De 24 a 26
de março, o Santuário de Fátima recebeu, nos auditórios do Centro Pastoral
Paulo VI, o Congresso Internacional ‘Mulher,
Mãe e Rainha’, que assinala 375 anos da Coroação de Nossa Senhora da Conceição
como Padroeira de Portugal, numa organização do Instituto da Padroeira de
Portugal para os Estudos da Mariologia (IPPEM), em colaboração com o Santuário.
Efetivamente,
foi a 25 de março de 1646 que o rei D. João IV consagrou os “Seus Reinos e
Senhorios” a Nossa Senhora da Conceição, representada numa escultura existente
no Santuário de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. Por “Provisão
Régia”, Nossa Senhora foi proclamada a Padroeira de Portugal e, a partir de
então, não mais os monarcas da Dinastia de Bragança voltaram a colocar a coroa
real na cabeça.
Para
assinalar este acontecimento, o IPPEM quis organizar um congresso, intitulado:
“Mulher, Mãe e Rainha. Nos 375 anos da
Coroação de Nossa Senhora da Conceição como Padroeira de Portugal”. Inicialmente
marcado para 2021, ano em que Portugal viu passar 375 anos da coroação de Nossa
Senhora da Conceição como Padroeira de Portugal, teve de ser adiado devido às
restrições impostas pela pandemia de Covid-19.
Pretendendo,
na ótica da organização, ser um fórum de estudo abrangente nas temáticas, nas
visões e nas abordagens, apresentou diferentes contributos relativos aos
estudos da Mariologia, da Teologia e da Bíblia; da Religiosidade Popular; das
Associações de Fiéis e das Ordens Religiosas, impulsionadoras em tantos casos,
da devoção à Virgem Maria; do Direito Canónico; da Antropologia e da
Sociologia, da Arte e da História da Igreja; da História de Portugal e até da
História Universal
De acordo
com o Presidente do Congresso, o evento tomou Nossa Senhora como figura a
abordar “através de várias áreas de estudo”, a partir dos 375 anos da coroação
da Imaculada Conceição como Padroeira de Portugal pelo rei D. João IV.
Como previsto,
foi um Congresso interdisciplinar em que foram abrangidas áreas como a
teologia, fundamentos bíblicos, discursos parenéticos e História. Em abordagem
esteve, de modo especial, a forma como diferentes povos viram Nossa Senhora,
particularmente os da Península Ibérica e os do Novo Mundo. As jornadas abriram
e fecharam com duas figuras de renome internacional ligadas à Santa Sé: Padre Stefano
Cecchin, Presidente da Pontifícia Academia Mariológica Internacional, que abriu
o Congresso no dia 24 de março, com a Conferência “O contributo português no
contexto dos movimentos imaculista”; e o Arcebispo Rino Fisichella, Presidente do Conselho
Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização, que o encerrou no dia 26, com
a Conferência “A
pastoral dos santuários dedicados à Virgem Maria”.
Marco Daniel
Duarte esclarecera previamente que se trataria de um congresso “científico”, em
que participariam investigadores de diferentes áreas, como José Rui Teixeira,
da Universidade Católica, e Antónia Fialho Conde, da Universidade de Évora,
entre outros.
“A promoção
do culto a Nossa Senhora da Conceição como Padroeira de Portugal nos primórdios
da imprensa periódica nacional”, “Maria nas Escrituras Sagradas”,
“Considerações em torno da Génese do Dogma da Imaculada Conceição – A
Importância de Santo Agostinho e a Questão Pelagiana”, “A perfeição de Maria na
fórmula agostiniana do pecado original”; e “Do corpo de Maria ao corpo cósmico
de Cristo Cristologia, Cosmologia e Mariologia” – foram alguns dos temas em
análise no Congresso, durante o qual, na noite do dia 25, foi apresentado o
livro “Coroa preciosa de Nossa Senhora de
Fátima – Joias e a bala”, que, uma vez apresentado, passa a estar à venda
em todo o país. Publicado pelo Santuário de Fátima, o livro pretende mostrar
não só “toda a história que envolve a coroação da imagem de Nossa Senhora de
Fátima”, mas também as joias e gemas em cuja coroa estão incrustadas, além da
bala que atingiu o Papa São João Paulo II a 13 de maio de 1981 na Praça de São
Pedro.
Além da
apresentação do livro, houve outro momento cultural, “Cantar a Padroeira”, na noite do dia 24, na Basílica de Nossa
Senhora do Rosário, concerto
pelo Coro do Santuário de Fátima, com direção de Ricardo Campos e
com Sílvio Vicente ao órgão. E, como eminente tempo litúrgico, a Celebração eucarística da
Anunciação do Senhor, no fim da tarde do dia 25 sob a
presidência do
Arcebispo de Évora, Dom Francisco Senra Coelho
***
O Congresso
foi pensado 5 sessões devendo as comunicações com os respetivos eixos temáticos.
Assim, o da
1.ª sessão foi: “HISTORIOGRAFIA: ESTUDOS SOBRE
UM TEMA MAIOR”.
Na verdade, o debate sobre o papel da Mãe do
Deus dos cristãos na comunidade crente “gerou, também na comunidade académica,
interesse maior que se consubstanciou, entre outros, no rastreamento de
posições, muitas vezes sustentadas por leituras políticas e sociais que
interessaram aos intelectuais e a outros revisitadores do tema, a fim de
auscultarem o que pensaram outros pensadores e que posicionamento tomaram em
cada época histórica”, pelo que se pretendia “proceder ao estado da arte
relativamente à historiografia sobre os estudos marianos em Portugal e no mundo
ibero-americano”, convocando especialmente
as áreas disciplinares da História e da Mariologia.
O eixo da
2.ª sessão foi:
“FUNDAMENTOS BÍBLICOS E DISCURSO
PARENÉTICO”.
Com
efeito, “apesar de não serem abundantes as referências a Maria nos textos sagrados, a narrativa
bíblica mostra-a como mulher especialmente consagrada a Deus e com papel
fundamental na economia da história da salvação. Amplamente glosadas, essas
referências foram intertextualmente ligadas a passagens outras, algumas bem
mais antigas, lidas segundo o pensamento teológico de cada contexto histórico.
Por isso, pretendia-se “refletir sobre a forma como a Virgem Maria é tomada
a partir das fontes primárias que dão fundamento à comunidade dos crentes e a
partir dos discursos que umbilicalmente a estas se encontram ligados e delas
derivam”, convocando especialmente
as áreas disciplinares das Ciências da Religião, da Literatura, da
Mariologia e da Teologia.
O eixo temático da 3.ª sessão foi: “REPRESENTAÇÕES INSTITUCIONAIS, PLÁSTICAS E ARTÍSTICAS”.
“Fruto das leituras que encomendantes e artistas operaram a partir
dos traços semânticos associados à figura da Virgem Maria, a arte de temática
mariana, nas suas diferentes expressões plásticas, manifestam-se ‘topos’ de
constante (re)criação e (re)construção, conforme as épocas históricas, desde a
Antiguidade à Contemporaneidade, e nos diferentes contextos estéticos,
incluindo os museológicos, sejam estes contextos defensores da figuração ou da
abstração”. Assim, pretendia-se “abordar a visão dos
artistas, nos diferentes tempos históricos e nas diferentes categorias
estéticas, desde as artes plásticas às da representação cénica, relativas à
importância da representação da Virgem Maria”, convocando especialmente as áreas disciplinares da Arte, das Ciências
do Património, do Cinema, da Estética, da História da Arte, da Museologia e do
Teatro.
O eixo temático da 4.ª sessão foi: “MARCAS MARIANAS NA CULTURA DOS POVOS”.
Com
efeito, “a
importância vivencial que o tema mariano demonstrou ao longo da história do
Cristianismo levou à impressão de diferenciadas marcas culturais nas
sociedades, marcas que se percecionam em diferentes campos de abordagem como
são a antroponímia e toponímia, e, bem assim, as expressões artísticas de cunho
literário que fizeram ecoar, inclusive nos Media, aspetos de Maria como
tipificadores da condição humana: entre outros, a maternidade, a humanização da
religião, a visão da mulher, a mulher das dores”. Assim,
pretendia-se “atualizar o conhecimento dos diferentes fenómenos que exibem a
marca mariana na cultura, popular ou erudita”, convocando especialmente as áreas
disciplinares da Antropologia, das Ciências da Comunicação, da História,
da Literatura, da Música e da Sociologia.
O eixo da
5.ª sessão foi:
“RELIGIOSIDADE POPULAR,
DISCURSOS TEOLÓGICOS E VIVÊNCIAS CULTUAIS”.
De facto, “o culto mariano, consubstanciado em diversas manifestações, entre
as quais as peregrinações e visitas aos santuários, reveste-se de múltiplas
formas de devoção, desde as estabelecidas pela norma litúrgica às relacionadas
com práticas relativas a uma espiritualidade pessoal ou coletiva que se
exterioriza através do tópico da festa”, pelo que se pretendia “analisar, à luz do entendimento atual da pastoral da Igreja
Católica, as práticas devocionais e a sua relação com os que frequentam os
lugares de culto marianos, sejam crentes, sejam turistas ou outros visitantes”, convocando especialmente as áreas
disciplinares da Antropologia, da Liturgia, da Mariologia, da
Teologia e do Turismo.
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Nestes dias
ocorreu também o enceramento do Ano Jubilar referente aos 375 anos da coroação e
proclamação de Nossa Senhora da Conceição como Padroeira de Portugal com: Celebração
Eucarística, no dia 25, e concerto pelo grupo “Ars Encontro”, no Santuário de
Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa; procissão com saída da Igreja dos
Agostinhos e que percorreu algumas das ruas de Vila Viçosa numa verdadeira
demonstração de fé e devoção, em que se incorporou o Presidente da República, e
celebração da Eucaristia presidida pelo Arcebispo Dom Rino Fisichella, Presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da
Nova Evangelização, no dia 26, à noite (21 horas), no mesmo Santuário; e Exposição “Três Coroas, a mesma Padroeira”, das 10
às 17 horas, no Seminário de Vila Viçosa, no dia 27, e Celebração da Eucaristia
presidida
pelo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa e Bispo de Leiria-Fátima, Dom
José Ornelas, na qual marcou presença o Presidente da República, às 10,30 horas,
no Santuário.
***
Enfim, tudo
o que sirva para enaltecer a figura de Maria como portadora de Cristo e como caminhante
por nós e connosco para Cristo é sempre bem-vindo, porque útil para reforço da
nossa fé, estímulo da esperança, alimento da caridade e situação na história da
Salvação.
2022.03.27 – Louro de Carvalho
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