quinta-feira, 3 de março de 2022

Recuperar espécies-chave para restaurar os ecossistemas

 

O Dia Mundial da Vida Selvagem, que se celebra neste dia 3 de março, tem como tema, em 2022, “Recuperar espécies-chave para restaurar os ecossistemas”, com o objetivo de alertar para o estado de conservação de algumas das espécies da fauna e flora selvagens mais ameaçadas de extinção, bem como direcionar as discussões para se encontrarem e implementarem soluções para as conservar de forma bem-sucedida. 

Todos os eventos serão inspirados nos seguintes Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, para os quais dirigem todos os esforços: 1 – erradicação da pobreza; 2 – erradicação da fome; 12 – produção e consumo sustentáveis; 13 – ação climática; 14 – proteção da vida marinha; e 15 – proteção da vida terrestre.

A Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas, da União Internacional para a Conservação da Natureza, avalia em cerca de 8 400 as espécies selvagens de fauna e flora como Criticamente em Perigo e perto de 30 000 Em Perigo ou Vulnerável, estimando que mais de um milhão de espécies estejam ameaçadas de extinção. Na verdade, a continuada redução de espécies, habitats e ecossistemas ameaça toda a vida no planeta, seres humanos incluídos. Em todo o mundo, as pessoas dependem dos recursos de vida selvagem e da biodiversidade, nas mais diversas áreas – alimentação, saúde, vestuário, etc., sendo que milhões de pessoas dependem da natureza como fonte de subsistência e desenvolvimento socioeconómico.

O objetivo deste dia, criado em 2013 pela ONU, é celebrar a fauna e a flora do planeta, bem como alertar para os perigos do tráfico de espécies selvagens animais. Foi escolhido o dia 3 de março para a efeméride já que foi neste dia, em 1973, que se verificou a provação da CITES – Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies de Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção.

Segundo a ONU, o tráfico de animais e a caça valem até 213 mil milhões de dólares por ano.

Este dia tenta relembrar o contributo das plantas e dos animais selvagens para o desenvolvimento sustentável e para o bem-estar em geral da humanidade, além dos perigos diários que a vida selvagem corre em diversas frentes, pois, segundo os dados da ONU temos: 20.000 a 25.000 elefantes mortos anualmente em África; 100.000 elefantes africanos mortos de 2010 e 2012; 1.215 rinocerontes mortos em 2014 na África do Sul; 220 chimpanzés mortos em 2014; e 1 milhão de pangolins retirados do seu habitat em dez anos.

Neste ano, a efeméride direciona o debate para a irreversibilidade da extinção das espécies com a categoria de Criticamente em Perigo, para apoiar o restauro dos seus habitats e ecossistemas e promover o uso sustentável de recursos partilhados.

A celebração passa pelo incremento de diversos debates sobre o tema da recuperação de espécies-chave para a recuperação dos ecossistemas. Este ano, a comemoração realiza-se em formato virtual, reunindo representantes dos Estados membros das Nações Unidas, organizações da ONU, assim como, representantes de acordos ambientais multilaterais, sociedade civil e setor privado.

A proteção da biodiversidade e a recuperação de ecossistemas são grandes desafios que implicam a sensibilização global para a importância da proteção da fauna e da flora, especialmente no atinente a espécies ameaçadas. As celebrações têm, assim como objetivo, promover uma ampla e construtiva discussão sobre a temática da recuperação e da preservação da vida selvagem, conduzindo o debate no sentido do encontro e implementação de soluções para a sua conservação.

A exploração da vida selvagem levou ao desaparecimento de muitas espécies animais num ritmo alarmante, destruindo a diversidade biológica da Terra e perturbando o equilíbrio ecológico. Mas este ano, o Dia Mundial da Vida Selvagem celebra a Década de Restauração do Ecossistema.

Em mensagem, o secretário-geral da ONU diz que danificar o mundo natural é ameaçar a própria existência e que as ações para proteção de espécies devem alinhar com a recuperação de ecossistemas inteiros, pois o mundo destruiu quase metade desses recursos naturais.

Todos os anos, a data é marcada com uma mensagem do líder das Nações Unidas. Assim, António Guterres falou da “obrigação moral” de se preservar a Terra, donde são extraídos os produtos essenciais para a sobrevivência humana.

Guterres citou alimentos, água, o estoque de carbono e o controlo da poluição como alguns desses mecanismos vitais e lembrou que os danos ao mundo natural ameaçam, no fundo, a existência e o bem-estar de todos os indivíduos.

O secretário-geral frisou que a vida selvagem está em perigo, já que um quarto das espécies no mundo enfrenta a extinção, em grande parte porque os seres humanos destruíram quase metade de todos os ecossistemas nos quais vivem, pelo que pediu a reversão imediata desse quadro.

Este ano, destaca-se a importância da Década da ONU sobre Restauração do Ecossistema, que vai de 2021 a 2030. E Guterres lembra que os ecossistemas somente podem ser considerados saudáveis quando os seus componentes florescem, podendo um só elemento-chave levar ao declínio e desaparecimento todo o ecossistema. Por isso, as ações para proteger as espécies individuais devem estar alinhadas com a restauração dos ecossistemas.

Segundo as Nações Unidas, mais de 3 biliões de pessoas dependem da biodiversidade marinha e costeira para sua subsistência. E Guterres pediu, neste dia, um compromisso renovado de todos para preservar esses recursos naturais.

Outra preocupação da ONU é com os crimes praticados contra a fauna e a flora em várias partes do mundo. A redução das espécies, por mãos humanas, tem impactos económicos, ambientais e sociais. Mais de 8,4 mil espécies da fauna e flora silvestres estão criticamente arriscadas e quase 30 mil são classificadas sob risco ou vulnerabilidade. Ao todo, mais de 1 milhão de espécies estão ameaçadas de extinção. Além disso, o mundo está a enfrentar níveis jamais vistos de ameaças, que são risco real à biodiversidade, aos ecossistemas e à saúde humana, a par dum considerável número de doenças emergentes que surgem de produtos animais – domésticos e silvestres.

Em suma, o Dia Mundial da Vida Selvagem, criado no 40.º aniversário da aprovação do texto da CITES é a celebração global da extraordinária diversidade, de animais e plantas selvagens do nosso planeta e a ocasião para refletir sobre a infinidade de benefícios que estas espécies nos proporcionam, contribuindo para a diminuição das ameaças que enfrentam. Com efeito, importa salientar a importância das espécies de animais e plantas selvagens como relevante componente da biodiversidade e o papel fundamental que esta desempenha para as pessoas, especialmente para as que vivem mais próximas da natureza e dela dependem para a sua subsistência.

As espécies selvagens de animais e plantas são parte integrante da diversidade biológica do mundo, assim como os genes e os ecossistemas. Os ecossistemas onde a vida selvagem pode ser encontrada, como florestas, pântanos, planícies, pradarias, recifes de coral e desertos, representam outro aspeto da diversidade biológica, juntamente com a diversidade genética.

O elevado número de interações entre todos esses componentes ao longo de quase 3,5 biliões de anos é precisamente o que tornou o nosso planeta habitável para todas as espécies, incluindo a nossa, que depende inteiramente da biodiversidade, desde alimentos, energia, material para artesanato e construção, até ao ar que respiramos. Atividades humanas não regulamentadas ou mal dirigidas têm uma ação negativa nos ecossistemas locais e globais, alterando a biodiversidade e pondo em risco a sobrevivência de muitas espécies.

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Por fim, é de sublinhar que, neste dia em que a ONU celebra os múltiplos benefícios da conservação da diversidade de animais e plantas existentes no mundo e alerta para o risco de extinção de um quarto das espécies selvagens, ficou a saber-se que, entre as espécies símbolo de “renascimento” foi eleito o lince Ibérico como um dos símbolos de conservação bem-sucedida

Da quase extinção ao florescimento da espécie, o lince ibérico é uma das espécies que beneficiou de projetos de conservação bem-sucedidos. Por isso, no dia em que o mundo celebra a Vida Selvagem, a ONU escolheu o lince ibérico como um dos protagonistas de projetos de conservação bem-sucedidos e do lema “Recuperar espécies-chave para restaurar os ecossistemas”. 

A comunicação de tal distinção foi veiculada pelo ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas), orgulhoso do trabalho que desenvolveu na última década pela recuperação desta espécie emblemática. Segundo o respetivo comunicado, “a imagem do lince ibérico está presente num dos posters oficiais preparados pela ONU para promover a defesa da vida selvagem, servindo como um exemplo concreto de uma ação de sucesso”, sendo que “há 20 anos só existiam 94 linces ibéricos”, mas “um programa de recuperação permitiu que o número de linces ibéricos subisse para mais de 1.100, mostrando assim o poder da conservação” na natureza.

No início do século, o lince ibérico chegou a ser considerado a espécie de felino mais ameaçada do mundo, mas vários projetos LIFE (como o Iberlince e o Lynxconnect) desenvolvidos em parceria entre Portugal e Espanha permitiram que a população ibérica chegasse aos mais de mil indivíduos, dos quais 209 vivem em território português. Por cá o processo de reintrodução de linces em meio selvagem iniciou-se em 2014, cinco anos após ter começado o projeto de reprodução em cativeiro no Centro Nacional de Reprodução (CNRLI), em Silves. Jacarandá e Katmandu foram o primeiro casal a ser solto numa propriedade em Mértola, no Vale do Guadiana (Alentejo). Desde então, entre exemplares reintroduzidos e nascimentos, somam-se duas centenas de exemplares em liberdade entre Serpa e Tavira.

A última solta ocorreu a 24 de fevereiro, em Alcoutim. Sismo e Senegal, macho e fêmea, nascidos no Centro de Reprodução em Cativeiro de El Acebuche (Andaluzia) são os novos habitantes da serra algarvia, que já contava com cerca de 20 exemplares. 

Só no ano passado nasceram em Portugal 70 novas crias, mais 10 que em 2020, e 9 no Algarve. Para o ICNF, “a consolidação da população em território algarvio é um dos aspetos mais relevantes de 2021”. Os próximos passos do projeto de conservação passam por “reforçar a ligação entre as várias populações de linces e valorizar o ecossistema mediterrânico, melhorando a qualidade do habitat e a abundância de presas”. 

Sublinhando “a oportunidade de celebrar as maravilhas do mundo selvagem”, o secretário-geral da ONU António Guterres, aproveitou no seu discurso para “chamar a atenção para a multitude de  benefícios da conservação da natureza para as pessoas”, uma vez que a humanidade depende dos produtos e serviços que a natureza nos dá, como alimentos, água ou sequestro de carbono. E frisou: “Ao danificarmos a natureza, ameaçamos o nosso bem-estar”.

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Que a efeméride constitua mais um contributo para a saúde do planeta e o bem-estar dos seus muitos usufrutuários nas mais rasgadas e melhores sendas da cidadania ativa.

2022.03.03 – Louro de Carvalho

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