Os partidos
usam, tanto os debates televisivos e radiofónicos como as redes sociais, para
fazerem campanha eleitoral. Não obstante, mais visível que a apresentação de
propostas programáticas e pragmática que os distinguem ou aproximam, o que
ressalta é a desqualificação dos adversários e os remoques sobre o passado.
Em campanha
condicionada pela pandemia da covid-19, as forças políticas que tentam eleger
deputados para a Assembleia da República (AR) no próximo dia 30, além dos debates televisivos e radiofónicos entre pares
de líderes partidários supostamente divergentes e debates com todos os líderes
dos partidos atualmente com assento parlamentar, intensificam a sua presença
nas redes sociais: Facebook, Instagram, passando algumas pelo Linkedln,
WhatsApp, Telegram, TikTok, com destaque para o Twitter, onde a atividade de
partidos e dirigentes é intensa.
Sob o lema
“Juntos Seguimos e Conseguimos”, o PS nas redes sociais centra-se na figura de
Costa e no objetivo da maioria absoluta: desde vídeos explicativos com o
secretário-geral a destaque de frases dos debates ou imagens com propostas
programáticas. E o ‘site’ oficial de campanha “António Costa 2022” disponibiliza
o programa eleitoral completo e faz o balanço da governação de 2015 a 2021, podendo-se
consultar, por áreas, medidas do Governo nos últimos 6 anos.
Por seu
turno, o PSD, sob o mote “Novos Horizontes para Portugal”, divulga nas redes a
agenda de Rio, trechos de debates, destacando declarações do líder em ações de
campanha. E criaram os socialdemocratas um ‘quiz’ para os indecisos com o
título “Escolhe o teu primeiro-ministro”, no qual o utilizador responde a questões
para saber se a sua escolha é Rio ou Costa. As questões vão desde “onde
preferias gastar quatro milhões de euros?” às opções “TAP” ou “SNS”, bem como
outras mais provocadoras do tipo “contratavas mais médicos de família ou mais ministros
da mesma família?”. E, no Youtube, tem a rubrica “As Histórias Socialistas”,
protagonizada pelo cabeça de lista por Portalegre, que, em caricatura, conta histórias
sobre a governação do PS.
Sob o lema “Razões
fortes, compromissos claros”, o BE, recorre às redes sociais para publicar as medidas
explicadas por área ou partilhar intervenções da coordenadora. E fez um “Fact
Check” a alguns debates, nomeadamente com Rio, Costa ou André Ventura e está
presente no TikTok, para vídeos curtos, no qual partilha conteúdos com algum
humor. Já a CDU (que junta PCP e PEV) tem no Instagram rubricas, como “Mitos e Mentiras” e “Faz uma pergunta ao
teu candidato”, em que vários dirigentes respondem a perguntas dos
utilizadores. Nas redes sociais destacam-se frases do secretário-geral e mais
recentemente dos dirigentes João Oliveira e João Ferreira, que substituem o
líder durante a recuperação duma operação urgente.
O PAN quer
“Agir, Já!”, investindo, em redes como o Instagram, na divulgação das datas dos
debates, intervenções de Inês Real e a rubrica “As principais conquistas do
PAN”, desde que conseguiu eleger para a AR. O programa eleitoral está no ‘site’,
disponível em versão “mini” para ler em 5 minutos. Já o CDS-PP, liderado por
Francisco Rodrigues dos Santos, apresenta-se a estas eleições “Pelas Mesmas
Razões de Sempre” e, depois dos vídeos com humor de Natal e Ano Novo, aposta na
divulgação de entrevistas, debates, intervenções do líder e tem disponível no
‘site’ o compromisso eleitoral. O Chega partilha intervenções de Ventura e propostas
do programa, bem como uma aplicação que pode ser descarregada para o telemóvel,
que agrega informação sobre o partido como notícias, atividades, eventos ou
conteúdos multimédia. A Iniciativa Liberal, muito ativa nas redes sociais,
utiliza o Instagram ou Twitter para partilhar trechos de entrevistas e debates
com o presidente, Cotrim de Figueiredo, por vezes ilustrados com músicas em tom
humorístico, algo que também é feito no TikTok. Tem conta em quase todas as
redes sociais, em que partilha o seu programa, também disponível no ‘site’ do
partido em versão de sumário ou completo. E o Livre, sob o lema “Bota Acima,
não Abaixo” está presente no Instagram, Twitter ou TikTok, com vídeos
explicativos de propostas do partido, como a do Rendimento Básico
Incondicional, ou respostas a perguntas de utilizadores.
***
Costa,
não cedendo um milímetro a Rui Rio, mantém-se favorito na luta pela liderança
do próximo governo. Os portugueses continuam a considerá-lo o mais competente,
solidário, influente e, agora, o mais honesto, de acordo com sondagem da
Aximage para o DN, JN e TSF,
segundo a qual seria melhor primeiro-ministro (49%) que o seu rival (24%). Tem potencial de voto (soma
dos que votariam de certeza e dos que poderiam votar) de 70 pontos percentuais, mais 14
do que Rio. Abaixo deste alguns degraus, mas destacada do resto do pelotão, vem
Catarina Martins.
O
trabalho de campo da sondagem decorreu de 6 a 12 de janeiro, não refletindo,
assim, o debate televisivo do dia 13 entre os dois principais candidatos a
primeiro-ministro. O que a primeira parte do inquérito desvenda é o mercado
eleitoral a que cada candidato pode aspirar (potencial de voto) e o que lhe está vedado (taxa
de rejeição), incluindo
as preferências dos abstencionistas e indecisos. Costa e Rio são os únicos
líderes que têm potencial de voto superior à taxa de rejeição, isto é, são quem
revela maior margem de progressão para as próximas semanas de campanha
eleitoral, a suficiente para qualquer um ter legítima aspiração à vitória. Mas
as semelhanças ficam por aqui.
O
líder do PS supera o do PSD no potencial de voto e revela vantagem ainda maior
na firmeza de voto: mais 16 pontos. Nesta categoria, Rio pouco se distingue dos
líderes dos partidos mais pequenos (tem só 3 pontos de
vantagem sobre Ventura e 4 sobre Catarina Martins e Jerónimo de Sousa). Acresce que o mercado eleitoral
que ora fechado para o socialdemocrata é superior em 9 pontos ao do socialista (35%
nunca votariam no presidente do PSD, contra 26% que rejeitam o secretário-geral
do PS).
No
respeitante à taxa de rejeição, é Ventura que vai no fim: 67% dos portugueses
afirmam que nunca votariam nele. Não muito longe estão Jerónimo de Sousa (62%) e Rodrigues dos Santos, (61%). Ao invés, pela positiva,
destaca-se Catarina Martins (com 38% de potencial de voto), 8 pontos acima do comunista (30%) ou Cotrim de Figueiredo (29%) e Inês Sousa Real (27%).
Porém,
faltavam três semanas para as eleições quando a sondagem começou a ser
realizada. Nada é dado como adquirido, mas há outros sinais de que Rio não estava
a desalojar Costa da liderança da corrida. A Aximage voltou a pedir aos
portugueses que avaliassem uma série de atributos pessoais e o resultado é
quase igual ao de dezembro passado.
O
socialista leva 31 pontos percentuais de vantagem na competência, 27 na
solidariedade ou proximidade às pessoas, 67 na influência e até ultrapassa o
socialdemocrata na honestidade, quando, há um mês, Rio liderava por um ponto (agora
perde por dois),
embora se repita a resistência dos eleitores a catalogar um político como
honesto: metade recusa opinar (dado comum a outros políticos e
outras eleições). A pari, a confirmar a tendência,
repete-se Costa no topo: é o candidato em quem os portugueses mais confiam para
primeiro-ministro (com a vantagem de 26 pontos sobre Rio) e o que, para os inquiridos,
daria um melhor chefe de Governo (um pouco mais do dobro
dos votos de Rio).
O
líder do PS repete que a confiança nos parceiros se perdeu. E, até ver, a
afirmação não fez ricochete: Costa continua a seduzir os portugueses que, em
2019, votaram nos partidos à sua esquerda, com potencial de voto acima dos 80
pontos percentuais entre os eleitores do BE, CDU e Livre. Em termos
geográficos, sobressai a região Sul (82% de potencial de
voto) e Lisboa, por
via dos sólidos 35% na firmeza de voto, valor superado só nos eleitores com 65
ou mais anos (43%),
sendo os seus piores resultados na AMP (Área Metropolitana do
Porto – (31% de taxa de rejeição).
E mantém maior popularidade no eleitorado feminino. Em contrapartida, é na AMP (65%) e no Norte (64%) que Rio regista maior potencial
de voto, com a região urbana a ganhar vantagem se nos ativermos à firmeza de
voto (14%,
a mais elevada nos segmentos geográficos).
Tem maior potencial nos homens que nas mulheres e maior taxa de rejeição no
feminino. E, em diferentes faixas etárias, tem resultados mais prometedores
entre os mais jovens e os mais velhos (59% em ambos os casos). Porém, a firmeza de voto cresce
linearmente à medida que o eleitorado envelhece. Ao contrário de Costa, que não
merece tanta indulgência entre quem votou no PSD em 2019, Rio tem mais
potencial (51%)
que rejeição de voto (49%) em antigos eleitores socialistas.
A
líder bloquista regista potencial de voto superior à taxa de rejeição em dois segmentos:
entre os do Sul do país (46%) e entre os mais jovens (46%). Os piores resultados são a
Norte (taxa
de rejeição de 60%)
e nos eleitores com 65 ou mais anos (72%). O potencial de voto decresce à
medida que o eleitor envelhece, registando-se o sentido inverso na taxa de
rejeição. Tem mais popularidade em mulheres que em homens. Jerónimo de
Sousa retirou-se da campanha eleitoral, devido a intervenção cirúrgica
de urgência, cujos efeitos não entram nas contas da sondagem, havendo um
segmento em que o potencial de voto é superior à taxa de rejeição: nos
eleitores da CDU de 2019 (83%). E, no atinente às escolhas partidárias, quase um
terço dos que votaram no PS (31%) admitem que poderiam votar no comunista, não
partilhando da desconfiança apregoada por Costa. Os melhores resultados
registam-se na AMP (39% de potencial de voto) e entre os mais jovens (40%). Os piores na região Centro (72%
de rejeição de voto)
e entre os eleitores mais velhos (76%).
Cotrim de Figueiredo morde os calcanhares do
secretário-geral comunista no potencial de voto: soma 29% (um
ponto menos que Jerónimo),
mas com taxa de rejeição (53%) inferior à do líder do PCP (62%), o que se explica por falta de
notoriedade: 18% dizem não o conhecer. Cotrim de Figueiredo só tem potencial de
voto (38%) superior à taxa de rejeição (37%) nos eleitores dos 18 aos 34 anos,
diminuindo o potencial à medida que o eleitor envelhece e crescendo rejeição de
voto para chegar aos 76% nos que têm 65 ou mais anos. O desequilíbrio de género
em favor dos homens explica-se parcialmente pelo maior desconhecimento
feminino.
Inês Real consegue, como o liberal que a precede, um saldo
positivo entre os eleitores mais jovens (38% de potencial e 35%
de rejeição), uma
popularidade mais evidente entre os mais novos, tendo como espelho taxa de
rejeição elevada entre os mais velhos (82% nunca votaria em
Inês Real). Tendo um
pendor mais feminino, consegue o melhor resultado regional na AMP (36%
de potencial) e o
pior no Norte (65% de rejeição). Só atrai o eleitorado do partido (96%) e consegue 29% de potencial de
voto entre os eleitores socialistas e liberais de 2019.
O
líder centrista é o único líder na corrida eleitoral que não é capaz de saldo
positivo em nenhum dos segmentos da amostra. Não está a conseguir convencer nem
sequer os que votaram no partido em 2019: 56% de rejeição de voto e apenas 44%
de potencial de voto. Apesar de tudo, consegue gerar simpatia entre os
eleitores dos restantes partidos à direita, com potencial a rondar os 40 pontos
percentuais. Em termos regionais, o resultado mais prometedor está no Porto (38%
de potencial) e o
pior em Lisboa (64% de rejeição). E melhora o potencial quanto mais jovem o
eleitorado e aprofunda a taxa de rejeição à medida que o eleitor envelhece (86%
nos de 65 ou mais anos).
André Ventura, que adotou a postura beligerante ao longo dos
debates, destaca-se dos restantes pela taxa de rejeição: 67% nunca votaria nele,
com destaque para as mulheres (mais 7 pontos percentuais que os
homens) e os
eleitores com 65 ou mais anos (88%). O Centro destaca-se pelo potencial de voto (31%), mas também pelo facto de a
firmeza de voto chegar aos 14% nesta região (com a exceção de Costa
só Rio iguala este valor, mas na AMP).
Os homens e os dois escalões mais jovens são os segmentos mais favoráveis a
Ventura, bem como, ao nível partidário.
Rui Tavares, fundador do Livre, é o que parte em pior posição,
entre os 9 principais candidatos. Tem o potencial de voto mais baixo (20%) e parcela grande do mercado
eleitoral fechada por via da rejeição (53%) e desconhecimento dos eleitores (25%), apesar da participação em 8
debates. Tem o potencial mais elevado nos jovens (26%) e a rejeição mais elevada nos
mais velhos (71%).
A mais prometedora é a região do Porto (27%); e o resto do Norte apresenta a
maior rejeição (63%).
***
Entretanto,
o debate televisivo entre Costa e Rio parece ter posto equilíbrio entre as
propostas oferecidas pelas formações partidárias que os dois contendores, pelo
menos aparentemente, representam. Na verdade, Rio foi mais provocador, claro
nalgumas opções, quiçá um tanto irrealista ou demasiado confiado em que as
coisas corram bem, caso contrário arrisca-se a não concretizar as medidas que
enunciou, e apostado no papel do setor privado, sem desprimor para o setor
público; e Costa manteve-se no acento da evolução na continuidade, sublinhando
as virtualidades do seu consulado e prometendo rendibilizar os aspetos ditos
positivos e audazes da sua governação, corrigir o que esteve mal, lançar com
sustentabilidade as reformas que se impõem pelo advento e persistência da
pandemia, reforçar o papel do setor público, embora sem desprimor para o setor
privado, mormente para o setores social e solidário. A educação foi tema
ausente do debate. Vá lá que Rio não se ensarilhou como no cado da prisão
perpétua com André Ventura!
***
Ora,
se António Costa está realmente convicto de que o seu programa é o melhor, se
os partidos à sua esquerda e à sua direita constituem um perigo para o país – a
última sondagem realizada pelas mesmas entidades acima referidas acentua a vantagem
do PS sobre o PSD a do Chega sobre o BE – deve confiar mais nos portugueses,
como diz confiar sabendo que eles é que devem dizer como querem ser governados.
Sem fazer juízos muito audazes sobre o debate entre ele e Rio, pergunto-me
porque usou aquele gesto estapafúrdio e piroso de, à despedida do ecrã, nos
acenar com o chumbado OE 2022, como fizera em momento anterior, como se fora um
logótipo como por exemplo o do “The Voice Portugal”? Quererá que os eleitores consagrem,
sem retoques, o documento que os parlamentares rejeitaram por maioria?
Efetivamente,
prometer que, se o PS for Governo, logo que passe o Programa do Governo na AR,
apresentará para aprovação a proposta de OE 2022 que foi rejeitada significa
que ou consegue maioria absoluta, sozinho ou com o PAN e o Livre, ou se sujeita
a nova dissolução da AR passados seis meses. Entretanto, diz que falará com
todos. Para quê?
De
gestos pirosos não tem necessidade o eleitorado nem o país.
2022.01.15 – Louro de Carvalho
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