terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

No 25.º aniversário da assinatura do Tratado de Maastricht

O Tratado de Maastricht (formalmente, Tratado da União Europeia, TUE) foi assinado a 7 de fevereiro de 1992 pelos membros da Comunidade Europeia na cidade de Maastricht, nos Países Baixos. No mês de dezembro de 1991, a mesma cidade hospedou o Conselho Europeu que elaborou o tratado, dando a sua redação por concluída a 9 desse mês. Com a entrada em vigor do novo instrumento em 1 de novembro de 1993, foi criada a União Europeia (UE) e foram lançadas as bases para a criação da moeda única europeia, o euro. O Tratado de Maastricht foi emendado pelos tratados de Amesterdão (assinado a 2 de outubro de 1997 e em vigor desde 1 de maio de 1999), Nice (assinado a 26 de fevereiro de 2001 e em vigor desde 1 de fevereiro de 2003) e Lisboa (assinado a 13 de dezembro de 2007 e em vigor desde 1 de dezembro de 2009).
O Tratado de Amesterdão conferiu maiores garantias em matéria de direitos fundamentais. O de Nice abriu a via para a reforma institucional necessária ao alargamento da UE aos países candidatos do Leste e do Sul da Europa. E o de Lisboa introduziu importantes mudanças que incluem: o aumento de decisões por votação por maioria qualificada no Conselho: o aumento da competência do Parlamento, no processo legislativo através da extensão da codecisão com o Conselho; a eliminação dos Três Pilares (retoma do Tratado de Roma revisto pelo Ato Único Europeu; Política Externa e de Segurança Comum; e Cooperação política e judiciária em matéria penal) e concentração de todos os poderes/competências numa pessoa jurídica única, a UE; a criação dum Presidente do Conselho Europeu, com um mandato mais longo; a criação dum Alto Representante da UE para os negócios Estrangeiros e a Política de Segurança; e a vinculação jurídica da Carta da União em matéria de direitos humanos (ou Carta dos Direitos Fundamentais).
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O Tratado de Maastricht (TUE) constituiu um novo ímpeto para a política de coesão, pois criou um “espaço de liberdade, segurança e justiça”; renumerou as disposições dos tratados; separou os tratados institutivos das três Comunidades (Comunidade Europeia do Cavão e do Aço, Comunidade Económica Europeia e Comunidade Europeia da Energia Atómica) do tratado institutivo da EU; reforçou o poder do pilar comunitário; e regulamentou a cooperação reforçada. O TUE representou, assim, um importante passo para a Europa em geral e para a política de coesão em particular, pois veio consignar a primeira reforma da política de coesão, conferindo maior flexibilidade aos governos nacionais, e estabeleceu firmemente a coesão económica e social como um dos principais objetivos da UE, a par do mercado único e da União Económica e Monetária.
A ênfase na coesão económica e social originou o aumento substancial de recursos financeiros destinados à política de coesão. O pacote Delors II (aprovado no Conselho Europeu de Edimburgo em dezembro de 1992) duplicou os recursos afetos à política de coesão para o período de 1994-1999. Em resultado disso, esses recursos ascenderam a um terço do orçamento da UE, um valor que se mantém nos dias de hoje. Igualmente importante foi a criação do Fundo de Coesão, o último do trio de fundos estruturais e de coesão. Grécia, Irlanda, Espanha e Portugal, Estados então com um PIB per capita inferior a 90% da média da UE, iriam receber apoio a projetos nos domínios das infraestruturas de transportes, energia e telecomunicações e do ambiente. Assim, os Estados‑Membros elegíveis para financiamento receberam então até 85% dos custos dos projetos, com regras de governação mais brandas em comparação com os fundos estruturais, dando aos novos Estados‑Membros uma nova ferramenta para recuperar terreno.
Foi o TUE que lançou o processo de reavaliação periódica da política. De então para cá, a Comissão tem de publicar, de três em três anos, o relatório sobre a coesão com a avaliação dos progressos alcançados na reforma económica e social e a apresentação de propostas de reforma, se necessária. Por outro lado, a criação do Comité das Regiões (CR) teve um impacto igualmente profundo na futura reavaliação da política. O CR abriu o processo de decisão da UE às regiões e localidades, facilitando a promoção dos seus interesses através da interação com os serviços da Comissão e do escrutínio das suas propostas. Desde então, o CR tem contribuído para uma política de coesão mais eficiente.
Na celebração do 25.º aniversário do TUE, é de reconhecer a sua importância para a que se tornou na principal política de investimento da UE. Pelas suas reformas, Maastricht lançou as ferramentas necessárias que permitem à política de coesão beneficiar milhões de europeus.
Porém, a 9 de dezembro de 2016, no 25.º aniversário da conclusão do texto do TUE pelo Conselho, Jean-Claude Juncker, Presidente da Comissão, dizia no seu discurso na Mastricht University, que “não podemos mais explicar a integração europeia através do seu passado”, mas “temos de explicar a União Europeia através do que ela pode trazer para o nosso futuro”.
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Por seu turno, Cavaco Silva revelou-se ontem, dia 6, preocupado com rutura da união monetária. O ex-Presidente quebrou o silêncio no dia em que se soube a data de lançamento do seu novo livro “Quinta-feira e outros dias”: 16 de fevereiro.Com efeito, há 25 anos, Cavaco presidiu à cerimónia de assinatura do Tratado de Maastricht na qualidade de presidente do Conselho da União Europeia. E, agora, em declaração escrita enviada à agência Lusa, na passagem dos 25 anos da assinatura do TUE, o antigo Primeiro-Ministro e ex-Chefe de Estado apela à responsabilidade dos líderes europeus, por recear a ignorância de alguns quanto “às consequências dramáticas” duma rutura da união monetária.
Dizendo tratar-se de “um dos mais importantes marcos da história da construção europeia”, sustenta que, um quartel de século depois, “as liberdades que são timbre da União devem ser defendidas e proclamadas pelo conjunto das nações europeias, cientes de que a União as faz mais fortes”. E explicitou:
“Espero que os líderes europeus estejam à altura das suas responsabilidades e correspondam, dessa forma, às expectativas dos cidadãos. Receio, no entanto, a ignorância de alguns deles em relação às consequências dramáticas que uma ruptura da união monetária teria na vida dos cidadãos”.
Recordando que, a 7 de fevereiro de 1992, alertara para o facto de o Tratado representar “o começo de um novo ciclo” e não “uma etapa final”, faz a retrospetiva das negociações “particularmente duras”, finalizadas com “momentos de tensão e de grande incerteza” quanto à possibilidade de acordo. Não obstante, sublinha que, na Cimeira de Maastricht, de dezembro de 1991, o espírito de solidariedade da construção europeia prevaleceu sobre as divergências”. E o Tratado da União Europeia congregou pela primeira vez as vertentes económica, monetária e política. Ainda me lembro de que, antes da criação do “euro”, os valores de referência monetária para a UE eram expressos em “ecu” (unidade europeia de conta). Mas Cavaco esclarece:
“A grande novidade foi a instituição da união monetária, que viria a tornar-se uma realidade na vida dos cidadãos europeus em janeiro de 1999 com a criação da moeda única. Um passo de gigante do processo de integração europeia. Uma verdadeira revolução.”.
Portugal, segundo conta o ex-Presidente, conseguiu naquela negociação a criação de um novo fundo de coesão para financiar projetos nas áreas do ambiente e das redes transeuropeias, para lá do reforço dos fundos estruturais. E lembra que, “num tempo em que a ‘espuma dos dias’ ocupa grande parte da atenção, é difícil recordar a transformação que Portugal sofreu desde a nossa adesão às Comunidades, em 1986”. Grande analista, que não deixa por mãos alheias os créditos da sua obra! Que pena a sua ação como Chefe de Estado ter sido tão discreta…
Todavia, Cavaco Silva, considerando que Maastricht foi determinante neste processo, “mesmo que não tenham sido evitadas novas crises, seja por políticas erradas seguidas pelos diferentes Estados, seja por deficiente supervisão por parte das instituições europeias”, reconhece que “não se avançou devidamente, como estava previsto, na coordenação das políticas económicas dos Estados-Membros”. No entanto, considera “um erro assacar às insuficiências de Maastricht e ao Euro a responsabilidade pela crise com que os países da União Europeia se vêm defrontando nos últimos anos”, dado que “o Tratado não era um fim, mas o começo de um novo ciclo”.
Acrescentando que “as dificuldades não terminaram, nem vão terminar”, que os “desafios adiante são muitos e as incertezas parecem avolumar-se”, aponta o dedo à crise dos refugiados, à falta de crescimento, ao terrorismo, aos novos protecionismos, ao ‘Brexit’ e às alterações climáticas. No entanto, defende:
“Mas é importante recordar sempre que a Europa nunca teve tanto tempo de paz e de prosperidade como este que conhecemos nas últimas seis décadas. Cabe, por isso, aos líderes de hoje permanecerem firmes na defesa dos ideais europeus – os valores de uma sociedade tolerante e humanista, onde cada um possa viver em segurança e respeito mútuo.”.
Fico na dúvida se Cavaco está a denunciar a falta de vontade política nos decisores europeus, que se deixam guiar pelas leis do mercado e do desígnio financeiro e economicista, bem como pela ambição do voto dos eleitores. Obviamente que a culpa não é dos tratados, mas da péssima gestão dos tratados e da excessiva ambição de quem está no topo da UE. E parece abstruso que o ex-Presidente ponha o acento na alegada ignorância dos outros. Não é ignorância; é ganância e ambição desmedida!
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Por fim, é de salientar, no âmbito das comemorações, a participação do Presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António nas celebrações do 25º aniversário da assinatura do TUE. Com efeito, para sinalizar a ocasião e obter o êxito da iniciativa “Chamar a Europa”, Maastricht é palco dum intercâmbio político assente na reflexão sobre o estado da UE após os 25 anos do Tratado.
Segundo o Presidente Luís Gomes, também membro do Comité das Regiões da UE, “a iniciativa assinala a criação dum dos tratados mais importantes da UE que, além de ter possibilitado a representação das autoridades regionais e locais no Conselho, permitiu a criação do Comité das Regiões e introduziu a chamada cidadania Europeia”.
A data é uma oportunidade para balanço das ações e desafios para a Europa de hoje, procurando soluções para reconstruir a confiança na Europa para e com os cidadãos.
E, simultaneamente, coincide com o “YO! Fest 2017”, evento que reúne mais de 3.000 jovens que participam num debate com representantes do Comité Europeu das Regiões e jovens representantes políticos, tendo por base temas-chave para o futuro da Europa. Esta será ocasião única para ouvir as expectativas e necessidades das próximas gerações, onde os membros do Comité das Regiões serão os principais interlocutores.

2017.02.06 – Louro de Carvalho

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