Sua Santidade recebeu alta, a 14 de julho, após o
internamento na Policlínica Gemelli em que foi submetido a uma cirurgia. E,
antes de regressar ao Vaticano, foi até à Basílica de Santa Maria Maior rezar diante do ícone
mariano da “Salus Populi Romani” para
agradecer o bom êxito da operação. Enquanto isso, viu-se na sua conta do Twitter um
agradecimento
por todas as orações e as manifestações de afeto recebidas nos dez dias em que
esteve internado.
No comunicado
da Sala de Imprensa da Santa Sé, além do pensamento do Santo Padre nos doentes
e nos profissionais da área de saúde, especifica-se que Francisco rezou de modo
especial pelos pacientes que encontrou na Policlínica durante a sua convalescença.
E entre estes pacientes, estão as crianças da Unidade de Oncologia Pediátrica.
A comunicação entre eles começou através duma mensagem enviada pelo Papa aos
pequenos, que responderam com um desenho, acompanhado dum bilhete:
“Ouvimos
dizer que não está muito bem e que agora se encontra no nosso hospital. Embora
não possamos ver-nos, nós enviamos-lhe um forte abraço e desejamos-lhe uma
rápida recuperação.”.
O encontro
pessoal ocorreu dias depois e foi feito em público durante o Angelus dominical. Na ocasião, o Papa
falou sobre o mistério da dor e da doença nas crianças frisando que o porquê de
elas sofrerem é uma pergunta sem resposta.
Contudo, com
os boletins diários que comunicavam um progresso na recuperação, a presença do
Santo Padre no Gemelli se transformou aos poucos em ocasião para manifestar
proximidade a todos os enfermos. “Que
ninguém fique só”, foi o seu apelo, unido ao pedido de que todos tenham
acesso a serviços de saúde gratuitos.
***
Entretanto, foi publicitado, neste dia 15, o
Relatório ASIF 2020, segundo o qual aumenta o rigor da instituição vaticana. É
um extenso relatório sobre as
atividades realizadas no ano passado, com a análise pormenorizada e o julgamento
positivo da Moneyval (Comissão de Peritos em Avaliação de Medidas de
Combate à Lavagem de Dinheiro e Financiamento do Terrorismo) na luta contra a lavagem de dinheiro e financiamento
do terrorismo, produzido pela ASIF (Autoridade de Supervisão e
Informação Financeira).
De acordo
com o documento, a Santa Sé posiciona-se entre as jurisdições mais virtuosas em
algumas áreas, como a financeira, e na luta contra a lavagem de dinheiro e o
financiamento do terrorismo. Por outro lado, destaca-se a eficácia da
cooperação no âmbito interno e no âmbito internacional. Houve 89 assinalações de
atividades suspeitas em 2020 e 16 relatórios enviados ao Escritório do Promotor
de Justiça. Foram feitos 49 pedidos de informação a outras autoridades do
Vaticano, referentes a 124 itens, sinal de “crescimento significativo em
relação ao ano anterior, a confirmar as consideráveis sinergias criadas entre
as instituições da Santa Sé e o Estado da Cidade do Vaticano na luta contra
atividades criminosas”.
Graças a
dois protocolos internacionais de entendimento com a cooperação ativa das forças
de investigação do Vaticano, a ASIF fez 58 pedidos de informação a UIF (Unidades de
Inteligência Financeira)
estrangeiras sobre 196 quesitos e enviou 19 comunicações espontâneas sobre 104.
O Relatório indica
uma diminuição progressiva no uso de dinheiro em espécie no Vaticano, tendência
que se deve também à disponibilidade de outros sistemas de transferência de
fundos realizados pelo IOR (Instituto para as Obras de Religião), incluindo o circuito SEPA (área de pagamentos unitários em euros: 36 países), que garante melhores padrões de segurança e rastreabilidade.
Levou em conta as avaliações da Moneyval sobre o funcionamento eficaz do
sistema de prevenção e combate ao financiamento do terrorismo. O julgamento
final recompensa a seriedade e o rigor da abordagem seguida pela Santa Sé e
pelo Estado da Cidade do Vaticano. Dos 11 critérios examinados, não houve
nenhum com avaliação de “baixa eficácia”. “Eficácia substancial” é menção para
5 áreas como a cooperação internacional ou as medidas preventivas; e “eficácia
moderada” para as outras 6 áreas. O quadro positivo levou a Moneyval a decidir
que a próxima avaliação dos progressos no cumprimento das ações sugeridas pelos
especialistas ocorrerá daqui a 3 anos e a da eficácia daqui a 5, através de
novas inspeções.
O Relatório 2020
segue o caminho da “absoluta transparência das atividades institucionais do
Estado da Cidade do Vaticano”, no dizer do Papa Francisco na abertura do 92.º
Ano Judiciário. Boas práticas, exemplares, “como se impõe a uma realidade como
a Igreja católica”.
Deste
Relatório 2020 vem um resumo elucidativo em textos, quadros e gráficos, no
Boletim da Sala de Imprensa deste dia 15 de julho.
Espera-se
que este seja um tempo de rutura irreversível com um passado de bruma
económica-financeira no Vaticano com desmandos encobertos nesse ambiente nebuloso.
***
A este
propósito, é de relevar que a Sala de Imprensa da Santa Sé noticiou a conclusão,
neste dia 15, da reunião do Conselho para a Economia, que teve início na tarde do
dia 14.
Foi
presidida pelo Cardeal Marx e teve em mãos a aprovação do balanço 2020, tendo
sido abordado também o tema da política de investimentos da Santa Sé e marcado o
próximo encontro para setembro.
O Padre Juan
Antonio Guerrero Alves, prefeito da Secretaria para a Economia, apresentou o balanço
final para 2020 da Santa Sé, que mereceu aprovação, e houve espaço para a
reflexão sobre a política de investimentos da Santa Sé, moderada por Eva
Castillo Sanz.
Participaram
no encontro o presidente do Conselho para a Economia, Cardeal Reinhard Marx, o
secretário, Mons. Brian Edwin Ferme, e alguns membros do Conselho, incluindo os
cardeais Erdö, Arborelius, Tobin e Petrocchi. Os cardeais Napier, Odilo Scherer
e Lacroix também participaram online a partir dos respetivos países. Estiveram ainda
presentes o Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin, e o auditor geral,
Alessandro Cassinis Righini.
À noite, no
final da sessão do dia 14, o Cardeal Marx celebrou a missa para os presentes.
***
A par de notícias sobre as finanças, destaca-se a
masterclass (aula
magistral) que a Economia de Francisco organizou
para este dia 15, em parceria inédita com o Fórum Mundial da Alimentação (WFF – World
Food Forum).
Trata-se dum
evento moderado pela brasileira Mariana Reis Maria para analisar o conceito de
“ecologia integral”, com o testemunho de duas lideranças indígenas, dirigido a
jovens economistas, empresários e agentes locais de transformação.
Realizada em
modalidade online, a masterclass articula-se a partir do testemunho de duas
lideranças indígenas da América do Sul: Ingrid Gómez Neuque (Neukye
Guate), representante da Organização
Nacional Indígena de Colômbia e membro da Comissão da Verdade; e Patrícia
Gualingua, representante das mulheres Sarayaku, povos indígenas da floresta
equatorial. Também participa Diego Perez, porta-voz da Economia de Francesco e cofundador.
A moderação
é, como se disse, da brasileira Mariana Maria, segundo a qual, por se tratar do
primeiro de uma série de eventos do género, a ideia é oferecer uma perspetiva
geral do que é a “Economia de Francisco”
– movimento de jovens, inspirado pelos conceitos do Papa Francisco para
humanizar o mundo das finanças.
A sua finalidade
é falar da ecologia integral do ponto de vista da Economia de Francisco,
baseado no conceito apresentado primeiramente na “Laudato Si” e, posteriormente, na “Fratelli Tutti”, estando tudo interligado.
A partir das
duas apresentações, haverá grupos de discussão divididos em quatro temas:
energia/pobreza, cultura/justiça, mulheres para economia,
trabalho/cuidado.
***
No quadro duma economia integral para uma
sociedade humanizada e inclusiva, há que “tutelar e promover o trabalho rural
digno”. É o que sustenta a Missão
Permanente da Santa Sé junto de várias organizações internacionais e outras ONG
de inspiração católica, que afirmam que o trabalho rural digno é um ponto central
para uma sociedade mais inclusiva.
Segundo a
abordagem de Debora Donnini no “Vatican
News”, há
muito sofrimento decorrente do trabalho precário, do trabalho forçado e do
desemprego de jovens. Por isso, o tema do trabalho rural digno está no centro
da Agenda 2030 da ONU e foi abordado nos últimos dias no seminário web “Trabalho digno e agricultura: para que
ninguém seja deixado para trás”, em que participaram várias personalidades,
tendo as conclusões sido confiadas a Dom Fernando Chica Arellano, Observador
Permanente da Santa Sé junto de FAO, IFAD e PAM.
O tema do
trabalho digno, intimamente ligado a um crescimento económico mais inclusivo,
constitui uma questão particularmente próxima do coração da Igreja e o centro
da sua doutrina social, sendo que o Papa Francisco, nas suas intervenções sobre
a temática do trabalho, atribui à palavra ‘dignidade’ um profundo significado: “gerar, promover e acompanhar processos que
dão origem a novas oportunidades de trabalho digno, especialmente para os
jovens”.
Em
referência ao setor agrícola, a Santa Sé está convicta da necessidade de adotar
uma cultura de trabalho agrícola baseada na centralidade da pessoa humana,
visto que a real proteção dos direitos dos trabalhadores torna possível o apoio
a uma cadeia agroalimentar justa, sobretudo para os pequenos produtores, gerando
o bem-estar nas comunidades locais e promovendo a coesão social. E foi com
vista à “Cimeira sobre Sistemas Alimentares
Sustentáveis” a realizar em setembro que se realizou este encontro para “chamar
a atenção para o árduo trabalho agrícola, que deve recuperar plenamente a sua
dignidade e dar às pessoas a oportunidade de se expressarem e contribuírem
plenamente para o desenvolvimento integral da sociedade”.
No âmbito do
trabalho do IFAD (Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola) que se concentra nos países em desenvolvimento, o
desafio mais importante é atrair e manter os jovens nas áreas rurais,
dando-lhes oportunidades de emprego no setor agrícola e nas indústrias conexas.
E é de relevar a importância do setor da agricultura digital, pois, oferecendo
a possibilidade de utilização de tecnologias inovadoras, permite que os
agricultores fiquem mais conectados com os mercados financeiros, a informação e
o conhecimento. Para Federica Irelli, do
IFAD, este é um setor onde os jovens facilmente encontrarão emprego, mesmo nas
áreas rurais.
Outro enorme desafio é o acesso à
terra por parte das mulheres, como afirma Irelli, apontando que 70% da força de
trabalho agrícola é feminina, mas não tendo as mulheres mais de 10-20% das
terras, fica limitada a sua capacidade de negociação, o seu contributo para os processos
de desenvolvimento e a sua dignidade como trabalhadoras rurais. Portanto, o
IFAD (além de
outras agências e ONGs da ONU) trabalha
para as tornar protagonistas na transformação agrícola.
Federica
Irelli assinala que os pequenos produtores rurais, como têm acesso limitado,
por exemplo, a fertilizantes, estão focados na conservação da biodiversidade
local que lhes permite a preservação dos recursos naturais disponíveis e a
transmissão intergeracional dos seus conhecimentos, o que lhes torna possível a
adaptação às mudanças climáticas e o contributo para mitigar esta mudança
climática.
Outro
problema é que a grande maioria das pessoas mais pobres do mundo são pequenos
agricultores que não têm recursos para tornar o trabalho rentável, embora contribuam
com 50% das calorias consumidas no mundo. Ora, é crucial levar esses
trabalhadores a realizarem o seu potencial agrícola e a sustentarem a partir do
que produzem, não se limitando a produzir para o resto da população.
Na verdade, a
produção agrícola, nas suas diversas vertentes, incluindo a agropecuária, é
fundamental para o provimento alimentar das populações, o que parece, tantas
vezes, ficar no olvido e na subvalorização.
Por fim, é
de clarificar que, sendo o IFAD uma instituição financeira, tudo o que faz o é
através de negociações com os governos dos países em desenvolvimento, que
recebem empréstimos, o que lhe “permite interagir com os governos para promover
políticas de apoio aos trabalhadores agrícolas, agricultura em pequena escala,
trabalho para os mais frágeis, como jovens, migrantes, mulheres, indígenas,
deficientes”, como referiu a representante do IFAD, que destacou a importância
deste seminário, que reuniu pessoas com diferentes experiências, e a
importância da contribuição da Igreja, que tem uma visão global.
Assim, em vésperas
da “Cimeira sobre Sistemas Alimentares
Sustentáveis”, de setembro, é importante promover um esforço global para
que tais sistemas sejam inclusivos para todos, tanto do lado do trabalho como
do lado dos benefícios do consumo.
***
Está visto
que a doença papal não é obstáculo a que a reforma das mentes e das estruturas
que desencadeou tenha pernas para andar. Também aqui é importante a mobilização
de todos e o dinamismo sinodal.
2021.07.15 – Louro de Carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário