domingo, 21 de fevereiro de 2021

Santuário de Fátima celebrou a festa dos santos pastorinhos

 

Foi este o primeiro ano em que o Santuário de Fátima celebrou a festa litúrgica (20 de fevereiro) dos santos pastorinhos Francisco e Jacinta (beatificados no Santuário, a 13 de maio de 2000 por São João Paulo II, e canonizados a 13 de maio de 2017 por Francisco) sem a presença física dos peregrinos, mas acompanhada por milhares de peregrinos em todo o mundo através dos meios digitais. E fê-lo com celebrações e com a exibição, nas redes sociais, do documentário “Santos Vizinhos – duas crianças que se fizeram candeias da humanidade a partir de Fátima”.

Com efeito, dada a impossibilidade da participação presencial por parte dos peregrinos, devido às restrições impostas pela pandemia, o Santuário destacou a preparação deste dia festivo com a presença de “alguns sinais concretos” transmitidos nas redes sociais.

Na Capelinha das Aparições, foram colocadas “as duas esculturas dos santos”, o que permitiu a sensibilização visual de quem acede ao Streaming da Capelinha”, e na Basílica do Rosário, foram colocados “os ícones dos santos Francisco e Jacinta”.

A 19 de fevereiro realizou-se, às 21,30 horas, celebrou-se a vigília na Basílica de Nossa Senhora do Rosário com a oração do terço e a veneração dos túmulos onde se encontram as principais relíquias dos dois primeiros santos de Fátima: São Francisco Marto e Santa Jacinta Marto.

Num espaço especialmente cuidado e iluminado por velas, símbolo da luz de Fátima, o Padre Carlos Cabecinhas, Reitor do Santuário, que presidiu à celebração, lembrou as “duas candeias que Deus acendeu” e que são para a humanidade inteira um exemplo de entrega a Deus.

A sua luz brota de Deus; sigamos o seu exemplo e acendamos a vela da nossa vida de olhos postos nos santos Francisco e Jacinta Marto” – afirmou o Reitor interpelando: “Diante das suas relíquias sigamos o Cordeiro que é o nosso Pastor”.

No dia 20, festa litúrgica dos santos Francisco e Jacinta, os canais digitais do Santuário – Youtube e Facebook – transmitiram o terço às 10 horas, a missa às 11 horas sob a presidência do Cardeal Dom António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, e um documentário sobre Francisco e Jacinta Marto, às 14 horas, transmitido também nas redes sociais da agência Ecclesia.

O documentário Santos Vizinhos duas crianças que se fizeram candeias da humanidade a partir de Fátimaé uma produção do Santuário de Fátima que conta a história de vida dos dois primeiros santos de Fátima a partir do olhar de historiadores, teólogos e religiosas, integrando testemunhos da ex-postuladora da Causa de Canonização, irmã Ângela Coelho, e da religiosa carmelita que pediu a intercessão dos santos na cura do pequeno Lucas, do próprio miraculado e da sua família.

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Da homilia do Cardeal Dom António Marto destaca-se a asserção de que “a cultura da compaixão é o antídoto à cultura da indiferença de quem desvia o olhar dos irmãos feridos à beira do caminho”.

O prelado do Lis, falando  da proximidade, da compaixão e da ternura dos Pastorinhos de Fátima como o exemplo para resistir à pandemia e vencer o medo, começou por dizer que “vivemos um tempo difícil para todos, um tempo de crise a vários níveis, pela crise sanitária, económica, social, ecológica, cultural e também a crise de relações humanas, talvez a mais grave”. E advertiu que em momentos de crise “é muito fácil cair no desespero”. Porém, tendo em conta que “os nossos queridos Pastorinhos são estrelas em que resplandecem a proximidade, a compaixão e a ternura como estilo da relação de Deus connosco e que devem tornar-se estilo do nosso cuidado recíproco, de uns pelos outros”, estamos seguros de que “resistiremos à pandemia e venceremos o medo, a insegurança, a solidão, o desânimo e o sofrimento nos seus aspetos negativos”.

Numa celebração transmitida nas redes sociais a partir da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima e participada por milhares de peregrinos em todo o mundo, o purpurado, declarou que “não se pode viver ignorando o outro porque estamos todos na mesma barca, todos interdependentes”, e frisou que  esta  foi a mensagem que Nossa Senhora deixou em Fátima, numa altura em que também o mundo atravessava uma crise pandémica – a pneumónica –, e uma guerra mundial.

Por outro lado, salientou que “o cuidado de Deus pelo mundo” nos é “testemunhado pelos santos Pastorinhos e deve inspirar o nosso”, podendo nós identificá-lo em três palavras muito usadas pelo Papa Francisco para caraterizar o estilo de Deus manifestado em Jesus: proximidade, compaixão e ternura”.

Observou que o Evangelho da festa (Mt 18, 1-5.10), “um ícone expressivo da proximidade de Deus aos homens”, mostra como “Deus ama e cuida de todos os seus filhos, fazendo-se próximo, especialmente dos mais pequenos, isto é, dos mais frágeis, pobres, humildes, indefesos”.

Referiu que, nos diálogos com Nossa Senhora e na sua mensagem, “os pastorinhos fizeram a experiência gozosa desta proximidade de Deus até àquela intimidade intensa” e que, nesta experiência, se davam conta de que “a proximidade do amor de Deus se destinava a todos os homens, que não está à distância, longe e indiferente, mas é um Deus que se faz próximo e se deixa aproximar por todos, mesmo os afastados e pecadores e não exclui ninguém da sua misericórdia”. Assim, como concluiu, todos se podem aproximar d’Ele com confiança, Sem medo”, pois, na mensagem de Nossa Senhora em Fátima, “Deus não é indiferente à dor humana, é um Deus compassivo”.  

Considerando que os Pastorinhos “apreenderam um verdadeiro amor de ‘com-paixão’ como participação na dor de Deus pelo sofrimento da Igreja perseguida e pelos terríveis sofrimentos da humanidade em guerra que eram expressão da crueldade do mal”, Dom António Marto, deu exemplos concretos como a oração pelos doentes e pela paz, o sacrifício pela conversão dos pecadores e a partilha com os pobres.

Assegurou que “a cultura da compaixão é o antídoto à cultura da indiferença de quem desvia o olhar dos irmãos feridos à beira do caminho”, para vincar que a Igreja “é chamada a ser, na sua missão, um hospital de campanha que acolhe e cuida dos feridos e ajuda a curar as feridas com o bálsamo da compaixão”.

E do ideário do Papa Francisco destacou:

Surpreende-nos ainda ao convidar-nos a descobrir a ternura de Deus para connosco e a nossa ternura na nossa relação com Ele e nas relações entre nós e não se trata de um mero sentimento e emoção. trata-se, antes, de uma atitude de afeto, acolhimento, atenção, escuta, compreensão, bondade expansiva capaz de tocar o íntimo, de fazer vibrar as cordas do coração.”.

Reiterando que “os pastorinhos viveram esta ternura de Deus, de Jesus e de Nossa Senhora para com eles e vice-versa, são um encanto de ternura”, observou que a ternura acarreta “pôr no centro o rosto do outro, olhar olhos nos olhos, a sua presença física que interpela, o corpo de carne com as suas feridas e dor ou com a sua alegria contagiante e nós, hoje, sofremos de um défice de ternura nas relações agravado pela situação da pandemia”.

Di-lo o Bispo que, no seu recente internamento hospitalar, se lembrava de Job: “porventura era dizer a mágoa, gritar a mágoa diante de Deus. Mas sem palavra! Era mais um sentimento.” (da entrevista à Ecclesia em 11 de fevereiro).

E concluiu o cardeal Dom António Marto exortando:

Confiemo-nos ao Coração Imaculado de Maria, Mãe da ternura. Com o seu cuidado materno, Ela nos ensina, como fez aos pastorinhos, a cuidarmos uns dos outros com proximidade, compaixão e ternura, para sentirmos que todos somos irmãos.”.

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Durante a celebração houve um momento de veneração aos túmulos, com a incensação das relíquias dos pastorinhos intercalada com a leitura das Memórias da Irmã Lúcia de Jesus. Na ocasião, o Reitor do Santuário pediu a intercessão dos Santos Pastorinhos para que a humanidade seja libertada do tormento desta hora que vive em resultado da pandemia.

De facto, como dizia o prelado, “a pandemia marcou a vida das pessoas e a história das nossas comunidades e dos povos”. Ora, “quando tudo está em crise, é muito fácil cair no desalento e no desespero” e emerge “a necessidade de comunicar uma palavra de esperança, de consolação, de coragem e de sabedoria”. Sem dúvida, diante de um “mundo ferido”, o “apelo que chega à Igreja para enfrentar e resolver a atual situação de pandemia é colocar a atenção na ‘cultura do cuidado recíproco’”, como indica o Papa Francisco na Mensagem para o Dia Mundial da Paz e na encíclica “Todos Irmãos”.

O Bispo de Leiria-Fátima lembrou também a mensagem que Nossa Senhora veio trazer em Fátima, no contexto de “um mundo em crise atingido por uma pandemia (a pneumónica) e uma guerra mundial” e disse que o “cuidado de Deus pelo mundo” é testemunhado pelos Pastorinhos e “deve inspirar” o cuidado de todos em torno das “três palavras muito usadas pelo Papa Francisco”, proximidade, compaixão e ternura.

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E o Santuário, enquanto acolhedor da misericórdia de Deus e das necessidades de quem está marcado pelo sofrimento e pela penúria, há de continuar a assumir – e fazendo-o cada vez com mais intensidade e universalidade – a promoção da fraternidade e da amizade social em que pontifica a solidariedade ativa.

Há que recordar o que Dom António Marto dizia na mencionada entrevista à Ecclesia:

Vamos viver as consequências da pandemia, não apenas nos aspetos da saúde física, mas a saúde psíquica, da saúde mental, mas também as terríveis consequências no campo económico e social, o desemprego que vai atingir famílias.

Isso vai exigir uma grande atenção, uma saúde espiritual que é preciso neste momento porque sem saúde espiritual – aquelas motivações e inspiração interior e da própria fé, este aspeto de cuidar uns dos outros, integra uma espiritualidade que é capaz de se sacrificar pelo irmão –  sem essa espiritualidade, caímos no fatalismo ou na indiferença, na chamada cultura da indiferença.

Eu creio ser preciso colocar esta espiritualidade, que chamo amor que nos dá olhos novos para olhar os outros e a realidade.

Na Idade Média dizia-se que onde há amor, há um olhar. É o amor que nos dá olhos para ver a realidade e as suas interpelações, um coração para ser sensível ao outro; inteligência para os sermos criativos de cuidados, de terapia, de soluções que serão necessárias, mesmo no campo da vida económica e social. E mãos para dar as mãos uns aos outros, em solidariedade e ajuda.”.

Seja!

2021.02.20 – Louro de Carvalho

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