A 19 de março, Solenidade Litúrgica de São José,
recorda-se o homem justo e dócil capaz de ouvir a Deus, que o Senhor escolheu
para esposo de Maria e pai putativo de Jesus e que a Igreja assume como
padroeiro universal.
A este respeito, o cardeal Gianfranco Ravasi, biblista e presidente do Pontifício Conselho
para a Cultura, considerando escassos os textos bíblicos relativos a José,
assegura neste silêncio se encontra a força deste excelso protetor da Santa
Igreja e ressalta a força eloquente do silêncio, quase tanto como a Mãe de Jesus, a qual de olhar
atento e profundo sabia, na discrição, “conservar todas estas coisas,
ponderando-as no seu coração” (Lc 2,19).
Em
entrevista ao Vatican News, o
purpurado refere que o silêncio de José se opõe à palavra “gritada, brutal e
agressiva, como estamos acostumados a ver”, sendo que, assim, o pai adotivo de
Jesus “permanece um exemplo e uma advertência constante”.
Pelos vistos, uma das representações do santo carpinteiro que mais
encanta o Papa Francisco é aquela em que o justo aparece dormindo. E,
sublinhando que “a figura de São José tem uma presença limitada”, mas que o seu silêncio é extremamente
eloquente, Ravasi explica:
“Ele está em primeiro plano somente em
relação ao início da vida de Jesus. O Evangelho de Mateus dedica-lhe a
Anunciação do Anjo (…). Podemos dizer que é somente no início absoluto de sua
existência, da existência de Cristo, que apare essa figura. Aparece por duas
razões e aqui entramos também na questão da ‘desobediência’. Aparece, em
primeiro lugar, porque é ele quem tem essa ascendência, o que naturalmente no
mundo oriental era bastante vago, com David e, portanto, dá a linha davídica a
Jesus, introduzindo-o no grande rio do messianismo. Por outro lado, é ele quem
vive a experiência do vínculo com Maria e dessa surpresa que abala sua vida, e
ele sentir-se-ia pronto para romper o vínculo com Maria, como se desobedecesse
a esse projeto que tinha construído: de estar junto com essa moça, com essa
mulher. (…) Está pronto para interromper esse projeto comum, mas é nessa
escolha que irrompe a Anunciação, que muda radicalmente o seu projeto e o torna
obediente por excelência: torna-se instrumento fundamental para o
reconhecimento de Jesus no contexto social, como pai putativo.”.
À questão sobre o que José pode dizer numa sociedade onde a palavra conta
muito, o cardeal, reconhecendo que este homem é diferente de muitas outras
personagens evangélicas, sublinha a sua centralidade inicial, caraterizada pela
mudez, sem proferir uma única palavra, e discorre:
“Em relação a Maria temos 6 frases, digamos
5 frases e um canto, o ‘Magnificat’. Na verdade, é pouco também para Maria,
pois são frases breves as cinco palavras de Maria. Ao contrário, para José
temos o silêncio absoluto. Eu diria que o ‘preferir’ é uma lição constante
dentro dos Evangelhos, como Jesus prefere os últimos. Como dizia o poeta
francês, Paul Valéry, preferir sempre a palavra ‘moindre’, a menor, a
mais delicada em relação à palavra gritada, brutal e agressiva que estamos
acostumados a ver no âmbito político, na informática, onde domina, não só a
agressividade, mas também a vulgaridade. A palavra que é acesa até ficar
quente. Sabemos bem que a palavra é uma ‘criatura viva’: dizia outro poeta
francês, Victor Hugo, e como tal pode também ferir, se não às vezes, até matar.”.
Ao caso de Francisco ser muito devoto de São José e ter consigo sempre imagem
pequena em que o santo está dormindo, o biblista e presidente do
Pontifício Conselho para a Cultura, diz:
“Sabemos que existe também na iconografia.
Bassano, por exemplo, representou José dormindo que recebe a anunciação ou
recebe os sonhos que, como sabemos, na linguagem bíblica são uma maneira de
representar uma comunicação transcendente, espiritual: não é necessariamente
tudo o que concebemos através da visão psicanalítica, a leitura onírica com uma
interpretação ‘científica’. Enquanto para a tradição bíblica e para toda a
antiga tradição oriental, é uma maneira de expressar a profunda experiência
religiosa, portanto, uma experiência espiritual, ascética e mística, essa
figura já é significativa, porque José é por excelência o homem que recebe
essas mensagens à noite, nos momentos dramáticos da existência de seu filho
oficial, seu filho jurídico.”.
E conclui salientando algo de relevante sobre a vida de José:
“É por esse motivo que podemos dizer que
seja, mais uma vez, uma figura sugestiva, porque tem a capacidade de ir em
profundidade, sem muita conversa. Os evangelhos apócrifos acrescentam muitos
detalhes, mas há um evangelho apócrifo chamado ‘José, o carpinteiro’ que
representa sua morte: José deitado numa espécie de névoa do fim da vida, que
tem Cristo ao seu lado. Ele diz as últimas palavras em relação a Maria: ‘Eu
amei essa mulher com ternura” e depois morre.”.
***
Neste dia 19 de março de 2019, a Cidade do Vaticano
aponta São José como o inspirador de muitos Papas, graças ao seu estilo de vida
e peculiaridade de guardião silencioso, embora tendo em conta a época e da
experiência pessoal.
Foram muito longas as etapas que
levaram a Igreja a estabelecer o culto de São José, desde Sisto V que, no final
do século XV, fixou a data da festa para 19 de março até à última decisão de
Francisco que, no 1.º de maio de 2013, confirmando a vontade Bento XVI, decretou
o acréscimo do nome de São José, Esposo da Bem-Aventurada Virgem Maria, nas
Orações eucarísticas II, III e IV (antes, João XXIII estabelecera, a 13 de novembro de 1962, a
introdução no Cânone romano da Missa, ao lado do nome de Maria e antes dos
Apóstolos). Foi João
XXIII, que, desejando confiar ao “pai” terreno de Jesus o Concílio Vaticano II,
escreveu, em 1961, a Carta Apostólica Le Voci, em que faz uma espécie
de sumário da devoção a São José sustentada pelos seus predecessores. Não são
opacas operações de “burocracia” litúrgica. Por trás de cada novo decreto
colhe-se um sentimento e uma consciência eclesial cada vez mais enraizada como,
por exemplo, como sucedeu a Pio XII, que podem chegar a marcar também na vida
civil. O 1.º de maio de 1955 era domingo e a Praça São Pedro estava repleta de
fiéis. Pio XII faz um discurso enérgico aos exortando todos a orgulharem-se da
identidade cristã face às ideologias dominantes. No final, em homenagem ao santo
que trabalha, surpreendeu com um “presente” entusiasmante:
“Para que todos entendam este significado (…)
queremos anunciar a Nossa determinação de instituir – como de facto instituímos
– a festa litúrgica de São José operário, marcando-a no dia 1.º de maio.
Trabalhadores e trabalhadoras, agrada-vos o nosso dom? Temos certeza de que
sim, porque o humilde artesão de Nazaré não só personifica junto de Deus e da
Santa Igreja a dignidade do trabalhador, mas é também sempre providente
guardião vosso e das vossas famílias” (Festa de São José Operário –
1.º de maio de 1955).
Quatro anos mais tarde a Igreja era
guiada por João XXIII, que desejou assumir o nome de “Papa José”. Só não o fez,
porque “não é usado entre os Papas”. Porém, o desejo revela a nostalgia e a
forte devoção que Roncalli tinha por São José:
“Faz com que também os teus protegidos
compreendam que não estão sós no seu trabalho, mas saibam descobrir Jesus ao
seu lado, acolhê-Lo com a graça, custodiá-Lo com a fé como Tu o fazes. E faz
com que, em cada família, em cada fábrica, oficina, onde quer que trabalhe um
cristão, tudo seja santificado na caridade, na paciência, na justiça, na busca
do fazer bem, para que desçam abundantes dons da celeste predileção.” (19 de março de 1959).
Paulo VI não se chama José, mas de
1963 a 1969 em particular, não deixa de celebrar uma Missa na solenidade de 19
de março. Cada homilia sua torna-se peça que forma retrato pessoal com que
Paulo VI se mostra fascinado pela “completa
e submissa dedicação” do homem dos riscos à missão do homem
“talvez tímido” dotado “duma grandeza sobre-humana que encanta”.
“São José, um homem ‘comprometido’ como se
diz agora, por Maria, a eleita entre todas as mulheres da terra e da história,
sempre sua virgem esposa, também fisicamente sua mulher, e por Jesus, em
virtude da descendência legal, não natural, sua prole. A ele, os pesos, as
responsabilidades, os riscos, as preocupações da pequena e singular sagrada
família. A ele o serviço, a ele o trabalho, a ele o sacrifício, na penumbra do
quadro evangélico, no qual nos agrada contemplá-lo, e certamente, sem dúvida,
agora que tudo conhecemos, chamá-lo feliz, bem-aventurado. Isso é Evangelho.
Nele os valores da existência humana assumem medidas diferentes da que somos
acostumados a apreciar: aqui o que é pequeno torna-se grande.” (Homilia de 19 de março de 1969).
Em 26 anos de pontificado João Paulo
II falou de São José em muitíssimas ocasiões e disse que Lhe rezava
intensamente todos os dias. A devoção ao esposo sublime sintetiza-se na
Exortação Apostólica Redemptoris Custos, de 15 de agosto de 1989,
no centenário da Quamquam Pluries (de Leão
XIII). Aí, aprofunda a
vida de José em vários aspetos, sobretudo o do matrimónio cristão no qual
oferece uma profunda leitura das relações entre os dois esposos de Nazaré.
“A dificuldade de se aproximar do mistério
sublime da sua comunhão esponsal levou todos, desde o século II, a atribuir a
José uma idade avançada e a considerá-lo guardião, mais do que esposo de Maria.
É o caso de supor, ao invés, que na época ele não fosse um homem idoso, mas que
a sua perfeição interior, fruto da graça, o levasse a viver com afeto virginal
a relação esponsal com Maria.” (Audiência
Geral de 1996).
De José não se conhecem palavras, só
o silêncio: é o pai silencioso. Bento XVI aprofunda a aparente ausência de José,
de que extrai a riqueza de vida completa, dum homem fundamental que marcou, com
o seu exemplo, sem proclamações, o crescimento do homem-Deus:
“Um silêncio graças ao qual José, em união
com Maria, custodia a Palavra de Deus (…) um silêncio marcado pela oração constante,
oração de bênção do Senhor, de adoração da sua santa vontade e de confiança sem
reservas à sua providência. Não se exagera quando se pensa que do próprio ‘pai’
José, Jesus tenha tomado – no plano humano – a robusta interioridade que é
pressuposto da autêntica justiça, a ‘justiça superior’, que ele um dia ensinará
aos seus discípulos.” (Angelus
de 2005).
Da Casa de Santa Marta, na “paróquia”
de Santa Ana, no Vaticano, Francisco refletiu muito sobre o “Santo da ternura”
a quem confia todas as suas preocupações e referiu-se-lhe como ao “homem que
custodia”, que “faz crescer”, “que leva adiante toda a paternidade, todo o mistério,
mas não pega nada para si”. E, a 20 de março de 2017, sublinhou que José é o
homem que age também quando dorme porque sonha o que Deus quer. Por isso,
advertiu:
“Hoje gostaria de pedir que nos conceda a
todos a capacidade de sonhar, porque quando sonhamos coisas grandes, bonitas,
aproximamo-nos do sonho de Deus, do que Deus sonha sobre nós. Que conceda aos
jovens – porque ele era jovem – a capacidade de sonhar, de arriscar e de
cumprir as tarefas difíceis que viram nos sonhos. E conceda a nós a fidelidade
que em geral cresce numa atitude correta, cresce no silêncio e na ternura que é
capaz de guardar as próprias debilidades e as dos outros.”.
A silhueta de José estendida no sono,
ao lado da mesa onde estuda e assegura as necessidades da Igreja, está ali para
recordar que também num sonho pode se esconder a voz de Deus. O Papa tem ao seu
lado, desde sempre, nos quartos onde morou a estátua de São José dormindo. Até
essa estátua está sobre a sua escrivaninha na Casa Santa Marta. Esta imagem e a
devoção de Francisco pelo que ela representa tiveram uma imprevista
popularidade mundial quando, há anos, o Pontífice falou durante o Encontro
Mundial das Famílias em Manila. Uma confidência que revela total confiança na
força mediadora do pai putativo de Jesus e admiração pelo papel e pelo estilo
que José sempre encarnou expressou-se nestes termos:
“Amo muito São José, porque é um homem forte
e silencioso. Na minha escrivaninha, tenho uma imagem de São José que dorme e,
quando tenho um problema, uma dificuldade, escrevo um bilhetinho e meto-o
debaixo de São José, para que o sonhe. Este gesto significa: reza por este problema!” (Encontro com as famílias em
Manila – 16 de janeiro de 2015).
Depois de Pedro, houve muitos Papas
com os nomes de João, Bento, Leão, Pio, Gregório, Estêvão, Bonifácio,
Inocêncio, Clemente, Urbano, Alexandre, Paulo, mas nenhum com o nome de José.
Porém, muitos deles, especialmente no último século, o tiveram como nome de
Batismo, como se os chamados para custodiar Jesus fossem um viático para os
chamados para custodiar a Igreja. No início do século XX, José Melchiorre Sarto
torna-se Pio X. Mais tarde sobem ao trono de Pedro Angelo José Rocalli, Karol
Józef Wojtyla e Joseph Ratzinger. Francisco não se chama José, mas celebra, com
a Missa da sua solenidade, inicia solenemente o seu ministério petrino a 19 de
março de 2013, a quatro dias da eleição.
***
O padre Rafhael Silva Maciel, da Arquidiocese de
Fortaleza e residente em Roma, propõe, no Vatican News, uma reflexão sobre o
“santo mudo de palavras, mas falante pelas ações”.
Na verdade, celebrar o Patrono da Igreja Universal é motivo de alegria, mesmo no ambiente quaresmal. Efetivamente, “José é um dos mais claros exemplos de disponibilidade e de entrega sem reservas a Deus”, pois, como diz São João Paulo II, recebeu Maria e “recebeu-A com o Filho que havia de vir ao mundo, por obra do Espírito Santo; demonstrou deste modo uma disponibilidade de vontade, semelhante à disponibilidade de Maria, em ordem ao que Deus lhe pedia por meio do seu mensageiro” (João Paulo II, Exortação Apostólica “Redemptoris Custus”, n. 3). José é, pois, diferente dos outros santos. Um santo é geralmente conhecido pelo seu legado – escritos ou palavras transmitidas para futuro pelos seguidores e discípulos. Mas este não tem escritos, discípulos ou palavras para quem quer que seja. É o “santo mudo de palavras e falante pelas ações”, cujo silêncio tem “especial eloquência”, graças à qual se pode captar “perfeitamente a verdade contida no juízo que dele nos dá o Evangelho: o justo” (Mt 1,19; cf João Paulo II, ib, n.17).
Na verdade, celebrar o Patrono da Igreja Universal é motivo de alegria, mesmo no ambiente quaresmal. Efetivamente, “José é um dos mais claros exemplos de disponibilidade e de entrega sem reservas a Deus”, pois, como diz São João Paulo II, recebeu Maria e “recebeu-A com o Filho que havia de vir ao mundo, por obra do Espírito Santo; demonstrou deste modo uma disponibilidade de vontade, semelhante à disponibilidade de Maria, em ordem ao que Deus lhe pedia por meio do seu mensageiro” (João Paulo II, Exortação Apostólica “Redemptoris Custus”, n. 3). José é, pois, diferente dos outros santos. Um santo é geralmente conhecido pelo seu legado – escritos ou palavras transmitidas para futuro pelos seguidores e discípulos. Mas este não tem escritos, discípulos ou palavras para quem quer que seja. É o “santo mudo de palavras e falante pelas ações”, cujo silêncio tem “especial eloquência”, graças à qual se pode captar “perfeitamente a verdade contida no juízo que dele nos dá o Evangelho: o justo” (Mt 1,19; cf João Paulo II, ib, n.17).
Este homem justo, não querendo difamar Maria, resolveu deixá-la
secretamente; avisado pelo anjo do Senhor, fez como ele lhe ordenou e recebeu
sua esposa; subiu até à Judeia, a Belém, por ser da casa e linhagem de
David, para se recensear com Maria, sua esposa, que estava grávida; deram-lhe
o nome de Jesus indicado pelo anjo antes de ter sido concebido; levaram-no a
Jerusalém para o apresentarem ao Senhor e oferecerem em sacrifício duas
rolas ou duas pombas; seu pai e sua mãe estavam admirados com o que se
dizia dele; tomando o menino e a mãe, partiu para o Egito, onde permaneceu até
à morte de Herodes; tomou o menino e a mãe e voltou para a terra de Israel;
retirou-se para a Galileia e foi morar numa cidade chamada Nazaré; os
pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa; aos 12
anos do menino, subiram até lá e ele ficou em Jerusalém, sem que os pais dessem
conta; tendo-o procurado e, não o encontrando; voltaram a Jerusalém, à sua
procura; encontraram-no no templo, sentado entre os doutores, a ouvi-los e a
fazer-lhes perguntas; e, ao vê-lo, ficaram assombrados. (cf Mt 1,19.24; 2,14.15.21.22-23; Lc
2,1-21.22.24.41-52)
Importa considerar que o silêncio de
José não é passivo e inexpressivo, mas ativo, operante, pois os Evangelhos
falam do que ‘fez’ e “permitem-nos auscultar nas suas ‘ações’, envoltas pelo
silêncio, um clima de profunda contemplação” (João Paulo II, id, n. 25). Ele é um mestre de vida interior: sabendo da
grandeza do Criador, adora o mistério que lhe foi confiado: com a esposa,
orientar, educar o Filho de Deus e cuidar dele. Desta vida de recolhimento, diz
João Paulo II:
“Lhe
provêm ordens e consolações singularíssimas: dela lhe decorrem também a lógica
e a força, própria das almas simples e límpidas, das grandes decisões, como foi
a de colocar imediatamente à disposição dos desígnios divinos a própria liberdade
(...).” (João Paulo II, id, n. 26).
Assim, José ensina a calar para ouvir
a voz e a vontade do Senhor, entender os seus desígnios e anunciar o Evangelho.
O homem de silêncio, homem de oração, homem justo, fez a experiência do amor da
verdade (“do puro amor de
contemplação da Verdade divina que irradiava da humanidade de Cristo”) e das exigências do amor (“do amor igualmente puro do serviço,
requerido pela proteção e pelo desenvolvimento dessa mesma humanidade”). (João Paulo II, id, n. 27). José é dos silenciosos para quem falar é perder
tempo, que têm enorme senso de Deus, do Ser sem medida e da loucura de Amor.
***
Por fim, transcrevo a suposta
confidência de Maria a Lucas em provável diálogo sobre os episódios dos
Evangelhos da Infância, sobre se José estranhara a conceção miraculosa de Jesus:
“Como
não estranhar? Só que ele era um homem diferente. Tentei explicar-lhe, no
entanto ele não compreendeu. Nem poderia. Mas não gritou, não me excluiu nem me
acusou. Se fosse outro, talvez não suportasse. Preservando-me do julgamento social,
afastou-se secretamente. Mas foi iluminado e, por fim, acolheu-me, abraçou-me,
chorou e juntos levámos para a frente o projeto de Deus.”.
E mais adiante, aquando do nascimento
(São assim os desígnios
de Deus):
“O
José, por vezes, perguntava: ‘Não é ele o escolhido? Porque é preterido? Para
quê nascer nestas condições miseráveis?’ O meu filho devia nascer numa casa ou
hospedaria confortável, mas, diante de tantas perguntas sem resposta, eu
limitava-me a aceitar o inevitável” (cf Augusto Cury, O homem mais inteligente da História, Lisboa: Bertrand Editora,
2017, pgs 117.118).
2019.03.19 – Louro de Carvalho
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