segunda-feira, 14 de março de 2022

Medidas de apoio às empresas por via da carestia de bens

 

O Ministro de Estado e da Economia anunciou, neste dia 14 de março, as medidas que o Governo está a desenhar para apoio às empresas mais afetadas pela crise nas cadeias de abastecimento e pelo disparo dos preços da energia por causa do conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Assim, as empresas mais expostas aos custos da energia poderão aceder a linhas de crédito garantidas pelo Banco Português de Fomento e a apoios a fundo perdido.

A guerra na Europa do Leste agravou a crise nas cadeias de abastecimento, agravando a escassez de matérias-primas e encarecendo a energia – tudo fatores que determinarão aumentos sucessivos dos custos para os produtores que se vão repercutir nos preços para o consumidor.

As principais medidas são:

- A disponibilização pelo Governo duma linha de crédito com garantia pública de 400 milhões de euros às empresas que operem na indústria transformadora ou em transportes. Para se qualificarem a esta linha de crédito, os custos da energia deverão ter superado 20% dos custos de produção ou deverá ser registado aumento dos custos das mercadorias vendidas e consumidas superior a 20% ou, ainda, quebra de faturação operacional de 15% resultante da incapacidade de obter matérias-primas. Tal linha de crédito, anunciada embora sem pormenores no dia 12, que pode cobrir até 70% do valor financiado, com prazo até 8 anos, com 12 meses de carência de capital, estará disponível a partir de 17 de março junto das instituições bancárias aderentes.

- A atribuição de apoios a fundo perdido às empresas mais afetadas pelos aumentos da energia, com setores mais dependentes da energia gerada por gás natural, e ao setor agrícola. O governante não pormenorizou os valores destes apoios, mas o Ministro do Ambiente e da Ação Climática adiantou ao “Expresso” que o Governo está a considerar apoios diretos às empresas no valor de 360 milhões de euros.

- Medidas adicionais nos transportes de mercadorias. Os veículos de transporte de mercadorias por conta de outrem até 3,5 toneladas e TVDE terão o apoio de 3,5 cêntimos por litro no combustível, num total de litros calculado a partir da média de consumo pago de uma só vez, à semelhança do apoio atribuído aos autocarros de passageiros e táxis.

 - Flexibilização de pagamentos fiscais de IVA, IRS e IRC por parte das empresas de transporte por conta de outrem, que poderão pagar tais impostos de 3 a 6 prestações.

- Prestação adicional de apoio às famílias mais vulneráveis. O Governo implementará um mecanismo de prestação de apoio às famílias mais vulneráveis através duma prestação adicional para fazer face ao aumento com os encargos com os produtos alimentares. Tal prestação será definida após análise prévia do impacto da subida dos preços sobre o cabaz de compras.

Pendentes de aprovação da Comissão Europeia estão: a permissão de redução temporária da taxa de IVA sobre os combustíveis; um quadro temporário de auxílio às empresas, como apoios à liquidez com linhas de crédito garantidas pelo Estado, além da primeira linha já anunciada; e apoios a fundo perdido às empresas. A Comissão pondera ainda uma intervenção regulatória nos mercados de energia de forma a rever o sistema marginalista e a estudar a possibilidade de compra conjunta de matérias-primas essenciais. Os temas deverão ser debatidos no próximo Conselho Europeu, de 24 e 25 de março.

De fora fica o regresso de apoios especiais ao lay-off, que os empresários reclamavam e que chegou a ser equacionado pelo Governo.

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Entretanto, as negociações entre a Rússia e a Ucrânia, embora inconclusivas, provocaram uma descida dos preços do petróleo e do gás natural.

Efetivamente os preços do petróleo continuam a cair e o barril de Brent já transaciona perto dos 105 dólares, com sinais positivos nas negociações entre Rússia e Ucrânia e numa semana decisiva para os mercados. Assim, continuam a afastar-se dos máximos alcançados nas últimas semanas. As quedas das cotações do “ouro negro” chegam perto dos 7% neste dia 14, aliviando, em certa medida, as preocupações dos consumidores em torno dos preços altos da gasolina e do gasóleo.

A meio da tarde, o Brent, referência para as importações nacionais, recuou 6,6% em Londres, para 105,24 dólares. O norte-americano WTI cede 6,84%, para 101,83 dólares o barril, mas já chegou a negociar abaixo dos 100 dólares.

Depois de alcançarem máximos de 2008 com o arranque da guerra na Europa, o crude começou a aliviar na semana passada e estende agora essa queda. O desempenho dá-se quando a FED deverá subir as taxas de juro pela primeira vez desde 2018, na expectativa de domar a inflação.

O recuo também está associado à possibilidade de um entendimento na Ucrânia. No dia 13, a vice-secretária de Estado dos EUA, Wendy Sherman, afirmou que o Kremlin está a “começar a conversar construtivamente” nas negociações.

Porém, a queda ocorre precisamente no dia em que os combustíveis voltam a aumentar nos postos de abastecimento aos clientes, refletindo a alta do barril de petróleo nos mercados internacionais nas últimas semanas.

Também o gás natural recua mais de 10% na Europa neste dia 14, transacionando em cerca de 117,25 euros por megawatt-hora (MWh). A cotação deste dia representa uma queda superior a 65% face ao recorde atingido há uma semana, quando tocou em 345 euros por MWh.

Os futuros de referência Dutch TTF Gas para entrega em abril ganharam impulso adicional com o eclodir da guerra, pois a Rússia fornece cerca de 40% do gás consumido na região. Contudo, têm vindo a aliviar nos últimos dias. Esta segunda-feira, recuam 10,66%, para 117,25 euros por MWh, longe do recorde de 345 euros atingido há uma semana, quando os preços registaram uma subida inédita intradiária de 75%. Deste modo, o preço registado neste dia é menos de metade do valor recorde registado a 7 de março. Nos últimos cinco dias, a queda acumulada é de 48,50%.

Este desempenho acontece numa altura em que os mercados aguardam por uma nova ronda de negociações entre a Rússia e a Ucrânia, já que qualquer progresso nas negociações para um possível cessar-fogo daria ao mercado do gás um alívio, após os preços recordes e alta volatilidade registada nas últimas semanas. Além disso, a procura pode diminuir na sequência de um clima mais ameno, capaz de reduzir o consumo.

Os preços da energia têm aumentado significativamente com a invasão da Ucrânia a agravar os constrangimentos já sentidos no mercado devido à pandemia. Além disso, os investidores temem que a Rússia use o gás natural como arma de pressão à Europa. A UE está a planear cortar as importações da Rússia em dois terços já este ano. É de perguntar com que efeito.

Não obstante, os preços do gás natural já estavam a subir mesmo antes da guerra. A menor geração eólica, o aumento do custo das licenças de CO2, a seca severa que se vive em Portugal e a menor produção hídrica por vida da decisão do Governo de suspender a geração em várias barragens são alguns dos elementos que têm levado à subida das importações de gás natural, usado pelas centrais de ciclo combinado.

Enfim, efeitos da pandemia ainda não ultrapassados, guerra e seca levam ao aumento dos produtos energéticos em contraciclo com o recuso dos preços no petróleo e no gás natural. Esquecem-se os decisores económicos de que as habitações, as ruas e as viagens estão altamente condicionadas pelo fornecimento dos produtos do setor energético; e os decisores políticos não têm força para urgir uma intervenção moderadora nos mercados, que se tornaram o monstro sagrado a que nos forçam a obedecer sem bufar.

Por fim, vem a declaração do Ministro da Defesa, segundo o qual a guerra na Ucrânia “sairá muito cara a todos”, incluindo à economia portuguesa. O governante respondia a uma questão dos jornalistas sobre a duplicação do pacote de armamento da UE para a Ucrânia, afirmando que ainda “não há decisões concretas”. O alerta do governante tem a ver com a necessidade que os europeus descobriram no sentido do reforço das verbas para as defesas nacionais. Na verdade, os países, levados pelo nacional-porreirismo, foram-se desmilitarizando, desvalorizaram a instituição militar, acabaram com o serviço militar e/ou cívico obrigatório, o equipamento para defesa passou a ser um investimento supérfluo e o que restou é um ou outro grupo habilitado para operações em prol da paz e das ações humanitárias. Porém, os generais são muitos e os praças são poucos.

Contudo, a contrario, neste dia 14, o Ministro das Finanças garante que, apesar da imprevisibilidade causada pelo conflito e os efeitos na crise energética, a economia portuguesa irá registar um “crescimento bastante significativo” este ano; e assegura que o Governo está “a trabalhar num cenário base, que é também ao nível europeu e em Portugal, que ainda assenta numa recuperação significativa da economia este ano”.

Falando aos jornalistas portugueses em Bruxelas, à entrada para uma reunião dos ministros das Finanças da UE, salientou que, “mesmo que a economia tivesse momentos mais difíceis este ano, em que não houvesse grande crescimento em cadeia, Portugal tem um impulso que vem da forte recuperação do final do ano passado e que permite, mesmo num cenário mais adverso, admitir um crescimento bastante significativo”. A ver vamos!

2022.03.14 – Louro de Carvalho

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