No dia 13 de
fevereiro, no 12.º aniversário da sua morte, ocorreu, no Carmelo de Santa
Teresa de Coimbra, a sessão solene
de clausura da fase do Inquérito Diocesano do Processo de Beatificação e
Canonização da Serva de Deus Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado. Era uma etapa “ardentemente
desejada”, como reconhecem os responsáveis pelo processo.
A sessão teve
lugar, pelas 17 horas, no Carmelo e foi aberta à participação dos fiéis. Seguiu-se
a missa de ação de graças. E, à noite, pelas 21,30 horas, realizou-se, na Sé
Nova, o concerto “O meu caminho”, com
o Coro Sinfónico Lisboa Cantata, o Coro Infantil do Conservatório Regional de
Coimbra e a Orquestra Clássica do
Centro.
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Como
é natural e dado que a vidente viveu 57 anos em Coimbra, o processo diocesano
foi aberto e conduzido sob a égide do Bispo de Coimbra.
A parte inicial da causa de canonização iniciou-se, sob o patrocínio de
Dom Albino Mamede Cleto, em 2008, três anos após a morte da vidente, depois de
o Papa Bento XVI (é de
recordar que João Paulo II morreu a 2 de abril de 2005), a pedido do Carmelo de Santa
Teresa, ter concedido uma dispensa em relação ao período de espera estipulado
pelo Direito Canónico (5
anos).
Nesta fase
diocesana trabalharam a tempo inteiro cerca de três dezenas de pessoas, 18
delas teólogos e 8 elementos na Comissão histórica.
Um processo de canonização é composto pela fase diocesana e pela fase
romana. A que agora termina foi constituída pela recolha e estudo teológico dos
inúmeros documentos escritos pela Irmã Lúcia: os livros publicados, o seu
diário a que deu o título O meu Caminho,
a vasta documentação epistolar e outros documentos inéditos. Ao mesmo tempo,
foram ouvidas várias pessoas que com ela conviveram e cujo testemunho forneceu
dados fundamentais para traçar o perfil da vida e das virtudes da religiosa carmelita
que foi vidente de Fátima, Tui e Pontevedra.
Todo este material, juntamente com os documentos relativos à sua fama de
santidade, segue para a Congregação para as Causas dos Santos, no Vaticano,
onde se iniciará a fase romana do processo, em que se estudará a vida e as
virtudes de Lúcia. E, se, em conclusão deste estudo, se reconhecer inequivocamente
em Lúcia o perfil de quem viveu exemplarmente a configuração com Cristo, o
processo será apresentado ao Santo Padre que assinará o Decreto da Heroicidade das Virtudes, proclamando-a Venerável. Se assim
acontecer, faltará a aprovação de um milagre para a Beatificação e de outro para a Canonização,
terminando assim este processo.
Dom Virgílio Antunes do Nascimento, bispo da diocese de Coimbra, afirmou
que a predita sessão solene de clausura “era ardentemente desejada por muitas
pessoas do mundo católico”, porque a vidente, é “pessoa notória na história de
Fátima”.
O prelado enalteceu as virtudes heroicas da vidente de Fátima e
religiosa carmelita descalça. A este propósito, declarou que “Damos graças a Deus por toda a vida
da Irmã Lúcia e por fechar o processo”. Porém, esclareceu que o encerramento
deste processo de âmbito diocesano “não significa uma decisão, mas sim uma
recolha de provas, das atitudes praticadas em grau heroico”. Na verdade Lúcia
“gozou da fama de santidade” e a próxima fase processual decorrerá na
Congregação das Causa dos santos, onde se segue a fase romana do processo.
Entretanto, a diocese de Coimbra e todos aqueles que prestaram a sua
colaboração com a causa sentem a “alegria do dever cumprido”.
Dom Virgílio
afirmou que, para a diocese, “este é um momento verdadeiramente histórico”, até
porque “não há notícia recente” de uma canonização relacionada com Coimbra.
Agradecendo a
quantos se envolveram no processo desde o papa Bento XVI ao Santuário de Fátima
e ao Carmelo de Coimbra (onde
Lúcia viveu, em clausura, a maior parte da sua vida e onde morreu em 2005, aos quase
98 anos), o prelado
concluiu que “o inquérito que hoje se encerra é fruto de muito trabalho,
generosidade e muito amor à Igreja”. E explicitou que estiveram envolvidos,
entre outros, 2 bispos, 2 postuladores, 3 vice-postuladores, 8 pessoas que
integraram a comissão histórica e 61 testemunhas (todas,
menos duas, contactaram com Lúcia). Dessas testemunhas, salienta-se 1 cardeal, 4 bispos e 34
leigos, cujas declarações e trabalhos resultaram num processo de 15.483
páginas, acomodadas em 19 caixas.
Por seu turno, o postulador do processo de Beatificação e Canonização da
Serva de Deus Lúcia de Jesus, o Padre Carmelita Romano Gambalunga, exclamando “Bem-aventurados
os puros de coração”, porfiou que “Lúcia era mesmo isso, uma mulher de coração
puro, com uma missão grandiosa no século XX”. E disse que “a fé do povo não
engana” e que Bento XVI também encurtou o processo, pelo que a fama de
santidade de Lúcia se difundiu “por todo o mundo”.
O sacerdote, concluindo que aquele era “um dia memorável”, salientou em
Lúcia “a sua grandeza, humildade; a simplicidade de se deixar guiar; a
liberdade de espírito; a luz da oração; a alegria de se saber na graça de Deus”.
***
Paralelamente,
a Irmã Ângela Coelho vice-postuladora da causa de canonização disse à Sala de
Imprensa do Santuário de Fátima que o processo diocesano, agora concluído,
resultou num documento muito extenso que segue para Roma, em duplicado,
onde será submetido a rigoroso escrutínio formal, que decorre das exigências
definidas pela Igreja neste tipo de processos. O trabalho de compilação do
material está a envolver várias copistas e irmãs da Aliança de Santa Maria (congregação a que pertence Ângela Coelho) que se voluntariaram para esta
missão.
De acordo com
a religiosa, todos os elementos têm “trabalhado pela noite dentro para que tudo
se apresente de acordo com as indicações da Congregação das Causas dos Santos”,
da Santa Sé.
A burocracia
é substancial na elaboração dum processo desta natureza, mas este trabalho,
além de “necessário” era “uma questão de justiça para com a irmã Lúcia” e “para
com a verdade que a Igreja tem de defender”. Com efeito, está em causa a vida
de Lúcia, “batizada, cristã, consagrada” e “um pronunciamento da Igreja, com
certeza, acerca da santidade de um dos seus membros”, e “esta verdade tem que
ser investigada”. E frisa:
“Só depois é que vai ser construída a positio [um compêndio dos relatos e estudos realizados pela comissão jurídica],
haverá o decreto de validade, o decreto de heroicidade das virtudes e, só
depois do decreto de heroicidade das virtudes, é que pode entrar o milagre ou o
estudo de um presumível milagre. Estamos a falar de um tempo muito dilatado.”.
***
Lúcia Rosa dos Santos, filha de
António dos Santos e de sua mulher Maria
Rosa Ferreira nasceu em Aljustrel, paróquia de Fátima, no dia 28 de março de 1907.
Na companhia de seus primos, os Beatos Francisco Marto e
Jacinta Marto, recebeu por 3 vezes a visita de um Anjo (1916), de cariz trinitário e eucarístico, e por 6 vezes a
visita de Nossa Senhora (1917), que lhes disse que é a Senhora do
Rosário e pediu oração e penitência em reparação e pela conversão dos
pecadores. A especial missão de Lúcia consistiu em divulgar a devoção ao
Coração Imaculado de Maria como alma da mensagem de Fátima. Em prol desta
missão que lhe foi confiada, recebeu ainda outras visitas de Nossa Senhora,
assim como grandes graças místicas que a ajudaram a percorrer o seu caminho com
fidelidade.
Tinha 10 anos e era completamente analfabeta (a Senhora disse-lhe que tinha de ir à escola) quando viu, pela 1.ª vez, Nossa Senhora na Cova
da Iria, juntamente com os primos Jacinta e Francisco. Lúcia foi a única dos
três pastorinhos que falava com a Virgem Maria; Jacinta ouvia-a, mas não falava;
e Francisco nem sequer ouvia as palavras da Senhora. Assim, Lúcia foi a
portadora do Segredo de Fátima. Nos primeiros tempos, a hierarquia católica
revelou-se cética sobre as afirmações dos Três Pastorinhos e
foi só a 13 de outubro de 1930 que o Bispo de Leiria Dom José Alves Correia da
Silva tornou oficialmente público que as aparições eram dignas de crédito. A
partir daí, o Santuário de Fátima ganhou uma expressão internacional,
enquanto a Irmã Lúcia viveu cada vez mais isolada. Durante alguns anos ficou na
Quinta da Formigueira em Frossos, Braga, propriedade do bispo de Leiria.
Em 17 de
junho de 1921, o Bispo de Leiria proporcionou-lhe a entrada no colégio das doroteias
em Vilar, no Porto, alegadamente para a proteger dos peregrinos e curiosos que
acorriam cada vez mais à Cova da Iria e pretendiam falar com ela. Professou
como religiosa doroteia e sob o nome de Irmã Maria das Dores em 1928, em Tui (Galiza,
Espanha), onde viveu alguns anos, sendo que em 1935 vivia em
Pontevedra, casa da mesma congregação. Em Tui e Pontevedra, teve as aparições da Santíssima
Trindade, de Nossa Senhora e do Menino Jesus. Regressou a Portugal em 1946. Porém,
desejando vida de maior recolhimento para responder à mensagem que a Senhora
lhe confiou, entrou no Carmelo de Coimbra, em 1948, onde professou como carmelita descalça a 31
de janeiro de 1949 e se
entregou mais profundamente à oração e ao sacrifício. Aqui tomou o nome de Irmã
Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado.
Foi no convento de Coimbra que escreveu dois volumes com as suas Memórias e
os Apelos da Mensagem de Fátima. Em 1982, 1991 e 2000, anos em que
João Paulo II visitou Fátima, convidou Lúcia a deslocar-se ali e esteve
reunido com ela. Antes, já ela se tinha encontrado também em Fátima com o Papa
Paulo VI.
Faleceu a 13 de fevereiro de 2005 aos 97 anos (quase 98), no Convento Carmelita em Coimbra. O Papa São João Paulo II, nessa
ocasião, rezou pela Irmã Lúcia e enviou o Cardeal Secretário de Estado Tarcisio
Bertone para o representar no funeral. E, em 19 de fevereiro de 2006, os
restos mortais da vidente foram trasladados de Coimbra para o Santuário de
Fátima onde foi sepultada junto dos seus primos, os beatos Francisco Marto
e Jacinta Marto.
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Desde o
passado dia 12, a Irmã Lúcia de Jesus passa a constar da toponímia da freguesia
de Fátima, depois da junta de freguesia ter atribuído o seu nome à avenida
compreendida entre a rotunda dos Pastorinhos, na Cova da Iria, e a igreja
paroquial de Fátima.
Esta avenida,
segundo o presidente da Junta de Freguesia, junta-se às ruas Francisco Marto e
Jacinta Marto, cuja placa toponímica foi melhorada, formando “uma unidade” que
sublinha o “exemplo superior dos pastorinhos”, filhos da terra, e confere a
Fátima o epíteto de “cidade da paz”, tema bem presente na Mensagem que a
Senhora deixou na Cova da iria aos três videntes.
A inauguração
deste novo elemento toponímico, aprovado em assembleia municipal, ocorreu na
véspera do dia em que se assinala a passagem do 12.º aniversário da morte da
religiosa e contou com a presença, entre outros, do vice-reitor do Santuário de
Fátima, Padre Vítor Coutinho e do postulador e da vice-postuladora da Causa de
Beatificação da Irmã Lúcia, respetivamente, o Padre Carmelita Romano Gambalunga
e a Irmã Ângela Coelho, da Aliança de Santa Maria.
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Em 2005, um
bispo português, criticando o Governo pelo decreto de luto nacional por óbito
de Lúcia, dizia que ela não fazia parte da alma da Pátria. Se os factos não
desmentem o prelado em termos pátrios, talvez o esclareçam no atinente à alma
da Igreja, à alma lusa e à alma fatimita.
2017.02.14 – Louro de Carvalho
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