sábado, 13 de fevereiro de 2021

O rádio e a sua beleza: “levar a palavra aos lugares mais longínquos”

 

Celebra-se anualmente, a 13 de fevereiro, o Dia Mundial da Rádio. A data, proclamada, em 2011, pelos Estados-membros da UNESCO (Organização da ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura), aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2012 e celebrada, pela primeira vez, nesse ano, foi escolhida por, neste dia, a United Nations Radio ter emitido pela primeira vez, em 1946, um programa em simultâneo para um grupo de seis países.

Não há dúvida de que a rádio continua a ser o meio de comunicação social que atinge as maiores audiências, adaptando-se às novas tecnologias e equipamentos, por exemplo, com a transmissão online via streaming. É um meio bastante útil para a população como ferramenta de apoio ao debate e comunicação, de promoção cultural e de atendimento rápido em casos de emergência social. E, para os profissionais de comunicação social, é uma boa plataforma de divulgação de factos e histórias.

A rádio acompanhou os grandes acontecimentos históricos mundiais e é meio de comunicação fundamental, que, tendo-se adaptado à era digital, continua fiável para a população, que recebe a informação na hora, sendo esta uma das caraterísticas mais positivas da rádio.

A este respeito, escreve a UNESCO:

O rádio é um meio de comunicação com poder para celebrar a humanidade em toda a sua diversidade, além de ser uma plataforma para o discurso democrático. No âmbito mundial, o rádio continua a ser o meio mais amplamente usado.”.

Em 2021, o Dia Mundial do Rádio trata de três temas principais: evolução, inovação e conexão.

De facto, o mundo muda e o rádio “evolui”, o que faz aflorar a resiliência e sustentabilidade do rádio. O rádio “inova” adaptando-se a novas tecnologias para se manter o meio para se obter mobilidade e acessibilidade em todos os lugares e para todos. E o rádio estabelece “conexão” prestando relevantes serviços à sociedade, sobretudo em casos de desastres naturais, crises socioeconómicas, epidemias, etc.

O Papa Francisco, a este propósito, deixou a sua mensagem no Twitter fazendo ressaltar a “beleza” deste veículo de comunicação e dizendo: O rádio tem esta beleza: leva a palavra para os lugares mais longínquos”.

Segundo o Vatican News, evolução, inovação e conexão são caraterísticas que se aplicam também à Rádio Vaticano, a “Rádio do Papa” (projetada por Gugliemo Marconi), que celebrou seus 90 anos de fundação no dia 12 e que, a festejar esta data, a anunciou o lançamento da “Web Rádio Vaticano”, para permitir a qualquer pessoa no mundo, a partir de seu smartphone ou computador, ouvir esta emissora na sua própria língua, inclusive em português.

Aliás, a mensagem do Papa publicada no Twitter foi extraída do texto de felicitações pelos 90 anos da Rádio Vaticano:

Queridos irmãos, feliz aniversário. É importante preservar a memória da nossa história e ser nostálgicos não tanto pelo passado como pelo futuro que somos chamados a construir. Obrigado pelo vosso trabalho. Obrigado pelo amor com que vós trabalhais. O rádio tem esta beleza: que leva a palavra para os lugares mais longínquos. E hoje combina isso também com imagens e a escrita. Avante com coragem e criatividade ao falar ao mundo e assim construir uma comunicação capaz de nos fazer ver a verdade das coisas.”.

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São estes os parabéns do Papa à emissora pontifícia, fundada em 12 de fevereiro de 1931 pelo Papa Pio XI: “Obrigado pelo vosso trabalho” que chega também a “lugares longínquos”, avante “com coragem e criatividade ao falar ao mundo”. E Alessandro De Carolis observa que dos oito Papas da Rádio Vaticano, este é o sexto a poder celebrar o aniversário em números redondos, o que marca uma década de trabalho e, na saudação de Francisco à comunidade de trabalho da emissora, se percebe claramente o eco mais atual de seu magistério nos media, o impulso para produzir narrativas baseadas na “verdade” da vida.

A conclusão da mensagem está em sintonia com o convite dirigido a todos os profissionais dos meios de comunicação na recente mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais em maio de 2021, ou seja, “distinguir entre a aparência enganadora e a verdade”, especialmente a que muitas vezes ninguém conta porque não se dá ao trabalho de a procurar onde ela se manifesta. E Francisco propõe aos profissionais do setor o “Vem e verás” evangélico porque “na comunicação nada substitui o ver pessoalmente”.

É por isso que pandemias e guerras esquecidas não ficam de lado mercê da coragem de alguns repórteres: há todo um mundo que precisa de ser contado com olhos límpidos, mas para o fazer, é preciso verificá-lo pessoalmente. E o método ‘vem e verás’ “é o mais simples para se conhecer uma realidade e a verificação mais honesta de qualquer anúncio, pois é preciso encontrar, permitir às pessoas que falem e deixar que o seu testemunho chegue até nós. Portanto, face à tentação da manipulação e do narcisismo impõe-se o discernimento no trabalho informativo; e todos somos responsáveis pela comunicação que fazemos, pelas informações que damos, pelo controlo que podemos conjuntamente exercer sobre notícias falsas, desmascarando-as. Enfim, todos estamos chamados a ser testemunhas da verdade: a ir, ver e partilhar”.

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O Secretário de Estado Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, presidiu à missa na Basílica de São Pedro, no Altar da Cátedra, nos 90 anos da emissora pontifícia, tendo a sua homilia ficado marcada por três palavras: abertura, universalidade e comunicação/contacto.

Participou uma delegação de funcionários da Rádio Vaticano e, no altar, como concelebrantes, estavam o Cardeal Marcello Semeraro, prefeito da Congregação das Causas dos Santos e membro do Dicastério para a Comunicação, o secretário do Dicastério, Monsenhor Lucio Adrian Ruiz, o Padre Federico Lombardi, ex-diretor-geral da Rádio Vaticano, e numerosos sacerdotes da comunidade de trabalho da emissora pontifícia.

O Cardeal Parolin disse-se feliz por levar ao altar com todos os presentes “a ação de graças pelos 90 anos da Rádio Vaticano, incluindo na gratidão ao Senhor a gratidão a todos quantos neste período de tempo ofereceram e continuam a oferecer com generosidade a sua contribuição para transmitir a voz do Papa em todo o mundo, pois há mais necessidade do que nunca de divulgar mensagens benéficas num contexto comunicativo que, muitas vezes, parece visar mais o útil do que o humano e que precisa ser restaurado”.

Já que, por singular e providencial coincidência, o Evangelho (Mc 7,31-37) falava duma cura que torna possível comunicar, falar e escutar novamente, o purpurado extraiu do episódio da cura do surdo-mudo três palavras ligadas à missão de comunicar: abertura, universalidade e contacto.

A primeira foi “abertura”, pois a Rádio Vaticano sempre representou um sinal de abertura ao mundo, sinal “geográfico” (atinge as latitudes mais distantes) e “histórico” (tornando-se um marco na inovação da comunicação e configurando uma vanguarda tecnológica), na certeza da indispensabilidade de se abrir com novo olhar para as mutáveis exigências dos tempos, como estratégia necessária e por “uma necessidade de fé”. Na verdade, o Papa recorda com frequência que a fé autêntica leva a abrir-se, a lutar contra os fechamentos e a rigidez que paralisam o coração e o fecham no “sempre foi feito assim”, tendo os primeiros cristãos sido levados pelo Espírito a superar o legalismo religioso em que estavam enraizados para a difusão do Evangelho não ser limitada.

A segunda foi “universalidade”, pois a Rádio do Papa criou uma rede que se espalhou por toda parte, exprimindo a universalidade da Igreja Católica e do ministério petrino e induziu as pessoas, a milhares de quilómetros de distância, a rezarem em uníssono. E a sua mensagem constituiu uma reverberação do Pentecostes, alcançando povos distantes em diferentes línguas sob o signo do Espírito que alcança e une a todos e perfurando até a cortina de ferro para que a presença de Deus alcançasse os totalitarismos que negavam sua existência.

E a última foi “contacto”. De facto, a Rádio Vaticano, na II Guerra Mundial, comprometeu-se como “braço operacional” do Departamento de Informação da Secretaria de Estado, criado para rastrear e contactar as famílias das pessoas desaparecidas e dos prisioneiros, montando uma rede de solidariedade que difundiu mais de um milhão de mensagens e conectou muitas pessoas com seus entes queridos.

Na verdade, a comunicação tende ao contacto vivo e direto, como lembrou o Papa na mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, relevando a importância de “comunicar encontrando as pessoas onde e como elas estão”, pois a palavra é “eficaz” apenas se for ‘vista’, se envolve ‘experiência’, se ‘toca a vida com a mão’.

Por fim, o purpurado encorajou-os a todos a que nas dificuldades de cada dia baseiem o serviço no contacto transparente com o Senhor, o que lhes permitirá manter uma mente aberta às necessidades dos tempos e cultivar a dimensão universal que os carateriza.

No final da celebração eucarística, o secretário do Dicastério para a Comunicação, Monsenhor Lucio Adrian Ruiz, tomou a palavra e dirigiu-se ao Cardeal Parolin em nome do prefeito do Dicastério, Paolo Ruffini, agradecendo-lhe pela presidência a esta celebração e pela desafiadora mensagem que deixou a todos e agradecendo ao Cardeal Semeraro, ao Padre Federico Lombardi e a quantos aceitaram o convite para celebrar o 90.º aniversário do serviço e missão desta Rádio.

Ora, dar graças a Deus, em chave cristã, tem um nome: “Eucaristia”, tendo como expoente a Missa, fonte e cume para a Igreja, onde a Rádio Vaticano agradece os primeiros 90 anos de missão e serviço e quer adquirir a força e o amor para continuar a missão.

E Monsenhor Ruiz sublinhou que este é um tempo cheio de graças para o Dicastério, um tempo de aniversários e projetos: começaram os “jubileus” em 24 de dezembro, com o 25.º aniversário do site www.vatican.va, que reúne os textos do Magistério dos Papas e que significou o desembarque na grande internet; agora, celebrou-se o 90º aniversário da Rádio Vaticano e, em julho, passará o 160.º aniversário do nascimento do L’ Osservatore Romano.

Ora, como diz o prelado, se a encarnação é o evento, a lei e o critério do anúncio do Evangelho, é também a dinâmica da evangelização que chama a Igreja a tornar-se história e cultura. Assim, estas celebrações são o sinal de que a Igreja sabe caminhar com o homem na história: a Rádio Vaticano nasceu das mãos de Marconi, que inventou a rádio; o vatican.va nasceu quando a Word Wide Web; e o Dicastério para a Comunicação criado por Francisco está, de certa forma, a completar 90 anos por assumir o serviço e a missão da Rádio Vaticano e por assumir novo impulso missionário, pois “somos chamados a responder ao contexto cultural em que o homem e a Igreja caminham”. Na sinergia de todos os media, típica da cultura digital, enriquece-se e relança-se a missão”.

E, em Dia Mundial da Rádio, humildemente a Igreja diz prosseguir na “alegria do Evangelho”.

2021.02.13 – Louro de Carvalho

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