A 12 de
dezembro pp, foi notícia que, após um vídeo que mostra funcionários de Downing
Street a brincar com o facto de ter havido uma festa natalícia em 2020, quando
tais eventos estavam proibidos, veio para a ribalta uma fotografia em que se vê
o próprio Boris Johnson alegadamente a participar num jogo de Natal com dois
colegas no interior de uma sala, sem máscara, contrariando a proibição de tal
interação entre membros de diferentes agregados familiares em Londres. É o mais
recente escândalo que envolve o Primeiro-Ministro, que está em queda nas
sondagens, tal como o seu partido.
A este
respeito, Angela Rayner, a número dois do Partido Trabalhista, denunciou:
“Quando as normas diziam que as pessoas não podiam organizar festas de
Natal no trabalho e que os britânicos faziam o que tinha que ser feito, Boris
Johnson estava a presidir a uma cultura de desprezo das normas no coração do Governo”.
Também o
próprio líder trabalhista, Keir Starmer, considerou “muito séria” e “difícil de
entender” a revelação feita pelo “Sunday Mirror”, como é que a presença de Johnson
numa sala com assessores, um a usar uma fita de Natal ao pescoço, outro a usar
um chapéu de Pai Natal, mas sem estarem “em conformidade com as regras”.
Contudo,
Nadhim Zahawi, Ministro da Educação, defendeu o Primeiro-Ministro, declarando
à “Sky News “que o Chefe do Governo
só participou no “jogo virtual de perguntas e respostas durante 10 ou 15
minutos” sendo o objetivo arrecadar fundos para ações de caridade. Mas este não
é o único escândalo a atingir Boris
Johnson, que está sob suspeita de ter enganado o Parlamento ao negar ter
havido uma festa de Natal em Downing Street em 2020, tendo o vídeo em referência
já levado à demissão de Allegra Stratton, a então assessora de imprensa.
Johnson está
ainda em maus lençóis por causa das obras no seu apartamento em Downing Street,
alegadamente financiadas por um doador do Partido Conservador.
Assim, dois anos depois da vitória eleitoral que lhe deu confortável
maioria no Parlamento, uma sondagem Opinium para o “The Observer”, divulgada no dia 11 de dezembro, coloca o Labour 9
pontos percentuais à frente dos Tories. Além disso, 57% dos inquiridos defendem que Johnson
deve demitir-se, o que representa o aumento de 9 pontos percentuais em relação
à sondagem de duas semanas antes. A popularidade de Johnson caiu para os -35%,
uma queda de 14 pontos em relação ao recorde de -21% que alcançara no final de
novembro.
A 14 de dezembro, enfrentou uma rebelião entre os deputados conservadores
(os Tories) em relação às novas regras contra a covid-19, devido ao aumento do nível de alerta que induziu a
tomada de novas medidas para conter a variante Ómicron – incluindo testes
diários para os contactos suspeitos dos infetados que tenham a vacinação
completa e isolamento profilático de 10 dias para os que não estão. O plano
passou com o apoio do Labour (Partido Trabalhista). E, a 16 de dezembro, houve
eleições intercalares em North Shropshire, após a demissão do deputado
conservador devido a um escândalo, com os liberais-democratas à frente nas
sondagens. Isto, em
pano de fundo com o Primeiro-Ministro
a avisar, naquele dia 12, que “se aproxima uma forte onda” da doença com o
avanço da variante Ómicron, estabelecendo como meta administrar a terceira dose
da vacina a todos os maiores de 18 anos antes do final do ano.
A 11 de janeiro deste ano, soube-se que a polícia admite
investigar a festa em Downing Street, que ocorreu a 20 de maio de 2020. Com efeito,
além da festa em si, a divulgação de um e-mail sobre a realização duma festa em
Dowing Street, quando os britânicos estavam em confinamento, deixa Boris
Johnson debaixo de fogo mais uma vez. A polícia já veio admitir a investigação
à festa para que foram convidadas 100 pessoas e que contou com o chefe do
governo britânico.
Na susodita fotografia o Primeiro-Ministro surge a beber
vinho com a mulher e vários assessores nos jardins de Downing Street, quando
não era permitido aos britânicos socializar, uma vez que estava em vigor um
confinamento para travar a evolução da pandemia de covid-19. Na altura, os
britânicos só podiam encontrar-se, no local público ao ar livre, com uma pessoa
fora do seu agregado familiar e a dois metros de distância.
Agora o canal de televisão “ITV News” divulgou o predito e-mail com o convite para a festa que
confirma a organização por parte da residência oficial do Primeiro-Ministro.
Martin Reynolds, um dos principais assessores de Johnson, convidou cerca de 100
colegas de Downing Street. E o convite referia:
“Depois dum
período incrivelmente ocupado, pensamos que seria bom aproveitar ao máximo este
clima agradável e beber socialmente com distanciamento no jardim (…) Por favor,
junte-se a nós a partir das 18 horas e traga a sua bebida.”.
Por isso, em comunicado divulgado no passado dia 10, a
polícia de Londres admite uma investigação sobre possíveis violações ao
confinamento no referente à reunião realizada já em maio de 2020. Na verdade,
como refere a polícia, “o Serviço
de Polícia Metropolitana está ciente das amplas denúncias relacionadas com
alegadas violações dos Regulamentos de Proteção à Saúde em Downing Street em 20
de maio de 2020 e está
em contacto com o gabinete oficial”.
Entretanto, novas revelações surgem após as denúncias de
festas de Natal na residência oficial do Primeiro-Ministro quando o país
enfrentava várias restrições devido à covid-19. Johnson negou ter conhecimento
da violação de regras em Downing Street durante a pandemia. Mas o e-mail agora revelado
parece contradizer esta afirmação do Primeiro-Ministro ao referir-se a um
evento social organizado pela residência oficial do Chefe do Governo. A “ITV
News”, que acedeu ao e-mail, referiu que cerca de 40 funcionários estiveram na
festa, assim como Boris Johnson e a mulher, Carrie.
Ed Argar, Secretário
de Estado da Saúde, garantiu à “Sky News”, no dia 11, que Sue
Gray, segunda secretária do Ministério do Equilíbrio Territorial, Habitação e
Comunidades, “está a investigar este assunto de forma independente”. E declarou
que não faria “comentários que prejudiquem ou interfiram” com a
investigação interna que está a decorrer, embora possa “entender que as pessoas
estejam chateadas e irritadas com estas alegações”.
Por seu turno, o Partido Trabalhista exige que Boris
Johnson dê explicações no Parlamento sobre estas revelações, tendo Keir Starmer
aproveitado a rede social Twitter para pedir ao Primeiro-Ministro que pare de
mentir. A este respeito, apelou:
“Boris Johnson,
as suas manobras e distrações são absurdas. Não só sabia das festas em Downing
Street, como também as frequentava. Pare de mentir ao povo britânico. Está na hora
de finalmente ser honesto.”.
Neste dia 12, o Primeiro-Ministro admitiu
ter participado numa festa com bebidas na residência oficial, em Downing
Street, durante o primeiro confinamento imposto no âmbito da pandemia de
Covid-19. E, por isso, pediu desculpa. Começou por dizer aos deputados no
Parlamento:
“Quero pedir desculpa. Sei que milhões de
pessoas neste país fizeram enormes sacrifícios nos últimos 18 meses. Sei da
angústia por que passaram, sem poder fazer o luto pelos seus familiares, sem
poderem viver a vida como queriam ou fazer aquilo de que mais gostam. (…) Compreendo a raiva que sentem por mim e
pelo Governo que lidero quando pensam que na própria residência oficial,
Downing Street, as leis não se aplicam aos que as fazem.”.
Boris
Johnson diz que o acontecimento trouxe aprendizagens: “Aprendi o suficiente para saber que há coisas que simplesmente não
correram bem e que, por isso, tenho de assumir a responsabilidade”.
Entretanto,
prossegue o inquérito ao que se passou em maio de 2020, altura em que o país
estava confinado e as relações sociais altamente restringidas.
E a oposição
britânica já pediu a demissão do Chefe do Governo. O líder da
oposição, Keir Starmer, criticou a desculpa de Johnson, que alegou que não
sabia que era uma festa que estava a acontecer. E, apontando “o patético
espetáculo de um homem que ficou sem saída”, perguntou a Johnson se pretende
demitir-se e sentenciou:
“A festa acabou Primeiro-Ministro. A única
questão é se será o povo britânico a expulsá-lo, o seu partido a expulsá-lo ou
se ele fará o que é decente e se demite.”.
Bastam 54 cartas de deputados conservadores enviadas ao
líder do Comité 1922, que agrupa todos os deputados conservadores que não têm
cargos no Governo, para desencadear uma moção de censura que pode levar à
demissão do líder do partido e à sua saída de Primeiro-Ministro.
Mas as críticas não vêm só da oposição: muitos Tories
expressam a sua raiva. O líder dos conservadores escoceses, Douglas Ross,
defendeu que Johnson deve demitir-se “se tiver violado a lei”. E, segundo uma
sondagem da “Sky News”, dois terços
dos eleitores querem a demissão do Primeiro-Ministro.
***
Uma lição que os políticos portugueses devem aprender,
tal como a opinião pública. Quando os decisores não sintonizam com os
sacrifícios que o povo faz por imposição (necessária) do poder
político, agem em contrafé e mentem a quem devem responder com a verdade,
nomeadamente ao Parlamento, não merecem defesa pública dos seus comparsas.
Devem tirar as consequências dos seus atos, consequências políticas, e assumir
eticamente as suas responsabilidades, mesmo que não haja matéria criminal.
Que acontece em Portugal em casos semelhantes?
Continua-se no cargo e no poder, não?! Multiplicam-se desnecessariamente
viagens, mesmo que não se realizem; dão-se moradas falsas para daí tirar
proveito; usam-se materiais, dinheiros e funcionários do Estado e das
autarquias para proveito próprio ou do partido; fazem-se leis por medida;
selam-se contratos que lesam o Estado e favorecem privados; atropelam-se
direitos de uns para zelar os interesses de outros; as grandes empresas e grupos
de opinião capturam o poder político;… E que acontece? A burocracia, a falta de
vontade e a por vezes provocada complexidade eclipsam as provas. Mais: em
Portugal Parlamento e Governo fazem determinações que o cidadão comum cumpre,
mas quem tem dinheiro ou poder de influência contesta em tribunal e é fácil o
Parlamento e o Governo ficarem desautorizados em face do excesso de garantismo
das liberdades e direitos…
Mas siga o enterro e coza o forno, que Deus é grande!
2022.01.12 – Louro de
Carvalho
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