quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

“Cáritas 65 Anos: O Amor que Transforma”

 

De 28 de fevereiro a 7 de março a 7 de março, decorrerá a Semana Nacional da Cáritas promovida pela rede nacional Cáritas com o tema “Cáritas 65 Anos: O Amor que Transforma”, procurando evidenciar a ação desta organização cristã no combate à pobreza e exclusão social, dando corpo a uma das importantes missões da Igreja, a pastoral da fraternidade afetiva e efetiva corporizada na partilha de bens, como dimensão concomitante e consequente da missão evangelizadora e da missão santificadora.

Na verdade, as Igrejas e as demais pessoas de boa vontade sabem que “o amor é possível e necessário para pensar a sociedade”.

Cada diocese dispõe da sua Cáritas com autonomia jurídica e canónica e obviamente com especificidades próprias, devendo estabelecer as suas prioridades e agir em função delas. Não obstante, as 20 Cáritas diocesanas, unidas na Cáritas Portuguesa, constituem a rede nacional e, trabalhando em rede, ganham força para o trabalho eficiente e eficaz nos inúmeros grupos locais que atuam em proximidade nas paróquias e outras comunidades, ajustam os seus projetos e atividades ao tom definido a nível nacional, têm os olhos e os ouvidos na totalidade do território e lançam mão da colaboração de profissionais e de um conjunto alargado de voluntários para atuarem – cada uma por si e apoiada pela rede – coerentemente em função das mas variadas necessidades do muitos e muitas que a elas se dirigem.

É de referir que a Diocese das Forças Armadas e das Forças de Segurança, que também desenvolve as campanhas no âmbito da Pastoral Social, tem um conjunto de recomendações concretas no capítulo da solidariedade e tem em formação a sua Cáritas diocesana. Com efeito, no seu Plano Pastoral para 2019-2022, está inscrita como uma das ações concretas “Intensificar a organização da Caritas Diocesana Castrense”.    

Assim, a “Cáritas Portuguesa constitui-se como serviço para a animação da Ação Social da Igreja em Portugal”. A sua visão eclesial sintetiza-se nas seguintes palavras do Papa Francisco:

quérigma possui um conteúdo inevitavelmente social: no próprio coração do Evangelho, aparece a vida comunitária e o compromisso com os outros. O conteúdo do primeiro anúncio tem uma repercussão moral imediata, cujo centro é a caridade.”. 

A sua missão estriba-se neste segmento discursivo tão caro ao Papa Bento XVI:

Para a Igreja, a caridade não é uma espécie de atividade de assistência social que se poderia, mesmo, deixar aos outros, mas pertence à sua natureza, é expressão irrenunciável da sua própria essência.    

E os seus valores seguem a linha da misericórdia e solidariedade do Papa Francisco contra o lodaçal da indiferença:

(…) que os lugares onde a Igreja se manifesta, particularmente as nossas paróquias e as nossas comunidades, se tornem ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença!

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Vivida em contexto de Pandemia, a Semana Cáritas, uma das suas muitas iniciativas, reveste-se este ano dum peso especial, quando a covid-19 deixou muitas famílias em situações difíceis, tendo aumentado em muito larga medida o número de pessoas e famílias que batem às portas desta organização eclesial, aliás como sucede com toda as organizações sociais e solidárias que, graças a Deus, enxameiam o país.

Contudo, a pandemia que faz engrossar o número dos carenciados e até novos pobres, também dificulta o trabalho e a consecução dos objetivos das organizações de solidariedade, que mal o tempo lhes resta para o investimento em projetos de estruturação do combate consolidado à pobreza, pois a emergência vem absorvendo tempo, energias e recursos. E essa dimensão estruturante não pode ser esquecida nem mesmo secundarizada, por constituir o alicerce radical da implementação da justiça e da fraternidade.    

Por isso, durante esta semana, as diferentes Cáritas Diocesanas que compõem a rede nacional Cáritas, promovem o envolvimento público e de animação local, sendo tradicionalmente o Peditório Nacional de rua uma das principais atividades deste horizonte temporal, habitualmente mobiliza para as ruas mais de 4 mil voluntários em todo o país. Porém, face às dificuldades que a pandemia impôs e pelo segundo ano consecutivo, o peditório não se realiza nos formatos usuais. Assim, a Cáritas adota uma estratégia digital, com a realização de um peditório nacional online, com o objetivo de angariar verbas para reforço da capacidade da rede Cáritas na resposta aos atendimentos sociais e no desenvolvimento e implementação de projetos sociais locais, adaptando-se às circunstâncias em que vivemos e não olvidando a sua principal missão: a solidariedade e a erradicação da pobreza.

Por outro lado, a rede dá conta de que, em 2020, atribuiu apoio financeiro direto à população de cerca 1.5 milhões de euros, ao qual se somam os apoios em produtos alimentares e bens essenciais, bem como outras respostas sociais de emergência. Desde abril de 2020 a fevereiro de 2021, através da implementação do programa nacional “Vamos Inverter a Curva da Pobreza em Portugal”, respondeu diretamente a cerca de 10 mil pessoas que viram o seu rendimento afetado pela covid-19, apoio que corresponde a cerca de 10% do total de apoios da rede nacional.

À redução significativa de rendimentos pela perda de posto de trabalho ou por rendimentos insuficientes (salário ou reforma) – as principais razões que motivam o apoio da Cáritas, a rede tem respondido com o pagamento de rendas de habitação, despesas de saúde e medicamentos e despesas de eletricidade.

Não é sem razão que o Presidente da República, em mensagem enviada a propósito da Semana Nacional, saudou o trabalho da Cáritas ao longo dos seus 65 anos, sem esquecer o seu papel no combate à pobreza agudizada pela pandemia:

A Cáritas quer olhar para o futuro, e pede-nos que partilhemos o apoio às suas causas do futuro. A semana de 28 de fevereiro a 7 março, neste ano, tem um modelo diferente, um modelo da pandemia, um modelo digital, mas um modelo que não afasta aquilo que é a Cáritas, solidariedade, generosidade, mas proximidade. A rede Cáritas tem estado na linha da frente do combate aos efeitos sociais da pandemia e mobilizado, de forma discreta, meios para que ninguém fique sem resposta.”.

Por seu turno, Dom José Traquina, Bispo de Santarém, Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, também lembrou o trabalho da rede Cáritas sublinhando a sua missão no despertar da solidariedade no concreto:

A missão da Cáritas – o amor que transforma – é despertar para esta solidariedade no concreto, comprometidos que estamos na transformação do mundo em que vivemos para que seja, cada vez mais, uma terra de irmãos. Para que juntos vivamos verdadeiramente numa só família humana.”.

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Esta Semana Nacional vem na sequência do itinerário de vivência quaresmal que, pela primeira vez, a Cáritas Portuguesa oferece, atendendo às caraterísticas atitudinais próprias desta quadra litúrgica que culmina com a Páscoa: a oração; a autodisciplina simbolizada e concretizada no jejum ou renúncia a bens materiais ou de conforto; e a esmola, entendida, não no sentido de nos livrarmos do carenciado, mas no da partilha vivencial. Nestes termos, o itinerário quaresmal da Cáritas é, como dizem os responsáveis, “um caminho estruturado em quatro pilares – orar, fazer, partilhar e conhecer” – com o grande objetivo de “proporcionar uma vivência quaresmal transversal que, no contexto de confinamento, promova a vivência da quaresma no contexto comunitário, mas também individual ou familiar”. Assim, coloca desafios concretos para cada dia da quaresma, que vão da oração individual pelos doentes e pelos jovens, a iniciativas concretas de partilha quaresmal ou gestos de solidariedade e amizade, como, por exemplo, um telefonema para uma pessoa amiga ou um familiar. E esta iniciativa enquadra a Semana Nacional que, este ano, se desenvolve em torno do tema “Cáritas, o amor que transforma”. 

Durante esta semana, as diferentes Cáritas diocesanas que compõem a rede nacional Cáritas promoveram um momento de envolvimento público e de animação local. A nível nacional o destaque vai para o peditório público, este ano a realizar em formato onlineÉ um momento que a Cáritas privilegia pela angariação de verbas, que se destinam à ação local de todas as Cáritas diocesanas, e por constituir uma oportunidade de contacto direto com a população, com os e as que apoiam a missão da Cáritas e, também, em muitas situações, com os e as que são beneficiários/as da ação da Cáritas. E é um caminho de transformação interior na relação com o mundo e com os outros que também tem na sua realização um gesto de partilha. Com efeito, todos os materiais estão disponíveis grátis em www.caritas.pt/calendario – sendo possível receber em casa versão impressa por quem o desejar – https://caritas.pt/calendario-digital/ (1€ com portes incluídos, quantidade mínima 10 unidades).

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Em jeito de partilha e de coração agradecido, o susodito Bispo de Santarém refere que “temos conversado”, nestes tempos difíceis, sobretudo por meios telemáticos, acerca de sofrimentos, medos e aflições, ouvido lamentos e encontrado pessoas desanimadas, pois muitos ficaram doentes e alguns morreram. Mas, ao mesmo tempo, salienta a multíplice onda “de solidariedade na dor, de um grande empenho no reinventar a proximidade e o cuidado com os mais frágeis”, que a pandemia fez emergir. Por isso, sente-se confortado no agradecimento a Deus pelos “diversos dons que têm frutificado no coração e nos gestos de tantas pessoas das nossas comunidades que se têm mantido atentas aos pobres e aos doentes para os socorrerem nas suas necessidades”, bem como no agradecimento a “todos os que constituem os Grupos de ação sócio-caritativa ou as Cáritas Paroquiais, os que trabalham nas Cáritas Diocesanas e na Cáritas Portuguesa”. E, citando o Papa Francisco, n.º 94 da Fratelli tutti, conclama:

O amor ao outro, por ser quem é, impele-nos a procurar o melhor para a sua vida. Só cultivando esta forma de nos relacionarmos é que tornaremos possível aquela amizade social que não exclui ninguém e a fraternidade aberta a todos.”.

E, convicto de que, ao celebrarmos os 65 anos da Cáritas em Portugal, urge proclamar “o amor que transforma”, que “só o amor transforma”, mas que “transforma os corações e transforma a realidade em que vivemos”, agarra o mordente alerta de Francisco (Fratelli tutti, n.º 35):

Passada a crise sanitária, a pior reação seria cair ainda mais num consumismo febril e em novas formas de autoproteção egoísta. No fim, oxalá já não existam ‘os outros’, mas apenas um ‘nós’. Oxalá não seja mais um grave episódio da história, cuja lição não fomos capazes de aprender. Oxalá não nos esqueçamos dos idosos que morreram por falta de respiradores, em parte como resultado de sistemas de saúde que foram sendo desmantelados ano após ano. Oxalá não seja inútil tanto sofrimento, mas tenhamos dado um salto para uma nova forma de viver e descubramos, enfim, que precisamos e somos devedores uns dos outros, para que a Humanidade renasça com todos os rostos, todas as mãos e todas as vozes, livre das fronteiras que criamos.”.

Enfim, a missão da Cáritas – o amor que transforma – é, na reformulação sugerida pelo prelado escalabitano, despertar para esta solidariedade no concreto, comprometidos que estamos na transformação do mundo em que vivemos para que seja, cada vez mais, uma terra de irmãos. Para que juntos vivamos verdadeiramente numa só família humana.”.

Assim seja!

2021.02.25 – Louro de Carvalho

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