sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Boris Johnson em maus lençóis por alegada violação de confinamento

 

A 12 de dezembro pp, foi notícia que, após um vídeo que mostra funcionários de Downing Street a brincar com o facto de ter havido uma festa natalícia em 2020, quando tais eventos estavam proibidos, veio para a ribalta uma fotografia em que se vê o próprio Boris Johnson alegadamente a participar num jogo de Natal com dois colegas no interior de uma sala, sem máscara, contrariando a proibição de tal interação entre membros de diferentes agregados familiares em Londres. É o mais recente escândalo que envolve o Primeiro-Ministro, que está em queda nas sondagens, tal como o seu partido.

A este respeito, Angela Rayner, a número dois do Partido Trabalhista, denunciou:

Quando as normas diziam que as pessoas não podiam organizar festas de Natal no trabalho e que os britânicos faziam o que tinha que ser feito, Boris Johnson estava a presidir a uma cultura de desprezo das normas no coração do Governo”.

Também o próprio líder trabalhista, Keir Starmer, considerou “muito séria” e “difícil de entender” a revelação feita pelo “Sunday Mirror, como é que a presença de Johnson numa sala com assessores, um a usar uma fita de Natal ao pescoço, outro a usar um chapéu de Pai Natal, mas sem estarem “em conformidade com as regras”.

Contudo, Nadhim Zahawi, Ministro da Educação, defendeu o Primeiro-Ministro, declarando à “Sky News “que o Chefe do Governo só participou no “jogo virtual de perguntas e respostas durante 10 ou 15 minutos” sendo o objetivo arrecadar fundos para ações de caridade. Mas este não é o único escândalo a atingir Boris Johnson, que está sob suspeita de ter enganado o Parlamento ao negar ter havido uma festa de Natal em Downing Street em 2020, tendo o vídeo em referência já levado à demissão de Allegra Stratton, a então assessora de imprensa.

Johnson está ainda em maus lençóis por causa das obras no seu apartamento em Downing Street, alegadamente financiadas por um doador do Partido Conservador.

Assim, dois anos depois da vitória eleitoral que lhe deu confortável maioria no Parlamento, uma sondagem Opinium para o “The Observer”, divulgada no dia 11 de dezembro, coloca o Labour 9 pontos percentuais à frente dos Tories. Além disso, 57% dos inquiridos defendem que Johnson deve demitir-se, o que representa o aumento de 9 pontos percentuais em relação à sondagem de duas semanas antes. A popularidade de Johnson caiu para os -35%, uma queda de 14 pontos em relação ao recorde de -21% que alcançara no final de novembro.

A 14 de dezembro, enfrentou uma rebelião entre os deputados conservadores (os Tories) em relação às novas regras contra a covid-19, devido ao aumento do nível de alerta que induziu a tomada de novas medidas para conter a variante Ómicron – incluindo testes diários para os contactos suspeitos dos infetados que tenham a vacinação completa e isolamento profilático de 10 dias para os que não estão. O plano passou com o apoio do Labour (Partido Trabalhista). E, a 16 de dezembro, houve eleições intercalares em North Shropshire, após a demissão do deputado conservador devido a um escândalo, com os liberais-democratas à frente nas sondagens. Isto, em pano de fundo com o Primeiro-Ministro a avisar, naquele dia 12, que “se aproxima uma forte onda” da doença com o avanço da variante Ómicron, estabelecendo como meta administrar a terceira dose da vacina a todos os maiores de 18 anos antes do final do ano.

A 11 de janeiro deste ano, soube-se que a polícia admite investigar a festa em Downing Street, que ocorreu a 20 de maio de 2020. Com efeito, além da festa em si, a divulgação de um e-mail sobre a realização duma festa em Dowing Street, quando os britânicos estavam em confinamento, deixa Boris Johnson debaixo de fogo mais uma vez. A polícia já veio admitir a investigação à festa para que foram convidadas 100 pessoas e que contou com o chefe do governo britânico.

Na susodita fotografia o Primeiro-Ministro surge a beber vinho com a mulher e vários assessores nos jardins de Downing Street, quando não era permitido aos britânicos socializar, uma vez que estava em vigor um confinamento para travar a evolução da pandemia de covid-19. Na altura, os britânicos só podiam encontrar-se, no local público ao ar livre, com uma pessoa fora do seu agregado familiar e a dois metros de distância.

Agora o canal de televisão “ITV News” divulgou o predito e-mail com o convite para a festa que confirma a organização por parte da residência oficial do Primeiro-Ministro. Martin Reynolds, um dos principais assessores de Johnson, convidou cerca de 100 colegas de Downing Street. E o convite referia:

“Depois dum período incrivelmente ocupado, pensamos que seria bom aproveitar ao máximo este clima agradável e beber socialmente com distanciamento no jardim (…) Por favor, junte-se a nós a partir das 18 horas e traga a sua bebida.”.

Por isso, em comunicado divulgado no passado dia 10, a polícia de Londres admite uma investigação sobre possíveis violações ao confinamento no referente à reunião realizada já em maio de 2020. Na verdade, como refere a polícia, “o Serviço de Polícia Metropolitana está ciente das amplas denúncias relacionadas com alegadas violações dos Regulamentos de Proteção à Saúde em Downing Street em 20 de maio de 2020 e está em contacto com o gabinete oficial”.

Entretanto, novas revelações surgem após as denúncias de festas de Natal na residência oficial do Primeiro-Ministro quando o país enfrentava várias restrições devido à covid-19. Johnson negou ter conhecimento da violação de regras em Downing Street durante a pandemia. Mas o e-mail agora revelado parece contradizer esta afirmação do Primeiro-Ministro ao referir-se a um evento social organizado pela residência oficial do Chefe do Governo. A “ITV News”, que acedeu ao e-mail, referiu que cerca de 40 funcionários estiveram na festa, assim como Boris Johnson e a mulher, Carrie.

Ed Argar, Secretário de Estado da Saúde, garantiu à “Sky News”, no dia 11, que Sue Gray, segunda secretária do Ministério do Equilíbrio Territorial, Habitação e Comunidades, “está a investigar este assunto de forma independente”. E declarou que não faria “comentários que prejudiquem ou interfiram” com a investigação interna que está a decorrer, embora possa “entender que as pessoas estejam chateadas e irritadas com estas alegações”.

Por seu turno, o Partido Trabalhista exige que Boris Johnson dê explicações no Parlamento sobre estas revelações, tendo Keir Starmer aproveitado a rede social Twitter para pedir ao Primeiro-Ministro que pare de mentir. A este respeito, apelou:

Boris Johnson, as suas manobras e distrações são absurdas. Não só sabia das festas em Downing Street, como também as frequentava. Pare de mentir ao povo britânico. Está na hora de finalmente ser honesto.”.

Neste dia 12, o Primeiro-Ministro admitiu ter participado numa festa com bebidas na residência oficial, em Downing Street, durante o primeiro confinamento imposto no âmbito da pandemia de Covid-19. E, por isso, pediu desculpa. Começou por dizer aos deputados no Parlamento:

Quero pedir desculpa. Sei que milhões de pessoas neste país fizeram enormes sacrifícios nos últimos 18 meses. Sei da angústia por que passaram, sem poder fazer o luto pelos seus familiares, sem poderem viver a vida como queriam ou fazer aquilo de que mais gostam. (…) Compreendo a raiva que sentem por mim e pelo Governo que lidero quando pensam que na própria residência oficial, Downing Street, as leis não se aplicam aos que as fazem.”.

Boris Johnson diz que o acontecimento trouxe aprendizagens: “Aprendi o suficiente para saber que há coisas que simplesmente não correram bem e que, por isso, tenho de assumir a responsabilidade”.

Entretanto, prossegue o inquérito ao que se passou em maio de 2020, altura em que o país estava confinado e as relações sociais altamente restringidas.

E a oposição britânica já pediu a demissão do Chefe do Governo. O líder da oposição, Keir Starmer, criticou a desculpa de Johnson, que alegou que não sabia que era uma festa que estava a acontecer. E, apontando “o patético espetáculo de um homem que ficou sem saída”, perguntou a Johnson se pretende demitir-se e sentenciou:

A festa acabou Primeiro-Ministro. A única questão é se será o povo britânico a expulsá-lo, o seu partido a expulsá-lo ou se ele fará o que é decente e se demite.”.

Bastam 54 cartas de deputados conservadores enviadas ao líder do Comité 1922, que agrupa todos os deputados conservadores que não têm cargos no Governo, para desencadear uma moção de censura que pode levar à demissão do líder do partido e à sua saída de Primeiro-Ministro.

Mas as críticas não vêm só da oposição: muitos Tories expressam a sua raiva. O líder dos conservadores escoceses, Douglas Ross, defendeu que Johnson deve demitir-se “se tiver violado a lei”. E, segundo uma sondagem da “Sky News”, dois terços dos eleitores querem a demissão do Primeiro-Ministro.

***

Uma lição que os políticos portugueses devem aprender, tal como a opinião pública. Quando os decisores não sintonizam com os sacrifícios que o povo faz por imposição (necessária) do poder político, agem em contrafé e mentem a quem devem responder com a verdade, nomeadamente ao Parlamento, não merecem defesa pública dos seus comparsas. Devem tirar as consequências dos seus atos, consequências políticas, e assumir eticamente as suas responsabilidades, mesmo que não haja matéria criminal.

Que acontece em Portugal em casos semelhantes? Continua-se no cargo e no poder, não?! Multiplicam-se desnecessariamente viagens, mesmo que não se realizem; dão-se moradas falsas para daí tirar proveito; usam-se materiais, dinheiros e funcionários do Estado e das autarquias para proveito próprio ou do partido; fazem-se leis por medida; selam-se contratos que lesam o Estado e favorecem privados; atropelam-se direitos de uns para zelar os interesses de outros; as grandes empresas e grupos de opinião capturam o poder político;… E que acontece? A burocracia, a falta de vontade e a por vezes provocada complexidade eclipsam as provas. Mais: em Portugal Parlamento e Governo fazem determinações que o cidadão comum cumpre, mas quem tem dinheiro ou poder de influência contesta em tribunal e é fácil o Parlamento e o Governo ficarem desautorizados em face do excesso de garantismo das liberdades e direitos…

Mas siga o enterro e coza o forno, que Deus é grande!

2022.01.12 – Louro de Carvalho  

Sem comentários:

Enviar um comentário