sábado, 22 de janeiro de 2022

Ministérios de Leitorado e de Catequista já confiados a leigos e leigas

 A 23 de janeiro de 2022, será celebrado o III Domingo da Palavra de Deus. A celebração a que o Papa vai presidir na Basílica de São Pedro, com início às 9,30 horas, conta com a instituição, pela primeira vez, de leigos e leigas nos ministérios de Leitor e de Catequista, na sequência da publicação da Carta Apostólica “Antiquum Ministerium”, de 10 de maio de 2021, bem como da publicação, na mesma data, do Motu Proprio “Spiritus Domini”, que modifica o Cânone 230 §1 do Código de Direito Canónico permitindo às pessoas do sexo feminino o acesso aos Ministérios instituídos de Leitor e de Acólito.  

Cada um desses dois ministérios a conferir a 23 de janeiro, seguirá um rito preparado pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, tendo o do Ministério de Catequista sido apresentado pela primeira vez, na edição típica latina, no passado dia 14 de dezembro de 2021 e cujo texto em italiano foi aprovado ad experimentum por Francisco apenas para a celebração deste dia (Já o rito do leitorado é decalcado do constante do cerimonial dos Bispos).

Os candidatos serão convocados antes das respetivas homilias, chamados pelo nome e apresentados à Igreja. Após a respetiva homilia, há um convite à oração, um momento de silêncio e a oração de bênção, após a qual os e as que acederem ao ministério do Leitorado receberão a Bíblia, a Palavra de Deus que são chamados a anunciar, e aos catequistas será entregue uma cruz, reprodução da cruz pastoral usada primeiro por São Paulo VI e, mais tarde, por São João Paulo II, para recordar o caráter missionário do serviço que se preparam para administrar. 

Representando o Povo de Deus, receberão o ministério do Leitor, alguns fiéis leigos provenientes da Coreia do Sul, Paquistão, Gana e de várias partes da Itália.

Para receber o ministério de catequista, estarão presentes dois leigos provenientes do Vicariato Apostólico de Yurimaguas (Peru), na Amazónia; dois fiéis do Brasil já envolvidos na formação de catequistas; uma mulher proveniente de Kumasi, Gana; o presidente do Centro de Oratórios Romanos, fundado pelo catequista Arnaldo Canepa – que dedicou mais de 40 anos da sua vida à fundação e direção de Oratórios para jovens, o primeiro dos quais em 1945 – e um leigo e uma leiga de Łódź e Madrid, respetivamente.

Por dificuldades de deslocação provocadas pelas restrições sanitárias atualmente em vigor, não será possível a presença dos dois fiéis da República Democrática do Congo e de Uganda.

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Em carta enviada às Conferências Episcopais, com a publicação do rito, em Editio Typica, da Instituição do Ministério de Catequista, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos salienta que “esta instituição oferece uma nova oportunidade para refletir sobre a teologia dos ministérios a fim de chegar a uma visão orgânica das distintas realidades ministeriais” e lembra que o texto publicado introduz um rito específico de Instituição dos Catequistas e “pode ser traduzido e adaptado pelas várias Conferências Episcopais de todo o mundo”. Assim, “a presente edição tem com tarefa a de clarificar o perfil e o papel dos Catequistas, de lhes oferecer adequados programas de formação, de formar as próprias comunidades para que entendam o seu serviço”.

Lembra-se que o ministério de Catequista é “destinado aos leigos” e deve constituir-se como “serviço estável prestado à Igreja local”, apresentado como “distinto do ministério ordenado”. Por isso, Dom Arthur Roche, arcebispo responsável pelo organismo romano, frisa que o ministério pode apresentar uma “grande variedade de formas”, e enumera duas “tipologias principais”: “catequistas com a tarefa específica da catequese; e outros que participam nas várias formas de apostolado, como guia da oração comunitária, assistência aos doentes, celebração de funerais, formação de outros catequistas, coordenação de iniciativas pastorais, ajuda aos pobres”.

Para o prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, o ministério de Catequista apresenta “forte valor vocacional”, que requer “o devido discernimento por parte do bispo”, pelo que lembra que nem todos “os chamados a ser catequistas devem ser instituídos”.

A carta indica que candidatos ao diaconado e ao sacerdócio, religiosas e religiosos, professores do ensino religioso nas escolas e aqueles que têm um “serviço destinado exclusivamente aos membros de um movimento eclesial” não devem ser instituídos catequistas.

O texto especifica que é tarefa de cada Conferência Episcopal esclarecer o perfil, o papel e as formas mais coerentes para o exercício do ministério de Catequista e considera ser “absolutamente conveniente” que todos recebam, no início de cada ano catequético, um mandato eclesial público no qual lhes é confiada essa indispensável função.

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Aos leitores recorda-se ex professo que o Pai revelou e realizou o mistério da salvação pelo Filho Jesus Cristo, feito homem, que, tendo-nos revelado todas as coisas, confiou à Igreja a missão de anunciar o Evangelho a todos os povos.

Como leitores que proclamam a Palavra, prestarão grande ajuda nesta missão, para o que receberão, no povo de Deus, um ofício particular e serão designados para servir a fé, que tem a raiz na Palavra de Deus. Lerão a Palavra de Deus na assembleia litúrgica, educarão na fé as crianças e os adultos, prepará-los-ão para receberem dignamente os Sacramentos e anunciarão a Boa Nova da salvação aos homens que ainda a não conhecem. Assim, os homens poderão chegar ao conhecimento de Deus Pai e do Filho Jesus Cristo, por Ele enviado, e alcançar a vida eterna. Porém, ao anunciarem aos outros a Palavra de Deus, os leitores devem também recebê-la em docilidade ao Espírito Santo e meditá-la atentamente para adquirirem cada vez mais o suave e vivo amor da Sagrada Escritura e com a vida revelarem o Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo.

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Já aos catequistas é dito que o Senhor Jesus Cristo, antes de voltar para o Pai, enviou os seus discípulos a pregar o Evangelho até aos confins da terra. Desde o dia de Pentecostes a Igreja, animada pelo Espírito Santo, permanece fiel a este envio em cada tempo e lugar, transmitindo a fé através da palavra e do exemplo de inumeráveis testemunhas. E o Espírito Santo continua a enriquecer a Igreja com os seus dons em prol do bem comum.

Todos os batizados, enquanto participantes da missão de Cristo sacerdote, profeta e rei, têm parte ativa na vida e ação da Igreja. Porém, entre eles, alguns recebem uma particular vocação para o exercício daqueles ministérios que a Igreja instituiu.     

Ora, estas pessoas que já trabalham ativamente para a comunidade cristã são chamadas ao ministério estável de catequista para viverem mais intensamente o espírito apostólico a exemplo dos homens e mulheres que ajudavam Paulo e os outros apóstolos na difusão do Evangelho.

Este ministério deve sempre ser radicado numa profunda vida de oração e animado por verdadeiro entusiamo apostólico. E os instituídos no ministério de Catequista aproximarão da Igreja os homens que vivem dela afastados; cooperarão com generosa dedicação na comunicação da Palavra de Deus; e cultivarão constantemente o sentido da Igreja local de que a paróquia é uma espécie de célula. Em suma, testemunhas da fé, mestres e mistagogos, guias e pedagogos, que instruem em nome da Igreja, serão chamados a colaborar com os ministros ordenados nas diversas formas de apostolado, corresponsáveis na missão confiada por Cristo à Igreja, sempre prontos a responder a quem quer que os questione sobre a razão da esperança que está neles.

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A propósito do Domingo da Palavra de Deus, Dom Rino Fisichella, presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização, comentou alguns pormenores da Missa que o Papa celebrará no próximo domingo, sublinhando que estarão presentes duas pessoas provenientes da Amazónia para receberem o ministério de Catequista – um modo de dar sequência ao Sínodo sobre a Amazónia, que pediu o incremento a obra de evangelização naquela terra.

Ao falar da celebração litúrgica, o prelado assinalou que Francisco instituirá cerca de 15 pessoas nos ministérios de Leitor e de Catequista, precisando que “são jovens, homens e mulheres da Coreia, Polónia, Itália, Espanha, África, enfim, o mundo inteiro que estará representado. Contudo, para Dom Rino Fisichella, “é sobretudo a Igreja que mais uma vez recebe o sinal de que a Palavra de Deus é uma semente que deve ser levada para todo o mundo”.

A responsabilidade dos fiéis é precisamente a dimensão central do dia, que foi criado para difundir a consciência sobre as Sagradas Escrituras, ou seja, é preciso “tornar os fiéis responsáveis pelo processo da transmissão viva da Palavra de Deus”, como diz o prelado, que olha em particular para as famílias e as crianças, explicitando:

Tornamo-nos responsáveis na medida em que conseguimos fazer as pessoas entenderem que a Palavra de Deus toca as nossas vidas e na medida em que conseguimos colocar a Sagrada Escritura nas mãos dos nossos jovens e famílias, acompanhada também pela reflexão que a Igreja sempre fez sobre o assunto, conseguindo transmiti-la até nós”.

Sobre a Palavra como depósito da nossa fé, Dom Fisichella identifica a preocupação dos cristãos de hoje. E ao fazer isso cita São Jerónimo, que disse que “ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo”. Com efeito, “a proclamação da Palavra de Deus, o aprofundamento, a formação dos fiéis são mais urgentes do que nunca neste momento da história”, sendo esta a razão do livro que o Papa dará no final da celebração e das ajudas disponibilizadas pelo Dicastério do Vaticano a que preside Fisichella. Trata-se de instrumentos que acompanharão as comunidades para viverem a festa do domingo, um sinal – observa Dom Fisichella – para nos lembrar que a Palavra de Deus é escrita, mas também transmitida, pensada, repensada e rezada, constituindo o vivo “depósito da nossa fé”. É um processo que pode ser traduzido em um projeto formativo concreto que o prelado resume num princípio antigo: o da “Página Sagrada”, ou melhor, da leitura da Palavra eclesial feita em comunhão com a experiência viva da Igreja.

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Nada melhor em termos eclesiais que marcar um Domingo da Palavra de Deus com a instituição nos ministérios de Leitor e de Catequista a pessoas de diversos cantos do Orbe. Laudetur Deus!

2022.01.22 – Louro de Carvalho

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