segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Mais uma oportunidade para travar as alterações climáticas

 

Está a decorrer, em Sharm el-Sheik, no Egito, desde o dia 6 de novembro, prolongando-se até ao dia 18, a COP27 (27.ª Cimeira das Nações Unidas) pelo clima e pela transparência, com uma participação recorde (quase 200 países), pois as alterações climáticas afetam cada vez mais países. Esperam-se mais de 35 mil participantes e 2.000 intervenções sobre mais de 300 tópicos.

A COP27 foi formalmente inaugurada com a eleição do novo presidente, o ministro egípcio dos Negócios Estrangeiros, Sameh Shukri, que prometeu que o encontro será “um ponto de viragem na concretização da ação multilateral coletiva”.

Perante os delegados das entidades participantes deste encontro, que visa enfrentar a crise provocada pelas alterações climáticas, Sameh Shukri afirmou, como avançou a agência noticiosa EFE, que o encontro não cessará os esforços para obter resultados tangíveis, pois “é tempo de passar da fase de negociação para a de implementação dos compromissos”.

O diplomata egípcio insistiu nas mesmas questões que a organização vem reivindicando: que a situação climática global requer “ação internacional urgente” e que a atual crise política e económica não deve “desviar os esforços globais para enfrentar as alterações climáticas”.

O ministro egípcio salientou que esta reunião vai procurar arduamente “fornecer o financiamento necessário aos países em desenvolvimento”, para que possam enfrentar a sua transição energética e atenuar os danos causados pela situação ambiental.

Por sua vez, num breve discurso, o presidente cessante da COP26, o britânico Alok Sharma, salientou que, no ano decorrido desde o encerramento da reunião de Glasgow, na Escócia, houve muitos “avanços” na gestão global das mudanças climáticas, tendo sido dados passos “históricos e esperançosos”. Para todos os céticos do clima, a minha mensagem é clara: por mais frustrante que seja, o sistema de ação [estabelecido pela COP] está a funcionar” – disse. No entanto, acrescentou que, “apesar do progresso, a escala do desafio é crítica”: “Há muito a ser feito nesta década. Estamos no caminho certo para manter o limite de 1,5 graus celsius de aquecimento, mas devemos ser claros. Por mais desafiador que seja, a inação só pode levar à catástrofe climática.”

Simon Stiell, secretário executivo da Organização das Nações Unidas (ONU) para a convenção sobre as Alterações Climáticas, sublinhou que as alterações climáticas afetam mais do que os chamados países vulneráveis e apontou “o calor extremo, os incêndios, as cheias, as secas”, que assolam a Europa, a América do Norte e a China, por efeito das alterações climáticas.

A COP27 mantém os objetivos das cimeiras dos últimos sete anos, quando foi assinado o Acordo de Paris: limitar o aquecimento global a 2ºC (graus celsius) e, se possível, a 1,5ºC. No entanto, decorre em plena crise política, energética, alimentar e económica desencadeada pela pandemia de covid-19 e agravada pela invasão da Ucrânia pela Rússia, que é o quarto país mais poluente.

O presidente russo Vladimir Putin não estará presente, mas antecipou a posição russa, ao dizer que “os acontecimentos atuais empurraram os problemas ecológicos para segundo plano” e ao assegurar que a transição para a neutralidade de carbono, que a Rússia planeia conseguir até 2060, dez anos depois da União Europeia (UE), não contradiz os interesses nacionais do país, que possui vastos recursos de hidrocarbonetos. E, segundo o vice-ministro russo da Economia, a Rússia “insistirá no princípio da neutralidade tecnológica”.

governo português, por seu turno, reconhece as dificuldades colocadas ao abastecimento energético em consequência da intervenção militar russa na Ucrânia, mas manifesta-se contra recuos no cumprimento das principais metas acordadas para o combate às alterações climáticas.

Esta será uma das principais posições que o líder do executivo português, António Costa, vai defender na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27). Com efeito, na COP25, realizada em Madrid, em 2019, declarara: “Temos dois deveres: ouvir os cientistas e agir para salvar o planeta das consequências das alterações climáticas. O maior esforço tem de ser feito já, de forma a podermos evitar atingir o ponto de não retorno.”

Três anos depois, o Governo português chega à COP27 sem mudanças na política ambiental e alinhado com as exigências da UE no cumprimento das metas constantes no Acordo de Paris.

Em setembro, em Nova Iorque, na Assembleia Geral da ONU, António Costa disse esperar que daqui saia um compromisso que permita uma transição ambiental inclusiva, assegurando uma repartição mais equilibrada do financiamento climático entre a mitigação e a adaptação.

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O secretário-geral da ONU, António Guterres, em videomensagem aos participantes, avisou que o “planeta está a enviar um sinal de sofrimento”, referindo-se ao “caos climático” crónico.

Segundo dados divulgados pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), os oito anos entre 2015 e 2022 terão sido os mais quentes já registados. Por isso, a conferência climática da ONU arrancou com novo alerta sobre a aceleração do aquecimento global, cujo financiamento dos danos a países pobres está pela primeira vez, oficialmente, na lista dos debates. E, até 18 de novembro, os participantes tentarão dar novo fôlego à luta contra o aquecimento global, enquanto as múltiplas e inter-relacionadas crises que abalam o mundo – guerra na Ucrânia, inflação, ameaça de recessão e crise alimentar – levantam receios de que o tema fique em segundo plano.

Assim, o ministro egípcio Sameh Choukri, que preside à cimeira, apontou: “Vamos implementar juntos [os nossos compromissos] para a humanidade e para o nosso planeta.”.

Os impactos das alterações climáticas têm-se multiplicado, como mostram os diversos desastres que atingiram o planeta em 2022, desde as inundações históricas no Paquistão, às repetidas ondas de calor na Europa, além de furacões, incêndios, ou secas. São desastres cujos custos já rondam as dezenas de milhares de milhões de euros, pelos quais os países do sul do globo, mais afetados, reivindicam uma compensação financeira.

O delicado tema das “perdas e danos” foi oficialmente adicionado à agenda das discussões, na cerimónia de abertura, enquanto até então era apenas objeto de diálogo previsto até 2024: “É preciso um acordo o “mecanismo de financiamento de perdas e danos”, alertou Munir Akram, embaixador do Paquistão na ONU e presidente do G77 + China, que representa mais de 130 países emergentes e pobres. A desconfiança dos países em desenvolvimento é forte, enquanto não se cumpre a promessa dos países do norte de aumentarem para 100.000 milhões de dólares por ano, a partir de 2020, a ajuda aos do sul, para reduzirem as emissões e se prepararem para os impactos.

Outra questão premente prende-se com evitar o recuo nos compromissos de redução de emissões, que ainda são insuficientes. Apenas 29 países apresentaram planos de redução aprimorados desde a COP de 2021, em Glasgow, na Escócia, embora tenham assumido o compromisso de o fazer. Agora, os decisores políticos, os académicos e as organizações não-governamentais presentes estudam as formas de travar o aquecimento do planeta, limitando o aquecimento global a 2ºC e, se possível a 1,5ºC, acima dos valores médios da época pré-industrial.

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A ajuda aos países mais pobres, para se adaptarem a um novo clima, mas também pelas perdas e danos que sofreram, deve ser tema central da COP27. Porém, outras temáticas estarão no debate:

O Acordo de Paris, tratado internacional adotado em 2015 na COP21 pela quase totalidade dos países para reduzir emissões de gases com efeito de estufa;

As alterações climáticas, mudanças nos ciclos climáticos naturais da Terra atribuídas aos efeitos da atividade humana, especialmente às grandes quantidades de dióxido de carbono lançadas para a atmosfera pelo uso intensivo de combustíveis fósseis;

O Antropoceno, nova época geológica proposta pelos cientistas para definirem a era atual, marcada pela ação da humanidade na generalidade do planeta;

O aquecimento global, aumento da temperatura da superfície do planeta devido à atividade humana nos últimos cerca de 100 anos;

A biodiversidade ou diversidade biológica, variedade de seres vivos que existem no planeta;

Os combustíveis fósseis, com grande quantidade de carbono (petróleo, gás natural e carvão);

A Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, plasmada em conferências de alto nível sobre a proteção do ambiente;

As contribuições nacionalmente determinadas (NDC), que definem a contribuição a que cada país se propõe para baixar as emissões de gases com efeito de estufa;

O desenvolvimento sustentável, que satisfaz as necessidades atuais sem comprometer a possibilidade de futuras gerações também o fazerem;

A economia circular, modelo económico amigo do ambiente, prolongando a vida dos produtos e envolvendo a partilha, reutilização, reparação e reciclagem;

As emissões zero ou neutralidade carbónica, que levam à remoção da atmosfera da mesma quantidade de gases com efeito de estufa que são emitidos pelas atividades humanas;

As energias alternativas ou renováveis, provenientes de recursos naturais (sol, vento, marés…);

A época pré-industrial, antes do crescimento das cidades e do aumento de bens de consumo;

A extinção, que afeta espécies de animais e plantas e que põe em causa a sua sobrevivência;

Os fenómenos climáticos extremos, situações anormais devido à influência humana no clima;

Os gases com efeito de estufa, que absorvem as radiações infravermelhas emitidas pelo planeta e impedem que elas se dissipem para o espaço, aquecendo a Terra ao provocar um efeito de estufa; A Lei Europeia do Clima, aprovada pela UE em maio de 2021, que propõe que até 2030 haja uma redução de pelo menos 55% da emissão de gases com efeito de estufa;

O mercado de carbono ou comércio internacional de emissões, que estabelece as metas para cada país de redução de emissão de gases com efeito de estufa;

A mitigação e a adaptação às alterações climáticas, ações da população mundial para diminuir as emissões de gases com efeito de estufa, que limitam as alterações climáticas;

O Painel Intergovernamental Sobre Alterações Climáticas (IPCC), que produz informação científica sobre as alterações climáticas, para que os países possam tomar decisões políticas;

A pegada de carbono, que indica a emissão de dióxido de carbono causada por ações de pessoas, empresas, organizações ou Estados;

O Protocolo de Quioto (1997), o primeiro tratado jurídico internacional para limitar as emissões de gases com efeito de estufa, que preconiza diferentes metas de redução de gases com efeito de estufa para os países, que resulta numa redução estimada média de 5% em relação a 1990;

E os sumidouros de carbono, que fazem a absorção natural do carbono da atmosfera (árvores, plantas, algas, sobretudo em oceanos e florestas, e sumidouros artificiais) pela fotossíntese.

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De tudo isto, impõe-se uma conclusão: urge cuidar do planeta a sério e ajudar os países pobres a cooperar neste cuidado. Há muito por fazer da parte dos cidadãos e dos decisores políticos.

2022.11.07 – Louro de Carvalho

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