quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Brasil no 18.º Congresso Eucarístico Nacional: Pão em todas as mesas

 

Decorreu, de 11 a 15 de novembro, em Recife (PE), o 18.º Congresso Eucarístico Nacional do Brasil, com o tema “Pão em todas as mesas” e sob o lema “Repartiam o pão com alegria e não havia necessitados entre eles”, visando fazer convergir todos os católicos em torno da Santíssima Eucaristia, de forma a partilharem testemunhos públicos de fé em Jesus Eucarístico.

Esta iniciativa da Conferência Nacional dos Bispo do Brasil (CNBB) mobilizou, a partir de uma grande Arquidiocese nordestina a Igreja que vive e age no Brasil, com um tema tão necessário e atual que se articula diretamente com a realidade enfrentada pela população brasileira, a qual a Igreja tem dado grande atenção, como o fez no Dia Mundial dos Pobres e o fará´ na Campanha da Fraternidade 2023.

Foi a oportunidade de toda a Igreja se reunir em torno da mesa da Eucaristia para agradecer a Deus por tão grande dom e reforçar o compromisso apostólico por um mundo segundo o coração de Deus. Assim, o Congresso quis lançar a reflexão sobre a importância do Pão Espiritual, que é o próprio Cristo, e, por consequência, também sobre o pão material de que todos precisamos para sobreviver. Na verdade, através da partilha da Eucaristia que fazemos em Igreja, esta reflexão deve levar-nos a partilhar, de igual modo, o pão material, sobretudo com os que mais sofrem. Jesus ensinou-nos a partilhar e, se estamos unidos a Cristo, devemos estar unidos entre os irmãos, olhando às necessidades do próximo, não só de forma pontual e assistencialista, mas sobretudo de forma orgânica, sistémica  e persistente.

Os congressos eucarísticos são realizados em todo o mundo, não sendo particularidade do Brasil. E constituem uma oportunidade que os fiéis têm para testemunharem a fé e a Igreja para mostrar o que é a sua essência: a Eucaristia – tal como quando celebramos a solenidade do Corpus Christi, saímos às ruas com o Corpo de Cristo no ostensório, adorando, com alegria e felizes na nossa fé.

A primeira edição do Congresso Eucarístico foi realizada em 1881, em Lille, na França, por iniciativa de um grupo de leigos, com o apoio de São Pedro Julião Eymard, com a participação de fiéis e bispos de vários países europeus. No Brasil, o primeiro Congresso Eucarístico Nacional celebrou-se na Arquidiocese de São Salvador, na Bahia, em 1933, embora já em 1922 se tenha celebrado, no Rio de Janeiro, o Congresso Eucarístico do Centenário da Independência com uma grande participação de bispos, padres e fiéis. O III Congresso Eucarístico Nacional, realizado no parque Treze de Maio, localizado no bairro da Boa Vista, área central do Recife, deixou como marco a Igreja Santíssimo Coração Eucarístico de Jesus, conhecida como matriz do Espinheiro, zona norte de Recife. Neste ano de 2022, o Recife sediou, pela segunda vez, o Congresso Eucarístico Nacional. A primeira vez foi em 1939. Na ocasião, era o III Congresso Eucarístico Nacional. O bispo era Dom Miguel de Lima Valverde e o tema foi: “A Eucaristia e a vida cristã”.  

Para a realização do 18.º Congresso Eucarístico Nacional, houve um ano de preparação: de 14 de novembro do ano passado a 7 de novembro deste ano, depois de duas transferências de anos devido à pandemia. Esta preparação fez-se através de celebrações eucarísticas, de tríduos, de encontros de liturgia e juventude e de uma série de concertos. O último foi realizado no dia 7.  

O 18.º Congresso Eucarístico Nacional começou a 11 de novembro, às 15 horas, com a oração da tarde, na Catedral Metropolitana de Recife, com os bispos que estavam presentes no momento. Após esse momento, realizou-se a visita ao museu de arte sacra e a receção no seminário de Olinda. Às 18 horas, aconteceu o ponto alto desse primeiro dia, a celebração eucarística.  

O Congresso Eucarístico contou com uma vasta programação nos outros dias. Teve a celebração da primeira eucaristia nas paróquias, as catequeses, com a feira católica (com mais de 140 expositores), as exposições, as celebrações diárias e os momentos culturais, com destaque para os concertos. E, após o Congresso, ainda haverá celebrações e alguns outros eventos, culminando com a missa do sacramento da Confirmação ou do Crisma, no dia 5 de abril de 2023. 

Quem não pôde ir ao Recife para participar do Congresso Eucarístico Nacional, teve o ensejo de o acompanhar através das mídias católicas, TV, Internet e rádio.

Sempre que acontece num Congresso Eucarístico, cria-se um momento marcante para a Igreja e uma oportunidade de aprofundarmos mais ainda no conhecimento da fé. Deste Congresso espera-se que a Eucaristia nos ajude a ser mais “irmãos” e solidários, atentos às necessidades do próximo; que se concretize o tema “Pão em todas as mesas, que as famílias tenham o alimento diário para saciar a sua fome e, ao mesmo tempo, que Jesus Cristo Se faça presente em todos os lares. 

A Eucaristia é para todos. Jesus não exclui ninguém. Ele acolhia pobres, os pecadores e os doentes. Pregava a inclusão. Ia na contramão do que a sociedade pensava. Do mesmo modo, devem atuar os seus seguidores. Não excluir ninguém da refeição, seja a mesa da eucaristia, seja a mesa do alimento material.  

Foi momento de festa o Congresso Eucarístico Nacional e uma oportunidade para testemunhar a fé, a relevância do Corpo de Cristo e a solidariedade que devemos praticar à sua maneira

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O Cardeal Dom António Augusto Santos Marto foi o representante pessoal do Papa Francisco no Congresso. Coube-lhe, nessa qualidade, presidir às principais celebrações, nomeadamente a da Eucaristia do encerramento, com a procissão eucarística. Mas a missão incluiu encontros com os bispos, os sacerdotes, as religiosas e religiosos, os leigos, os seminaristas e algumas comunidades locais, num programa acordado com a Comissão Organizadora do Congresso em nome da CNBB.

Entrevistado por Adielson Agrelos, assessor de imprensa do Regional Leste 1, da CNBB, destacou a emoção e alegria da visita e vincou que o Pão da Vida repartido por Jesus nos deve levar, como Igreja, a “partilhar o pão nosso de cada dia, para que não falte o sustento do pão de cada dia”.

O Bispo emérito de Leiria-Fátima pretende que o evento não seja “meramente devocional e intimista”, mas “um apelo aos cristãos católicos a irem ao coração da fé que está na relação de amizade pessoal com Jesus ressuscitado e vivo, presente no meio de nós, de modo admirável, no sacramento da Eucaristia”, pois “a fé não se reduz a um conjunto de regras ou práticas devocionais”, mas é apelo a sermos “testemunhas convictas e corajosas da alegria do Evangelho, da fraternidade, da justiça e da paz que Jesus traz ao mundo”.

À questão “como ajudar o povo na compreensão de que a partilha do Pão do Céu nos deve impelir a partilhar o Pão que mata a fome”, respondeu com um enunciado de D. Hélder Câmara: “Há uma Eucaristia do santo Sacramento: a presença viva de Cristo sob as aparências do pão e do vinho. Há também outra Eucaristia: aparência da miséria, realidade de Cristo”. Há, pois, o mesmo Cristo sob a aparência do pobre, do necessitado: “o que fizestes ao mais pequeno dos meus irmãos, a mim o fizestes”. A Eucaristia é sacramento do altar quanto é sacramento do irmão: “Não separe o homem o que Deus uniu!” E prosseguiu: “É isto que todos precisamos de compreender que o Senhor ressuscitado, que reparte connosco o Pão da Vida […], nos pede a nós, como Igreja, partilhar o pão nosso de cada dia, para que não falte o sustento do pão de cada dia, que inclui, por sua vez, o pão do amor, do acolhimento, da partilha, da fraternidade, da solidariedade, da cultura, da dignidade e da paz em todas as mesas, em todas as casas.”

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O encerramento do Congresso contou com a celebração da Eucaristia e com a procissão com o Santíssimo Sacramento.

Presidida pelo enviado especial do Papa, a celebração iniciou-se com um cortejo, que contou com a presença de cerca de 1.200 padres e 200 bispos participantes do Congresso, pela Boulevard Rio Branco até à praça do Marco Zero.

Após leitura do “Anúncio da Eucaristia” (Jo 6,51-58), o representante do Pontífice fez a homilia, em que falou da maravilha da presença de Jesus na Eucaristia e o que ela significa na nossa vida. Disse em concreto:

O corpo e o sangue são a expressão da pessoa inteira, com toda a sua vida, com toda a sua história, com todo o seu infinito amor, [...] até à morte na cruz, amor eternizado na ressurreição. [...] Jesus deixa-nos o dom mais admirável e impensável, o dom da sua presença real, do seu amor infinito e redentor que só ele pode fazer enquanto ressuscitado, para permanecer connosco para sempre, um alimento que nos dá vida verdadeira e eterna.”

Ao tratar sobre como recebemos a hóstia, explicou o significado que tem para a nossa vida:

“Quando eu comungo, como é que eu respondo? Eu respondo ‘amém’. Esta resposta é mais do que um simples ‘acredito na presença real’, é também um compromisso que diz ‘sim’ ao Senhor: quero receber-Te com todo o meu coração, quero que entres na minha vida, quero viver do teu amor, quero seguir os teus passos, quero colaborar contigo por um mundo melhor.”

Dom António Marto falou, depois, sobre a importância de o Evangelho reverberar na vida e na sociedade e abordou o exemplo vivo que o Papa Francisco é de fraternidade, fator fundamental para construirmos o sonho de Deus para toda a humanidade.

Após a celebração da Missa, fez-se a procissão com o Santíssimo Sacramento, do Marco Zero até ao Pátio da Basílica do Carmo.

No marco zero do Recife, o bispo auxiliar do Rio de Janeiro e secretário-geral da CNBB, Dom Joel Portella Amado, anunciou que o próximo encontro será realizado entre os dias 3 e 7 de setembro de 2027, em Goiânia, capital do Estado de Goiás. E Dom João Justino de Medeiros Silva, Arcebispo de Goiânia e presidente da Comissão Episcopal para Cultura e Educação da CNBB recebeu de Dom António Fernando Saburido, Arcebispo de Olinda e Recife a réplica do ostensório, simbolizando o Congresso. O evento será da responsabilidade da Arquidiocese de Goiânia em colaboração com as Dioceses de todo o Regional Centro-Oeste da CNBB.

O final do 18.º Congresso Eucarístico Nacional no Brasil fica marcado por um gesto concreto:

Às 9 horas da manhã do dia 15 de novembro, foi inaugurada a Casa do Pão, um espaço destinado ao apoio à parcela da população que mais precisa, cuja inauguração contou com o pronunciamento do legado pontifício e do Arcebispo de Olinda e Recife.

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Enfim, a Eucaristia faz uma Igreja viva, uma Igreja solidária!

2022.11.17 – Louro de Carvalho

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