sábado, 19 de novembro de 2022

Erros, equívocos e defeitos que marcaram o curso da História

 

Erros e equívocos, defeitos e acasos ocorrem de inúmeros modos e muitos trazem consequências inesperadas – boas ou más. Alguns foram tão colossais que acabaram por mudar o mundo.

Atribui-se a Winston Churchill a asserção de que a história é escrita pelos vencedores, o que, regra geral, é verdadeiro, mas há exceções, sendo bem perniciosos alguns erros. Nem sempre a História, que não é linear, avança pelas melhores vias, com os melhores motivos ou com mérito.

Segue, por curiosidade e pelo interesse que possam ter a discriminação de algumas situações.

Nos idos (dia 15) de março de 44 a.C., Júlio César, grande político romano e famoso pela sua arrogância, apesar de advertido pela esposa de que não fosse ao Senado, foi. E acabou esfaqueado até à morte por cerca de 60 membros do Senado, incluindo o melhor amigo Brutus. Temeridade!

A Torre de Pisa demorou 177 anos a construir, mas apenas 10 anos após a sua conclusão em 1372, começou a inclinar-se devido ao afundamento do solo. O grau foi de 5,5. Porém, após a restauração de 2010, é de 3,99. Os restauradores confiam que não será preciso mais trabalho na torre nos próximos dois séculos. Enquanto o eixo vertical cair sobre a base de sustentação…

De meados do século V ao início do século XIII, Constantinopla era a maior e mais rica cidade da Europa. E sobreviveu a muitos ataques de Bárbaros, Árabes, Búlgaros e Russos. Em 1453, foi cercada pelos turcos e alguém acidentalmente deixou um dos portões abertos, permitindo que eles entrassem. Os habitantes foram massacrados ou escravizados e o imperador Constantino XI foi morto. Descuido, negligência, falta de precaução?

Em 1492, Cristóvão Colombo navegou o Oceano Atlântico e desembarcou na América Latina. Pensou que acabara de descobrir outra rota comercial para a Índia. Porém, ele e os seus homens transmitiram doenças (como a varíola) aos nativos cujo sistema imunológico não estava apto para lidar com elas. Foram exterminadas populações inteiras dos indígenas. Nefasto contacto!

Na Grande Peste de Londres, em 1665, as pessoas, suspeitando que os gatos espalhavam a doença, começaram a matá-los. No entanto, como a população de gatos começou a cair, a praga ficou pior, por não haver gatos para matar os portadores reais da peste, os ratos. E, assim, a grande praga, em apenas 18 meses, matou cerca de 100.000 pessoas, quase um quarto da população de Londres.

Pior a emenda que o soneto.

Em 1666, apenas um ano após a Grande Peste de Londres que devastou a cidade em 1665, a metrópole britânica foi atingida por outro desastre enquanto um padeiro, Thomas Farriner, se distraiu e sua padaria em Pudding Lane pegou fogo. O fogo logo se espalhou para outras partes da cidade, causando a destruição de mais de 13.200 casas e 87 igrejas. Efeitos do descuido!

Na Batalha de Karansebes de 1788 (Roménia moderna), o exército austríaco quebrou-se em dois e acabou, por engano, a lutar contra si mesmo. Os turcos, que deveriam ser o inimigo, chegaram ao local dois dias depois e encontraram 10.000 soldados austríacos mortos ou feridos. Erro, equívoco ou desacerto militar?

Napoleão Bonaparte, no verão de 1812, invadiu a Rússia. Os Russos aguentaram mais tempo do que o esperado e derrotaram os invasores no inverso. Por isso, o inverno russo foi tido como o “General Inverno”, mascarando a falta de capacidade de enfrentar a coragem e o denodo do exército russo naquelas condições climáticas de extremo rigor. A estratégia de Napoleão falhou.

Em 18 de outubro de 1867, os Estados Unidos da América (EUA) compraram o Alasca à Rússia por dois centavos de dólar por acre (US$ 7,2 milhões em ouro), já que os russos pensaram que aquilo não passava de uma região inútil. Logo depois disso, nos anos 1880 e 1890, a mineração maciça de ouro começou por lá, continuando até hoje. O Alasca ainda produz mais ouro do que qualquer outro estado dos EUA, exceto o Nevada.

O maior navio de passageiros em serviço na época, o RMS Titanic, era tido como “insubmergível” antes da sua viagem inaugural de Southampton para Nova Iorque em abril de 1912. Infelizmente, o Titanic afundou-se depois de embater num iceberg, causando a morte de mais de 1.500 de um total de 2.224 pessoas a bordo. Muitas morreram porque não havia barcos salva-vidas em número suficiente. Há quem aponte falhas estruturais na construção do navio notável pelo conforto.

O assassinato do arquiduque Franz Ferdinand da Áustria e da sua esposa Sophie, em Sarajevo, em 28 de junho de 1914, é considerado o evento que causou a Primeira Guerra Mundial. Essa tragédia poderia ter sido evitada, se o motorista do arquiduque não tivesse feito uma curva errada a caminho do assassino Gavrilo Princip. Espantado com a inesperada oportunidade, Princip matou o arquiduque e a sua esposa. Aproveitamento da oportunidade criada pelo acaso!

Alexander Fleming, biólogo escocês, médico, farmacologista microbiólogo e botânico, não se importava muito com a higiene enquanto trabalhava. Curiosamente, foi por causa da sua atitude relaxada em relação a um ambiente de trabalho limpo que, em 1918, descobriu a penicilina, o primeiro antibiótico do mundo, depois que um fungo matador de bactérias apareceu em seu prato. Quem havia de dizer que uma falha de higiene daria um invento tão útil à vida humana!

Os exércitos de Adolf Hitler, no verão de 1941, invadiram a União Soviética, mas os exércitos desta forte potência militar resistiram até ao inverno e correram com o inimigo impreparado para a luta invernal. O mesmo tinha acontecido com Napoleão. Os grandes estrategas falham.

Em 1958, na China, Mao Zedong, o pai fundador da República Popular da China, decidiu libertar o país de pragas como as de pardais e mandou matar todas essas aves. Três anos depois, cerca de 45 milhões de pessoas morreram de fome, pois a eliminação de pardais levou à superpopulação de insetos (sobretudo gafanhotos) que consumiam todas as colheitas. Enfim, uma política letal.

Em fevereiro de 1962, “The Beatles”, banda de música relativamente desconhecida, fez um teste para a Decca Records Company, em Londres. Tocaram 15 canções, mas, não convencendo a companhia, foram rejeitados. Porém, mais tarde, tornaram-se uma das bandas mais populares e bem-sucedidas de todos os tempos. Um palmar erro de avaliação diagnóstica!

Em 1964, Donal Rusk Currey, um estudante, deixou a sua ferramenta para cortar árvores presa num pinheiro Bristlecone. Para a remover, contou com a ajuda de um guarda-florestal no corte da árvore. Mais tarde, Currey, contando os anéis, descobriu que a árvore tinha quase cinco mil anos de idade. Era a árvore mais antiga já registada. O fim não justifica todos os meios!

Falando da NASA, há uma coisa de que os seus agentes não se orgulham. Quando procuraram as suas fitas da icónica aterragem lunar de 1969, descobriram que as fitas tinham sido acidentalmente apagadas e reutilizadas para economizar dinheiro. Para criar a versão oficial do vídeo, a NASA rastreou as filmagens de emissoras de TV ao redor do mundo e restaurou-as digitalmente. Tudo tem remédio, quando há suporte, vontade e dinheiro.

Depois de uma perfuração de uma cratera em Darvaza, onde descobriram uma caverna repleta de gás natural, no centro do Turquemenistão em 1971, os engenheiros soviéticos decidiram queimá-la, pensando que acabaria em semanas. Agora, 51 anos depois, a cratera ainda está a queimar. Por isso, tornou-se uma das grandes atrações turísticas do país. E combatemos as emissões de CO2!

Ronald Wayne foi o terceiro cofundador e dono de 10% das ações da Apple Computer. Em abril de 1976, decidiu vender a sua participação por apenas US$ 800. Se tivesse continuado acionista, essa participação de 10% valeria hoje uma fortuna de US$ 35 biliões.

Em 1983, o primeiro Boeing 767 da Air Canada teve de realizar uma aterragem de emergência por ficar sem combustível. Alguém não converteu corretamente o número de litros do combustível de que precisava. Depois de ambos os motores perderem o seu poder, os pilotos fizeram o que se pensa ser a primeira aterragem bem-sucedida de emergência de um jato comercial. Erro de cálculo de alguém ultrapassado pela perícia de outrem!

Em 26 de abril de 1986, em Chernobil (Ucrânia), numa experiência sobre os baixos níveis de energia em que os sistemas de segurança foram deliberadamente desligados, uma combinação de falhas inerentes ao projeto, juntamente com os operadores do reator a organizar o núcleo contra uma série de regras, resultou no pior desastre nuclear da história. As regras são para cumprir.

Em 1999, a NASA perdeu um satélite em Marte de US$ 125 milhões, pois a equipa de engenharia da Lockheed Martin usou unidades inglesas enquanto a da agência usava o sistema métrico convencional para uma operação chave da nave espacial. A comunicação exige o mesmo código.

Em 2000, Reed Hastings aproximou-se do CEO da Blockbuster, John Antioco, e pediu US$ 50 milhões para a companhia que fundou, a Netflix. Antioco, pensando que era um “negócio muito pequeno de nicho”, terminou as negociações e não comprou a empresa que era, então, apenas um serviço de DVD. Agora, a Netflix – com valor próximo do da CBS – vale mais que o canal que monopoliza a rede de televisão com uma valorização de mercado de US$ 32,9 biliões. Nem sempre se faz a correta avaliação de uma empresa. Ora se subestima, ora se sobrestima.

O incêndio devastador de Cerro Grande em 2000 começou como uma queimada controlada. No entanto, rapidamente cresceu e ficou fora de controlo devido ao tempo seco e ventos fortes. Mais de 400 famílias na cidade de Los Alamos, Novo México, perderam suas casas devido ao incêndio que eventualmente queimou por três meses. La diz o provérbio: “Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém!”

O caçador novato Sergio Martinez de West Covina (Califórnia – EUA), em outubro de 2033, perdeu-se em bosques perto de San Diego e decidiu disparar um flare. O flare desencadeou o que é referido como o maior incêndio na história californiana. Conhecido como o fogo de cedro, queimou mais de 280.000 hectares (1.133 km²) de terra em San Diego. Desespero de causa!

A 20 de abril de 2010, uma plataforma de petróleo britânica (BP) no Golfo do México explodiu e derramou quase cinco milhões de barris de petróleo. Foi o maior derramamento de petróleo da história, ultrapassando os 3,3 milhões de barris que derramaram na Baía de Campeche no México em 1979. Afetando uma área total de até 176,100 km², os efeitos foram devastadores na vida marinha matando milhões de peixes, tartarugas, mamíferos marinhos, pássaros e outros animais. Nem sempre são respeitadas as normas de segurança e os desastres acontecem. Quem não se lembra, por exemplo, do derrame de grude no mar da Galiza, em tempos que já lá vão?

***

Obviamente, a História regista muito mais situações destas – e até de ingenuidade, de intriga, de traição, de malvadez – em todo o tempo e por todo o mundo. Mas estas, pela diversidade, não deixam de valer como exemplo do que não se deve fazer e do que, em contraste, se deve fazer.

2022.11.19 – Louro de Carvalho

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