terça-feira, 11 de novembro de 2014

Afinal, a estupidez propaga-se

Afinal, segundo um estudo científico a que alude o Diário de Notícias de hoje, 11 de novembro, a estupidez é de origem virosal, pelo que se propaga. Não se sabe é como chega aos humanos.
A estupidez, insensatez ou nesciência são habitualmente consideradas marcas psicológicas e/ou morais.
O veterotestamentário livro dos Provérbios tem abundantes notas sobre o “insensato”, que se contrapõe ao sábio, em termos psicológicos morais e sociais. Assim, o insensato é caraterizado em termos como os seguintes: escarnece de quem o corrige (9,7); sofrerá sozinho as consequências da sua insensatez (9,12); é a tristeza da mãe (10,1); o insensato de língua cai em rutura (10,8); as costas do insensato sujeitam-se à vara (10,13); a boca do insensato é um perigo iminente (10,14); o insensato espalha a calúnia (10,18); os néscios perecem por falta de entendimento (10,21); quem despreza o próximo é insensato (11,12); anel de ouro em focinho de porco tal é a mulher formosa, mas insensata (11,22); o insensato será escravo do sábio (11,19); o que detesta a repreensão é um insensato (12,1); o que procura futilidades é um insensato (12,11); o coração dos insensatos procura a loucura (12,23); o insensato põe a descoberto a sua loucura (13,16); o que acompanha os insensatos torna-se mau como eles (13,20); a mulher insensata derruba a sua casa com as próprias mãos (14,1); da boca do insensato brota a soberba (14,3); nos lábios do insensato não encontrarás palavras sábias (14,7); a loucura do insensato é um engano (14,8); o insensato ri-se do pecado (14,9); o insensato será saciado com os próprios erros (14,14); o insensato avança com arrogância e julga-se seguro (14,16); a loucura dos insensatos é a sua imprudência (14,24).
E a litânia continuaria. Mas parece que a amostra é suficientemente abundante, clara e pertinente. Desde a insciência à loucura, passando pela arrogância e soberba – manifestadas em palavras e ações – o insensato é capaz de tudo o que sabe a mal.
Não sendo a Bíblia um livro de ciência no sentido que nos legou o positivismo, ela espelha a profunda sabedoria popular, feita sobretudo da experiência de vida com que a senioridade endita o património imaterial da humanidade. E, nalguns aspetos, os estudiosos dão razão ao hagiógrafo bíblico – é óbvio que não em algumas das questões cosmográficas e biológicas. No entanto, há que ter em conta que o saber não se compartimenta, a não ser por razões metodológicas.
Já em 1955, Werner Keller escreveu o seu livro A Bíblia tinha razão, que muitos dos céticos em relação à Escritura Sagrada fariam bem em ler, já que retém um acervo significativo de pesquisas arqueológicas que demonstram a verdade histórica dos Livros Sagrados. E tê-la-á em muitos outros aspetos.
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O estudo a que se reporta o DN não a contradiz, bem como à sabedoria popular vertida na Bíblia e na infinidade de rifões, provérbios, anexins, aforismos e adágios.
A estupidez humana tem, afinal, uma explicação científica. Um grupo de cientistas norte-americanos encontrou em humanos um vírus, o ATCV-1, que ataca o ADN através do cérebro e torna os infetados menos inteligentes, sobretudo ao nível da aprendizagem, com especial incidência na capacidade de memorização.
Os susoditos cientistas são investigadores da Escola de Medicina John Hopkins e da Universidade de Nebraska e encontraram “vestígios do vírus na garganta de 40 indivíduos que participaram no estudo, num total de 90”. É uma percentagem de 44,44% de infetados em relação à amostra.
Os infetados apresentavam resultados menos favoráveis que os outros em testes de inteligência, sobretudo revelando menor capacidade de concentração e de perceção espacial. Até este momento investigativo, o vírus ATCV-1 só tinha sido identificado em algas verdes de lagos e rios. E ainda hoje se desconhece como infeta o ser humano.
No quadro do mesmo estudo, inserem-se testes feitos a alguns ratos dando-lhes algas infetadas. Segundo o que reporta a revista norte-americana NewsWeek, os animaizinhos infetados depois de ingerirem as ditas algas, em comparação com os roedores seus semelhantes sãos, demoraram mais tempo a encontrar o caminho de saída de labirintos e utilizaram menos tempo a explorar novos objetos. Lá está a falta de perceção espacial e a não concentração e atenção sobre o novo objeto pelo qual passaram como gato por brasas!
A pesquisa leva a concluir que, nos ratos, o vírus prejudica a aprendizagem, a formação da memória e a resposta imunitária a exposição viral.
Citado pelo jornal The Independent, Robert Yolken, o virologista que coordenou a investigação, sublinhou que “este é um exemplo notável que mostra que os microrganismos inócuos que carregamos podem afetar o comportamento e a cognição”.
Apesar de os infetados apresentarem e manterem condições de saúde consideradas normais, sofrem um impacto negativo ao nível cognitivo e ao nível de alguns comportamentos. Demais, o aludido cientista sustenta que as diferenças fisiológicas advêm efetivamente dos genes, mas “algumas das diferenças são alimentadas por micro-organismos que abrigamos e pela forma como eles interagem com os genes”.
A equipa de investigadores não determinou o modo como o vírus se transmite aos seres humanos. Todavia, está levantada a hipótese de o vírus infetar outros organismos além das algas que têm sido estudadas. Por outro lado, a imprensa internacional dá-nos conta de que os cientistas entendem que que se deve olhar para os agentes infeciosos de outra forma, já que estes podem ter efeitos subtis, ao contrário de outros que provocam uma série de manifestos problemas de saúde pública, como o vírus do ébola ou o da gripe das aves.
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Se os dados constitutivos da hipótese científica vierem a ser confirmados, a sabedoria popular, bíblica ou extrabíblica, manterá o seu nível de profunda perceção que a experiência de vida permitiu cristalizar.
O estúpido é globalmente um indivíduo considerado saudável. No entanto, a dificuldade de incorporar conhecimentos por via do ensino ou do estudo, a dificuldade de construir a memória e a incapacidade de resistência às invasões de agentes exteriores, mesmo naturais, afetará alguns comportamentos de incidência social, como: preconceitos (medo de tudo e de todos); palavras inconvenientes; euforias e disforias; atitudes imprudentes; comportamentos agressivos; postura soberba e arrogante; e situação de agressividade, ira e pré-loucura.
Não é nada que a auto e heterovigilância não consigam resolver, acompanhadas das respetivas autocorreção e correção fraterna, neste mundo competitivo e cruel.
Porém, temos de deixar-nos de alguns eufemismos em voga, como hiperatividade, frontalidade, traumatização – que, em muitos casos, não passam de disfarce de estupidez, má educação, presunção de exercer em absoluto todos os direitos ou de usufruir de todas e quaisquer regalias, mas com o desprezo por obrigações e pelo respeito em relação a outrem.

Se o número dos insensatos é grande e nefasto, muito maior e benfazejo tem de ser os dos sensatos, embora com a conveniente dose de tolerância e aceitação dos outros, já que ninguém terá culpa das viroses que acabou por contrair, embora a tenha se não as tentar conter.

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