terça-feira, 8 de novembro de 2022

Bispos Auxiliares que morrem nessa condição episcopal

 
A nomeação de um bispo auxiliar tem em vista, habitualmente, a ajuda a um bispo diocesano, mercê da complexidade da sua diocese em termos de extensão territorial e volume de população residente e, simultaneamente ou em alternativa, iniciar o novo bispo no exercício das funções episcopais, o que não impede que um sacerdote seja nomeado bispo de uma diocese sem passar pelo estatuto de bispo auxiliar de outra.
É certo que Deus, parafraseando o que o Papa Francisco terá dito ao padre Sérgio Filipe Pinho Leal, “sabe melhor o que faz do que tu o que dizes”, mas a morte de um bispo auxiliar no seu posto é sempre estranha e sabe a pouco de exercício episcopal.
Vem esta reflexão a propósito do falecimento, no passado dia 4 de novembro, de D. Daniel Batalha Henriques, um dos bispos auxiliares do Patriarcado de Lisboa, apenas entre o dia 25 de novembro de 2018 até este ano de 2022 (apenas durante quase quatro anos).
É certo que a sua folha de serviço episcopal no tempo é breve em termos objetivos, embora provavelmente seja rica espiritualmente.  
Não obstante, o crente que faleceu com 52 anos de idade, nascido em Ribamar (Mafra), a 30 de março de 1966, tem uma folha de serviço sacerdotal bem recheada. Licenciado em Teologia pela Universidade Católica Portuguesa (UCP) e ordenado sacerdote, pelo Cardeal D. António Ribeiro, em 1990, no Mosteiro dos Jerónimos, a sua primeira nomeação foi, em 1990, para membro da equipa formadora do Seminário de São Paulo, em Almada, tendo sido nomeado, depois, pároco da paróquia de Nossa Senhora Rainha dos Apóstolos da Ramada, da paróquia de Nossa Senhora do Rosário de Famões, da paróquia de Cristo Rei de Algés, da paróquia de Senhor dos Aflitos da Cruz Quebrada – Dafundo, e diretor do Serviço de Animação Missionária do Patriarcado.
Foi, ainda, membro do Conselho Presbiteral, membro da Comissão Diocesana do Diaconado Permanente, vigário da Vigararia de Loures, vigário da Vigararia V (Região Pastoral do Termo Ocidental), vigário da Vigararia de Torres Vedras, membro do Cabido da Sé Metropolitana Patriarcal de Lisboa e diretor espiritual do Seminário de Cristo Rei dos Olivais. E, além das paróquias referidas, foi sucessivamente pároco das paróquias de São Pedro e São Tiago, Santa Maria e São Miguel, Torres Vedras, e da paróquia de Nossa Senhora da Oliveira de Matacães.
A 13 de outubro de 2018, foi nomeado bispo auxiliar do Patriarcado de Lisboa e bispo titular de Aquae Thibilitanae, vindo a ser ordenado bispo, a 25 de novembro do mesmo ano, pelo Cardeal Dom Manuel Clemente, Patriarca de Lisboa.
Enfim, uma vida dedicada à Igreja. Como dizia o Cardeal Dom Manuel Clemente, aquando da sua nomeação episcopal, “Desempenhou o seu ministério na formação de seminaristas e em diversas paróquias, além do mais, com grande dedicação e intensidade espiritual. É especialmente esta junção de dedicação e espiritualidade, bem como de sensibilidade missionária, que mais lhe granjeia a consideração e a estima do presbitério diocesano, assim como dos muitos fiéis que sucessivamente tem servido. Da sua clarividência pastoral dão boa conta os artigos que publica semanalmente no jornal Badaladas (da paróquia de Torres Vedras), sempre bons de reler.”
Entretanto, um cancro veio colhê-lo prematuramente, na insondabilidade do desígnio de Deus.
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Porém, não é inédita, nos nossos tempos, em Portugal, a morte de bispo auxiliar nessa condição. E os casos de que me lembro são mais dois, também no Patriarcado de Lisboa.
O primeiro que me vem à memória é o de D. Horácio Coelho Cristino, que nasceu em 1941, no lugar de Maceirinha, freguesia e concelho de Leiria e, após o ensino primário, ingressou no Seminário de Leiria, tal como os tios Agostinho da Silva e António Bonifácio.
Após a ordenação sacerdotal em 1965, exerceu atividades pastorais na freguesia de Porto de Mós.
Licenciou-se em Teologia Dogmática, na Universidade Gregoriana de Roma, e em Teologia Pastoral, na Universidade de Lovaina. Terminados os estudos, foi nomeado vigário episcopal para a coordenação da Pastoral Diocesana de Leiria, a 23 de outubro de 1978, pelo então bispo de Leiria, D. Alberto Cosme do Amaral.
A 20 de agosto de 1987, foi nomeado pelo Papa João Paulo II bispo titular de Drusiliana e bispo auxiliar do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. António Ribeiro. 
Foi ordenado bispo a 15 de novembro do mesmo ano, na Capelinha das Aparições de Fátima, pelo Cardeal Patriarca, sendo bispos co-ordinantes D. Alberto Cosme do Amaral, bispo de Leiria, e D. Américo Henriques, bispo emérito de Nova Lisboa e natural da freguesia de Alburitel, concelho de Ourém da Diocese de Leiria.
Ficou a seu cargo a zona pastoral do Oeste do Patriarcado de Lisboa, a que se dedicou com toda a generosidade, durante os seus anos de episcopado. 
Após cateterismo coronário, faleceu inesperadamente e em circunstâncias estranhas, no Hospital de S. Francisco Xavier em Lisboa a 8 de Maio de 1995, com 53 anos de idade.
E, já neste século XXI, temos o caso de D. Tomás Pedro Barbosa da Silva Nunes, que nasceu, em Lisboa, a 3 de dezembro de 1942, e faleceu aos 57 anos de idade. 
Recebeu a ordenação presbiteral a 4 de novembro de 1973 e, posteriormente, foi nomeado bispo auxiliar do Patriarcado de Lisboa e bispo titular de Elvas, a 7 de março de 1998. Foi ordenado bispo a 17 de março de 1998, na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa, por D. José da Cruz Policarpo, na altura bispo auxiliar de Lisboa, sendo co-ordinantes D. Albino Mamede Cleto, bispo coadjutor de Coimbra e D. António dos Reis Rodrigues, bispo auxiliar de Lisboa.
Licenciou-se em Ciências Geofísicas, pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e em Teologia, pela Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa (UCP), concluiu o Mestrado em Ciências da Educação nesta Universidade, especializando-se em Administração e Gestão Escolar. Foi assistente adjunto, em Lisboa, da Liga Operária Católica (LOC), em 1977, passando, a partir de janeiro de 1981, a assistente diocesano, cargo que exerceu até 1998. Durante nove anos foi também assistente da Juventude Operária Católica (JOC). Desde 1989, era diretor do Secretariado Diocesano do Ensino Religioso. Foi assistente da Faculdade de Teologia da UCP, lecionando no Curso de Licenciatura em Ciências Religiosas.
Durante seis anos foi Secretário da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), eleito em 13 de abril de 1999 e reconduzido a 11 de abril de 2002. Desde 2005 era Vigário-Geral e Moderador da Cúria do Patriarcado de Lisboa. Durante os últimos anos foi o intermediário com o Governo para a Educação Cristã nas Escolas, no âmbito da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica. Foi presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã e vogal da Comissão Episcopal da Pastoral Social.
Faleceu inesperadamente na madrugada de 1 de setembro de 2010, enquanto descansava no seu quarto na casa patriarcal em Lisboa.
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Antes de se generalizar a resignação dos bispos aos 75 anos de idade, a morte do bispo diocesano ocorria quase sempre quando o prelado se mantinha no exercício das suas funções – umas vezes, de súbito, e outras, por doença mais ou menos prolongada. Após o Concílio Vaticano II, os bispos diocesanos e os bispos auxiliares devem, aos 75 anos de idade (o mesmo pode suceder antes por motivo de doença ou de outra circunstância ponderosa) devem manifestar-se disponíveis, perante o Sumo Pontífice, para deixar a cura pastoral, sendo que tal dispensa carece de aceitação papal, que normalmente é adiada por um ano, para os bispos diocesanos, e por dois, para os metropolitas.
Também os cardeais deixam o estatuto de eleitores do Papa ao perfazerem 80 anos de idade. Além disso, os dignitários e funcionários da Cúria Romana devem, aos 75 anos de idade, disponibilizar-se para deixarem o cargo respetivo ou para nele continuarem, a critério do Papa.   
Sendo assim, é raro um bispo diocesano falecer em atividade de liderança pastoral.
Não obstante, em Portugal, que me recorde, faleceram durante o exercício da cura pastoral diocesana ativa: D. Francisco Rendeiro, Bispo de Coimbra e Conde Arganil, que faleceu 19 de maio de 1971; D. João António da Silva Saraiva, Bispo de Coimbra e Conde Arganil, que morreu durante uma Visita Pastoral na Figueira da Foz, a 3 de abril de 1976; D. Francisco Maria da Silva, Arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas, que faleceu a 14 de outubro de 1977; D. António Ribeiro, Cardeal Patriarca de Lisboa, que faleceu, de cancro, a 24 de março de 1998; D. Américo do Couto Oliveira, Bispo de Lamego, que faleceu, por doença, a 2 de dezembro de 1998; D. António Francisco dos Santos, Bispo do Porto, que faleceu subitamente a 11 de setembro de 2017; e D. Anacleto Cordeiro Gonçalves de Oliveira, Bispo de Viana do Castelo, que faleceu, em acidente de viação, a 18 de setembro de 2020.  
Os demais foram dando glória a Deus a seu tempo e outros estão na lista de espera. Deus queira que a deixem bem tarde para edificação espiritual de todos nós.
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Também os bispos morrem. Ninguém se livra da lei da morte corporal, a não ser associado à vitória de Cristo sobre os três inimigos: pecado, demónio e morte.     

2022.11.08 – Louro de Carvalho

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