Foi
este o primeiro ano em que o Santuário de Fátima celebrou a festa litúrgica (20
de fevereiro) dos
santos pastorinhos Francisco e Jacinta (beatificados no
Santuário, a 13 de maio de 2000 por São João Paulo II, e canonizados a 13 de
maio de 2017 por Francisco)
sem a presença física dos peregrinos, mas acompanhada por milhares de peregrinos em todo o mundo através dos meios
digitais. E fê-lo
com celebrações e com a exibição, nas redes sociais, do documentário “Santos Vizinhos – duas
crianças que se fizeram candeias da humanidade a partir de Fátima”.
Com efeito, dada a impossibilidade da participação presencial
por parte dos peregrinos, devido às restrições impostas pela pandemia, o Santuário
destacou a preparação deste dia festivo com a presença de “alguns sinais
concretos” transmitidos nas redes sociais.
Na Capelinha das Aparições, foram colocadas “as duas
esculturas dos santos”, o que permitiu a sensibilização visual de quem acede ao
Streaming da Capelinha”, e na Basílica do Rosário, foram colocados “os ícones
dos santos Francisco e Jacinta”.
A 19 de fevereiro realizou-se, às 21,30 horas, celebrou-se a
vigília na Basílica de Nossa Senhora do Rosário com a oração do terço e a
veneração dos túmulos onde se encontram as principais relíquias dos dois
primeiros santos de Fátima: São Francisco Marto e Santa Jacinta Marto.
Num espaço
especialmente cuidado e iluminado por velas, símbolo da luz de Fátima, o Padre Carlos
Cabecinhas, Reitor do Santuário, que presidiu à celebração, lembrou as “duas
candeias que Deus acendeu” e que são para a humanidade inteira um exemplo de
entrega a Deus.
“A sua luz brota de Deus; sigamos o seu
exemplo e acendamos a vela da nossa vida de olhos postos nos santos Francisco e
Jacinta Marto” – afirmou o Reitor interpelando: “Diante das suas relíquias sigamos o Cordeiro que é o nosso Pastor”.
No dia 20, festa litúrgica dos santos Francisco e Jacinta, os
canais digitais do Santuário – Youtube e Facebook – transmitiram o terço às 10
horas, a missa às 11 horas sob a presidência do Cardeal Dom António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima, e um documentário sobre Francisco e Jacinta Marto, às
14 horas, transmitido também nas redes sociais da agência Ecclesia.
O documentário “Santos Vizinhos – duas crianças que se fizeram candeias da humanidade a partir de Fátima”
é uma produção do Santuário de
Fátima que conta a história de vida dos dois primeiros santos de Fátima a
partir do olhar de historiadores, teólogos e religiosas, integrando testemunhos
da ex-postuladora da Causa de Canonização, irmã Ângela Coelho, e da religiosa
carmelita que pediu a intercessão dos santos na cura do pequeno Lucas, do
próprio miraculado e da sua família.
***
Da homilia do Cardeal Dom António Marto destaca-se a asserção de que “a cultura da compaixão é o antídoto à
cultura da indiferença de quem desvia o olhar dos irmãos feridos à beira do
caminho”.
O prelado do Lis, falando
da proximidade, da compaixão e da ternura dos Pastorinhos de Fátima como o exemplo
para resistir à pandemia e vencer o medo, começou por dizer que “vivemos um
tempo difícil para todos, um tempo de crise a vários níveis, pela crise
sanitária, económica, social, ecológica, cultural e também a crise de relações
humanas, talvez a mais grave”. E advertiu que em momentos de crise “é muito
fácil cair no desespero”. Porém, tendo em conta que “os nossos queridos
Pastorinhos são estrelas em que resplandecem a proximidade, a compaixão e a
ternura como estilo da relação de Deus connosco e que devem tornar-se estilo do
nosso cuidado recíproco, de uns pelos outros”, estamos seguros de que
“resistiremos à pandemia e venceremos o medo, a insegurança, a solidão, o
desânimo e o sofrimento nos seus aspetos negativos”.
Numa
celebração transmitida nas redes sociais a partir da Basílica de Nossa Senhora
do Rosário de Fátima e participada por milhares de peregrinos em todo o mundo,
o purpurado, declarou que “não se pode viver ignorando o outro porque
estamos todos na mesma barca, todos interdependentes”, e frisou que
esta foi a mensagem que Nossa Senhora deixou em Fátima, numa altura em
que também o mundo atravessava uma crise pandémica – a pneumónica –, e uma
guerra mundial.
Por outro
lado, salientou que “o cuidado de Deus pelo mundo” nos é “testemunhado pelos
santos Pastorinhos e deve inspirar o nosso”, podendo nós identificá-lo em três
palavras muito usadas pelo Papa Francisco para caraterizar o estilo de Deus
manifestado em Jesus: proximidade,
compaixão e ternura”.
Observou que
o Evangelho da festa (Mt 18, 1-5.10), “um ícone expressivo da proximidade de Deus aos
homens”, mostra como “Deus ama e cuida de todos os seus filhos, fazendo-se
próximo, especialmente dos mais pequenos, isto é, dos mais frágeis, pobres,
humildes, indefesos”.
Referiu que,
nos diálogos com Nossa Senhora e na sua mensagem, “os pastorinhos fizeram a
experiência gozosa desta proximidade de Deus até àquela intimidade intensa” e
que, nesta experiência, se davam conta de que “a proximidade do amor de Deus se
destinava a todos os homens, que não está à distância, longe e indiferente, mas
é um Deus que se faz próximo e se deixa aproximar por todos, mesmo os afastados
e pecadores e não exclui ninguém da sua misericórdia”. Assim, como concluiu, todos
se podem aproximar d’Ele com confiança, Sem medo”, pois, na mensagem de Nossa
Senhora em Fátima, “Deus não é indiferente à dor humana, é um Deus compassivo”.
Considerando
que os Pastorinhos “apreenderam um verdadeiro amor de ‘com-paixão’ como
participação na dor de Deus pelo sofrimento da Igreja perseguida e pelos
terríveis sofrimentos da humanidade em guerra que eram expressão da crueldade
do mal”, Dom António Marto, deu exemplos concretos como a oração pelos doentes
e pela paz, o sacrifício pela conversão dos pecadores e a partilha com os
pobres.
Assegurou
que “a
cultura da compaixão é o antídoto à cultura da indiferença de quem desvia o
olhar dos irmãos feridos à beira do caminho”, para vincar que a Igreja
“é
chamada a ser, na sua missão, um hospital de campanha que acolhe e cuida dos
feridos e ajuda a curar as feridas com o bálsamo da compaixão”.
E do ideário
do Papa Francisco destacou:
“Surpreende-nos ainda ao convidar-nos a
descobrir a ternura de Deus para connosco e a nossa ternura na nossa relação
com Ele e nas relações entre nós e não se trata de um mero sentimento e emoção.
trata-se, antes, de uma atitude de afeto, acolhimento, atenção, escuta, compreensão,
bondade expansiva capaz de tocar o íntimo, de fazer vibrar as cordas do coração.”.
Reiterando
que “os pastorinhos viveram esta ternura de Deus, de Jesus e de Nossa Senhora
para com eles e vice-versa, são um encanto de ternura”, observou que a ternura
acarreta “pôr no centro o rosto do outro, olhar olhos nos olhos, a sua presença
física que interpela, o corpo de carne com as suas feridas e dor ou com a sua
alegria contagiante e nós, hoje, sofremos de um défice de ternura nas relações
agravado pela situação da pandemia”.
Di-lo o
Bispo que, no seu recente internamento hospitalar, se lembrava
de Job: “porventura era dizer a mágoa, gritar a mágoa diante de Deus. Mas sem
palavra! Era mais um sentimento.” (da entrevista à Ecclesia em
11 de fevereiro).
E concluiu o cardeal Dom António Marto exortando:
“Confiemo-nos ao Coração Imaculado de Maria,
Mãe da ternura. Com o seu cuidado materno, Ela nos ensina, como fez aos
pastorinhos, a cuidarmos uns dos outros com proximidade, compaixão e ternura,
para sentirmos que todos somos irmãos.”.
***
Durante a
celebração houve um momento de veneração aos túmulos, com a incensação das
relíquias dos pastorinhos intercalada com a leitura das Memórias da Irmã Lúcia
de Jesus. Na ocasião, o Reitor do Santuário pediu a intercessão dos Santos
Pastorinhos para que a humanidade seja libertada do tormento desta hora que
vive em resultado da pandemia.
De facto, como dizia o prelado, “a pandemia marcou a vida das
pessoas e a história das nossas comunidades e dos povos”. Ora, “quando tudo
está em crise, é muito fácil cair no desalento e no desespero” e emerge “a
necessidade de comunicar uma palavra de esperança, de consolação, de coragem e
de sabedoria”. Sem dúvida, diante de um “mundo ferido”, o “apelo que chega à
Igreja para enfrentar e resolver a atual situação de pandemia é colocar a
atenção na ‘cultura do cuidado recíproco’”, como indica o Papa Francisco na
Mensagem para o Dia Mundial da Paz e na encíclica “Todos Irmãos”.
O Bispo de Leiria-Fátima lembrou também a mensagem que Nossa
Senhora veio trazer em Fátima, no contexto de “um mundo em crise atingido por
uma pandemia (a pneumónica) e uma guerra mundial” e disse que o “cuidado de
Deus pelo mundo” é testemunhado pelos Pastorinhos e “deve inspirar” o cuidado
de todos em torno das “três palavras muito usadas pelo Papa Francisco”, proximidade, compaixão e ternura.
***
E o Santuário, enquanto acolhedor da misericórdia de Deus e
das necessidades de quem está marcado pelo sofrimento e pela penúria, há de
continuar a assumir – e fazendo-o cada vez com mais intensidade e
universalidade – a promoção da fraternidade e da amizade social em que
pontifica a solidariedade ativa.
Há que recordar o que Dom António Marto dizia na mencionada
entrevista à Ecclesia:
“Vamos viver as
consequências da pandemia, não apenas nos aspetos da saúde física, mas a saúde
psíquica, da saúde mental, mas também as terríveis consequências no campo
económico e social, o desemprego que vai atingir famílias.
“Isso vai exigir uma grande
atenção, uma saúde espiritual que é preciso neste momento porque sem saúde
espiritual – aquelas motivações e inspiração interior e da própria fé, este
aspeto de cuidar uns dos outros, integra uma espiritualidade que é capaz de se
sacrificar pelo irmão – sem essa espiritualidade, caímos no fatalismo ou
na indiferença, na chamada cultura da indiferença.
“Eu creio ser preciso
colocar esta espiritualidade, que chamo amor que nos dá olhos novos para olhar
os outros e a realidade.
“Na Idade Média dizia-se
que onde há amor, há um olhar. É o amor que nos dá olhos para ver a realidade e
as suas interpelações, um coração para ser sensível ao outro; inteligência para
os sermos criativos de cuidados, de terapia, de soluções que serão necessárias,
mesmo no campo da vida económica e social. E mãos para dar as mãos uns aos
outros, em solidariedade e ajuda.”.
Seja!
2021.02.20 – Louro de Carvalho
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