terça-feira, 12 de março de 2019

Real Academia Espanhola pronuncia-se sobre a 1.ª circum-navegação


A posição da Real Academia
Para a Real Academia Espanhola, “tudo na primeira volta ao mundo foi espanhol”, desde a partida de Magalhães até ao regresso de Elcano. Para tanto, alega factos que, a seu ver, provam que é “incontestável a plena e exclusiva autoria espanhola” da viagem de circum-navegação iniciada por Fernão de Magalhães e finalizada por Juan Sebastián Elcano.
A este respeito, o DN de 10 de março refere que é a primeira vez que aquela Academia se pronuncia sobre o caso e que o fez a instâncias do jornal ABC, cujo suplemento deu, no passado domingo, à polémica honras de primeira página, depois de ter publicado, em janeiro e fevereiro, artigos em que desvalorizava a participação portuguesa na viagem sob a superior direção do navegador português e financiada pela Coroa espanhola.
No seu parecer, os historiadores recordam que Magalhães, natural de Portugal, serviu a Coroa espanhola em várias viagens ao Índico. E relembram em comunicado:
Em 1517, Magalhães, zangado com Dom Manuel de Portugal por ele não reconhecer os seus méritos, decide abandonar o seu país, deixar de servir o seu rei e viajar para Espanha, concretamente para Sevilha, onde se instalou, contraiu matrimónio e desde então esteve ao serviço do rei Dom Carlos I, castelhanizando o seu nome português, Fernão de Magalhães para Fernando de Magallanes”.
A Academia recorda que Magalhães assinou contrato com Dom Carlos pelo qual o monarca se comprometeu a apoiar a viagem de serviço à Coroa espanhola, o que o navegador aceitou e cumpriu “fielmente até à sua morte”, sendo que a expedição foi financiada em 75% pela Coroa espanhola e 25% pelo grupo de comerciantes espanhóis em que sobressai Cristóbal de Haro.
A primeira viagem à volta do Mundo, a bordo da nau Victoria, começou a 20 de setembro de 1519, em Sanlúcar de Barrameda, Cádis, no sul de Espanha, e terminou a 6 de setembro de 1522, no mesmo local. E a Academia espanhola sustenta em comunicado:
Os cinco navios da expedição foram equipados e decorados em Sevilha, apesar dos muitos impedimentos que puseram em todo o momento tanto o embaixador de Portugal, Álvaro da Costa, como o representante do rei português Dom Manuel na Andaluzia, Sebastián Álvarez, que tentaram por todos os meios que a viagem não fosse levada a cabo porque tinha sido entregue a uma empresa espanhola, razão pela qual qualificavam Magalhães como renegado e traidor.”.
Entre outros detalhes da viagem, o comunicado explica que Magalhães morreu após a passagem do estreito, em Mactán, uma ilha do arquipélago das Filipinas. O regresso pelo Oceano Índico, sob o comando de Juan Sebastián Elcano de la Victoria e Gonzalo Gómes de Espinosa de la Trinidad fez-se evitando as águas e os enclaves dos portugueses. Depois de desembarcar em Sanlúcar de Barrameda (com apenas 18 dos 237 homens que iniciaram a viagem), Elcano escreveu uma carta a Dom Carlos I, “ressaltando não as dificuldades, nem o caminho percorrido, nem o encontro com as ilhas da Especiaria, mas o facto de ter conseguido circum-navegar a Terra pela primeira vez em nome do rei imperador”. E a Academia de História conclui: “
Com tais factos, absolutamente documentados, é incontestável a plena e exclusiva autoria espanhola da empreitada”.
A Real Academia Espanhola visa agora esclarecer alguns factos depois de os chefes da diplomacia de Portugal e de Espanha terem anunciado em Madrid, a 23 de janeiro,  a apresentação conjunta de uma candidatura a património da humanidade da primeira viagem de circum-navegação do globo, tendo, num primeiro momento, o Governo português anunciado uma candidatura individual em que teria apagado o império espanhol da história ao quase não fazer qualquer referência ao nome de Sebastião Elcano ou ao papel preponderante de Espanha na realização da viagem.
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A reação dum historiador português
O historiador português José Manuel Garcia reagiu à posição da Real Academia Espanhola em texto de 11 de março publicado no DN, reiterando que a volta ao mundo ao serviço de Espanha teve a direção científica portuguesa e homens de países da Europa. Assegura que, “se não fosse Juan Sebastián Elcano, não teria sido concluída, de uma única vez, a primeira volta ao mundo, iniciada por Fernão de Magalhães”. Ou seja, nem tudo “na primeira volta ao mundo foi espanhol”. E explica como é que tal aconteceu, o que aqui se sintetiza.
A 6 de setembro de 1522, a nau Victoria, com 18 tripulantes sob o comando do capitão Juan Sebastián Elcano, chegou a Sanlúcar de Barrameda, porto de que partira quase 3 anos antes. Acabava de dar a 1.ª volta ao mundo em continuidade, um dos feitos mais notáveis da história da humanidade.
Tudo começou quando Magalhães, em outubro de 1517, decidiu ir para Espanha agravado com Dom Manuel I, por não lhe ter aumentado em mais cem réis mensais a sua moradia (ordenado) e não o ter autorizado a ir por via oriental às Molucas (na Indonésia), ilhas ricas em cravinho e onde já havia estado quando da sua descoberta, em 1512. Foi esta a razão que o levou a oferecer os seus serviços a Carlos V, propondo-lhe, talvez a 2 de março de 1518, um ambicioso projeto que gizou em Lisboa entre 1516 e 1517. Pretendia ir a essas ilhas por uma nova via ocidental, que iria descobrir, provando que pertenciam a Espanha, de acordo com o Tratado de Tordesilhas, que dividira, em 1494, o mundo em dois hemisférios, um para Portugal e outro para Espanha. Segundo os seus cálculos, tais ilhas estariam a oriente dum antimeridiano de Tordesilhas que passava a leste de Malaca.
Carlos V acreditou na teoria de Fernão de Magalhães e, vendo que era o único com capacidade científica e conhecimentos para provar, deu-lhe uma armada de cinco navios com 237 homens, que, a 20 de setembro, partiu para a que seria a 2.ª parte da sua volta ao mundo. Com efeito, Magalhães sabia que navegando para ocidente, pelo hemisfério que só os espanhóis podiam percorrer, estaria a realizar uma circum-navegação do mundo, que veio a concluir de forma indireta a 16 de março de 1521, quando então descobriu as Filipinas.
De facto, a 1.ª etapa dessa epopeia foi por si feita, partindo de Lisboa para a Índia, em 1505, e chegando, em 1512, às Molucas, sitas a longitude semelhante à das Filipinas. Mesmo que soubesse estar a dar a volta ao mundo em duas etapas, nunca pretendeu a circum-navegação, pois a sua missão era provar que as Molucas eram de Carlos V e permitir que o monarca, os espanhóis e ele enriquecessem com o lucrativo comércio do cravinho. Com efeito, em 1519, Carlos V proibiu-lhe reiterada e incisivamente que a expedição passasse pelo hemisfério oriental dominado pelos portugueses, isto é, pelas águas do oceano Índico.
Porém, tal volta ao mundo, feita de seguida, concretizou-se sob a direção de Elcano, por este não ter arriscado regressar a Espanha pelas águas espanholas do Pacífico, como Gonzalo Gómez de Espinosa na Trinidad tentara em vão, mas pelas do hemisfério português, já conhecidas, mesmo que soubesse estar a infringir as ordens de Carlos V, que proibira tal procedimento.
Elcano embarcara na armada como mestre da nau Concepción sob o comando de Luis de Quesada e participou a 1 de abril de 1520 no motim de Puerto de San Julián contra Magalhães, feito para obrigar a armada a regressar a Espanha. Depois da execução do seu capitão, Elcano foi perdoado e a sua nau passou para o comando do português Duarte Barbosa.
Após a morte de Magalhães, nas Filipinas, a 27 de abril de 1521, e da morte de Duarte Barbosa aí, a 1 de maio de 1521, a sua nau foi incendiada e ele passou para a Victoria, que ficou sob o comando de Espinosa, enquanto a expedição passou a ser comandada pelo português João de Carvalho. Só quando este, a 16 de setembro de 1521, foi demitido em Bornéu, é que Elcano assumiu o comando da Victoria, tendo Espinosa passado para a Trinidad.
Após estes navios chegarem às Molucas a 8 de novembro, a Victoria partiu a 21 de dezembro para Espanha, continuando a volta agora pelas águas proibidas do hemisfério português, embora seguindo pela parte sul do Índico até dobrar o cabo da Boa Esperança, para não ser apanhada pelos portugueses (É de vincar que os espanhóis não repetiram tal atuação contra as ordens de Carlos V).
Assim se vê como é a justa glória de Elcano ter concluído a primeira volta ao mundo feita de seguida, mas que foi o fruto das circunstâncias da vida dum homem que se viu enredado na que foi a mais longa e difícil viagem marítima de sempre.
Durante o seu alto comando da armada, Magalhães, pela sua tenacidade, teve o mérito de descobrir a parte da Terra que ainda não havia sido descoberta, o que foi a parte mais original da viagem que logrou descobrir a terra a sul do rio da Prata, o Estreito de Magalhães, toda a extensão do oceano que passou a chamar-se Pacífico e, finalmente, as Filipinas. Ficou assim como símbolo dum empreendimento que, organizado e financiado sob a direção de Espanha, com a oposição de Portugal, expressou a direção científica portuguesa e a participação de homens de 9 países da Europa no que se tornou um marco da mundialização crescente que originou o atual processo da globalização.
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Um projeto arrojado e eloquente
O velejador português Ricardo Diniz, 500 anos depois de Magalhães, quer seguir o trajeto da primeira circum-navegação ao globo – uma viagem de três anos, vegana, ecológica, com yoga e convidados a bordo para homenagear Fernão de Magalhães, “um herói esquecido em Portugal” e a alertar para a importância de cuidar dos oceanos.
Como escrevia Pedro Sequeira, a 9 de fevereiro, que é a data de 20 de setembro de 1519, exatamente 500 anos depois do início da epopeia de Magalhães – partiu, financiado pela coroa espanhola, de Sanlúcar de Barrameda, em Cádis, para uma viagem que entraria na história e que seria concluída em 1522 por Elcano, após a morte de Magalhães, em 1521, em Mactan, Cebu (Visayas Centrais), nas Filipinas, aos 41 anos – que Ricardo Diniz aponta para iniciar, em Sevilha, ao comando dum moderno catamarã, uma volta ao mundo com os objetivos de “dar a conhecer a história de Magalhães, promover Portugal e alertar para a importância de cuidar do mar”.
O projeto começou a ser idealizado pelo velejador há muito tempo, pois já em agosto de 2017, mostrava o desejo de assinalar os 500 anos da viagem de Magalhães apontando 2019 como o ano certo para fazer a volta ao mundo. Mas esta será uma viagem com caraterísticas especiais: ao invés de outros seus projetos, não navegará em solitário, mas com tripulação internacional (não só de velejadores) e com convés aberto à entrada de convidados que poderão cumprir etapas da viagem. E o projeto tem nos seus alicerces uma mensagem de sustentabilidade ecológica.
Sobre uma hipotética mensagem de Magalhães se partisse hoje em viagem, discorre:
Estou convicto de que seria por um futuro mais sustentável e harmonioso. Por isso, esta viagem vai ser o mais vegana possível, com pequenas exceções culturais em alguns pontos do globo, mas não se vão comer animais a bordo. Vamos viajar em harmonia com o ambiente pois seguimos num barco à vela. Vamos ter uma horta, para servir comida fresca, dezenas de painéis solares e dois geradores eólicos para que o barco seja o mais ecológico possível. Vamos fazer mergulho, praticar meditação e yoga todos os dias, estar sempre em contacto com escolas de todo o mundo para divulgar boas práticas de sustentabilidade. Queremos que as pessoas se apaixonem pelo mar e que cuidem dele. Será um barco que representa aquilo que acredito serem valores essenciais e urgentes para que exista um futuro sustentável.”.
Além disso, o barco será “grande, inovador, capaz de gerar a sua energia e a sua água, com autonomia para poder navegar três anos sem vir a terra” e deverá ser preparado num estaleiro espanhol para “que possa transportar com segurança e conforto cientistas, secretários de Estado, embaixadores, primeiros-ministros, chefes de Estado, e não só”.
Outra prioridade é dar a conhecer a história de Magalhães. A este respeito, o velejador confessa:
Sinto que ele é uma espécie de herói esquecido em Portugal. O mundo reconhece-o e aprecia-o muito mais. Magalhães é nome de marcas de roupa, de fundos de investimentos, de inúmeros barcos, de marcas de GPS e até de crateras na Lua e programas espaciais da NASA. Nós, em Portugal, vivemos muito obcecados com Vasco da Gama. […] Claro que o que ele conseguiu foi muito importante e trouxe imensa riqueza ao país, mas, por outro lado, Magalhães provou muita coisa, abrindo novos caminhos, e mostrou coragem, liderança, visão e determinação até ao final da sua vida. Esses são valores essenciais ao mundo de hoje. E o exemplo de Magalhães ajuda a transmiti-los.”.
O velejador-empresário tem estado empenhado em reunir apoios para organizar a Missão Magalhães, que julga ser o seu “maior desafio até agora”. A viagem terá a duração de três anos e, como a expedição de 1519, terminará em Espanha. Já definido 70% do itinerário, “o mais fiel possível” ao roteiro original (embora com pequenos desvios até destinos por onde Magalhães não passou), Ricardo Diniz procura agora que Portugal se associe ao projeto. E refere:
Já nos reunimos com o Governo português, por uma questão de respeito e oportunidade, para serem os primeiros a conhecer as nossas intenções, mas também estamos a reunir-nos com o mundo. O meu cenário ideal seria que esta missão fosse uma enorme expedição para promover Portugal, os nossos produtos, as nossas marcas, e ser, ao contrário de há 500 anos, um projeto muito português. Gostava muito de que a história não se repetisse e poder encontrar apoio suficiente no meu país, pois esta será uma oportunidade para Portugal se comunicar ainda mais e criar novas oportunidades.”.
De facto, há 500 anos, com Magalhães revoltado com o rei português, foi a coroa espanhola (Carlos I, Rei de Espanha e depois também Imperador Romano-Germânico como Carlos V) que aceitou financiar a expedição. O objetivo era encontrar uma nova rota até às Molucas (situadas na atual Indonésia) por ocidente e provar que essas cobiçadas ilhas, ricas em especiarias, se encontravam do lado espanhol do mundo. O plano obrigava a rumar para sul do continente americano, onde o navegador português acabou por encontrar passagem para o oceano que batizou como Pacífico através dum estreito que também viria a ser batizado com o seu nome. E a missão, iniciada por um português e concluída por um espanhol (continuou a navegar para ocidente até atingir Espanha, completando a circum-navegação, mas desobedecendo a Carlos V e atravessando domínios portugueses pela rota do cabo da Boa Esperança), acabaria por ficar historicamente ligada a Espanha, mesmo que, mais tarde, se tenha provado que as Molucas estavam no lado português.
Ricardo Diniz quer agora que Portugal seja o foco de atenção. Porém, embora  deseje que o projeto seja o mais português possível, isso não significa que o financiamento tenha de ser apenas português. O barco vai ser uma embaixada flutuante e o velejador “adorava ter um cunho diplomático português para que quem olhe diga: isto é Portugal”. Nesse sentido, tem-se reunido com vários empresários e estará com o líder da Tesla, Ellon Musk, para explicar o projeto e como ele faz sentido para uma empresa que aposta na energia elétrica, mais amiga do ambiente.
Para reforçar a ligação ao país, o velejador-comunicador garante que todos os cabos e velas serão construídos em Portugal e que um dos principais materiais a utilizar no barco é cortiça, “um produto premium português”, que ajuda a tornar o barco mais leve ou a controlar a temperatura a bordo, assim como a sua insonorização. Há a ideia de transportar produtos portugueses e divulgá-los em vários portos e junto das pessoas que possam seguir a bordo em algumas etapas, bem como uma mistura de idiomas que, de resto, já acontecia nos navios comandados por Magalhães, que, ao partir de Espanha ia “acompanhado de 236 homens de 9 nacionalidades, em que 10% eram portugueses”, como explicou o historiador José Manuel Garcia (alguns apontam cerca de 40 portugueses em 240 tripulantes), acrescentando que o navegador, mesmo tendo morrido antes do final da expedição, foi o primeiro a completar uma volta ao mundo, embora em duas partes: “já tinha ido com os portugueses de Lisboa até às Molucas”.
As expedições (ou “missões”, como diz) de Ricardo Diniz têm como pano de fundo a divulgação de Portugal e sua cultura além-fronteiras, como sucedeu, em 2012, com a Mare Nostrum, em que circum-navegou a ZEE (Zona Económica Exclusiva) portuguesa para mostrar que a sua dimensão é 20 vezes superior à da superfície terrestre (foram distribuídos pelas escolas mapas com os limites da ZEE), ou na Fé Paz Amor em que levou de Peniche ao Brasil uma imagem de Nossa Senhora de Fátima para assinalar, em simultâneo, o centenário das aparições em Fátima e os 300 anos de Nossa Senhora Aparecida. Contudo, não hesita em afirmar que a Missão Magalhães “será a maior de sempre” e que chegou no momento ideal da sua vida. A este respeito, diz:
Lanço o projeto com 41 anos, a mesma idade que Magalhães tinha quando morreu. É um alinhamento que me faz sentir a responsabilidade de abraçar esta aventura. Podia ter nascido em qualquer outro ano, mas fui nascer num timing que me permite estar pronto, ter a experiência e os contactos certos para saber que, precisamente no ano dos 500 anos de Magalhães, sou mesmo capaz de fazer uma coisa destas.”.
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Em suma
Uma das maiores aventuras do século XVI teve início em 1519, quando Magalhães (1480-1521), com patrocínio da monarquia espanhola (obtido pelos bons ofícios do bispo de Burgos), comandou a 1.ª expedição que deu a volta ao mundo. Porém, não terminou a viagem, pois morreu no caminho.
Contudo, a expedição teve sequência e o objetivo foi atingido após mortes de marinheiros e perdas de embarcações. Segundo relato do italiano Antonio de Pigafetta (1480 ou 1491-1534), um dos sobreviventes, a aventura teve mais momentos de adversidade e milagre que de marcha vitoriosa. De facto, partiram 5 naus – San Antonio, Victoria, Concepción, Santiago e Trinidad (nau capitânia) –, com cerca de 240 homens (outros dizem 237 e outros 256), que zarparam de Sevilha.
A viagem começou sem grande dificuldade, com a passagem por Cabo Verde. Contudo, no Atlântico, enfrentaram uma terrível tempestade. Em março de 1520, Magalhães e os seus homens chegavam à baía de San Julián, na atual Argentina.
Além das adversidades dos mares, houve revoltas internas, em que comandantes das outras naus planeavam a traição contra o capitão-geral. Magalhães mandou decapitar Gaspar de Quesada, capitão da Concepción, depois abandonou Juan de Cartagena, ex-capitão da San Antonio. Fora isso, houve perda de navios. Santiago naufragou enquanto explorava a costa da Patagónia. Os restantes seguiram pelo Pacífico e chegaram ao arquipélago de Saint-Lazare – atual Filipinas – em 27 de março de 1521. Ali morreu Magalhães morreu atingido, a 27 de abril, por uma lança envenenada, atirada por um dos habitantes locais. Depois, a Concepción foi incendiada em maio e, em 18 de dezembro, a Trinidad afundou e a fome e doenças (como o escorbuto) começaram a atingir a expedição. Escreveu Pigafetta:
Nós só comíamos velhos biscoitos transformados em poeira e cheios de vermes, fedendo urina de rato”.
 Ao final da expedição, restava a nau Victoria. Parte da carga de especiarias foi abandonada para que embarcação poder seguir viagem. Em maio de 1522, a nau ultrapassaria o cabo da Boa Esperança e 18 dos seus homens retornaram a Sevilha, depois de terem sido aprisionados em Cabo Verde.
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Para assinalar os 500 anos da 1.ª viagem de circum-navegação, foi apresentado, em janeiro, o programa de comemorações até 2022. A partir de setembro, no site www.magalhaes500.pt, será possível acompanhar a viagem iniciada em Espanha a 20 de setembro de 1519. A 17 de abril, será o lançamento duma moeda de coleção com o valor facial de 7,5 euros, seguindo-se, a 8 de maio, a moeda corrente de dois euros. E o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, anunciou que até final de março será apresentado “em Espanha, com a presença dos portugueses, e em Portugal, com a presença dos espanhóis”, o programa de atividades conjuntas luso-espanholas para celebrar a circum-navegação, que foi concluída por Sebastián Elcano.
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Se no século XVI fazia algum sentido disputar a soberania de Portugal ou de Espanha nas Molucas ou a propriedade dos reis dos dois países sobre elas, hoje isso não faz qualquer sentido, como não o faz tentar em vão eclipsar Espanha ou Portugal do feito magalhânico, embora se compreenda que os dois países puxem cada um a brasa pra a sua sardinha. Obviamente, Portugal não tem a paternidade da expedição, mas a Espanha só por si não lhe dava cumprimento. Por isso, é bom que Espanha celebre o feito. Mas Portugal tem o dever e o direito de celebrar os seus, mesmo que os tenha rejeitado em tempos idos. E, se condecora gestores que estão ao serviço de outros países e gente que perde a memória quando convém, porque não há de homenagear Magalhães?  
2019.03.12 – Louro de Carvalho

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