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós”.

O Salmo Responsorial é o Salmo 34 (33), 2-3.4-5.6-7.8-9.10-11 em torno do refrão: “Em todo o tempo e lugar bendirei o Senhor(v. 2) ou “Saboreai e vede como o Senhor é bom(9a).

O cântico do Aleluia emoldura o refrão: “Eu sou a luz do mundo, diz o Senhor: quem Me segue terá a luz da vida(Jo 8,2).

A nível do Evangelho, são de tomar, em alternativa, uma das seguintes duas passagens: Jo 11,19-27, em que sobressai o ato de fé de Marta “Acredito que Tu és o Messias, o Filho de Deus”; ou Lc 10,38-42, em que se evidencia a chamada de atenção de Jesus para a excessiva azáfama de Marta “Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas”, em contraste com a contemplação de Maria, que “escolheu a melhor parte”.

No Evangelho de João, Marta passa das certezas de que o irmão Lázaro não teria morrido se Jesus ali estivesse, de que mesmo agora Deus concederia a Jesus tudo o que Ele Lhe pedisse e de que o irmão ressuscitará no último dia, à certeza da fé no Senhor que é a Ressurreição e a Vida, pelo que quem n’Ele acredita não morrerá jamais. E à interpelação de Jesus se ela acreditava nisto, respondeu com desassombro à boa maneira de Pedro em Cesareia de Filipe (cf Mt 16,16): “Acredito, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo”.  

Por seu turno, a passagem de Lucas tem a função de uma parábola. Tentamo-nos ao encosto ao lado de Marta, classificando a atitude de Maria como egoísta por deixar a irmã sozinha no trabalho. Porém, Jesus mostra que aprecia a atitude de escuta da Palavra e adverte para o perigo do excesso de preocupações e inquietudes, que dificultam o cultivo e o fruto da Palavra de Deus, pelo que é complacente com a postura de Maria.

O Ofício é do Comum dos Santos. Todavia, dispõe de textos próprios nalguns segmentos.

Assim, a oração nas horas canónicas é da coleta da Missa; as antífonas do Benedictus (em Laudes) e do Magnificat (em Vésperas) são, respetivamente: “Levantando os olhos ao Céu, Jesus bradou com voz forte: Lázaro sai para fora” e “Jesus amava Marta e seus irmãos, Maria e Lázaro”.  

No Ofício de Leitura, a 2.ª Leitura é um excerto de um dos sermões de São Bernardo,

(Sermo 3 in Assumptione beatæ Mariæ Virginis, 4. 5: PL 183, 423. 424). Nele o santo Abade mostra querer que assumamos na nossa casa o ordenamento da caridade em três ministérios: a administração de Marta, a contemplação a Maria e a penitência a Lázaro. Nestes termos, olhando à especificidade de cada ministério, como Maria devemos pensar em Deus com piedosos e elevados sentimentos, como Marta devemos pensar no próximo com disposições de benevolência e de misericórdia e como Lázaro devemos pensar em nós mesmos mesmo com humildade e comiseração. Por isso, quem não recebeu uma ocupação ou cargo deve manter-se sentado “ou aos pés de Jesus com Maria ou no fundo do sepulcro com Lázaro”. Não obstante, quem é chamado a ocupação ou cargo em prol dos outros, além das tarefas inerentes ao cargo, deve saber que as atividades não podem ofuscar a fidelidade à missão, que postula, acima de tudo, a busca dos interesses de Jesus Cristo, a intenção pura e a realização da vontade de Deus.

O responsório replica Jo 12, 1-3:

R. Depois de Jesus ter ressuscitado Lázaro, ofereceram‑Lhe uma ceia em Betânia, * E Marta servia à mesa.

V. Maria tomou uma libra de perfume precioso e ungiu os pés de Jesus. * E Marta servia à mesa.

Por fim, dão-se a conhecer os dois hinos do próprio destes três irmãos santos:

 

Para o Ofício de Leitura e a Hora de Vésperas

Para a Hora de Laudes

 

Alegres te cantamos, Santa Marta,
A ti que mereceste receber
Com teus irmãos, a Cristo em tua casa
Assiduamente, com gosto e prazer.

Ao Hóspede divino de bom grado
Servias com cuidado diligente,
Solícita por bem O receber,
Estimulada por amor ardente.

Enquanto alimentavas o Senhor
Alegre, preparando-lhe comida,
D’Ele Maria e Lázaro hauriam
Da graça o alimento e a vida.

Quando já se previa a sua morte,
Tua irmã com perfume O quis ungir.
E, vigilante, tu lhe ofertaste
O derradeiro dom de O servir.

Felizes hospedeiros de Jesus,
Incendiai o nosso coração,
Para que seja sempre a sua casa,
Moradia de amor e gratidão.

À Trindade divina toda a glória,
E que Ela nos conceda habitar
Na celeste mansão, para convosco
Eternamente seu louvor cantar. Amen.

 

Os votos e os louvores que te damos
Nos tragam, Santa Marta, proteção;
Tu que te uniste a Cristo na amizade
De um fiel coração.

Da tua casa hóspede frequente,
Aí tomou repouso o bom Messias,
Que se alegrava com os teus cuidados,
Quando tu O servias.

Por te morrer o irmão, tu te queixaste,
Chorando com Maria deprimida,
Mas o Senhor com sua voz possante
Fê-lo voltar à vida.

Pois que acreditas que a ressurreição
É Cristo, o Filho único de Deus,
Alcança-nos a graça de irmos todos
Para o reino dos céus.

Louvor ao Pai, e ao Filho a fortaleza,
Poder ao Santo Espírito igualmente;
Que um dia nós cantemos sua glória
Indefetivelmente.

                                                                                                                    

Honra, pois aos Santos Lázaro, Maria e Marta. E glória a Deus!

2021.07.29 – Louro de Carvalho

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