Celebra-se, neste dia 13,
quarta-feira, o 6.º aniversário da eleição do Papa Francisco à Cátedra de Pedro.
O Santo Padre que está em Exercícios
espirituais na Casa do Divino Mestre, em Ariccia, junto com os membros da
Cúria Romana, celebra este dia em oração.
Até 15 de março, quando o Pontífice retornar
ao Vaticano, os dias de Francisco, dos cardeais e dos bispos, nesse local
tranquilo, situado a 300 metros de altura, continuam a ser marcados pela missa,
orações de Laudes e de Vésperas, Adoração Eucarística e catequeses do abade
beneditino de São Miniato ao Monte, Bernardo Francesco Maria Gianni, uma pela
manhã e outra à tarde.
Os dias são também marcados por
momentos de convivência e partilha na hora do almoço e do jantar, mas o silêncio e a meditação são os
verdadeiros protagonistas neste tempo de Quaresma.
Entretanto, continuam a chegar
mensagens de felicitações de Chefes de Estado e de Governo, autoridades civis e
eclesiais e fiéis simples, para celebrar o 13 de março de 2013 que fez de Jorge
Mario Bergoglio o primeiro Papa latino-americano da história.
De Rosário e Bíblia na mão, o
Pontífice senta-se, não na primeira fila, mas no meio, conforme mostram algumas
câmaras, para ouvir, com os confrades, as meditações beneditinas sobre o tema “As cidades dos desejos ardentes. Olhares e
gestos pascais na vida do mundo”.
Antes da missa, na manhã deste dia
13, em Ariccia, o decano do Colégio Cardinalício, cardeal Giovanni Battista Re,
o purpurado mais idoso presente nos Exercícios espirituais, em nome do Colégio
Cardinalício e de todos os presentes, deu os parabéns ao Papa Francisco pelo
6.º aniversário da sua eleição para Sumo Pontífice da Igreja Católica,
expressando a felicidade de todos em celebrarem aquela missa com ele e pedindo
a Deus que seja luz, apoio e conforto ao Santo Padre “na sua tarefa de confirmar os irmãos na fé, seja fundamento da unidade
e indique a todos o caminho que leva ao céu”. E concluiu professando a
proximidade de todos com o Pontífice, “com grande afeto e dedicação
sincera”.
***
A 6 anos da
eleição do Papa Francisco, o Vatican News
entrevistou, no dia 12, Alessandro Gisotti, diretor interino da Sala de
Imprensa da Santa Sé, de que resultou amplo diálogo que repercorre alguns
momentos do Pontificado, como: atenção aos migrantes, empenho na paz, homilias
na Casa Santa Marta, diálogo-amizade com líderes religiosos, proteção de
menores…
Na reflexão de Gisotti,
serenidade, atenção às pessoas e ao próximo, escuta e sinodalidade são algumas
das palavras-chave do Pontificado de Francisco.
Naquele 13
de março de 2013 (também quarta-feira), ao saudar os fiéis da Praça São Pedro e de todo o mundo da sacada
central da Basílica Vaticana, o Pontífice iniciou o que definiu logo como “um caminho de fraternidade, de amor, de
confiança”. E o testemunho das suas palavras veio alguns meses depois com a
visita aos refugiados/migrantes em Lampedusa (Itália) a 8 de julho, viagem que “não estava programada”, mas em que o Papa
entendia que simplesmente que deveria “ir”, como depois explicou. É uma
solicitude que segue inalterada 6 anos depois.
A este
respeito, refere o porta-voz do Vaticano que “o Papa mostra que os migrantes são pessoas e não cifras”, pois “tem uma atenção constante com eles”,
enquanto a comunicação social “se ocupa de migrantes quando tem uma crise
grave, o naufrágio dum navio ou situações de emergência por causa de uma guerra”.
Assim, a viagem a Lampedusa foi só o primeiro de muitíssimos gestos de
proximidade aos migrantes. Recorde-se o campo de refugiados de Lesbos (Grécia) até chegarmos à atualidade, a ida a Marrocos. E, daqui a algumas
semanas, o Papa, na sua viagem apostólica, visitará um centro da Cáritas para
os migrantes. Depois, na viagem à Bulgária e à República da Macedónia do Norte,
haverá um momento de proximidade dos migrantes, pois vai visitar um campo de
refugiados.
Questionado
sobre diversas as faces diversas do empenho de Francisco pela paz como a abertura
da Porta Santa em Banghi (República Centro-Africana), a reconciliação na Colômbia, os Rohingya na Ásia, Gisotti comenta:
“Obviamente quando, há 6 anos,
foi a eleição, todos fomos surpreendidos por este nome ‘Francisco’, Francisco
de Assis, o homem da paz, o Pobrezinho que tentou com a esperança contra a
esperança sempre a forma do diálogo. Pensemos também no encontro com o sultão
Al-Kamil Al-Malek que foi evocado ultimamente na viagem aos Emirados Árabes.
Então, Francisco honra o seu nome, mas depois também o seu ministério:
Pontífice, construtor de pontes. Às vezes, esquecemo-nos dessa dimensão
própria dos Papas.”.
E enfatiza:
“Francisco, realmente, como tantas vezes
vimos não somente com palavras, mas talvez ainda mais com os gestos, lá onde há
muros, derruba os tijolos para construir pontes que passam no meio. Acredito
que essa seja uma constante do Pontificado, que continuamos a ver todos os
dias.”.
Assenta em
que as homilias das missas matinais
na Casa Santa Marta “são o coração do
Pontificado porque ali o Papa encontra o Povo de Deus no momento
fundamental para um sacerdote, para um bispo – o Papa é o bispo da diocese de
Roma”. E sustenta:
“No encontro com a Eucaristia e com os fiéis
nascem essas homilias que são um campo extraordinário, porque, se vamos ver
depois os grandes documentos do Pontificado, nota-se como frequentemente
invocam ou são diretamente inspirados nas homilias de Santa Marta. Penso que, realmente, depois de 6 anos,
se pode dizer que essa é uma das coisas mais bonitas, mais novas: é exatamente o coração do Pontificado!”.
A amizade
com o Grande Imame de Al-Azhar Ahmad Al-Tayyib e com Bartolomeu I, o Patriarca
de Constantinopla, mostra como o diálogo está a caraterizar o empenho de
Francisco. Com efeito, desde os
primeiros passos do seu Pontificado, falou-nos da “cultura do encontro” que põe
em prática, antes de tudo, a amizade. E Alessandro Gisotti confessa:
“Eu vi, por exemplo, com grande emoção, a
amizade com o Grande Imame Al-Tayyib, já que eu estava presente em Abu
Dhabi. Vi realmente como os dois se procuravam inclusive na proximidade,
cientes de que a assinatura da ‘Declaração Comum sobre a Fraternidade Humana’
seria um gesto profético e corajoso e de que, certamente, já recolhemos os
frutos, mas recolhê-los-emos também no futuro.”.
Por isso, conclui que o tema do diálogo é algo que está no coração do
Papa e o vê sempre com este binómio diálogo-amizade. E
defende:
“Nunca é um diálogo como uma finalidade
específica, mas é um diálogo que nasce do encontro, e podemos dizê-lo
certamente sobre Al-Tayyeb, como também sobre tantos outros líderes religiosos
e não só”.
Outro ponto
que marca este Pontificado é o empenho na proteção dos menores. Ora, sobre o
encontro realizado há pouco no Vaticano, foram feitas críticas em relação à
falta de frutos concretos. A isto o diretor interino da Sala de Imprensa da
Santa Sé:
“Foi um encontro necessário. Eram muitos a
ter dúvidas de que fosse oportuno manter esse encontro, enquanto o Papa, a esse
respeito, deu demonstração de coragem e, inclusive, na minha opinião, de uma
coragem profética porque, pela primeira vez – diante de um escândalo terrível
que coloca em risco não somente a credibilidade, mas, por alguns aspetos, a
própria missão da Igreja – quis convocar todos os presidentes dos episcopados.”.
Quanto ao significado e resultados, Gisotti sustenta:
“O Papa quis, antes de tudo, dizer que para
um problema global é necessário dar uma resposta global. Depois, obviamente,
tem o tema da concretude, das medidas concretas. Nesse sentido, no final do Encontro
sobre a Proteção dos Menores, foi anunciado o follow-up, isto é, os
passos que devem seguir. Então, a publicação de um Motu Proprio, a
publicação de um manual da Congregação para a Doutrina da Fé e toda
uma série de regulamentos e, ainda, a iniciativa das “forças-tarefa”, isto
é, os especialistas que possam ajudar as Conferências Episcopais a atuar em
atividades de proteção dos menores.”.
E não tem dúvidas em que reconhecer que “também é importante dizer que,
para Francisco, a coisa fundamental” é a
conversão dos corações que nasce da escuta das vítimas.
Quanto ao
caminhar da Igreja, segundo Francisco, e tendo em conta que convocou três
Sínodos e mudou o seu funcionamento, a questão que se levanta com essas
escolhas é: Em que direção vem o Papa conduzindo
a Igreja? E Gisotti recorda que o Santo Padre tem a visão de uma Igreja “em
saída” (sinodal) e de uma Igreja “hospital
de campanha”. Ora, Igreja “em saída” pressupõe que se caminhe e que ela
caminhe toda, pois “sinodal” quer dizer caminhar juntos. E insiste:
“Esse é o espírito com que Francisco está a
viver esta sua dimensão também de pastor, como disse logo no início do seu
Pontificado, há 6 anos [e reitera-o recorrentemente], com o povo, diante do
povo, mas, também, no meio do povo, atrás do povo, como no fundo um bom pastor
deveria sempre fazer com o seu rebanho! E, depois, a Igreja ‘hospital de
campanha’. Vimos, com o Encontro sobre a Proteção dos Menores, uma Igreja
que tem a coragem de se inclinar sobre as feridas das mulheres e dos homens do
nosso tempo.”.
E assegura como “é bonito pensar (e essa é
um pouco a visão de Francisco) que a Igreja não é só farol que ilumina, parado, distante, mas tocha
que ilumina e o faz caminhando com o Povo de Deus”.
O que
Gisotti retém em termos pessoais da imagem e da reflexão papais nestes anos e
nestes dois meses e meio como diretor interino da Sala de Imprensa da Santa Sé
“é
a sua serenidade”. Sem esconder momentos delicados como os
resultantes dos abusos de menores – “o próprio Papa não os esconde” –, é
relevar que, “mesmo com essa grande consciência e também com essa coragem em
enfrentar tal situação, Francisco não perde a calma, a serenidade”. E aponta:
“Vendo-o inclusive nos momentos privados,
tocou-me, por exemplo, vê-lo bem próximo rezando – vê-se realmente um homem em paz. É uma paz que obviamente
não vem do mundo, mas que provém de Deus. Inclusive em relação a
mim, num momento de muitas dificuldades objetivas diárias, o Papa pessoalmente disse-me
e em mais de uma oportunidade: ‘Não te deixes dominar pelo desânimo, fica
sereno’. Ele diz como pai, em modo muito paterno, e dá-me também a força e a
coragem para seguir adiante, com um espírito de esperança, sabendo exatamente
que o Santo Padre vive com tão grande força e serenidade este momento e acaba
doando-no-las também a nós.”.
***
Comentando esta efeméride, o editorialista do Vatican News defende que é preciso olhar
o essencial. Com efeito, Francisco
viveu e está prestes a viver intensos meses de viagens e Sínodo. O 6.º ano do
seu pontificado foi caraterizado pelo flagelo dos abusos e pelo sofrimento de
alguns ataques internos: e a resposta foi um convite a voltar ao coração da fé.
Quanto a
iniciativas, o ano está marcado com importantes viagens internacionais e dois
eventos ‘sinodais’: o encontro para a proteção de menores, realizado no
Vaticano em fevereiro passado, com os presidentes das Conferências Episcopais
de todo o mundo, e o Sínodo especial sobre a Amazónia, a celebrar – também no
Vaticano – em outubro. Teve notável impacto a viagem aos Emirados Árabes com o
Bispo de Roma a assinar uma Declaração conjunta com o Grande Imame de Al-Azhar
– documento que influenciará o campo da liberdade religiosa. Já o ecumenismo
sobressairá nas viagens à Bulgária e Macedónia do Norte e à Roménia; e a viagem
desejada ao Japão, recordará a devastação gerada pelas armas nucleares, como
advertência para o presente e para o futuro da humanidade que experimenta “a
3.ª guerra mundial em pedaços”.
Porém, não se
pode ignorar o ressurgimento do escândalo dos abusos e divisões internas, com o
ex-núncio Carlo Maria Viganò a pedir publicamente a renúncia papal, em agosto
passado, devido à gestão do caso McCarrick, enquanto o Pontífice “celebrava a Eucaristia com milhares de
famílias em Dublin, repropondo a beleza e o valor do matrimónio cristão”. Face
a essas situações, o Santo Padre pediu aos fiéis de todo o mundo que rezassem o
Terço todos os dias, no mês mariano de outubro de 2018, unindo-se “em comunhão e penitência, como povo de Deus,
pedindo à Santa Mãe de Deus e a São Miguel Arcanjo que protejam a Igreja do
diabo, que sempre visa fazer a separação entre Deus e nós” – pedido sem
precedentes, por tão detalhado, na história recente da Igreja. E enfatiza o
editorialista:
“Com as suas palavras e o apelo ao povo de Deus para rezar para manter a
unidade da Igreja, Francisco fez-nos entender a gravidade da situação e, ao
mesmo tempo, expressou a cristã consciência de que não existem remédios humanos
capazes de assegurar um caminho de saída”.
Vincando que
o Papa chamou a atenção para o essencial: “a Igreja não é formada por
super-heróis” (nem superpapas) e não
avança pela força de seus recursos ou estratégias, assegura:
“Sabe que o maligno está presente no mundo, que existe o pecado original
e que, para nos salvarmos, precisamos da ajuda do Alto. Repeti-lo não significa
diminuir as responsabilidades pessoais dos indivíduos, nem mesmo as das
instituições, mas situá-las no seu real contexto.”.
Transcrevendo
uma passagem do comunicado vaticano com o pedido do Papa para a oração do Terço
em outubro passado, esclarece:
“Com esta solicitação de intercessão, o Santo Padre pede aos fiéis de
todo o mundo que rezem para que a Santa Mãe de Deus coloque a Igreja sob o seu
manto protetor: para preservá-la dos ataques do maligno, o grande acusador, e
ao mesmo tempo torná-la cada vez mais consciente dos abusos e erros cometidos
no presente e no passado”.
Sublinha o
segmento “no presente e no passado”,
por ser um erro descarregarmos nos antepassados as culpas e apresentarmo-nos
como “puros”, pelo que a Igreja pede a Deus a libertação do mal – um dado de
facto que o Papa recorda constantemente, na linha dos seus antecessores. Por
outro lado, como “a Igreja não se redime
sozinha dos males que a afligem” e do abismo dos abusos sexuais cometidos
por clérigos e religiosos “não se sai em virtude de processos de
autopurificação, muito menos confiando-se a quem se investiu no papel de purificador,
o editorialista observa:
“Normas sempre mais eficazes, responsabilidade e transparência são necessárias,
mesmo indispensáveis, mas nunca serão suficientes. Porque a Igreja, recorda-nos
hoje o Papa Francisco, não é autossuficiente e testemunha o Evangelho a muitos
homens e mulheres feridos do nosso tempo, precisamente porque também ela se
reconhece como mendigo de cura, necessitando de misericórdia e de perdão do seu
Senhor. Talvez nunca como no conturbado ano que passou, o sexto do seu pontificado,
o Papa que se apresenta como ‘um pecador perdoado, seguindo o ensinamento dos
Padres da Igreja e do seu imediato predecessor Bento XVI, terá testemunhado
este dado essencial e mais do que nunca atual da fé cristã.”.
***
Já está
disponível nas livrarias a obra intitulada “Eucaristia.
Coração da Igreja” (Milão, Paulinas, 2019), que reúne as catequeses de Francisco dedicadas ao tema da Missa.
São 15 pérolas teológico-litúrgicas e constituem verdadeiro manual de
compreensão e aprofundamento do significado teológico da celebração eucarística.
Sobre o tema, diz o Pontífice no livro:
“Os Sacramentos e a celebração eucarística, de modo especial, são os
sinais do amor de Deus, os caminhos privilegiados para nos encontrarmos com Ele”.
De 8 de
novembro de 2017 a 4 de abril de 2018, nas Audiências Gerais das
quartas-feiras, no Vaticano, o Papa proferiu um ciclo de catequeses dedicadas à
missa, que começa com o sinal da cruz, e, em especial, às várias partes da
liturgia eucarística – para bem ensinar às crianças desde pequenas –
convergindo para a vida quotidiana. São mais de cem páginas com comentários de
Dom Luigi Maria Epicoco, que afirma sobre o mistério cristão, segundo o
Papa Francisco:
“O presente que o Papa nos dá com essas páginas
é o de ver contado o mistério cristão com palavras normais. É o eco da lógica
da encarnação. Desde quando Jesus entrou na história, nascendo da Virgem Maria,
assumiu um corpo real, um rosto real, uma história concreta. E é realmente
através disso que aconteceu com a encarnação que Jesus nos faz enfrentar a
lógica escandalosa da normalidade.”.
Francisco,
no seu modo “normal” de falar dos mistérios de Cristo, ajuda-nos a tocar o
próprio coração com o mistério de Deus. “A
normalidade não é banalidade, ao contrário, é proximidade ao que somos, ao
que desejamos, ao que compreendemos”, vincou Dom Luigi. O Pontífice, nas
catequeses sobre a missa, oferece-nos três palavras-chave: silêncio, tempo e vida florida.
***
Há que estar
com atenção, ler e cooperar para bem da Igreja e proveito da humanidade!
2019.03.13 – Louro de Carvalho
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