Por carta de 13 de maio de 1992, de João Paulo II ao cardeal
Forenzo Angelini, então Presidente do Conselho Pontifício para a Pastoral dos
Agentes Sanitários (depois
transmutado em Pontifício Conselho para Pastoral
no Campo da Saúde e que hoje integra o Dicastério para o Serviço do
Desenvolvimento Humano Integral) foi instituído o Dia
Mundial do Doente ou Dia Mundial do
Enfermo, a celebrar a partir de 11 de fevereiro de 1993. O objetivo deste
dia é chamar a atenção da Igreja e da sociedade para as condições de tratamento
das pessoas enfermas.
Dado que, a 11 de fevereiro, se celebra a memória litúrgica
de Nossa Senhora de Lourdes, padroeira dos doentes (dada a acorrência de muitos ao seu santuário
em França, alguns miraculados) e embora a jornada seja vivida, refletida e celebrada em toda a Igreja,
o seu epicentro é o Santuário de Lourdes, quer por vontade do Pontífice que a
instituiu quer dos seus sucessores.
Na referida carta (n.º 2),
o Papa polaco justifica-se:
“A Igreja,
que sempre sentiu, a exemplo de Cristo, como parte integrante da sua missão o
dever do serviço dos enfermos e dos outros que sofrem, está consciente de que
na aceitação amorosa e generosa de toda a vida humana, sobretudo se é débil ou
enferma, vive hoje um momento fundamental da sua missão (Christifideles laici, 38). E não deixa de sublinhar o caráter salvífico
do oferecimento do sacrifício que, vivido em comunhão com Cristo, pertence à própria
essência da redenção (cf Redemptoris
missio, 78).”.
Quanto à escolha do dia, já havia um precedente, como refere
o Beato João Paulo II (vd
id, n.º 3):
“Como
escolhi o dia 11 de fevereiro de 1984 para publicar a carta apostólica Salvifici doloris acerca do significado cristão
do sofrimento humano e para criar, no ano seguinte, este Conselho Pontifício
para a Pastoral dos Agentes Sanitários, considero significativo fixar esta mesma
data para a celebração da Jornada Mundial
do Enfermo. Com efeito, com Maria, ‘Mãe de Cristo, que estava junto à cruz,
detemo-nos diante de todas as cruzes dos homens de hoje’ (Salvifici doloris, 31).”.
Depois, vem a justificação para a escolha do santuário de Lourdes:
“E Lourdes,
um dos santuários marianos mais queridos para o povo cristão, é o lugar e, ao mesmo
tempo, símbolo de esperança e de graça no sentido da aceitação e da oferta do sofrimento
salvífico” (id et ib).
***
Convém referir que, em 1858, quatro anos após a definição do
dogma da Imaculada Conceição pelo Papa Pio IX, a Imaculada Virgem Maria apareceu
a Bernarda Soubirous (Bernardette,
em termos familiares) na
gruta de Massabielle, perto de Lourdes (França).
Por intermédio desta menina, Maria declarou-se a Imaculada Conceição (como que a confirmar a definição
dogmática), chamou os
pecadores à conversão e despertou na Igreja um intenso movimento de oração e
caridade, sobretudo em benefício dos doentes e dos pobres. Também Bernarda era
pobre e doente.
Para comemorar as aparições na gruta de Massabielle, na
margem esquerda do rio Gave, e o dogma da Imaculada Conceição, o Papa Leão XIII
instituiu a festa de Nossa Senhora de Lourdes (memória litúrgica com a reforma do calendário após o
Vaticano II), uma
réplica da solenidade do dia 8 de dezembro, em tempo pré-natalício.
Em carta ao padre Gondrand, no ano de 1861, Bernarda
confidencia:
“Um dia, fui com duas meninas às margens do Rio Gave buscar
lenha. Ouvi um rumor, voltei-me para o prado, mas não vi movimento nas árvores.
Levantei a cabeça e olhei para a gruta. Vi uma senhora vestida de branco: tinha
um vestido alvo com uma faixa azul celeste na cintura e uma rosa de ouro em
cada pé, da cor do rosário que trazia com ela. […]. Somente na terceira vez, a
Senhora me falou e perguntou-me se eu queria voltar ali durante quinze dias. […].
Durante quinze dias lá voltei e a Senhora apareceu-me todos os dias, com
exceção de uma segunda e uma sexta-feira. Repetiu-me, várias vezes, que
dissesse aos sacerdotes para construir, ali, uma capela. Ela mandava que fosse
à fonte para lavar-me e que rezasse pela conversão dos pecadores. Muitas e
muitas vezes perguntei-lhe quem era, mas ela apenas sorria com bondade.
Finalmente, com braços e olhos erguidos para o céu, disse-me que era a
Imaculada Conceição”.
Sabe-se também que a Senhora fazia o sinal da cruz e mexia os
lábios nas contas de pai-nosso no rosário, mas as contas de ave-maria
desfiava-as sem mexer os lábios.
***
Por ocasião deste XXV Dia
Mundial do Enfermo, o Papa Francisco nomeou o Cardeal Secretário de Estado Pietro
Parolin como seu Enviado Especial a Lourdes.
A jornada foi inaugurada, na tarde do dia 10, pelo Cardeal
Pietro Parolin, Secretário de Estado e Enviado Especial do Papa, pelo Cardeal
Peter Turkson, Prefeito da Congregação para o Serviço do Desenvolvimento Humano
Integral, e por Dom Nicolas Brouwert, bispo de Tarbes e Lourdes. Na manhã do
dia 11 (o dia principal), o Cardeal Pietro Parolin presidiu
à Celebração Eucarística, denominada Missa internacional, na Basílica São Pio X,
a que se seguiu a oração mariana do Angelus.
Na parte da tarde, fez uma meditação durante a Adoração Eucarística. No dia 12,
o Cardeal Peter Turkson celebrou a Santa Missa, a que se seguiram duas
conferências: a do Arcebispo de
Chieti-Vasto, Dom Bruno Forte, com o tema “A Igreja, Mãe de Misericórdia”; e a do Arcebispo de Rennes, Dol et
Saint Malo, Dom Pierre Ornellas, “Digam
aos doentes: o Reino de Deus está próximo de vós”.
Em sintonia com o Dia Mundial do Enfermo, neste domingo, 12
de fevereiro, a Igreja na França celebrou também o Domingo da Saúde, com o tema: “Escolha
a vida”.
***
Neste ano, o tema da mensagem do Papa (de 8 de dezembro, solenidade da
Imaculada Conceição da Virgem Maria) para o Dia Mundial do
Enfermo é “Admiração pelo que Deus faz: o Todo-Poderoso fez em mim maravilhas”.
Francisco sustenta que este dia “é uma ocasião para prestar
especial atenção à condição dos doentes e, mais em geral, a todos os que estão
em atribulação. Ao mesmo tempo, convida quem se prodigaliza em favor dos
doentes, começando pelos familiares, profissionais de saúde e voluntários, a
dar graças a Deus pela vocação que dele recebeu para acompanhar os irmãos
enfermos”. Além disso, afirma que “esta recorrência renova, na Igreja, o vigor
espiritual para desempenhar sempre da melhor forma a parte fundamental da sua
missão, que inclui o serviço aos últimos, aos enfermos, aos atribulados, aos
excluídos e aos marginalizados” (cf João Paulo II, Motu próprio Dolentium hominum,1).
Em ajuda desta mística, vêm “os momentos de oração, as
Liturgias Eucarísticas e da Unção dos Enfermos, a interajuda aos doentes e os
aprofundamentos bioéticos e teológico-pastorais que se realizarão em Lourdes” e
que “prestarão uma nova e importante contribuição para tal serviço”.
Assim, o Papa Francisco deseja encorajar “a todos – doentes,
atribulados, médicos, enfermeiros, familiares, voluntários – a olhar
Maria, Saúde dos Enfermos, como a garante da ternura de Deus por
todo o ser humano e o modelo de abandono à vontade divina”; e também “a
encontrar sempre na fé, alimentada pela Palavra e pelos Sacramentos, a força
para amar a Deus e aos irmãos mesmo na experiência da doença”.
Como Consoladora
dos aflitos, Maria ilumina, segundo o Pontífice, “com o seu olhar o rosto
da Igreja no seu compromisso diário a favor dos necessitados e dos doentes”. E “a
solidariedade de Cristo, Filho de Deus nascido de Maria, é, pela Paixão e Cruz,
a expressão da omnipotência misericordiosa de Deus que se manifesta na nossa
vida” – sobretudo frágil, ferida, humilhada, marginalizada ou atribulada –,
infundindo-lhe “a força da esperança que nos faz levantar e sustenta” e dizer
com Paulo: “completo na minha carne o que
falta à Paixão de Cristo” (Cl 1,24).
Mas o Papa
quer que aproveitemos o ensejo para: “encontrar novo impulso a fim de
contribuir para a difusão duma cultura respeitadora da vida, da saúde e do meio
ambiente”; e “encontrar um renovado impulso a fim de lutar pelo respeito da
integridade e dignidade das pessoas, inclusive mediante uma abordagem correta
das questões bioéticas, a tutela dos mais fracos e o cuidado pelo meio ambiente”.
E a mensagem
termina com uma oração à Senhora do acolhimento:
“Ó Maria, nossa Mãe, que, em Cristo, acolheis a cada um de nós como filho,
Sustentai a expectativa confiante do nosso coração,
Socorrei-nos nas nossas enfermidades e tribulações,
Guiai-nos para Cristo, vosso filho e nosso irmão, e
Ajudai a confiarmo-nos ao Pai que faz maravilhas”.
***
Em carta de 19 de janeiro, em que nomeia o Cardeal Pietro
Parolin como seu Enviado Especial a Lourdes, o Papa afirma que é nosso dever tratar
da pessoa humana toda – alma, mente e corpo – “para que cada pessoa se sinta
bem e louve o seu Criador, que fez, por amor, com que todas as coisas
existissem, mas não criou o mal e a morte nem se alegra com a perdição dos
vivos”.
Além disso, “o Altíssimo deu aos homens a ciência para que
seja honrado nas suas maravilhas, pelo que os pastores, os médicos, os enfermeiros
e os próprios doentes rogarão ao Senhor que os dirija para o reto conhecimento
e propicie a cura”.
E, neste pano de fundo doutrinal e pastoral, Francisco pretende
que o cardeal se apresente como seu legado a transmitir o peculiar afeto e
solicitude do Sumo Pontífice para com todos os doentes e para com aqueles que têm
o cuidado deles. Por outro lado, quer que o purpurado, que tem colaborado de forma
eminente com o Papa em prol do bem de toda a Igreja, seja porta-voz da devoção filial
do Papa para com Maria, a Saúde dos Enfermos, perante a multidão dos fiéis que a
11 de fevereiro se congrega no Santuário de Lourdes.
Mais solicita
ao seu Enviado Especial que faça com que todos roguem à Mãe de Deus que “Ela própria
implore do seu divino Filho as maiores graças, sobretudo a paciência na
tribulação, a confiança em Deus, a gratidão pelos benefícios recebidos e a
grande caridade para com todos”.
Finalmente,
pretende que Parolin, explicando a todos, mas em especial a quem sofre e a quem
trata dos doentes, a solicitude medicinal do Senhor para com os que sofrem, de
modo que possam professar como o apóstolo Pedro com um coração sincero: “Senhor, a quem iremos? Só Tu tens palavras de
vida eterna.” (Jo 6,68).
***
Que a
Senhora da Saúde não deixe que o sofrimento nos distraia das maravilhas de Deus
e do conforto da fraternidade em Cristo, espelho do coração misericordioso do Pai
de todos.
2017.02.12 – Louro de Carvalho
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