Os
diversos países e as organizações interestatais como a UE houveram por bem
proceder à vacinação massiva da população para obviar à pandemia, pois, é quase
certo que havendo 70% da população imunizada em cada país, o surto ficará
praticamente debelado e quiçá erradicado.
É comum
registar-se a rapidez com que a ciência respondeu à necessidade da vacinação,
como se critica o facto de a produção de vacinas ter ocorrido mais no regime de
competição que no de convergência, sabendo-se que tal campanha produtiva só
começou a acontecer quando os Estados e as organizações interestatais abriram
os cordões à bolsa e incentivar as indústrias farmacêuticas, do que resultou o
súbito enriquecimento de alguns próceres do setor.
Nesta
matéria a UE não ficou a leste, antes investiu e contratualizou uns bons
milhões de doses de entre as várias marcas que se disponibilizaram. Por
conseguinte, planeou a distribuição pelos diversos Estados-membros segundo a
lógica da proporcionalidade e função do número de habitantes em cada país. Não
obstante, as expectativas criadas em alta foram parcialmente goradas e a
Comissão Europeia teve de reforçar a contratualização. Várias razões
contribuíram para o facto, de que ressaltam a dificuldade de obtenção de
matérias-primas, a de arranjar frascos suficientes e a sedução das
farmacêuticas por quem pode oferecer mais dinheiro.
À
semelhança do que se fez noutros países, Portugal fez um planeamento da
vacinação que se arrumou em três fases por grupos de 1.ª prioridade, 2.ª e
3.ª.
Assim, a
1.ª fase previa dois momentos: a partir de dezembro de 2020, para profissionais de saúde envolvidos na prestação de
cuidados a doentes,
profissionais das forças armadas,
forças de segurança e serviços críticos,
profissionais e residentes em ERPI (Estruturas
Residenciais para Pessoas Idosas) e
instituições similares
e profissionais e utentes da RNCCI (Rede
Nacional de Cuidados Continuados Integrados); e a partir de fevereiro de 2021, pessoas de idade ≥50 anos com pelo menos uma das seguintes patologias – insuficiência cardíaca,
doença coronária, insuficiência renal (Taxa de Filtração Glomerular < 60ml/min), DPOC ou doença respiratória crónica sob suporte
ventilatório e/ou oxigenoterapia de longa duração – e pessoas com 80 ou mais anos de idade.
A 2.ª fase, a partir de abril de 2021, contemplará as
pessoas de idade ≥65 anos que não tenham sido vacinadas anteriormente; e
as pessoas entre os 50 e os 64 anos de idade, inclusive, com pelo menos uma das
seguintes patologias: diabetes, neoplasia maligna ativa, doença renal crónica (Taxa de
Filtração Glomerular >60ml/min), insuficiência
hepática, hipertensão arterial, obesidade e outras patologias com menor
prevalência que poderão ser definidas posteriormente, em função do conhecimento
científico.
E a 3.ª fase, em data a determinar após a
conclusão da segunda fase, abrangerá toda
a restante população elegível, que poderá ser priorizada de modo semelhante.
É claro
que não há planeamento perfeito e, mais tarde, pensou-se em incluir na 1.ª fase
políticos e detentores de cargos públicos cujo desempenho se revele mais em
risco. Faltou incluir os professores, que lidam sistematicamente com público
que se lhe apresenta como um risco.
Registaram-se
casos de vacinação ministrada a pessoal adventício para evitar inutilização de
doses, uma vez que os frascos não são unidose, devendo extrair-se de cada um
seis doses. E também houve vacinação a gente oportunista e a entidades sobre as
quais recaía a dúvida se podiam ser ou não vacinadas na 1.ª fase. Perante a
falta do estabelecimento duma lista de suplentes dentro do mesmo grupo
prioritário, por falta de definição prévia e clara de algumas situações e por
situações abusivas não acauteladas nem explicadas, o primeiro líder da Task Force depôs as armas e foi-se
embora, sendo sucedido por um militar com alto saber logístico.
Entretanto,
o JN deste dia 22 de fevereiro, a
páginas 20 e 21, traz uma reportagem que mostra a fragilidade deum largo setor
da nossa população, situação que não foi prévia e devidamente acautelada,
sobretudo no atinente aos idosos especialmente os acamados, sem retaguarda
familiar, sem telemóvel ou, tendo-o, sem capacidade de ler as mensagens para
agendamento da vacinação. Com efeito, as indicações do Ministério da Saúde
são:
“O seu médico ou enfermeiro de família poderá informá-lo sobre a fase em
que será vacinado.
Espere até ser contactado. O
processo de vacinação irá decorrer ao longo do ano de 2021. Não é
possível pedir a marcação da sua vacina para a COVID-19. Será contactado pelo
Serviço Nacional de Saúde para esse efeito. Agradecemos que aguarde e não
contacte o SNS 24 por este motivo.”.
Não é
crível que o Governo e os respetivos departamentos não saibam que a maior parte
dos idosos é infoexcluída. Muitos até para marcarem um número de telefone ou
atenderem uma chamada mexem em não sei quantos papéis, falam alto e confundem
as coisas. E, se não têm quem os ajude, a situação torna-se dramática, porque se
ensimesmam no sofrimento e na solidão não pedem ajuda e até a recusam quando
lha querem dar.
Depois,
muitos vivem a considerável distância do centro de saúde, da USF ou do centro
de vacinação, não têm transporte público, não têm dinheiro para táxi, não têm
quem os oriente.
Vale-lhes
o movimento local solidariedade (autarquias, centros de saúde,
coletividades…) que
está a desenhar-se um pouco por todo o país. Como refere o JN, há dezenas de câmaras municipais, juntas de freguesia e
agrupamentos de centros de saúde “a fazer das tripas coração para que ninguém
fique excluído do processo de imunização contra a covid-19”.
Vão
buscar os idosos a casa e levam-nos aos centros de vacinação alguns em
pavilhões nos centros das cidades. Nalguns casos, são os próprios autarcas que
fazem esse transporte, outros disponibilizam autocarros ou acordam com empresas
de táxi e outros criaram “call centers” para o agendamento da vacinação. E
várias instituições de solidariedade social e juntas de freguesia batem às
portas de utentes que não têm meios de comunicação ou cujas moradas estão desatualizadas
nos registos do SNS.
E, como
adianta o Ministério da Saúde, desde que o início do processo de vacinação para
idosos com 80 ou mais anos e para pessoas acima dos 50 anos com doenças graves,
já foram enviadas 4336 mensagens de agendamento, mas só responderam 2288
pessoas (metade).
No
entanto, o JN dá conta,
exemplificando, de quem sofre a ansiedade por causa da vacinação contra a
covid-19. Esperam ser contactados pelo médico. Ligam para a Junta de freguesia,
que tenta dar resposta, prometendo apoio, informando e transportando as pessoas
para o respetivo centro de vacinação, pois considera a ação social mais
necessária e relevante que fazer obra física como “pavimentar caminhos e tapar
buracos”.
Na
verdade, a vacinação dos maiores de 80 anos e pessoas com mais de 50 com saúde
débil, exige a intervenção das autarquias e das outras coletividades de vocação
solidária. As pessoas serão contactadas pelo médico de família e, se este não
conseguir estabelecer os necessários contactos, muitas autarquias estão
disponíveis para intermediar de modo que ninguém fique por vacinar por falta de
contacto, de vacina ou de transporte. Também há pessoas que estão no dilema
entre a covid-9 e a vacina. Têm receio das duas coisas: a covid pode matar ou
deixar sequelas graves; a vacina, em que se colocou tanta esperança, agora está
sujeita à dúvida sobre a sua eficácia, havendo quem diga que o vacinado pode
vir ainda a ficar infetado e a transmitir o vírus e não se sabendo qual o prazo
de validade da imunização com a vacina. Todavia, as pessoas, regra geral,
querem a vacina escudando-se no “seja o que Deus quiser”, pois “nós sempre
temos de morrer, porque andamos aqui de passagem” e ninguém cá fica.
Câmaras
municipais como a da Lousã escalam funcionários, supervisionados por um técnico
superior, para telefonarem aos idosos do concelho que estão na lista para ser
vacinados. Estão instalados numa sala, devidamente assinalada como “call center”, no local da vacinação. Este
trabalho é feito sobretudo nas primeiras horas da manhã dos dias de vacinação,
entre as 9 e as 11 horas. Confirmam-se os contactos que estão na base de dados,
insiste-se na ligação para as pessoas, confirmam a sua comparência e verificam
se precisam de transporte para se deslocarem. E, se precisarem, as viaturas do
município levam-nas à vacinação e retornam-nas ao domicílio. Se as pessoas não
atenderem o telefone, os funcionários deslocam-se a casa delas, sendo esta fase
articulada com as juntas de freguesia e outros parceiros da Rede Social do
concelho. Obviamente o ritmo de vacinação e o número dependem do ritmo e do
número da chegada das doses das vacinas que vierem.
O referido
“call center” serve de complemento às
outras formas de avisar os utentes quanto ao dia em que devem tomar a vacina.
Com efeito, em pessoas dessas idades, o aviso por mensagens telefónicas (SMS) poderá não ser o mais eficaz.
Lousã é
apenas um dos muitos exemplos que abundam no país. O JN fala de mais casos exemplares, exibindo uma pequena amostra do
que se passa no país.
Em Viana
do Castelo, todas as juntas de freguesia foram chamadas a ajudar. O município de
Famalicão cede funcionários ao centro de vacinação para garantia de segurança,
vigilância, higienização dos espaços e acolhimento aos utentes, tal como
disponibiliza computadores, internet e linhas telefónicas. O de Santo Tirso
oferece transporte, equipamentos informáticos, material logístico e três
colaboradores para o funcionamento do centro de vacinação instalado na Fábrica
de Santo Thyrso. O de Lousada pôs a Equipa Multidisciplinar de Apoio,
constituída por elementos da Autarquia, a fazer um primeiro contacto com os
idosos para diagnóstico das dificuldades. O de Cabeceiras de Basto garantiu “as
condições de comodidade e climatização” na tenda que funciona como sala de recobro,
junto ao centro de saúde, e assegura o transporte com apoio dos bombeiros e da Cruz
Vermelha de Arco do Baúlhe. O de Peso da Régua cria um centro de vacinação,
numa sala anexa ao pavilhão multiusos, para evitar a deslocação dos idosos a
Vila Real, onde está o atual posto de campanha. O de Cantanhede promete
“cooperação logística” na criação de postos de vacinação e assegurará
transporte até ao pavilhão onde funciona o centro da campanha de imunização. Os
de Braga e Leiria, em colaboração com as respetivas juntas de freguesia, ajudam
no contacto com os idosos a vacinar e disponibilizam transporte. O de
Proença-a-Nova põe a Unidade Móvel de Saúde e a Bibliomóvel a realizar um
trabalho de proximidade com as aldeias de Proença-a-Nova, estando na linha da
frente do apoio à população e esclarecimento de dúvidas. E os de Lisboa e
Oeiras suportarão a despesa de transporte até aos centros de vacinação para os
residentes com mais de 65 anos, o que passa pela celebração de protocolos com
associações do setor do táxi.
E assim
se levará a cabo a vacina não obrigatória, mas incentivada, gratuita e
universal.
2021.02.22 –
Louro de Carvalho
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