Já
estão em andamento, em Roma, os preparativos para o Jubileu de 2025, ano
especial de graça e peregrinação na Igreja Católica, tendo o Arcebispo Dom
Rino Fisichella reunido com o Papa Francisco no dia 3 deste mês de janeiro para
discutir o lema deste jubileu, de que “há muito trabalho a ser feito”.
O presidente
do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, Dicastério
encarregado da organização do evento, em vídeo publicado, a 13 de janeiro, pelo Vatican
News, serviço de informações da Santa Sé, disse que o lema aprovado pelo
Santo Padre “pode ser resumido n expressão “Peregrinos
da Esperança”.
O Jubileu de
2025 será o primeiro jubileu ordinário da Igreja desde que São João Paulo II
liderou o Grande Jubileu de 2000, pois o Jubileu da Misericórdia de 2015,
convocado por Francisco, foi um jubileu extraordinário.
Os jubileus
têm raízes bíblicas, em Levítico 25, 10:
“Santificareis
o quinquagésimo ano e publicareis a liberdade na terra para todos os seus
habitantes. Será o vosso jubileu. Voltareis cada um para as suas terras e para
a sua família.” (Lv 25,10).
A Lei
estabelecia a libertação de escravos e o perdão de dívidas no jubileu como
manifestações da misericórdia de Deus.
Os jubileus da
Igreja foram instituídos pelo Papa Bonifácio VIII em 1300. De 1300 até agora,
foram celebrados em Roma 30 jubileus. Começam com a abertura da Porta Santa na
basílica de São Pedro. Os peregrinos que passam pela Porta Santa podem receber a
indulgência plenária nas condições usuais.
Têm Porta
Santa as quatro principais basílicas de Roma. Porém, durante o jubileu
extraordinário de 2015, o Papa Francisco concedeu às catedrais em todo o mundo
permissão para estabelecer e abrir uma Porta Santa. Mais: Francisco antecipou a
inauguração do Jubileu da Misericórdia (em Roma foi a 8 de dezembro de 2015) para o dia 29 de novembro, 1.º
domingo do Advento, na catedral de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, de
Bangui, capital da República Centro-Africana, na última etapa da sua 11.ª Viagem
Apostólica Internacional.
Sobre a
passagem pela Porta Santa disse o Pontífice ao abrir a Porta Santa da basílica
de São Pedro a 8 de dezembro para o jubileu de 2015:
“Passar
pela Porta Santa significa redescobrir a misericórdia infinita do Pai que
acolhe a todos e sai pessoalmente ao encontro de cada um deles. É ele que nos
procura! É ele que vem ao nosso encontro. (…) Ao passar pela Porta Santa,
então, sintamos que nós mesmos fazemos parte deste mistério de amor, de
ternura. Deixemos de lado todo o medo e pavor, pois isso não convém a homens e
mulheres que são amados. Em vez disso, experimentemos a alegria de encontrar
aquela graça que transforma todas as coisas.”.
Depois do Jubileu
Extraordinário da Misericórdia, desejado e convocado pelo Papa
Francisco, que se iniciou a 8 de dezembro de 2015 e terminou em 2016
com o fechamento da Porta Santa, foi retomado – por assim
dizer – o processo “normal” desde os pontificados de Nicolau V
(em 1450), considerado o primeiro papa
humanista. No entanto, houve anos em que não se realizou o jubileu por motivos
de perturbação internacional, por exemplo: em 1800, devido às profundas perturbações que a Europa atravessava após a Revolução
Francesa; e, em 1875, porque Pio IX, exilado por alguns anos, só
voltou a Roma em abril de 1850, demasiado tarde para o proclamar.
Em contrapartida, em
1423, o Papa Martinho V, que recuperou a unidade da Igreja após o Cisma do Ocidente, retomou
a ideia do Papa Urbano V e, contando 33 anos depois do jubileu de 1390,
convocou um novo jubileu, cuja para a preparação foi pregada por São Bernardino
de Siena. Com efeito, os franceses, espanhóis e muitos italianos foram
impedidos de tomar parte na peregrinação jubilar dado que os seus soberanos,
tendo aderido ao Cisma, impediram os súbditos de participar no
Jubileu. E Bonifácio IX estendeu a peregrinação em busca de indulgência às
basílicas de São Lourenço fora de Muros, Santa Maria em Trastevere
e Santa Maria Rotonda, que se juntavam às 4 basílicas maiores, já
escolhidas nos Jubileus anteriores, nas sete igrejas de peregrinação
de Roma. No Jubileu de 1400 teve início um novo tipo de
peregrinação penitencial que, partindo de vários pontos da Itália setentrional,
se dirigiam para Roma sob o lema “Paz e
Misericórdia”.
Desde então, estabeleceu-se que o Jubileu,
que antes era realizado a cada 100 anos, por determinação de Bonifácio VIII (em 1300) pela bula “Antiquorum fide relatio”, e depois a cada 50 anos, por determinação
de Clemente VI (em 1350), seria convocado a cada 25 anos,
como estabeleceu Sisto IV (em
1470). O último jubileu
“normal” foi o do ano 2000, sob o pontificado de São João Paulo II, a
marcar a mudança de milénio.
Assim, o próximo Jubileu, como era de
esperar, será em 2025. Foi o Papa Francisco quem o anunciou a 3 de fevereiro,
na mensagem por ocasião dos 150 anos da cidade de Roma,
lida pelo cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin. Eis
as suas palavras:
“Há
uma demanda de inclusão escrita na vida dos pobres e daqueles que, imigrantes e
refugiados, veem Roma como um porto de salvação. Muitas vezes, os seus olhos,
incrivelmente, veem a cidade com mais expectativa e esperança do que nós,
romanos, que, pelos múltiplos problemas quotidianos, a olhamos de modo
pessimista, quase como se ela estivesse destinada à decadência. Não, Roma é um
grande recurso da humanidade! ‘Roma é uma cidade de beleza única’ (celebração
das Primeiras Vésperas de Maria Santíssima Mãe de Deus, 31 de dezembro de
2013). Roma pode e deve renovar-se, no duplo sentido da
abertura ao mundo e da inclusão de todos. Os Jubileus também a estimulam a
isso; e o de 2025 já não está mais distante.”
Considera
Dom Rino Fisichella que a preocupação do Papa é
que o Jubileu de 2025 seja preparado da melhor maneira possível.
Como todo o lema, também neste caso, o sentido de todo o
percurso jubilar começa com os termos escolhidos para o condensar, termos que
destacam um tema chave do pontificado de Francisco. Há, no âmbito do muito
trabalho que tem de ser feito nestes anos de preparação, a necessidade, de ter
um “sólido impacto preparatório” e criar uma máquina organizadora eficiente.
“Para ativá-la completamente”, o presidente do Dicastério encarregado de
dinamizar o evento diz aguardar “novas indicações do Papa”, muito embora, na
verdade, o trabalho já tenha começado. Uma das prioridades diz respeito ao
acolhimento dos peregrinos e dos fiéis. Para o Ano Santo são esperados em Roma
muitos peregrinos, na esperança de que nos próximos dois anos a emergência
sanitária não afete mais as atividades como acontece hoje. O prelado
confirmou que “os contactos com a Prefeitura de Roma, a Região Lácio e o Governo
italiano estão em andamento para que tudo se possa se realizar com total
segurança e de acordo com a capacidade de acolhida que a cidade sempre
garantiu”.
Talvez não
seja descabido por inteiramente atual, no contexto da espiritualidade dum Ano
Jubilar, recordar o apelo orante do Papa, na data susodita, em Bangui, que
titulou então de “capital espiritual da oração pela Misericórdia do Pai”:
“Todos
juntos peçamos a paz, a misericórdia, a reconciliação, o perdão, o amor, para
Bangui, para toda a República Centro Africana e para todo o mundo e os países
que sofrem a guerra”.
E há que
recordar a temática da sua homilia m torno da temática da reconciliação e do
perdão.
O pontífice
acentuou que “uma das exigências fundamentais da vocação à perfeição é o amor
aos inimigos”, que “nos previne da tentação da vingança e da espiral das represálias
sem fim”. Falou de esperança e de justiça para todas aquelas pessoas que não
veem no horizonte “sinais positivos”, vincando que Deus é “Justiça e Amor”:
“Deus
é mais poderoso e mais forte que tudo. Esta convicção dá ao crente a
serenidade, valor e a força de perseverar no bem diante das piores
adversidades. Inclusive quando se desatam as forças do mal, os cristãos têm de
responder à chamada, prontos para suportar esta batalha em que Deus terá a
última palavra. E será uma palavra de amor.”.
E é urgente,
para a reconciliação, para a justiça e para a paz, a deposição de todos os instrumentos
de morte e que nos armemos “da justiça e da misericórdia, garantias de
autêntica paz”.
***
A palavra
jubileu vem do hebraico “yovel”.
Refere-se ao carneiro, cujo chifre foi usado para anunciar o ano festivo. E supõe-se
que “yovel” vem do verbo hebraico
que significa “trazer de volta”, pois os escravos voltavam ao seu estado anterior de
liberdade, não sendo mais servos de homens, mas apenas do Criador, e os
terrenos voltavam aos proprietários originais.
Além da
contagem do ano de “shemitah”,
de sete em sete anos, há a contagem do “yovel” – o jubileu, que ocorre a cada
50 anos, no ano seguinte ao término de 7 anos sabáticos.
O Yovel caraterizava-se
por três obrigações, que recaíam sobre a nação inteira: abstenção de qualquer
trabalho agrícola, exatamente como em “Shemitah”;
liberdade incondicional para todo escravo hebreu; e devolução de todos os
campos aos seus proprietários originais.
No Yovel, os
escravos judeus são libertados. A cada ano de Yovel, em Yom Kipur (Dia do Perdão), o San’hedrin (Tribunal Superior) tocava o shofar. A seguir, os
judeus em Israel tocavam o shofar. O som podia ser ouvido em Israel
inteira, anunciando: “Chegou a hora de libertar todos os escravos
judeus. Todos os que possuem escravos judeus devem libertá-los e enviá-los às
suas casas.”.
Não importava
se o escravo começara recentemente a servir seu senhor ou se já havia
trabalhado seis anos, mas o certo é que todo o escravo judeu tinha de ser
enviado de volta ao seu lugar de origem. O toque do shofar servia de
lembrete para ouvir e observar esta mitsvá.
Depois de
possuir um escravo por um longo período, o amo deve achar difícil mandá-lo
embora, tal como o escravo pode ficar relutante em deixar o seu amo. De Rosh
Hashanah (festividade em que os judeus celebram a chegada de um
novo ano) até Yom
Kipur do ano de Yovel, um escravo não retorna à sua casa, nem o seu amo
pode empregá-lo. Em vez disso, senta-se à mesa do seu amo, come, bebe e relaxa.
Quando o shofar é tocado em Yom Kipur, ele finalmente parte. Este período
de dez dias de transição ajudam-no a readaptar-se à liberdade. Deus
disse: “Quando tirei o povo judeu do Egito, tornaram-se Meus
escravos. Por isto, nenhum judeu poderá servir a outro por toda a vida, somente
Eu posso exigir tal submissão.”.
Como se
observou e exemplificou acima, a tradição judaica alicerça o Jubileu na Torah.
Fala-se dele no livro do Êxodo (Ex 23,10-11), no Levítico (Lv
25,1-28) e no Deuteronómio
(Dt 15,1-6).
Em suma, cada
sete anos era celebrado o ano sabático, no qual se deviam perdoar
todas as dívidas, e em cada 50 anos se celebrava o Jubileu, que a Igreja
Católica estabilizou para cada 25 anos, além da celebração de Ano Santo em
múltiplos de 50 anos sobre a morte de Cristo.
O tempo de
Jubileu era – e tem de ser – um tempo de paz e reconciliação, de festa e
perdão, de graça divina.
2022.01.14 – Louro de Carvalho
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